terça-feira, 20 de dezembro de 2011

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (31)

CINEMA DEMOLIDO, CRISE NAS ENTIDADES E ALGO DA LEI DE ESTÍMULO
Tenho três temas encaraminholados aqui comigo e queria juntar todos num só. Da impossibilidade disso, discuto cada um em separado, mas perceberão que lá no frigir dos ovos, todos têm sempre algo em comum. Veremos...

1.) Numa página interna no BOM DIA BAURU, edição de 10/12, uma manchete me chama a atenção, “ANTIGO CINE BAURU SERÁ DEMOLIDO”. Fico triste só de pensar no assunto. Comento o fato com um amigo e ouço dele algo a me desagradar mais ainda: “Aquele prédio é horrível e como não tem mais utilidade como cinema, não tem mais sentido continuar em pé”. Foi exatamente esse o pensamento dos proprietários ao anunciarem a possibilidade de demolição. Segundo o jornal: “Donos do prédio, que estava fechado há quase quatro anos, tentarão vender apenas o terreno”. Como impedir isso? Não existem meios. Ano passado ouvi que o Tubinho tinha intenção de fazer ali sua sede teatral. A coisa não avançou. Sonhei durante esses anos todos em que o prédio permanece fechado, que poderia ganhar na loteria e lá manter uma das salas intacta, passando filmes de arte, cults e no restante montar um ponto comercial, um bar a atrair gente diferenciada, que gostem de cultura e de um lazer inteligente. Como nem jogar na loteria jogo, o sonho se finda agora com a notícia de que tudo virá literalmente abaixo.

2.) Meu segundo comentário é sobre a manchete do JORNAL DA CIDADE – BAURU, edição de 17/12, estampando na capa “ENTIDADES ASSISTENCIAIS VIVEM PIOR NATAL DE TODOS OS TEMPOS”. Fico triste e na página interna a continuidade do choro com “Vida moderna põe entidades em crise – Contando cada vez menos com a colaboração de voluntários, instituições enfrentam dificuldades para manter atividades”. Nem li, pois ao ver as fotos e as legendas, imagino tudo o que está a ocorrer. APAE, Lar Escola Raphael Maurício, APIECE e tantos outros estão penando com o que dizem ser o fim da cultura filantrópica. Falar em filantropia é algo mais do sério nesse país, pois experiências mil atestam que muitos se utilizam desse meio para enriquecimento. Os maus pagam pelos bons. Só escrevo isso para lembrar uma das maiores filantropas que conheci nessa cidade, uma pessoa já falecida e que não teve seu nome reconhecida como tal. Falo de ENY CESARINO, a famosa cafetina da mais famosa casa de tolerância do país, a CASA DA ENY, de saudosa memória. Dona Eny sempre deu muito, para todos que iam pedir-lhe algo, mesmo para aquelas que, depois lhe viravam as costas nas ruas da cidade, pois era “vergonhoso” (sic) cumprimentar uma mulher que ganhava a vida daquele jeito. Eny fazia mais, pois doava e não buscava ter o nome citado com pompa. O fazia por acreditar estar fazendo o certo. Ouvi muitas histórias dela como filantropa e ao ler a manchete do jornal, não existe meios de não bater uma bruta saudade dessa senhora que soube inscrever seu nome na história não oficial dessa cidade.

3.) Vamos aos finalmentes. Meu terceiro tema é sobre uma manchete no Caderno JC CULTURA, do também JORNAL DA CIDADE, edição de 15/15, estampando: “CULTURA OFERECE SUPORTE PARA PROJETOS DA LEI DE ESTÍMULO”, estipulando prazo para entrega dos trabalhos pleiteando aprovação. Hoje, 20/12 foi o dia da última reunião do Conselho Municipal de Cultura com sua atual composição, pois no início do ano já foi aprovada a nova, inclusive com a criação de novos cargos. Seria minha despedida, mas não pude comparecer. O fiz de outra forma, enviando um texto para ser lido e anexado junto a Ata. Para não me alongar, abaixo sua reprodução, com meu posicionamento. Leiam e me critiquem/elogiem à vontade:

Meus caros e caras do Conselho Municipal de Cultura de Bauru
Na impossibilidade de comparecer pessoalmente na última reunião do ano do Conselho, sendo a última (acredito) com a qual poderia participar, uma vez que o Conselho está sendo todo renovado, aproveito para me despedir de todos, desejando ares renovadores e criativos para os novos membros já a partir de 2012 e peço a leitura desse documento na reunião de hoje, 20/12/2011.

