quinta-feira, 25 de setembro de 2008

DIÁRIO DE CUBA (11)
UMA FEIRA, MUSEU DA REVOLUÇÃO E O MALECÓN
Ainda estamos na segunda-feira, terceiro dia na ilha. No último post havíamos saído de compromissos agendados com autoridades cubanas. Na parte da tarde, algo mais light. Andanças. Foi o que mais fizemos por lá. Na saída do Instituto Cubano de Amistad com los Pueblos, uma pequena feira algumas quadras à frente, numa esquina. Adentro o local cheio de curiosidade e descubro algo que me encanta. Um descascador de laranjas. Eles não descascam laranjas como nós, preferem o fazer com uma maquininha. Registro um senhor no ofício. Na sequência uma cubana pede para ser fotografada. Muito falante, não lhe nego o pedido. E deixo registrado mais esse rico momento da viagem. Gostaria tanto de ter trazido muitos registros dos cubanos, mas achei um tanto chato ir fotografando-os sem autorização. Essa permitiu.

A parada seguinte foi no Museu da Revolução. Uma grande maravilha, que muito nos encantou. Foram mais de duas horas circulando por aquilo tudo. A praça defronte já é achado. Tem uma grande passarela, toda arborizada dos lados e um prédio monumental. Vivemos intensamente aqueles momentos. Nem me lembro quanto pagamos, mas sei que foi pouco, muito pouco. Que linda cúpula. Doeu o pescoço, mas permanecemos um bom tempo com a cabeça voltada para cima. Sei que esse meu relato é muito mais um álbum de figurinhas, pois ia registrando tudo. Marcos fica bem uns quinze minutos com uma recepcionista, Raysa Ramirez Marzo, 42 anos, hablando sobre as expectativas que iam sendo preenchidas com a visita. Numa das salas, a grande surpresa, um brasileiro retratado numa foto. Era Chico Buarque, ao lado de Pablo Milanés. Vamos e voltamos várias vezes, subimos e descemos as escadas.

Na saída, não resisto e tiro uma foto socando a cara do Bush, o presidente do império norte-americano, num grande mural denominado de "Rincon de los cretinos". Marcos preferiu outra, numa cena revolucionária, onde Che estava retratado em tamanho natural, num boneco muito parecido com sua fisionomia. Marcos não resiste e compra sete fitas gravadas, documentários cubanos. Nove pesos cada. Guarda-os como troféus. Intocáveis. Na verdade não queríamos mais ir embora. Ficamos de voltar antes do retorno, mas infelizmente não foi possível. Hoje, as fotos nos matam de saudade. Que bela tarde.

Na praça logo atrás, uma exposição de tanques de guerra. Mais fotos e Marcos tira fotos em posição de sentido. Seria um soldado da revolução? Ele se acha, eu vou clicando. Passamos defronte o Capitólio, a Assembléia Geral Cubana, um prédio muito imponente, numa região de grande movimentação. Um táxi triciclo, com lugar para duas pessoas para ao nosso lado. O condutor é de Santiago de Cuba, oferece seus serviços. Se apresenta em inglês. Eu nada falo em inglês, Marcos sim. Papeiam, mas não tivemos coragem suficiente para andar num meio de locomoção, tendo como tração a força humana. Deixamos passar. Fome, muita fome. Almoçamos no Hanoi. Três pesos e noventa cada, com duas gasosas. Devorei gostosamente uma bisteca de porco, com uma Bunanera, a cerveja cubana.

Caminhamos muito por toda aquela parte de Havana. Foi divinal esse primeiro contato com a parte mais antiga da cidade, uma boa parte ainda degradada, mas com tapumes por todos os lados. Deu para perceber que a cidade passa por transformações, principalmente no restauro de suas edificações. "La Habana Vieja" já é linda do jeito que a vimos, mas vai ficar deslumbrante daqui a alguns anos. Numa esquina um vagão restaurado e aberto a visitação, mais um museu plantado numa esquina no centro da cidade. Estava fechado e não conseguimos visitá-lo por dentro.

No retorno para o hotel, por volta das 19h, estávamos voltando pelo Malecón, na ave de Maceo, num começo de noite morna. Um jovem chama a atenção. Possui tatuado no braço o Che. Logo a seguir somos abordados por Orti, um sorridente negro. Me chama com inistência. Vou, um tanto relutante. Identifico-me como brasileiro. Queria que trocássemos nossas camisetas. Falou muito do ser latino: "Somos todos irmãos, latinos, padecemos dos mesmos males. Sou ter irmãos cubano, teu irmãos latino. O venezuelano, o colombiano, o argentino, o mexicano, todos latinos, irmãos, no viver e no sofrer". Vou refletindo sobre aquilo e depois muito me arrependo de não ter trocado a camiseta. Anotei seu endereço, mas não pudemos passar por sua casa. Orti, 48 anos, engenheiro, foi pessoa marcante na viagem. Queria papear, trocar idéias e guardo daquele abraço uma forte recordação. Um povo carinhoso com o visitante, caloroso, terno.
Semana que vem tem mais...

Queria ficar postando fotos e mais fotos aqui e não gosto quando tenho que deixar algumas para trás. Fazer o que...

