quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

BEIRA DE ESTRADA (132)


PEQUENAS COISINHAS DA PASSAGEM DE UM ANO PARA OUTRO
1.) O "PROGRESSO AMERICANO" E O BAURUENSE NA MESMA LINHA
Leio mensalmente a revista Piauí desde seu número 1 e na edição de dezembro, a de nº 171, terminada de ler ontem, extraio algo de um longo artigo de João Moreira Salles, sobre os destinos da Amazônia e quando com a comparação com o já ocorrido tempos atrás com os EUA, apresenta uma pintura a óleo de 1872, a Progresso Americano, autoria de John Gast, para demonstrar da bestialidade ocorrida lá e agora ainda em curso na Amazônia brasileira.

Cito entre aspas o seu entendimento do quadro: "Na tela, uma jovem descalça caminha no ar, flutuando, coberta por uma diáfana túnica branca. Inclinada para a frente, avança resolutamente da direita para a esquerda do quadro, do Leste luminoso, onde já amanhece, para o Oeste escuro, onde ainda é noite. Ao redor dela, seguindo-a como quem segue a luz de um farol, vêm os homens brancos, aqueles que civilizarão as extensões de terras brutas até o Pacífico. Trazem consigo as ferramentas do domínio e do progresso: a pá, o arado, o correio, a diligência, a locomotiva a vapor. A jovem, a quem Gast chamou Progresso, segura entre os dedos um fio de telégrafo e, como tecelã, leva-o de poste em poste, cerzindo assim o progresso. O livro escolar que traz na mão esquerda assinala a chegada da educação. À frente dela, apavorados com o fulgor de sua luz, bestas selvagens e grupos de habitantes nativos que fogem em direção à noite. Progresso Americano é a mais conhecida representação visual do conceito de destino manifesto, pilar da doutrina expansionista que forneceu o combustível ideológico para o avanço dos colonos em direção ao Oeste. (...) Olhando para o quadro, Robert Socolow disse: "O Oeste americano é o Norte brasileiro". Sim e não.

Cem anos separam o ocorrido nos EUA com o que está em curso na Amazônia e aqui no nosso caso, uma destruição praticamente irreversível. Lá 50% da população acabaria por se fixar no Oeste e aqui, menos de 1% da população. "A expansão do território norte-americano produziu uma épica que se espalhou mundo afora", ele afirma no seu texto e constato, continua influenciando ações. O que acontece hoje na Amazônia é um crime sem precedentes, pelos quais pagaremos todos muito caro num futuro muito breve, mas não é sobre isso que quero fazer aqui uma simplória alusão.

A faço com Bauru e o que os ditos "progressistas" (sic) tentam fazer com a eliminação da única reserva florestal hoje mantida por decreto, a ecológica do cerrado, que tem Bauru como um dos seus epicentros. Vejo a explicação para o quadro e me ponho a comparar a bestialidade em curso, tudo sempre em nome do progresso, quando até as nuvens conspiram contra a resistência popular, a do progresso sempre alvas e as do retrocesso (sic) escuras. Assim como a Amazônia está correndo todos os riscos, na proporção bauruense, o cerrado idem. Aqui também, destruir essa reserva será algo irreversível e o farão somente para auferir mais lucro em seus cofres, pois o progresso para estes é somente isso, mais dinheiro. O amanhã não é importante para estes, os próceres da especulação imobiliária, incluídos todos os donos do poder local, pois em primeiro lugar, não mais estarão vivos e os seus, estes conseguirão se safar, pois terão grana para tanto. Já os pobres mortais sofrerão toda sorte de desgraça proveniente dessa bestial ação sendo feita hoje. O progresso real, verdadeiro, este pode ocorrer sem que toquem no cerrado, mas querem também lá, inventam mil justificativas e sempre conseguem, enfim, são os "donos do poder" e se não convencem por bem, o fazem pelo mal. No momento lamento aqui olhando para o quadro o fim trágico da Amazônia, assim como o que irá se suceder com o cerrado no entorno de Bauru, enfim, tudo faz parte de um ardiloso plano dos detentores do poder para encher seus bolsos e que se dane o resto. O Progresso Americano é idêntico ao Progresso Bauruense e posso até fazer se o quiserem uma comparação com tudo o que lá foi citado com algo daqui. Os argumentos continuam os mesmos. Pensando nisso encerramos o ciclo Gazzetta e iniciamos o Rosim, onde ambos já tem seus compromissos firmados, estabelecidos, declarados e prontos para execução. Enfim, todos se dizem e gostam de serem vistos como progressistas.