Como última mensagem, tenho algo a dizer, principalmente num dos quesitos mais importantes dentro de tudo o que foi discutido até agora dentro das reuniões do Conselho. Semana passada, exatamente dia 16/12 encerraram-se às inscrições para o programa Municipal de Estímulo à Cultura (instituído pela lei nº 5572, abril 2008). O objetivo, como todos sabem é o de “incentivar a produção e formação artístico cultural, preservar e divulgar o patrimônio cultural da cidade e dar apoio a outras atividades culturais consideradas relevantes”. Seu edital contempla a participação de pessoas físicas e jurídicas e poderiam ser selecionados projetos com valor máximo de até R$ 20 mil para jurídicas e R$ 10 mil para físicas.

Fui incentivado a participar do mesmo, com a inscrição de projetos na área de memória e mesmo tendo algo praticamente pronto para essa finalidade não o fiz e explico os motivos. Sendo membro do atual Conselho não acredito ser ético, mesmo sendo legal a minha participação no mesmo, pois isso poderia denotar certo favorecimento, privilégios e benefícios. Não quero e não me arrisco a passar por esse constrangimento. Abdiquei e com minha saída do Conselho, com certeza, projetos de minha autoria poderão ser inscritos nos próximos editais.

Sinto um bom momento e saliento isso, dentro dos novos rumos da SMC – Secretaria Municipal de Cultura, com uma abertura de possibilidades imensa para a classe artística bauruense. Vibro com isso e gostaria que o ato sacramentado por mim nesse momento, fosse levado em consideração por todos seus membros, pois vivemos um momento dos mais conflitantes na sociedade brasileira, quando criticamos tudo e todos por atos resvalando na corruptela inerente ao nosso sistema. Permanecer isento disso é algo salutar e acredito que esse Conselho pode trilhar esse caminho. É sempre nos pequenos detalhes que se percebe o comprometimento de cada um, com a Cultura em si, para si e num todo, envolvendo um número cada vez maior de pessoas. Não faço isso para me promover, mas para salientar da necessidade dos critérios serem cada vez rigorosos.

Um forte abracito desse modesto conselheiro e sua também modesta contribuição nesses anos em que estive participando ao lado de todos aí nas reuniões do Conselho.
Henrique Perazzi de Aquino – presidente da Associação Amigos do Museus de Bauru, membro do CODEPAC – Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Bauru e do Conselho Municipal de Cultura de Bauru.

OBS FINAL: A primeira foto, lá de cima e a última, aqui embaixo, parecem não ter sentido nenhum com o texto, mas representam uma Bauru que gosto muito, a da criatividade dos que labutam duramente pela sobrevivência. Esse senhor, muito bem trajado, com uma bicicleta e adaptando nela um carrinho de sorvete. Me encanta divinamente ver isso pelas nossas ruas e poder retratar um bocadinho disso aqui no blog é gratificante. É com esses que eu vou...

3 comentários:

Eraldo Marques disse...

*Antigo* Cine Bauru??? Para mim isso era na 1º de Agosto...

Céus, como estou velho!

Abraços!

Mafuá do HPA disse...

Eraldo
Verdade. O verdadeiro e original Cine Bauru é o da Primeiro de Agosto. Esse, o da Treze de Maio é a versão moderna, também fechado e agora, quase demolido. Os cinemas de rua, infelizmente não resistiram, mas toda vez que vou ao Rio e vejo aquela belezura do Odeon, todo revitalizado na Cinelândia, me dá uma vontade de tentar fazer algo pelos ainda resistentes. Missão impossível.


Henrique - direto do mafuá

Anônimo disse...

Henrique, agradeço a sua postura, ética, seriedade, compromisso e dedicação à cultura.
Conte com o Enxame Coletivo para possíveis parcerias nesses projetos futuros.


Num linguajar mais contemporâneo, é nóis.


Sobre a última reunião do Conselho, também não pude participar infelizmente.
Cheguei em Bauru na segunda à noite (vim de SP apenas para a reunião), mas acordei um pouco mal e acabei ficando em casa.


Voltamos em 2012 para os debates.
Um ótimo fim de ano, boas festas e até mais.
Vamo que vamo.

artur faleiros