segunda-feira, 15 de junho de 2020

ALFINETADA (192)


O HOMEM DO PAVIO CURTO - NÃO PENSO EM OUTRA COISA

Sou eu mesmo. Estou por um fio. Pedem a minha colaboração nos andamentos necessários para o partido no qual milito ter prosseguimento regulamentar para as próximas eleições. Tento, mas diante de um calendário sem quase nada definido e com datas ainda a serem confirmadas, com a pandemia demonstrando se prolongar ainda por enorme tempo, fico entre a cruz e a espada. Como posso dar o melhor de mim para desbravar algo de um partido necessitando ser reconstruido se nem ao menos conseguimos nos manter como país soberano? Existem várias lutas sendo empreendidas no momento e a questão prioritária, pelo menos para este intrépito guerreiro é a derrocada do desGoverno de Bolsonaro e toda sua corja encastelada no poder. Como posso querer ousar pensar em algo mais diante desta urgência?

Tenho um texto acadêmico para concluir e com prazo delimitado. O Congresso/Encontro ocorreria agora no final de julho em Buenos Aires e pela primeira vez em nove anos deixarei de lá estar presencialmente. Em pouco mais de dez anos de existência, pela primeira vez o realizarão de forma virtual, como tudo nestes tempos. Só o texto final de meu artigo é que precisa ser enviado no prazo. Tento me concentrar, escrevo e reescrevo várias vezes e pouco flui, pois diante de mim a necessidade mais que urgente de me enfronhar e estar disposto aos enfrentamentos para a derrubada do Bozo e de tudo o mais que ele representa. O prazo é hoje e meu texto, uma boa ideia que se bem desenvolvida poderia me render bons elogios, mas tenho comigo de que de nada valerá fazer algo valoroso e ter um país destroçado pela frente. Está difícil de terminar, a cabeça gira.


Minha vida profissional anda pela hora da morte. Meus negócios estagnados, vendas paralisadas há mais de três meses e sem renda entrando nos meus já vazios bolsos. Penso em ir retomando aos poucos, mas sei que, com o país do jeito que está, dificilmente o retorno se dará como antes e para chegar perto do patamar onde me encontrava, primeiro teremos que dar uma guinada na questão política, ou seja, com este desGoverno dificilmente algo poderá avançar, pois ele, o mandatário mór joga contra os interesses de pequenos comerciantes como este que vos escreve. Daí, penso com meus botões: não seria melhor derrubá-lo primeiro? Meus esforços estarão concentrados nesse sentido e por ele estarei envolvido daqui por diante.

Meu médico me pede para conferir meus últimos exames, mas os mantenho na gaveta e nem quero muito olhar para as datas e seus vencimentos. Já teria que ter feito alguns e um deles me diz que pode me atender de forma virtual e se ver a necessidade me dirá se farei novos exames ou me renovará as receitas. Adio isso, mesmo sentindo uma pontada aqui outra acolá, pois de que me adiantará ter a saúde em dia se for perseguido de forma implacável por gente desqualificada nos governando e achando que uma pessoa como eu, amante de livros, escritos é um contumaz comunista? Sei que não conseguirei enfrentar esse dragão da maldade debilitado, mas também de pouco me servirá a impecável saúde se os que nos querem perseguidos e enjaulados vencerem essa contenda sendo disputada nas ruas deste país.


Os credores me ligam, a funerária avisa que estou com parcelas em atraso e se não pagar, em caso de ocorrência inesperada deixarão de me atender, o banco quer negociar algo por lá pendente, o telefone toca de um DDD que desconheço e não atendo, a academia do prédio voltou a funcionar, mas não estou vendo vantagem em voltar a malhar. Enfim, são tantas coisas juntas e misturadas, todas convergindo para algo em comum. Não sou eu que estou numa encruzilhada, mas sim o meu país, suas instituições e a própria pandemia. Amanhã, dia 16/06 completarei exatos 90 dias, três meses de reclusão, confinamento e a cabeça anda muito confusa. A mesa está empilhada de papéis, muitos com decisões que já deveriam ter sido tomadas e eu não consigo dar andamento normal para nada o mais que não seja me colocar à disposição, dar o meu quinhão, no que estiver ao meu alcance, para derrubar logo esse cara a destruir meu país. Agora mesmo, batem à minha porta, mas não estou com vontade nenhuma de atender. Nem meus vizinhos me entendem. Para muitos deles, percebo em seus semblantes, é como se nada estivesse ocorrendo e o país fluisse normalmente. Estarei pirando ou tudo só voltará ao normal quando Bolsonaro tiver sido levado para bem longe, como faço acionando a descarga do meu banheiro? Só penso nisso e a mesa cada dia mais cheia de papéis que nem ouso olhar o que venha a ser.