2.) PEDIRAM PARA O POETA LÁZARO CARNEIRO PUBLICAR ALGO CAIPIRA PRA ESTE FINAL DE ANO E SAIU ESTE ESCRITO, DAÍ LHE PEDI, "POR FAVOR, PUBLIQUE COISAS CAIPIRAS O ANO INTEIRO"
Domador de tempo
Rasgando a vida estrada a fora e sertão a dentro como se se eu fosse um vaqueiro perdido no sertão ralo e seco do Jequitinhonha, despreparado que sempre fui nunca agreguei ninguém nem comigo e nem pra mim, mas trazia na garupa do meu petiço muita coisa além de poeira, eu sempre dei garupa para o tempo, esse sim sempre viajou comigo no sertão, quem me conhece de vista sabe que sou homem de pouco peso, desmilinguido, só sei lidá com as vaquinhas daqui do vale, são desnutridas cua seca, de pouca sustança obedece fácil, meus braços sem força de comida e carne dão conta de tanger as pobrezinhas que vão quietinha e de cabeça baixa pro curral. Mas, eu não lido com gado não, só lido com o tempo véio esse que faz parte da minha comitiva cada lugar que poso eu eu deixo um dia amarrado na beira do caminho sou domador de tempo e vida.
Sou espantador de boiada alheia e fazedor de serenata, tendo lua eu canto até amanhecer o dia só pra ver o sol enciumado por saber que beijei a face prateada da lua cheia.

3.) AS HISTÓRIAS QUE ADORO COMPARTILHAR - O CISNE NOS TRILHOS
Esta foi publicada hoje na edição do melhor jornal impresso do nosso mundo, o argentino Página 12 e conta algo bem singelo, simples, porém significativo. Um cisne perdeu seu parceiro e se quedou nos trilhos, não como forma de suicídio, mas algo desesperador em busca de seu companheiro e por causa disso, os trens daquela linha pararam de funcionar por quase uma hora, até sua retirada. Em Tempo: isso ocorreu na Alemanha e me pergunto, o mesmo se daria no Brasil? Talvez, sei o valor dos metroviários brasileiros, acompanho sua luta e creio, são tão sensíveis quanto, mas o ato seria entendido por parte dos usuários, todos com pressa de chegar em algum lugar e tendo o atraso ampliado por causa de um cisne. A pensar...

4.) "AS VEZES SER 171 É UMA QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA"
Essa senhora se mantém há muitos anos perambulando pelo centro da cidade, mais precisamente na rua XV de Novembro, onde pede ajuda aos que param seus carros nos sinais na região. Já foi motivo de muita perseguição, pois diante de tanta negativa, acabou por criar meio facilitador das pessoas lhe darem atenção e ouvidos. Foi criticada por muitos, o que piorou ainda mais sua situação. Depois de tanto tempo, pouca coisa mudou, hoje ela continua no local, clamando pela ajuda de sempre e agora sem os subterfúgios de um algo a mais, ou seja, chama menos a atenção e se faz menos notada. Quem sou eu para se mostrar moralista e crítico, ainda mais com quem se encontra numa situação aflitiva? Queria mesmo ela vê-la em outra condição e sem ter mais necessidade de voltar quase diariamente para as ruas em busca de algo para sua subsistência.

Comentários:
- "Alguém sabe onde essa mulher mora? Há alguns anos atrás ela tampava um olho,para pedir esmola, e não havia nada de problema no olho, continua do mesmo jeito, !!", Cilene Cabreira.
- "Sim, minha cara. Ela como não se fazia perceber, criou um meio para facilitar as coisas. Errou? Sim. Mas nada tão merecedor de elevada crítica, pois continua como dantes. Essa senhora não lesou ninguém, não praticou nada tão acintoso, ainda mais diante de tanta escobrosidade como vislumbramos hoje, vide tudo o que se vê sendo feito por gente, por exemplo, a defender o bolsonarismo", HPA.
- "Exatamente! Achei tão exagerado o q fizeram. Concordo com vc Henrique, a quem ela lesou? Merecia tantos julgamentos? Muita falta de empatia", Nádia Barnes.
- "Verdadeira 171", Marluz Dias.
- "Por que? Só porque teve aquela história. Deve ter uma história de vida sofrida. A vejo nas ruas e nunca compreenderei isso de uma pessoa de idade necessitando pedir para ter algo a mais. Aquela história, como disse, foi uma maneira dela se fazer ser enxergada. Vejo tantas coisas imensamente piores e muitos passando a mão nas cabeças destes", HPA.
- "As vezes ser "171" é uma estratégia de sobrevivência", Flávia Giglioti Rocha.
- "Caro Henrique, você foi cirúrgico. A muito tempo confesso que até a questionei o motivo de não usar mais o tapa olho. Ela esbravejou - Mas com razão, pois perguntei ironicamente. Hoje mais amadurecido, vi que fui extremamente indelicado e infeliz. Uma pena ainda continuar nas ruas", Marcos Riego.
- "Eu a vi nas ruas dias atrás e ao postar agora a intenção foi exatamente essa, a de provocar e ver a opinião das pessoas e verificar até onde criticamos o outro como se o ocorrido tivesse uma proporção imensa. Eu a entendo e não a considero 171 por causa daquele ato", HPA.

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