sábado, 12 de outubro de 2019

ALFINETADA (183)


OS DESAJUSTADOS E OS ENGALANADOS
Eu não fiz opção pelos pobres como o fizeram tempos atrás os católicos da Teologia da Libertação, algo bem com os pés no chão, entendendo que, Cristo se veio ao mundo é para estar junto desses, a grande massa desvalida e sem direitos. O que vale mesmo em qualquer religião é a estar ao lado desses, do contrário, nem perco meu tempo. Na vida prefiro estar com esses, pois é onde me sinto bem. Gosto de viver dentro do universo de gente que escreve com os pés no lodaçal da vida humana, daí por aqui minhas preferências são por João Antonio, Plínio Marcos e outros. Do Plínio, voltei a espiar alguns de seus livros, feliz herança de meu sogro, seu Zé Pereira, que tinha tudo dele e hoje essas preciosidades estão comigo aqui no Mafuá. Quem cai nesse antro, epopeia dos desajustados descritos pelo escritor santista logo recebe um apelido, como eu vejo acontecer por onde ande, da Ferradura Mirim, Jaraguá ou Fortunato Rocha Lima: Tirica, Portuga, Fumaça, Lindeza, Esmeril, Beiçola, Bahia, Pereco e assim por diante. Na periferia, nas vicinais da vida, entre as vielas todos se chamam assim, quase ninguém é lembrado pelo sobrenome. Alguns nem sequer apelido. Alguns são apenas tipo: Louco, Queimado, Garoto, Pedreiro, Carcereiro. Aqueles são também conhecidos por nomes mais perversos, adjetivos para uma vida no avesso, no lado tortuoso, como: Xilindró, Xadrez, Cana Dura, Jaula, Pereba. O pessoas das quebradas sabem como ninguém ir dando designações para uns e outros. Eles podem, eu não, eu só observo e repito, chamo dessa forma, quando não tenho outro jeito para denominar um ou outro. Vejo ali reunidos aquilo que os homens de bem costumam chamar, a distância, de lixo humano. As vidas naqueles antros são baratas, não valem um tostão furado. São desconfiados para gente como eu, que sabem não serem dali, mas gostamos de ali estar. Querem saber qual a nossa, o que nos traz até ali, o que está por detrás do interesse por eles, só depois de ter respondido essas questões abrem um pouco a guarda. Ganhar eles é algo diário, faz parte de uma estreita convivência. Eu não ganho, gosto da convivência, pois acredito serem eles os que ainda vão virar essa mesa e botar pra correr esses que hoje nos apunhalam.

Escrevo isso tudo e vou espiar as Colunas Sociais da aldeia bauruense e o que vejo me enoja, me causa repulsa. A falsidade está estampada na fisionomia da maioria das pessoas ali retratadas. Fazem pose, esticam o beiço, alisam o pelo e o cabelo, escovam a superfície facial, retocam maquiagens e gostam de se verem em fotos pela aí, isso massageia o ego deles todos. São falsos até a medula. Se tratam com títulos, de comendadores a doutos cidadãos, num salamaleque de doer a alma. Se fingem de mui amigos, mas na verdade, gostariam mesmo de estarem se apunhalando uns aos outros, invejosos um do que o outro possui. O sorriso desses expressa bem o baú de maldades escondido por detrás de cada nó de gravata. Enquanto os pobretões possuem seus cronistas, desde os dois já citados, como outros ao longo do tempo, desde João do Rio, Lima Barreto, Rubem Fonseca, Jorge Amado, os ditos elegantes, a nata do que aqui em Bauru convencionou-se chamar de "forças vivas", também possuem os que vivem só para registrá-los e isso vai desde Ibrahim Sued até o nosso único cronista hoje em atividade no único jornal impresso da cidade, Roberto Rufino. Eu sinto cheiro de mofo nessa gente da Zona Sul de Bauru, pois defendem, para mim o indefensável, os seus privilégios e não estão nem aí para as agruras dos que vivem nos degraus de baixo da escala social. Poucos se lixam para o que acontece e como rola a vida nas vielas das periferias. Talvez por causa disso ainda são bolsonaristas, pois a regra básica desses todos a defender a insanidade deste desGoverno é não olhar para baixo, cravar a estaca e rir da situação. A vida para mim só é eletrizante quando os olhos se voltam para esses remediados. Um churrasco entre eles é de um sabor inigualável comparado a um feito com os salamaleques de um desses condomínios fechados, muros eletrificados. Prefiro levar o meu kit churrasco para festas do que comer um churra gourmet, numa varanda de apartamento de última geração. A vida vivida rente como um corte de navalha é o que me anima a seguir em frente.

