quarta-feira, 4 de novembro de 2015

MEMÓRIA ORAL (190)


MAIS CINCO HISTÓRIAS DE GENTE QUE A RECORDAÇÃO BATE E DAÍ ESCREVINHO


01. GINO BACCI, CRAQUE DO BAC MORRIA HÁ UM ANO
Tenho um amigo paulistano reginopolense que toda vez que aporta em Bauru tem um lugarzinho só dele, um que escolheu para se hospedar e dali não arreda pé por nada nesse mundo. O amigo é o Fausto Bergocce e o lugar onde gosta de ficar e se sente muito a vontade é o Hotel Avenida, um dos mais simples, honesto e com a cara do seu proprietário, um senhor que nos deixou há exatamente um ano atrás. Hoje ao tomar conhecimento de um ex-craque de bola que também mora lá, bateu a saudade primeiro do Fausto e depois das histórias todas envolvendo o hotel, seu filho também falecido e algo do seu dono que conto abaixo.

GINO BACCI foi jogador de bola, craque do falecido BAC – Bauru Atlético Clube, que por muitos anos rivalizou com o ainda vivo Noroeste. Nasceu em 01/11/1920 e faleceu em 29/10/2013, com 93 anos, há exatamente um ano atrás. Foi um baita zagueiro, à moda antiga, começando sua carreira num outro time não mais existente, o Guedes de Azevedo, jogando também em outro famoso na terra, o Luzitana. Teve três filhos, Adele e Maria Izabel, além do advogado Pelegrino Bacci, também falecido há pouco mais de um ano. Mesmo sendo baqueano até a morte, chegou a ser dirigente do rival, o Noroeste. Algo dito até hoje pelas esquinas da cidade é o fato dele quase ter ido jogar bola na década de 40 no grande São Paulo, mas o pai, dono do famoso hotel Avenida, localizado na esquina da avenida Rodrigues Alves com rua Monsenhor Claro acabou não permitindo. Herdou o hotel e o administrou por décadas, um lugar que conseguiu sobreviver ao tempo e continua aberto e lotado de clientes, com preços dos mais convidativos para os dias atuais. Logo depois de sua morte, Neto del Hoyo publicou uma linda crônica sobre ele no JC, em 30/10/2014, podendo ser lido clicando a seguir:http://www.jcnet.com.br/colunas_textos.php?idTexto=38. Para vê-lo clique a seguir e algo da TV Tem do dia de sua morte: http://globotv.globo.com/…/morre-gino-bacci-ex-zag…/3731861/.

2. MARIA LUIZA É MINUCIOSA RESTAURADORA DE LIVROS
Gosto demais de ver as pessoas que trabalham com detalhes, tecem algo com o devido cuidado, minucias tratadas a pão de ló, fino trato. Trazem isso para o resto do dia a dia e quanto percebem tocam a vida toda assim, desse jeito meio que cheia de cuidados especiais com tudo e todos. Até no falar são diferenciadas, no jeito que pisam no chão, no trato com seus semelhantes. Quando conheço alguém assim e ainda mais sabendo de algo a mais em suas vidas, já quero contar pra todo mundo. Dessa aqui hoje retratada queria escrever faz tempo, me faltava uma foto para ilustrar tudo. Hoje não falta mais nada.

MARIA LUIZA ZANZARINI é bibliotecária na Secretaria Municipal de Cultura e desempenha por lá, na Biblioteca Central junto ao Teatro Municipal, além da ação diária de selecionar, catalogar, atender o público, algo que a diferencia de muitos outros. É uma exímia restauradora de livros. Sim, aquelas maravilhas que são danificadas de tanto irem e virem manuseadas pelos interessados, aos mais antigos, doados já com probleminhas e outros tantos necessitando de cuidados especiais, a maioria desses passam pelas zelosas mãos de tão dedicada servidora. Aliás, um doce de pessoa, dessas que falam baixo, ouvem muito mais que falam, a sapiência em pessoa. Gosta demais do faz, lê muito, anda também muito a pé e nos gestos precisos, fagueiros é um ser iluminado. Paira sobre os salvadores de preciosidades uma aura especial. Maria Luiza a possui e acho que nem sabe bem como administrar esse dom. Nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo, 1953, mora na Vila Falcão já faz um baita tempão, mãe também zelosa, com uma filha dessas de encher os olhos, fisioterapeuta e um filho jogador de bola, vive em paz consigo mesmo, fluindo e deixando fluir. Aos querendo conhecer alguém mais do especial, cabelos brancos como a neve, mente aberta, pensamento positivo, pois bem, eis alguém com tudo isso e mais um pouco. Pra gostar dela basta conhecê-la, o resto vem com o tempo.

3. OSWALDO MALINI SEGUE VIVENDO E DEIXANDO VIVER
Viver é andar e conversar. Faço isso na medida do possível. Converso com muitos e assim toco minha vida. Não recuso uma parada e aquela boa troca de figurinhas. Nem que seja por alguns poucos minutos. Em cada esbarrão vou juntando detalhes para meus escritos, ou seja, escrever mais e mais das pessoas dessa cidade. Eu, como até as pedras do reino mineral muito bem sabem não sou poço de perfeição e, dessa forma, não exijo isso de ninguém. Não recrimino nada, deixo a vida ir rolando, acontecendo. E de todos os conhecidos e não conhecidos aqui descritos, gosto mesmo é de falar das pessoas, as que tem garrafa vazia para vender.

