quinta-feira, 20 de novembro de 2025

CARTAS (250)


DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, TEXTO DESTE HPA, ESPECIAL PARA O JC
HOMENAGENS - Família Baté celebra Dia da Consciência Negra em Tibiriçá
Por Henrique Perazzi de Aquino - Especial para o JCNET, 22.11.2025
https://sampi.net.br/.../familia-bate-celebra-dia-da...

O 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, é comemorado em grande consideração em Bauru. Vários eventos ocorrem relembrando e reverenciando quem foi Zumbi dos Palmares, sua luta, importância e desdobramentos até nossos dias. Alguns, infelizmente, ocorrem simultaneamente, dividindo os presentes, pois muitos gostariam de estar em todos. O dia transcorre rapidamente. Num deles, premiação já sacramentada e oficializada como das mais significativas, a entrega pela família Baté, de Tibiriçá, da Medalha Zumbi dos Palmares.

Tibiriçá é um reduto de muita luta e resistência. Este distrito rural é algo sui generis na história bauruense. São aproximadamente mil habitantes e, dentre eles, essa família, a Cosmo, também conhecida como Baté. Como uma espécie de quilombo do século XXI, o local é residência da maioria deles e quando não ali residindo, se encontram regularmente na residência, hoje morada da matriarca Irene Cosmo, 89 anos. Neste local acontecem manifestações de grande vulto o ano todo e em todas, além da família, a presença marcante da comunidade local, bauruense e regional.

Dentre essas atividades, a deste dia é marcante. Já é tradição, todo dia 20 de Novembro, agora feriado nacional, a entrega simbólica da medalha Zumbi dos Palmares para os guerreiros que, junto da família, se fazem presentes no seu dia a dia de luta e labuta do ano em curso.

O encontro, no dia 20, foi muito além de uma simples reunião familiar ou da premiação proposta. O que ali se viu é uma representação da resistência de um povo, diante de tudo à sua volta. São confeccionadas medalhas com a estampa de Zumbi e dizeres “Família Baté – Homenagem Zumbi dos Palmares - ‘Você faz parte guerreiro’ - Tibiriçá 20/11/2025”.

A importância deste prêmio faz parte de uma significativa e representativa concentração popular em Bauru. Antes de tudo, se reúnem e seguem da casa até a praça principal do distrito. Ali, cantam, dançam e falam, sempre em alto e bom som, pra todos tomarem conhecimento do que foi a saga da família, sempre junto de Zumbi e do povo trabalhador e negro. Acompanhados de ritmistas da capoeira, algo como uma procissão, um cortejo com forte conotação de resistência, essa ali explícita do que são e onde estão. Só depois, já de volta para a casa da família, o almoço. Desta feita, uma feijoada, totalmente gratuita e algo representando outro lema da família.

No passado, tiveram muitas dificuldades financeiras, passando fome e, com o passar dos anos, recebem a todos com comida. É o sinal da fartura, da divisão do pão, da demonstração de que, superando o que lhes foi imposto, retribuem oferecendo de forma sincera alimento aos presentes. Na sequência, o ato da divulgação e premiação com a medalha. Não existe premiação previamente combinada. Tudo é feito e sai dentre os presentes, os que ali se dispuseram a comparecer e prestigiar o evento. Neste dia, o microfone esteve nas mãos de Dulce Baté, uma das que tocam, em nome da família, o barco adiante.

Ela, da forma mais simples possível, vai chamando um por um, membros da família, da comunidade, outros tantos que, ao longo deste ano e do tempo, ali marcam presença e os valorizam. Não tem como não se emocionar com a fala de alguns destes, vindos de longe, contando histórias, revirando o baú de lembranças e ressaltando de como tem prosseguimento, sempre baseado num lema meio que explícito, o do “sangue, suor e lágrimas”, mas também de muita alegria. Falam de suas tristezas e ressaltam os momentos alegres, de congraçamento e união, como o em curso. E assim recebem cada um sua medalha.

