domingo, 1 de março de 2020

CARTAS (212)


CARNAVAL, LUDGERIO, SAMBÓDROMO E AS MASSAS

por Henrique Perazzi de Aquino - jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogstop.com) - Missiva de minha lavra e responsabilidade, inédita e exclusiva, hoje na Tribuna do Leitor, do Jornal da Cidade - Bauru SP:

O Carnaval deste ano aqui em Bauru esteve revestido pela insana áurea dominando tudo por esse país. Deixando-se vergar, tudo daqui por diante terá como fio condutor o país pensando e agindo pela mente dos apostando no retrocesso, andando de marcha a ré. Até na tentativa de impor que a Prefeitura não mais auxilie, o surreal esteve presente, porém a força da união em torno da festa se mostrou ainda maior e, pelo visto, por enquanto, a vitória da sensatez se faz presente. E que assim perdure.

E a festa se mostrou grandiosa, primeiro nas ruas, pela persistência dos jovens saindo às ruas mesmo com a proibição do "Bloquinho", depois pelo sucesso do ocorrido no Sambódromo. Dessa festa, sempre algo se destaca e desta feita um pequeno bloco, poucos anos de vida, fluindo ali nas beiradas do jardim Redentor, o Estação Primavera, reduto de bons sambistas, como seu presidente Adílio Nascimento e de valiosas cabeças pensantes e pulsantes. Juntaram forças e buscando outras na batida do maracatu, levaram para a avenida algo inovador. Inovação aliada à criatividade, perseverança, afinco e gente qualificada sempre traz bons resultados.

Do conjunto da obra, ressalto a primorosa percussão da bateria, propiciando o que melhor tivemos na avenida neste ano. Cartola e Mocidade são joias raras, sem novidades, sendo o destaque deste ano o feito da bateria do Primavera diante dos jurados. Todos de frente para esses, a linha do maracatu avançando para a frente e o show da rainha da bateria, Cristiane Ludgerio, numa pegada aprendida na raça, sacode a avenida, levanta tudo e todos, merecendo todos os apupos. Uma rainha da bateria fazendo e acontecendo, pulsando a todo vapor pela sua agremiação, eis uma combustão a incendiar tudo à sua volta.

O Carnaval só tem sentido quando feito para levantar os ali presentes. Ninguém sai de casa para ficar sentadinho a noite inteira numa dura arquibancada. Ludgerio e a bateria do Primavera ousaram e produziram um espetáculo sem erros, primoroso, impecável. O Carnaval já é coisa do passado, mas a lembrança do ali presenciado não sairá facilmente da mente de todos os sortudos presenciando a beleza da cena. Esse levantar as massas, sacodir a poeira é o que o país mais precisa nesse momento.

Junto os dois, o maravilhamento do espetáculo carnavalesco com a demonstração de todas suas possibilidades ali diante de tudo e todos, com o que estamos mais precisando nesse momento, o de algo assim como o feito da sambista, levantando as massas e o povo unido não deixar esse país ser encaminhado para o lado obscuro, reduto de ódio, discriminação e intolerância. Agora, quando a festa já dobrou a esquina, só falta o país botar outro bloco na rua e o povo ir junto, pois não seria mesmo plausível se deixar levar por um governante autoritário, agindo por decretos ou golpes querer conter o ímpeto das massas em ser, fazer e acontecer. O povo unido é invencível.

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