PS.: Poderia continuar escrevendo laudas sobre essa minha mente meio no desvio hoje, mas acho já ter perdido o fio do novelo. Qualquer dia continuo, vou tirar uma soneca após o almoço. Se acordar bem descrevo algo mais dessa epopeia dentro da minha cabeça. Foi um escrito assim desses saindo num só cuspida, sem revisão, após ler algo numa revista sobre Plínio Marcos e ver um livro do Ibrahim Sued aqui no mafuá. Juntei os dois no embaralhado mental e saiu isso, melhor, cuspi isso. |Foi como se batesse os dois num liquidificador e depois despejasse seu conteúdo num copo e tentasse engolir tudo assim de uma só talagada. Deu nisso...

O PAPA, O SÍNODO E MEU IRMÃO
Edição 1076 de CARTA CAPITAL já nas bancas e com a seguinte capa: O PAPA X O BRASIL DE BOLSONARO – Francisco acusa o Governo de praticar na Amazônia um novo colonialismo em benefício do capital e o Vaticano intervém nos Arautos do Evangelho, controversa ordem nascida da TFP. Recebo a mesma em casa via assinatura e escrevo algo para meu mano: "Meu irmão é um retinto católico bolsonarista. Mesmo com tudo o que o Bozo faz contra sua religião, paparicando os neopentecostais, ele segue altaneiro a defendê-lo e com seu ódio mortal aos petistas. Ele me envia algo sobre o cristianismo hoje e rebato enviado a capa da revista com um breve escrito: "Mano querido, sou seguidor inveterado desse papa, que não é comunista, socialista, petista, esquerdista, nada disso, ele só é seguidor de regras básicas para uma vida normal de um cristão, lutar contra as desigualdades, injustiças e optar por favorecer os interesses da maioria da população mundial e dos menos favorecidos, como o faz nesse momento com os indígenas no Sínodo dos católicos. Esse sim um cristão que vale a pena nos dias de hoje, no mais rejeito todos. Ele se opõe contra a bestialidade, os que pregam o ódio, como esse insano do Bolsonaro e todos que o seguem. Entenda o Sínodo e se quiser tenho uma revista desta semana sobrando e lhe dou com o maior grado. Do seu irmão Henrique".

DICA DESAJUSTADA PARA LOGO MAIS A NOITE
A NOITE É UMA CRIANÇA...
Hoje num dos bares mais instigantes, provocantes e arrepiantes desta aldeia, o Bar do Genaro (do Fabricio Genaro), ali no começo da Wenceslau Brás, esquina com Altino Arantes, subida da vila Falcão, no comecinho da noite do Dia das Crianças, um evento para atrair toda criança existente dentro desses velhuscos, porém nunca velhacos, a reunião de dois artistas dessas plagas em algo com o espírito jovial ainda habitando gente a envelhecer por fora, mas por dentro permanecendo com aquela eterna jovialidade: Manoel Fernandes e Sílvia Souto, ambos cantando, encantando, versando, proseando e promovendo arruaças com quem por lá botar os pés. Genaro, o dono do estabelecimento, já liberou cevada para todas as crianças acima de 18 anos e baixo de 100 anos, daí estarei presente para ver de perto o que pode despontar da inusitada união de gente a despirocar a vida dos querendo viver ajustados. Convite estendido para tudo, todas e todos os que, cansando de procurar algo diferente para fazer, como nada melhor encontrarão, eis o local ideal para desopilar o fígado na noite de hoje. Eu vou e vocês??? Eis o release deles: "'Cantiga de Maria' é um espetáculo composto por 50 cantigas que mostram a magia do palhaço brincante (Manoel Fernandes) em vários momentos de alegria, tristeza, amor, amizade, fé, morte e vida. Uma viagem musical em formato de bar pela primeira vez na carreira do artista que terá ainda a participação da cantora Cris Souto. Imperdível para você - adulto ou criança - que precisa do sorriso de um palhaço". EU PRECISO...

Um comentário:

Anônimo disse...

Gosto é deles: o Menó, o Pastor, o Big, o Sorocaba, Negão, Buiu, entre outros. De Doutor (sem doutorado) estou farto.
Daniel Dalla Valle