No evento são lembrados personalidades variadas, como representantes dos índios de Avaí, irmãos parede meia, pois vizinhos, com histórias parecidas de resistência. Estiveram também recebendo medalhas, além dos familiares, gente dos Messias, Balbinos, Félix, parceiros como as irmãs capoeiristas, Josiane, Lidiane, Dafne e Leda, que junto do contramestre Alexandre deram o toque musical do dia. Teve gente da Unesp, Senac, da escola estadual Major Fraga, comerciantes e populares.

De políticos, mais precisamente vereadores, só compareceram a do PT (Estela Almagro) e assessora de outro parlamentar, mesmo o convite sendo feito de forma ampla. Na frente de todos, microfone nas mãos, não só os mais velhos, como muitos jovens. Cito dois, uma jovem de 21 anos, driblando a doença falciforme conta de sua vitória e um de origem nipônica, reverencia a família e a luta pelo que gosta, o hip hop. Três jovens tiram fotos de foto de todos os presentes, resultado da oficina de fotografia do produtor Roberto Pallu junto aos jovens do distrito. Juntaram-se todos e foram amedalhados, agraciados com o mimo dos Baté, algo no qual, diante de tantas outras premiações existentes, essa sinal de algo singular, um elo periférico de amor, união e perseverança.

Dulce Baté, emocionada o dia inteiro, comandando tudo não se sabe nem como, conta: “É muita correria para fazer isso aqui acontecer. Essa data nos é muito grata. Zumbi não lutou sozinho para nos livrar das correntes. O preconceito não está somente no negro. Está em tantos outros e sem essa união, nunca vamos estar fortes para vencer essa batalha. Agradeço a Deus, a Zumbi, meus antepassados, a vocês todos que estão aqui. Hoje não é um feriado de preto. Agradecemos a você Zumbi pela graça divina, nossa força para enfrentar e vencer as batalhas todas. Viva Zumbi”. Com falas deste tipo, o dia transcorreu recheado de lembranças, conversas, comida e boa música.

O evento se encerrou com uma grande roda de samba, realizada no quintal da casa, sobre uma grama, sombra de mangueiras, quando todos se juntaram, cantaram, dançaram e se mostraram felizes. Com este olhar e reverência ao passado, tocam a vida adiante, unidos, pois assim sabem, tudo será possível. “Estar aqui é mais, muito mais do que estar numa festa. Venho e volto aqui, pois sei, aqui terei momentos de alegria, algo muito difícil nos tempos atuais e junto de gente que, como eu, batalha e muito o tempo todo. Isso aqui é vida. A nossa vida”, conta emocionada Maria Catarina Araújo, 70 anos, 30 anos ali residindo e hoje em Bauru, três enfartes, fazendo questão desse ir e vir, encerrando a conversa, com algo bem representativo do que ali é visto e sentido: “Devo a essa família um muito obrigado pelo que somos hoje”.
HPA, reproduzindo meu texto escrito com exclusividade para o JC Bauru, edição virtual de 22/11/2025.

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA PASSADO NO EVENTO DA FAMÍLIA BATÉ, TIBIRIÇÁ, ALGO INIGUALÁVEL E RECEBENDO MEDALHA, NA MELHOR E MAIS SENSÍVEL PREMIAÇÃO DESTA CIDADE
O textão vem na sequência, provavelmente amanhã e está sendo feito com exclusividade para primeira postagem no Jornal da Cidade. Aqui os registros fotográficos feitos por mim durante o dia todo dentro do evento: 

DULCE BATÉ, SOLTOU A VOZ NA PRAÇA DE TIBIRIÇÁ, JUNTO DOS CAPOEIRISTAS, NO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA: https://www.facebook.com/reel/707003345350694

VERA DE JESUS, 69 ANOS, CANTOU A VIDA INTEIRA PARA OS SEUS E HOJE SOLTOU A VOZ NO QUINTAL DOS BATÉ, EM TIBIRIÇÁ: 
https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/870388435342686

QUINTAL DOS BATÉ, PROLONGAMENTO DO EVENTO, DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, TIBIRIÇÁ - TUDO ACABA EM SAMBA: 

ALGO DA RECEPÇÃO EM TIBIRIÇÁ, MEDALHA ZUMBI PALMARES, PELAS LENTES DE Roberto Pallu E SEUS DEDICADOS ALUNOS: 

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