terça-feira, 29 de setembro de 2020

BEIRA DE ESTRADA (128)


O SENSO COMUNITÁRIO DO BAIRRO POPULAR NÃO EXISTE NA ZONA SUL DAS CIDADES
Que os pobres são mais unidos e se entendem entre si, muito diferente do que se passa com os ditos e vistos como mais abastados, disso não existe a menor dúvida e as comprovações se dão aos borbotões. Conto uma. Aconteceu ontem, segunda, 28/09 no coração do Jardim Redentor, um dos primeiros bairros verdadeiramente populares desta insólita Bauru. Ali o bairro com mais praças nesta cidade, algo já pensado quando da idealização do núcleo habitacional. Numa delas, como as demais um tanto esquecida pela administração municipal e cuidado somente pelos seus moradores. Muitas árvores, sombra em abundância, mas descuido no visual, desordem no conjunto da obra. Num dos cantos da praça mora o casal André Henrique Souza e Valdete Bento Camargo, junto do filho Thiago Souza Camargo, ambos já motivo de anteriores escritos de minha lavra, pelo que fazem e pelo fato do filho ter demonstrado interesse e gosto pelo balé, vizinhos que são de Sivaldo Camargo, mestre no assunto e diretor da Cia Estável de Dança.

Na periferia acontece de tudo um pouco e de como se resolvem entre si, eis a mágica deste mundo onde vivemos. André já tentou fazer outra coisa na vida, mas se descobriu e se reinventa catando recicláveis na rua. Fez disso seu ganha pão e nestes tempos de pandemia, camelou um pouco mais no começo do confinamento, quando até o descartável, principalmente o papelão proveniente das lojas escasseou. Deu o seu jeito e aumentou o seu quilometro rodado, ou seja, foi cada vez mais longe para conseguir o que antes fazia. A ele se juntou, morando na mesma pequena casa, com pequenas alterações desde que foi construída, sua filha e o marido, mais seus filhos, desiludidos com o que faziam e sem outro lugar para morarem, se juntam e reforçam o serviço da coleta dos reciclados. A casa é modesta, pequena e sem nenhum conforto, cada centímetro muito bem dividido e ocupado. As coletas pelas ruas são feitas em períodos diários e depois de tudo juntado, uma ou duas vezes ao mês, tudo é colocado na frente da casa e até mesmo na praça.

Eles são muito bem organizados e selecionam tudo. Vê-los fazendo isso, acada imenso saco com destinação certa, um só para papelão, outro vidro, plásticos e assim por diante é como se fosse uma pequena fábrica de reciclados a céu aberto. Dedicados, juntam tudo e não deixam lixo nos arredores, mas os sacos se avolumam e ocupam espaço na praça. Um morador outro dia diante do visual surreal disse: "Quando isso seria possível num bairro chique?". Ele mesmo responde: "Nunca". É isso mesmo, André e os seus contam com a tolerância dos vizinhos, pois todos entendem o que se passa e dão até força para não esmorecerem, desistirem, pois se fazem tudo com tanto esmero, lindo de ir vendo como juntam tudo, cuidam e não deixando nada esparramado, cuidam também do lugar.

Este texto tem dois sentidos e uma preocupação. Um é enaltecer a disposição de luta, fibra do casal e os seus, todos unidos em busca de algo para sua sobrevivência, depois este algo mais, constituído nessa compreensão previamente estabelecida entre os moradores periféricos, quando cada qual entende muito bem o que o outro faz e não joga contra. Existe uma compreensão só possível mesmo entre estes e impossível de ser vislumbrada, por exemplo numa praça nos arredores da Getúlio Vargas ou Jardim América. Nessas regiãos mais abastadas, em primeiro lugar os vizinhos mal se conhecem e depois, quando se conhecem mal se cumprimentam, depois existe uma disputa e para um denunciar ou prejudicar o outro um pulo. Não que isso não ocorra na periferia, mas persiste esse modo fraterno de compreensão humana, cada qual com suas dificuldades e fazendo das tripas coração para, antes de tudo, sobreviver. Experiências como a aqui relatada são mato, acontecem por todos os lugares e se resolvem entre si, sem a necessidade da presença do poder público, que quando ocorre, e daí minha preocupação em fazer este relato, chegam para brecar, estancar e colocar fim em belas iniciativas.

Eu adoro relatar algo dessa natureza, pois além de provocar em mim um toque para algo que, ao abrir minha janela daqui onde moro, não consigo vislumbrar nada parecido por aqui, mas logo ali na periferia a vida me parece fluir com mais entendimento. Este é somente um dos lados dessa enorme diferença existente entre as muitas baurus existentes dentro da mesma grande cidade, uma a nos encher de esperança e outra não tanto. Conto isto com uma satisfação enorme por fazê-la e tento não estigmatizar a situação, pois nossa pobreza é algo inerente do sistema capitalista onde estamos todos inseridos e não mudará, por mais perfumaria que ocorra em reparos e reformas. O buraco, sabemos, é mais embaixo.