7 comentários:

Anônimo disse...

O socialismo só distribuiu pobreza e escravidão, Cuba assim como todo o Leste Europeu ainda paga com a pobreza pela opressão comunista, só serve como conversinha e sonhos revolucionários na imaginação desses lunáticos, qualquer um que viajar para Cuba verá a pobreza proporcionada a população e não essas viagens coordenadas como o blogueiro relata onde são ciceroneados por membros do partido e fazem uma viagem guiados por esses membros que só mostram coisas do interesse de promover mentiras socialistas de que esse é o caminho bom a ser seguido, o caminho de ser pobre, e temos que aguentar essa falácia toda, mas sair do bem bom capitalista e ir morar lá, isso esses "socialistas" não fazem.
AT

Anônimo disse...

AT
Acompanho esa narrativa desde o começo e não percebo "viagem coordenada". Falácia está em quem ainda apregoa ser condenável a distribuição da riqueza. Torço cada vez mais por Cuba, onde mesmo pobres, possuem mais do que nós, pois não vivem a lutar só por acumalação, ter cada vez mais. Isso não leva a nada. Viver é que é bom e para se viver bem não precisamos ficar nessa disputa fraticida. Quero mais viver minha vidinha simples, igual a deles. Lulático são esses tipos que torcem por um regime cruel como o norte-americano, que só leva pobreza ao mundo.
João Pedro

Anônimo disse...

AMIGOS
Cuba não é tão ruim como apregoam. É só um país pobre e que resiste contra as mazelas de um cruel e sanguinário regime, o mesmo que, nesse momento, promove a bancarrota do sistema financeiro internacional e quer que todos nós, os terceiro-mundistas, paguemos a conta. Que merda, hem! Por essas e outras, mesmo não sendo comunista, sou a favor de Chávez, que disse na TV: "Vamos fortalecer o Banco do Sul, pois ele é nosso e está com preceitos diferentes do sistema do capital desenfreado". Cuba está nessa, junto conosco. Cuba precisa sobreviver, para continuar provando que existe um outro mundo possível.
J. Carlos

Anônimo disse...

A única coisa cruel e sanguinária são os comunistas por isso são condenáveis pela santissima igreja católica. Uma nação comunista não é uma nação voltada para Deus nosso senhor e é esse o motivo para tamanha barbaridade e miséria.
Celso

Anônimo disse...

Tem alguma razão no que escreveu caro Celso.
Uma nação comunista não é voltada para "Deus, o senhor", é voltada para QUALIDADE de vida dos trabalhadores e organizadas por eles, as pessoas de Cuba parecem pobres aos seus olhos porque não se vive para o supérfluo, existe racionalidade na distribuição para que todos possam viver com necessario para nossa existencia, não é para satisfazer o requinte e frescura de uma minoria burguesa. O comunismo mata sim, mas com gente safada e imperialistas que tanto nos fazem sofrer, diferente da sua santissima igreja que mandou muita gente para a fogueira pelo simples fato de mostrar uma visão diferente, igreja que produziu um verdadeiro holocausto com os povos indigenas da america latina impondo sua religião dominadora a serviço dos exploradores espanhois e portugueses abençoados pelo "espirito santo".

NICOLAS
obs: Continue escrevendo blogueiro Henrique, Cuba é nossa menina dos olhos e seu amigo Marcos foi uma grata surpresa socialista nas minhas visitas em seu blog

Anônimo disse...

IGREJA VERSUS CUBA.
PORQUE SEMPRE PINTAM ESSES QUESTIONAMENTOS.
EU CUBA EXISTEM MUITAS IGREJAS E CRENÇAS, PORÉM NENHUMA MERCANTILISTA E EXPLORADORA DO POVO.
SERÁ QUE ISSO ENCERRA A QUESTÃO?
VÁLTER

Anônimo disse...

Quero dar um pitaco aqui também, nesta questão, Cuba, Comunismo e Religião.
Sou xingado muito pela minha critica a religiosidade e nem imaginava que fosse diferente, mas a realidade é que a origem da religião institucionalizada está ligada com o fator de dominação de estado e não por existencia de um deus que "faz" tudo. Somos desde cedo submetidos a essa "realidade", é a informação colocada em nosso cérebro que é um ponto de arquivos de informação assim como a memória de um computador, e o materialismo histórico mostra como a relação social chega no ponto que estamos.
Quanto a Cuba, vale bater nesse ponto aqui, o Estado cubano por ser comunista, ele é um Estado ateu, ou seja, não permite nenhuma interferencia de natureza religiosa, nas questões do Estado, a pratica religiosa é livre, pois não tem como se cortar tudo de um vez, mas nota-se que pela educação que se dá nas escolas e a não influencia da igreja no Estado, faz com que muitas gerações estejam mais ligadas ao materialismo, isso ficou claro nos estudos que fizemos em Cuba, e um detalhe que sacamos lá, uma das ameaças para a Revolução, vem de organizações religiosas dentro de Cuba, ponto que fizemos questão de ressaltar a 3 membros do partido e que sabem desses problemas, principalmente da pressão que vem da igreja de Roma.

Marcos Paulo "Guerrillero"
Comunismo em Ação - A Retomada