OSWALDO MALINI, 76 anos é um contador (de histórias também, viu!) aposentado e morador desde muitas dezenas de anos numa rua ali no começo da vila Antarctica, dessas que vão dar de cara com o novo shopping, o Boulevard. Cuida da esposa com Alzheimer, acamada há também dezenas de anos. Vida que segue, ele encara tudo da melhor forma possível, cumpre sua missão, mas não deixa de viver. E vive. Tempos atrás o via circulando pela cidade com um reluzente Opala, dessas peças raras, conservadas por ele em formol e segundo suas estimativas, valendo hoje mais de R$ 35 mil reais. “Só vendo acima disso”, diz. Circula ainda com ele, mas cada vez menos. Assim como vai cada vez menos para o famoso apartamento que possui em Santos e que hoje, acabou se transformando num reforço na renda mensal da família. Conversar com ele é sempre ouvir boas histórias, como as do seu tempo de FUNAI, quando trabalhou ao lado dos irmãos Villas Boas. Um sujeito com corpo refinado, magro, retinto, bigode bem aparado, dizem ser também excelente pé de valsa, o fato é que Malini segue em frente. Pai do famoso ator de teatro Roberto Malini, faz de suas andanças, na maioria das vezes a pé pela cidade, lugar para recarregar energias. Figura marcante, dizem ser enfezado, mas na verdade não o é. Proseador e cheio de boas histórias, isso sim.


4. SILVIA REGINA É A CUIDADORA DA PRAÇA CENTRAL DO RASI
Uma história leva a outra. Uma simples imagem de alguém fazendo pão caseiro em sua residência desperta a curiosidade de contar a história de quem se predispõe a fazer tão charmosa iguaria (e de forma totalmente improvisada) em sua casa. Juntou os tijolos no que vai ser o tal forno e com eles no lugar, ali os assou. Chamou a atenção e como já estava engatilhado de contar sua história, aproveitei a deixa, fui lá provar do tal pão no meio da tarde e nasce assim a história da personagem de hoje.

SILVIA REGINA é da boa safra de 1968 (façam vocês a conta da idade dela). Vivíamos anos intensos, resistência e destreza em enfrentar o touro a unha. Vem daí essa sua imponência e sapiência na forma como rindo vai conseguindo resolver a maioria dos problemas à sua volta. Mora junto do marido e de um dos filhos lá ao lado da praça central do Rasi, a Profª Dina Maris Conte Munhoz. Essa foi a primeira praça inaugurada na nova gestão da Secretaria do Meio Ambiente e recaiu nela, por morar bem defronte a mesma e cheia de zelos, a tarefa de tomar conta do novo espaço. Assumiu tudo por puro amor ao bairro e dá conta do recado. O esmero é total. Ela faz isso, além de muitas outras coisas, tudo ao mesmo tempo: Esquadrão do Bem, Doação de Fraldas, Tricoteiras e dá também sua ajuda nos cuidados para famílias carentes e crianças. “É o que me faz bem”, diz. Essa Técnica em Enfermagem, que nunca atuou na função e sim, na de Auxiliar em vários hospitais de Bauru, hoje é a Cuidadora não só da praça, mas do bairro. Com 34 anos juntos do marido Nicola, o Baixinho, ela, a Baixinha, sempre rindo, toca sua vida da melhor forma possível e na tarde de hoje ao postar algo feito em sua casa, chama a atenção. Improvisou um forno e de lá saíram belos pães caseiros, no quintal, ao lado de muito verde, tudo plantado em improvisada estufa. Seu quintal é todo cimentado, mas em grandes reservatórios plásticos planta de tudo, colhe, come e até distribui. Silvia não para, faz e acontece o dia, semana, mês e ano todo. E no Carnaval se esbalda no “Bauru Sem Tomate é MiXto”.


5. BAIANINHO DO COQUINHO CIRCULA MUITO VENDENDO QUITUTES
Muitos precisam bolar, criar seus próprios empregos. Ressalto sempre os que se sobressaem nesse quesito. Dão aquela sondada no mundo à sua volta, juntam com a necessidade individual de conseguirem uma renda para navegarem com certa calmaria na vida, não contam com nenhum acompanhamento de empresas especializadas, nenhum marketeiro lhe ditando as normas do mercado, juntam tudo isso e algum conhecimento específico do produto que querem vender. Pronto, com essa mágica junção, fazem tudo e caem no mundo oferecendo algo só deles. Com um pouco de carisma, dedicação, simpatia e, é claro, algo bem feito, vivem em função do que criaram para viver. Contar algo dos que obtém sucesso nessa empreitada é algo que faço com o maior prazer.

LUIZ CARLOS SOUZA SANTOS, 46 anos, baiano de Camaçari, na Bahia é o famoso BAIANINHO DO COQUINHO, especialista em doces. Chegou em Bauru há 14 anos atrás e desde então buscava algo que o consolidasse no que sabe fazer, doces. O começo não foi nada fácil, morou primeiro no Fortunato Rocha Lima, depois Redentor e agora, conseguiu se estabilizar com certo conforto na Pousada da Esperança. Ali vive feliz ao lado da família e montou em sua casa o algo a mais movimentando sua vida. E movimenta mesmo, pois o danado é mais do que famoso por onde passe. Com uma bandeja a tiracolo anda por toda a cidade e região, oferecendo seus doces, a paçoca, o doce de leite, o quebra queixo e as cocadas, tudo muito bem embalado, pronto para o consumo. Muito conhecido por onde passe, desde bancos, concessionários, imobiliárias e lojas de todos os tipos. Sorriso franco, papo agradável, constrói fáceis amizades e conta que, gosta mesmo de viajar sozinho, pois nessa questão de higiene, só ele sabe dos cuidados que deve ter com tudo o que distribui. Tem uma frase que resume sua vida: "A necessidade acelera muita coisa na vida gente". Espalhando entre nós a cultura do Norte e Nordeste, cada pacote já vem com a identificação: “Doces Caseiros Baianinho” e para os interessados segue seu fone 14.998885667.

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