Creio que, algo mais do que positivo pode ser aproveitado dessas experências vivas, pulsantes e cheias de uma força, muitas vezes, desconhecida por muitos de nós. Ao receber ontem as fotos, primeiro uma incontida emoção, depois a tentativa de transpor para o papel o que ali percebi e vi fluir. Essa gente é de um incomensurável valor e para mim, são muito mais importantes do a imensa maioria destes pueris rentistas tomando conta do mundo atual, guardando seu dinheiro somente para usura pessoal e nunca pensando no todo. Num país onde a sonegação é mato entre os abastados, como pensar nestes tendo olhos para enxergar positivamente uma praça tomada de sacos de reciclados? Por fim, hoje a praça pelada, sem os imensos sacos, pois ontem foi dia da passagem do caminhão a recolher tudo, levando tudo o que foi coletado para ser pesado, daí a alegria da família, pois também seria o dia de fazer as compras do mês. A alegria estava estampada na fisionomia de todos eles e isso é para endoidecer gente sã.

EM NOME DA FÉ E DO ÓDIO - EVANGÉLICOS NEOPENTECOSTAIS SÃO MAIS QUE PERIGOSOS
Eis o link de vídeo da internet: “Em nome da "fé"... Como tem gente ruim no mundo se valendo do nome de Deus para impor sua intolerância” - https://www.facebook.com/edumojava/posts/10214386579338189

Os exemplos pululam. Eis o FUNDAMENTALISMO religioso na sua acepção. Creio eu, esse fundamentalismo como visto neste vídeo nasceu no gesto de Abraão. Lembrem-se que Deus, para testar a fidelidade de Abraão, ordenou-lhe que sacrificasse Isaac, o próprio filho. Aqui te faço a pergunta: você mataria seu filho se Deus lhe pedisse? Olhe bem para o seu filho e responda: lhe passa pela cabeça atender a tal exigência? Embora Deus tenha desistido, Abraão estava totalmente disposto a imolar Isaac. Já levantava a faca para cravar no coração do filho, quando um anjo mandou-o parar e apontou para um cordeiro. Isso de matar em nome de Deus tem sido o maior assassinato da humanidade e assim como esses bestias promovendo hoje por tudo quanto é lugar uma profanação ao que li muito tempo atrás na tal da Bíblia.
Quem tiver uma ideia igual a de Abraão hoje em dia deveria ser imediatamente trancafiado como insano, assim como quem tem uma interpretação tão desvairada do que está escrito no tal livro e age como se vê neste vídeo. São loucos, ficaram loucos, se tornaram muito doentes. Desgraçadamente a síndrome de Abraão é cada vez mais dificundida por milagres de seitas apocalípticas e infecta as grandes religiões num paroxismo insensato de violência e, não raro, de morte. Essa mulher do vídeo propõe algo de igual teor ao que Abraão estava prestes a fazer. Quem está disposto a fazer o que ela faz não conversa, não vê razão para conviver em paz com seu vizinho, nem com seu irmão, nem poupa o próprio filho. Vive entre o medo e a esperança louca e cega de uma recompensa por sua fé. Ou curamos essa doença ou essa doença nos eliminará, enfim, por que se deve odiar e matar em nome de ideias tão sublimes quanto as expressas pelas religiões? No momento em que o homem souber aceitar e conviver em paz e harmonia com a diferença, terá se aproximado um pouco mais desse ser denominado deus. O que ocorre agora, além dos interesses muito terrenos e fora do campo religioso é pura e simplesmente uma aberração. Um Deus que instiga e te provoca a agir assim contra seus semelhantes deve ser apagado do coração do homem.

DOIS MOMENTOS BEM DISTINTOS NA TRIBUNA DO LEITOR DO JC – IGNORÂNCIA TEM LIMITES
Domingo, 27/09, leio na Tribuna do Leitor do JC, missiva de Benone Augusto de Paiva, com algo incompreensível, mas bem ao estilo da barafunda bolsonarista dos tempos atuais. Carta misturando alhos com bugalhos, totalmente desconectada da realidade, espalhando ódio e inverdades. Leiam a seguir: https://www.jcnet.com.br/.../736681-a-china-e-o-brasil.html

Abro o jornal hoje, 29/09 e um alento numa missiva em resposta, a de Benedito J. Almeida Falcão: https://www.jcnet.com.br/.../736843-ignorancia--sem...

Sem muitos comentários. A resposta tem que vir exatamente desta forma e jeito, precisa, cirúrgica, na lata. Gente sem noção, doentes por dentro e por fora merecem a estocada, a chamada na chincha, pois precisam ter um choque de realidade, para ao menos ver se conseguimos devolvê-los ao mundo real. Adorei a resposta...

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