Enfim, como querer retomar a vida e retornar à normalidade com isso tudo em pleno andamento e até um golpe sendo urdido nos nossos costados? Impossível. e do outro lado a continuidade de meu confinamento. Vou explodir, por favor, não acendam um chama, qualquer que seja perto de mim. Estou em combustão.

HISTÓRIAS MÍNIMAS DOS TEMPOS DE PANDEMIA
https://www.pagina12.com.ar/272044-historias-minimas-en-los…
...había una señora con toda su cabeza metida en una bolsa de nylon.

O que prende minha atenção nos jornais nos dias de hoje: a história e os relatos dos que estão pela aí se safando e tentando sobreviver nesses árduos tempos. Existem os muito filhos-da-puta, os que ainda tiram um sarro disto tudo, publicam algo em suas páginas a defender o indefensável, o enfiando o Brasil numa viagem sem volta. Destes, muito asco e dos que dão o seu jeito para continuar sua caminhada, meu respito e consideração. Leio consternado e tentando me colocar no lugar dos que padecem e muito nestes tempos, algo para adoecer quem como eu, privilegiado, observa mantendo sua quarentena sem sair às ruas.


SABE QUAL A MATÉRIA QUE MAIS ME CHAMOU A ATENÇÃO NO JORNAL DA CIDADE DE ONTEM?
"ALUNAS CAÇAM WI-FI PARA ESTUDAR"
https://www.jcnet.com.br/noticias/geral/2020/06/726638-alunas--cacam--wi-fi-para-estudar.html. Os motivos são os óbvios. Elas são ótimas.


JORNALISTA BRASILEIRO PUBLICA NA IMPRENSA ARGENTINA RELATO DE INDIGNAÇÃO CONTRA O DESGOVERNO DE BOLSONARO
Eric Nepomucemo escreve regularmente para jornais estrangeiros e no domingo passado, 14/06, publica texto no argentino Página 12 com sentida indignação diante das atrocidades cometidas pelo desGoverno do miliciano Bolsonaro, em algo não só a denegrir a imegem de tudo o que faz, mas já comprometendo o Brasil num todo, hoje muito desacreditado mundialmente. Eis o link do texto completo: https://www.pagina12.com.ar/272164-indignacion-y-tristeza-en-medio-del-caos?fbclid=IwAR0-Fdk5cM-9H5xE0ovYC_pqd4T89nFHJGH-uLNs1QkHpQiybbA8leceblM
Num trecho escreve algo comparando o que faz cada Governo, o argentino e o brasileiro:
"Me cuentan que en la noche del viernes Argentina vivió una conmoción: en 24 horas hubo 25 muertes a raíz del covid-19. El presidente Alberto Fernández, el alcalde de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, y el gobernador de la provincia, Axel Kiciloff, hicieron un pronunciamiento en vivo a la Nación. A lo largo de hora y media informaron sobre la situación. En el mismo día mi país contó 1.473 muertos. A cada hora, 61. Uno por minuto. Ninguna palabra de consuelo de Bolsonaro a las familias enlutadas. Ninguna palabra de agradecimiento a médicos y enfermeros. Nada de nada. Bolsonaro me causa indignación y asco. Mi país me llena de dolor y tristeza".

Um comentário:

Garoeiro disse...

Caríssimo Henrique,
Que tristeza!
Pesadíssima, essa sua barra!
Mas, vai passar.
"Atividade no abano, antes que o fogo se apague" ...
Toda essa sufocante concentração de veneno, passará!
Respiraremos, de novo, ar puro.
Daqui dessa maravilhosa cidade do Natal, RN, a precisos 2.969 quilômetros de Bauru, estou a abraçá-lo, e à Ana Bia, com a solidariedade dos que também estão nas últimas, com toda a certeza, no entanto, que essas tragédias hão de ser superadas, e que a asfixia política do momento, passará!
Garoeiro