sexta-feira, 18 de julho de 2008

UMA ALFINETADA (34), UMA DICA DE LEITURA (22) E UMA CARTA (14)
Maria Lúcia Dahl é uma atriz de responsa. Quem gosta de cinema nacional certamente a conhece, e de longa data. Seu trabalho jornalístico é pouco conhecido Brasil afora e muito mais no Rio de Janeiro, onde mantém uma coluna semanal no JB. Escreve como ninguém, do fundo do coração, coisas bem sentidas e da forma como a grande maioria gostaria de se expressar. Leve e direta, sem rodeios. Adoro seus textos. A Dica é para que adentrem semanalmente o site do JB (http://www.jb.com.br/) e toda segunda, leiam o que ela produz lá no Caderno B. Devoro toda semana. O texto dessa semana foi de arrepiar, tanto que escrevi o meu dessa semana para O ALFINETE, baseado no que havia lido no dela. Também não resisti e envie carta de agradecimento por tão belo texto para a seção de Cartas do jornal. Para quem ainda não foi apresentado, façam o favor, tirem o atraso. E além de tudo, Dahl sempre foi uma mulher linda:

DAHL E A DOR DE TODOS NÓS

Queria repercutir aqui o que fui lendo durante a semana sobre a ebulição de acontecimentos que anda estremecendo o país e o mundo. Li de tudo um pouco e vou me fixar em um só texto, o da atriz Maria Lúcia Dahl. Ela publica toda segunda uma coluna semanal no Jornal do Brasil RJ. Já a tinha como uma musa do cinema nos anos 70/80, agora a tenho como musa de um Brasil (e do mundo) que clama por um mundo mais justo. Sua indignação é a de todos nós e ficou muito bem expressa já no título, “Que mundo é esse que inventaram para nós?”. Confiram se ela não fala por todos nós:

“Ando horrorizada com o mundo. Das mentiras políticas que nos contam. Das versões mentirosas que querem sempre nos impingir, dessa mão dos EUA por trás de tudo, inventando contos da Carochinha como no caso da Ingrid Betancourt, onde se sabe que os EUA e a Colômbia pagaram US$ 20 milhões pras Farc. Ninguém foi pego de surpresa, nem Ingrid, nem os mercenários americanos, todos muito bem nutridos e arrumados para ir embora... No filme do Michael Moore fica claro que o próprio governo americano mandou destruir as Torres Gêmeas. E fica tudo por isso mesmo, o mundo é assim... E a gente engole, engole, faz análise, toma antidepressivo porque cada dia é um salve-se quem puder. Pode-se ligar para chamar a polícia, mas para quem ligar para prender a polícia. (...) O outro acabou. Não existe mais. Tudo virou individual. O coletivo só existe para ser roubado. Ninguém dá nada de graça se não for pra ganhar dinheiro, aparecer nos jornais. Ando cansada desse mundo com o qual não me identifico. (...) Além do que, como dialogar com alguém que não lê jornal? A juventude está muito ocupada para ler jornais ou ouvir o que o outro tem a dizer. Ouvir pra quê? Ninguém tem tempo nem vontade pra nada! O outro virou uma tela de computador, onde você joga jogos para matá-lo e se, por acaso, você quiser falar com alguém é através do MSN, fácil de ser desligado imediatamente quando o outro responde o que você não quer ouvir. Ninguém ouve mais nada a não ser o celular nos ônibus, pelas ruas, nos restaurantes, falando aos berros, gritando nos lugares públicos, onde não se pode mais fumar nem beber, só gritar no celular. (...) Será que isso é o que se chama de liberdade? (...) O que aconteceu agora que até a polícia mata nos joguinhos de DVD? A eles todo o poder? Com que direito internamos um soldado gay pra fazer teste psicológico, que é isso gente? (...) Pessoas inocentes sendo barradas em todos os países? Por que esse ódio do outro. Quem se importa com os 30 bebês que saíram em 30 caixõezinhos juntos do hospital? Não sou eu que estou lá, é o outro. Não posso conviver com pais que matam filhos, filhos que matam pais. Estava nesse clima quando acordei e li o jornal falando sobre a Operação Satiagraha que prendeu Daniel Dantas e os outros que lesaram os cofres públicos em US$ 2 bilhões. (...) Que seja eterno enquanto dure...”

Foi difícil cortar alguma coisa e preferi não escrever mais nada. Dahl disse tudo o que tinha pra vos dizer nessa semana. Como resistir a tudo isso. Pelo menos para amenizar a dor interna de quase nada podermos fazer, deixo como ilustração desse texto, uma reprodução de uma antiga foto da atriz, antiga musa d'O Pasquim, um jornal que também lutava contra tudo isso, de forma irreverente e criativa, rindo na cara dos poderosos e mostrando a todos que o rei estava nu. Hoje, nem isso temos mais. Ela, porém, continua na ativa, como atriz e como jornalista. Sua escrita é a de todos nós.

Henrique Perazzi de Aquino, 48 anos, selecionando em letra maiúscula uma frase de tudo o que li dela, para reflexões coletivas: “COMO DIALOGAR COM ALGUÉM QUE NÃO LÊ JORNAL?”.

DAHL MAIS ANTENADA DO QUE NUNCA (a carta para o Jornal do Brasil)
Quando terminei de ler o texto da última coluna da Maria Lúcia Dahl, "Que mundo é esse que inventaram para nós?" não resisti. Imprimi e o distribui para todos conhecidos. Estamos mais do que necessitados de um toque desse tipo. Está tudo aí na nossa cara e não estamos tendo a coragem de enxergar e de colocar o dedo na ferida. Os textos semanais de Dahl, unidos aos diários de Fausto Wolff, são um alento para todos os que ainda acreditam (não podemos desistir) na possibilidade de salvação disso tudo. Resistir, mais do que nunca é preciso e necessário. Que muitos outros recebam o toque como um alerta e sirva para uma retomada de posições, principalmente na forma como tocamos nossas vidas. Dahl, que já foi minha musa no cinema nos anos 70/80, agora é minha musa na forma franca, sincera e objetiva, como retrata nossos problemas. Estou contigo e não abro. HPA - Bauru SP

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