A FALTA QUE FAZ O JORNALISMO INVESTIGATIVO EM BAURU – EXEMPLOS DENTRO DA QUESTÃO DA ÁGUAIsso de hoje estarmos capengando no quesito Jornalismo Investigativo não é de hoje. Não é nem pela ausência agora do diário Jornal da Cidade, pois ele deixei de praticar alfo neste sentido faz tempo. E se ele já era deficiente neste quesito, imagina, por exemplo a Jovem Auriverde que se pauta pelo que sai no jornal para produzir suas incursões de jornalismo feito nas ruas. Na verdade, ninguém mais pratica jornalismo com profundidade na cidade. Na maioria do que se vê, é algo feito da própria redação – se assim pode ser chamada -, consultando fontes e ligando para entrevistas todas online. No caso das TVs, fazem matérias de registros dos fatos e não de investigação e questionamento. Isso deixou de existir.
Vou me ater a dois exemplos bem recentes. No primeiro o caso do vereador Sandro Bussola que, além de ser visto, ele mesmo gravou e espalhou vídeos, feitos pela sua assessoria, onde distribuía água em galões. Uma vergonha. Depois se constatou que, essa água continha insetos, como outros vereadores denunciaram e fizeram Boletim de Ocorrência. Isso foi pouco explorado, mas quero chegar em algo onde entra o papel do jornalista. Alguém poderia ter ido até o vereador Bussola e perguntar para ele, com o microfone ligado, se ele achava não ter sido privilegiado nessa distribuição, uma vez que na cidade existem 21 vereadores. Ele teria que se explicar dos motivos dele ter sido o escolhido para essa distribuição. Com certeza iria se enrolar, mas pior ficaria se o mesmo órgão de imprensa fosse até a prefeita ou a sua assessoria e lhe perguntasse, como se deu isso do vereador fazer o vídeo e postar em sua rede social. Tudo se deu com a autorização dela ou de alguém da Prefeitura? Se ela concordar, uma coisa escabrosa, se negar, mais escabrosa ainda, pois Bussola teria que se explicar como se beneficiou daquilo. Isso é jornalismo. Ouvindo todos os lados e deixando-os numa saia justa, pois a barbaridade neste caso está bem evidente. Faltou o ir lá e fazer a notícia ferver.
Em outra situação, mais ou menos similar, vejo que, ainda na questão dessa falta d’água na cidade, algo mais do preocupante. Ela prometeu e não cumpriu resolver a questão. Pouco ou nada foi feito de concreto e poucos a cobram sobre isso. Poderiam perguntar: Mas então, tudo foi mesmo só promessa de campanha? A senhora já tinha noção de que, seria impossível resolver, mas mesmo assim prometeu? Tudo para obter resultados positivos na eleição? É isso mesmo? Isso uma coisa, não vejo quem no meio jornalístico local teve essa coragem. Isso não é falta de coragem, talvez seja restrição imposta pelo órgão de imprensa, que não tem interesse real em desvendar o problema, mas passa pano. Assim sendo, acoberta algo e isso não é jornalismo.
Mas não era isso o que queria abordar. Chego em outro entrave dentro da mesma questão. Hoje pela manhã o 360º, programa do economista Reinaldo Cafeo entrevistou o secretário particular da prefeita, seu marido, ex-presidente do DAE, Renato Purini. Cafeo pergunta sobre ele ter tido participação acionária, como sócio na empresa que hoje distribui água em galões, sem licitação, algo feito com a chancela do caráter de urgência. Purini responde não ter nada a ver e ficam por isso mesmo, sem maiores aprofundamentos. Até riram na sequência. Lamentável a perda dessa rara oportunidade, com o sujeito ali ao vivo e podendo explorar melhor o tema. Muito mais poderia ter sido perguntado, como: A quanto tempo saiu da empresa? Acha normal ter sido justamente essa a empresa ganhadora? A prefeita sabia dessa proximidade, mesmo no passado, quando fechou o contrato? Estranho mesmo é Cafeo ter ficado nas preliminares. Sim, ele não é jornalista, mas tem um microfone para chamar de seu e isso é mais que pisada na bola. Depois, poderiam também buscar respostas da prefeita e de sua assessoria, com as mesmas perguntas: A sra sabia dessa proximidade? Acha normal? Vocês em casa não conversaram nunca sobre isso? Renderia muito isso, ou seja, isso é JORNALISMO, de fato e de direito.
Millôr Fernandes tem uma frase lapidar sobre esses procedimentos: "Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.”. Não vejo ninguém fazendo isso em Bauru. Tem muita coisa opinativa – e dela participo -, mas os órgão de imprensa atuantes, rádio, jornal e TV, deixam a desejar. Cada vez pior. Na minha modesta opinião tem muita gente boa escrevinhando e publicando em postagens pelas redes sociais, mas tudo opinativo, sem o trabalho jornalístico. Desta forma, creio eu, estamos permitindo que os políticos hoje atuando na cidade nadem de braçada. A votação ocorrida na Processante foi mais que uma vergonha e ninguém foi atrás dos vereadores contrário, todos atrelados de uma forma ou de outra com interesses declarados da prefeita, para questionar algo. Fica o fato consumado, como irreversível e assim é registrado, sem contestação. E onde fica o jornalismo, se quem é pago para exercê-lo não o faz a contento?
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