domingo, 9 de novembro de 2014

UM LUGAR POR AÍ (59)


AS BANCAS DE REVISTAS FECHAM NAS CIDADES PEQUENAS
Esse fenômeno pode não estar sendo sentido aqui em Bauru como deveria, mas com certeza, pode ser confirmado: caiu o número de leitores de jornais e revistas no país. Eu continuo viajando pelas cidades vizinhas de Bauru e em todas, algo que gosto de fazer assim de cara é ver se ainda funciona uma banca de jornais e revistas. Ando muito triste e sorumbático, pois constato nessas incursões que muitas delas se fecharam e cada vez mais e mais cidades não possuem sequer uma mera banca para oferecer esse tipo de leitura para seus habitantes. Anos atrás quando escrevi o livro de Reginópólis, a última daquela cidade já havia fechado as portas e a única possibilidade de encontrar algumas era num supermercado, mas com pouquíssimos títulos à disposição. Por lá outra história. Sei que muitos assinam o Jornal da Cidade daqui, mas dentre os tais jornalões (Folha e Estado) só havia um único assinante. Era um fazendeiro, ex-prefeito e quando do seu falecimento, ninguém mais recebia jornais impressos vindos da capital(ele era assinante do Estadão). De lá para cá, sei que a coisa piorou. Poucos, mas muito poucos mesmo lêem jornais, nem que for para aquela rápida espiada via internet. Da bibliotecária da cidade, algo mais triste, quando vejo um belo acervo, bem atualizado, mas só os jovens com idade escolar freqüentando o local. “No mais só umas quatro senhoras da terceira idade, homens nenhum. Homem tem vergonha de ser visto na biblioteca lendo”, me disse a funcionária.

Passo por Pederneiras dia desses é ali na praça principal da cidade existia uma banca funcionando desde que me conheço por gente. Foi no passado um lugar de efervescência, ponto de encontro e dos que vinham em busca de notícias. Já faz um tempinho que a única banca da cidade fechou e ninguém se interessou em abrir outra, isso numa cidade beirando os 30 mil habitantes. Passo ali, olho para o lugar onde sei estava localizada a banca e isso me corta o coração. Em Bariri, outra cidade do mesmo porte, a mesma coisa. Morei lá décadas atrás e freqüentava uma bela de uma banca. Hoje a mesma não existe mais. Em ambas as cidades, vejo que continuam existindo jornais locais, sendo distribuídos em outros locais, principalmente bares e supermercados. Para alguém como eu, forasteiro em busca de notícias locais, algo que gosto de fazer em cada cidade que visito e uma dificuldade a mais, a de descobrir onde irei encontrar o jornal daquela cidade. Com algum esforço consigo resultado positivo, mas tem sido mais penoso a localização dos ditos jornais.

Só mais uma historinha para encerrar o assunto. Mês passado passei um dia por Dois Córregos (quase do mesmo tamanho das duas citadas), achei algo a me prender a atenção. No centro da cidade, perto da praça da matriz, uma lojinha de rua, ali a única banca da cidade e do lado detrás do balcão uma senhora com mais de 80 anos, sentadinha numa cadeira de balanço e resistindo ao tempo, ela e o marido. Tiveram que diversificar, pois junto abriram um armarinho e vendem outras bugigangas. Dela ouvi o seguinte: “Meu filho, quando eu me for não sei quem mais vai se interessar por esse negócio. Aqui em vendia muita revista, hoje muito pouco. A grande maioria são os clientes mais antigos, jovem quase nenhum, mas nenhum mesmo. Nem as revistas semanais têm mais procura”. Diante desse desencanto existem as exceções e cito uma, a de Barra Bonita, uma cidade pouco maior que as citadas. Lá também uma única banca, de um jovem amante de leitura, me atendendo com uma vistosa camiseta da seleção argentina de futebol. Ele conseguiu juntar papelaria, livraria e banca, além de outros penduricalhos e resiste com unhas e dentes. Vi até uma maior quantidade de títulos nas suas estantes do que as maiores de Bauru e me espantei. “Eu leio, gosto de ler e sei quem gosta de ler por aqui. Instigo esses para continuarem freqüentando meu estabelecimento e quando aqui, uma coisa sempre puxa a outra. Insisto com o distribuidor para ter todos os títulos disponíveis”, me diz. É uma rara exceção, como já disse, mas elas existem. Na maioria das cidades circunvizinhas de Bauru a situação nesse segmento definhou, quando não encerrou atividades. Esse o quadro. Triste, não? Até porque não sei se as pessoas que deixaram de comprar revistas nas bancas continuam lendo via internet.

Um comentário:

Mafuá do HPA disse...

alguns dos comentários via facebook:

Silvio Selva em bancas, só compro histórias em quadrinhos, algum fascículo ou mesmo jornal esportivo. Um dos motivos pelo seu fechamento, nem é a Internet, é por venderem lixos impressos....
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Almir Ribeiro Chegamos à era digital sem deixar de sermos um país ágrafo.
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Henrique Perazzi de Aquino Silvio Selva, esse outro grande problema, aliás o nosso problema. Mesmo com o aumento de títulos, muitos deles bem segmentados, específicos, tem muito lixo impresso e daí isso não levo pra casa nem de graça. Mas garimpo e estou nelas em busca das raras exceções, que existem, felizmente.
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Silvio Selva sim, eu ainda sou fiel a bancas. Esses dias, aliás, comprei um Kerouac e um Tchekov por modicos 20tão, os dois....
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Gonçalez Leandro passo em bancas toda semana , continua sendo um dos visuais mais incriveis tenho a mesma sensação desde quando era moleque .
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José Eduardo Avila infelizmente no interior vem ocorrendo esse vazio cultural creio que é o alto custo dos fretes e o acesso a internet principalmente pelos jovens o que não acontece na capital lá as bancas de revistas e jornais continuam a todo vapor....
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Ze Canella É a substituição do real pelo digital .......
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