domingo, 5 de outubro de 2025
O JC – JORNAL DA CIDADE -, DE DIÁRIO, PASSA A SER SEMANAL – CARTA ABERTA AO DIRETOR DE JORNALISMO JOÃO JABBOUR
Estimado jornalista e considerado João Jabbour;
Receba esta linhas não como críticas, mas observações de atento leitor, muito interessado na sobrevivência do jornal impresso, porém ciente das dificuldades, internas e externas, daí nada como externá-las publicamente, ampliando o debate.
A notícia já corria de boca em boca e ontem foi anunciada oficialmente pelo próprio Jornal da Cidade, o último diário impresso a circular pela Bauru, cidade de 400 mil habitantes. O prenúncio já era quase certo, fatídico, com a tiragem cada vez mais baixa, a tendência era fechar as portas e tentar continuar circulando só pelas vias virtuais. No arremedo costurado e divulgado ontem, uma sobrevida e desde este momento, uma edição semanal, essa circulando aos sábados. Isso me remete à formação deste jornal, pois desde o embrião, idos anos 70, capitaneado pelo então prócer do Expresso de Prata e deputado federal, Alcides Franciscato, nunca deixou de representar a linha de pensamento e ação dos ditos “donos do poder” local. O jornal evoluiu graficamente ao longo do tempo, chegou a ter tiragens surpreendentes e num momento, quando comandado por Renato Zaiden, ocupou o dito “quarto poder” de fato. Nada ocorrida sem que o JC fosse devidamente procurado e até mesmo, consultado. Como nem tudo dura eternamente, nem o império romano, muito menos o norte-americano, o JC feneceu, como a maioria dos órgãos de imprensa mundiais e hoje, arremedo do que foi, não teve outra saída.
Tudo bem, chegaram até a situação atual, a conjuntura do modal impresso contribuiu bastante, mas reflexões devem ser feitas. Faço a minha, sem pretensão de ser dono da verdade, muito menos deitar arrogância e falação vazia. Observações de atento leitor, deste e de outros órgãos de imprensa. Tenho um dileto amigo, o jornalista Ricardo de Callis Pesce, que denomina o JC de “sucupirano jornal da cidade de Bauru” e em pisadas da bola deste, aproveita a deixa para demonstrar o quanto se distorcem para driblar algumas evidências, encobrindo nomes, tergiversando sem se aprofundar e pegando leve com quem deveria fazê-lo pesadamente. Ou seja, evidente, o JC sempre teve um lado, disfarçava, mas não tinha como esconder. Veio, se firmou e está fenecendo, sempre atento e fiel às suas origens. Foi bancado pelos tais “donos do poder” local e a eles suas páginas foram dedicadas. Louvável, cedia espaço para outrens, algo que nem mais jornalões nacionais o faziam, mas era pouco diante do montante da obra. O Jabbour sabe disso melhor que ninguém. Vivenciou isso tudo quase desde o começo. Certa vez me disse, lembro bem, que até hoje o JC não teve um estudo acadêmico sério sobre o que representa e isso, quando acontecer, iria ajuda-los muito na condução do que faziam. Não chegou à tempo. Um dia, sem bajulações e badulaques, alguém se prestará a este serviço. Será bem-vindo.
E o que acho do novo formato? Detestava a edição de final de semana, a mais insonsa possível. Queria ser uma revistona, falando de tudo, mas não dizia nada. Muitas páginas perdidas, servidas somente para quintais e dejetos de animais. Teria sentido, tivesse a ousadia de sair do lugar comum e produzir algo jornalisticamente ousado e bem trabalhado, com reportagens e textos a discutir de fato essa cidade. Perdiam tempo com espaços de variedades supérfluas e nem o público almejado lia o que saia publicado. Agora, folheando a edição deste último sábado, ontem, 04/10, nada mudou. Não vão discutir a semana adequadamente. Os temas políticos não merecerão destaque e a frivolidade prevalecerá. Assim sendo, minha sincera opinião, terão vida curta. A saída é ir pras cabeças e produzir algo interessante, tendo como pano de fundo a cidade. Do contrário, perde todo o sentido de sua existência. O Jabbour sabe de tudo isso e deve travar uma luta interna muito grande lá dentro, com o que resta de direção da empresa, hoje capitaneada pelo Erico Braga, do grupo Cidade. Não havendo a disposição para a produção de um órgão de brio, confronto, amplitude de opiniões e muito debate, exposição de ideias e da cidade, dos seus, de fato, sem maquiagem, sinto muito, mas não vai dar. Até as capas precisam ser mais provocativas e nas edições de final de semana, muito festivas, genéricas. Não existe liga.
Enfim, essa minha opinião. Frequentei a Tribuna do Leitor do JC, do começo ao fim. Escrevo sempre que posso e como todo leitor, se faz necessário, sabendo da linha editorial do órgão, saber até onde se pode ir. Dei minha modesta contribuição e sempre que, solicitei algo, fui atendido. Jabbour sempre foi muito atencioso e prestativo. Disto não posso negar. Renovei minha assinatura há algumas semanas e pelo que li, de semestral serei abonado agora com a anual. Ou seja, 50 edições no ano. Tá bom, mas se atentem para não ficarem só com temas, colunas e assuntos pouco relevantes e interessantes. Dá pra fazer um grande e belo jornal semanal, mas precisa ver até que ponto os mantenedores o assim querem. Querendo, dá pra produzir muita fervura no mundo político, social, cultural e até mesmo no festivo trivial desta insólita cidade. O JC reverenciou como deuses algumas personalidades, ditas como intocáveis e essas também precisam ser espezinhadas, pois permanecendo no altar, o jornal perde credibilidade. Levando tudo isso em consideração e contando com o olhar atento de quem sabe fazer jornal, no caso o jornalista João Jabbour, que sabe a saída, algo de muito bom ainda pode ser feito.
Eu, sinceramente, aguardo por isso, porém sei, dificilmente isso ocorrerá. Enfim, quem nasceu no berço onde o JC foi parido, dificilmente vai aceitar alguma mudança neste sentido mais popular, defendendo outros interesses. Qualquer pessoa que gosta, como eu, do modal impresso, fica triste com tudo isso, porém, vida que segue. Tudo na vida são escolhas. Tomara o JC faça a mais acertada para sobreviver mais um bom tempo circulando pelo modal impresso. Pelo virtual, a predominância de notas policiais e pouca discussão política. Até isso deve merecer ampla discussão e mudanças. Era isso. Continuo do lado de cá, leitor diário, crítico, desde sempre. Termino agora de reler um livro do Plínio Marcos sobre as "quebradas do mundaréu" e num momento ele prescreve sobre isso feito só aos finais de semana: "Sexta-feira nas bocas encardidas, é dia de loque piar nas paradas. Muito pinta que é bom menino a semana inteira, que trabalha certinho, dorme cedo e tal e coisa, na sexta-feira aproveita que não tem que chegar no batente no sábado e se embandeira. Dá as fuças pelos esquisitos. Xereta nas gafieiras escrotas, nos puleiros das madames, nos cabarés cavernosos e nos cambaus. E é assim que tem que ser. Afinal, os pesqueiros da madrugada vivem dos papagaios enfeitados". Achei a definição bem propícia, encaixando como uma luva para os procedimentos que o JC tem que tomar na sua, agora edição semanal. Fazer e acontecer, eis a saída.
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