sexta-feira, 10 de maio de 2019

BEIRA DE ESTRADA (108)


FELITTI, CAÇADOR DE BOAS HISTÓRIAS NAS RUAS PASSOU POR BAURU E RELATA ALGO MAIS DO QUE FAZ, COMO FAZ E DOS MOTIVOS DE NÃO MAIS QUERER ABANDONAR O OFÍCIO DE ESCREVINHADOR DAS INSIGNIFICÂNCIAS


“Uma das reportagens de maior repercussão nos últimos tempos, a história de Ricardo – apelidado ofensivamente de “Fofão da Augusta” – surge retrabalhada a partir de uma nova descoberta: a trajetória de Vânia, sua namorada.Em 2017, um leito do Hospital das Clínicas de São Paulo foi ocupado por um homem sem identidade. Há vinte anos, ele circulava pela região das ruas Augusta e Paulista, onde liderou uma trupe de palhaços, distribuiu panfletos e pediu esmolas. Sua aparência lhe rendeu a alcunha de Fofão da Augusta e o status de lenda urbana. Por trás do apelido ofensivo estava um cabelereiro disputado nos anos 1970 e 1980, que falava francês e inglês, era esquizofrênico, foi drag queen, artista de rua, teve dinheiro e frequentou o underground. Chico Felitti se empenhou em conhecer sua história e, depois de quatro meses de investigação, publicou uma reportagem que viralizou. Em poucos dias, mais de 1 milhão de pessoas souberam o nome por trás do rosto remodelado por um litro e meio de silicone e cirurgias plásticas: Ricardo Correa da Silva. Logo viriam outros personagens e relatos atravessados pela trajetória de Ricardo. Sobretudo Vânia Munhoz, brasileira radicada na França, que um dia se chamou Vagner e foi o amor de sua vida”, essa a sinopse do livro hoje lançado em Bauru, o “Ricardo e Vânia – o maquiador, a garota de programa, o silicone e uma história de amor”, obra do jornalista Chico Felitti.


Mas por que escrever dela aqui em Bauru e neste momento? São muitas coincidências. A primeira se deu lendo hoje o Jornal da Cidade e lá uma pequena nota no primeiro caderno, a “Livro do Fofão da Augusta é lançado em Bauru” (https://www.jcnet.com.br/…/livro-do-fofao-da-augusta-e-lanc…). Eu não sabia nada até então, nem do Fofão (santa ignorância a minha), como não conhecia o jornalista e escritor, mas me interessei pelo tema, ou melhor, pelos temas que ele escreve. Fui conferir por causa da junção desses motivos. Lá estava na sala 1, campus de Bauru da Unesp, adentrei a sala, por sorte tudo começa com certo atraso e não perco o início. Começo a escutar o que Felitti veio contar, para mim algo muito além do lançamento do seu livro, que pela bela narrativa já foi vendido como roteiro para um filme. Eu estava ali extasiado numa das cadeiras, pois via que ele escreve sobre temas pelos quais me movo, com uma diferença muito grande, ele vai a fundo, procura onde os publicar, encontra, tudo ainda vira livro e desperta outros interesses, como o filme. Ou seja, retratar os tipos populares, as pessoas ditas simples, as narrativas das ruas é um ótimo produto e não estou conseguindo fazer os encaminhamentos a contento.


Não entrei na sala com um mero bloco de anotações e tive que improvisar no verso de um extrato bancário, algo juntado e aqui compartilhado com o que salvei da fala de tão instigante escritor, num compilado resumo, extraído de respostas para variadas perguntas: “Eu relato histórias de brasileiros extraordinários que nunca tiveram suas histórias contadas. Histórias fortes que não mereceriam um perfil, pois editores me perguntam sempre: por que temos que falar disso agora? Não tem coisa mais importante para ser tratado? São as tais histórias sem gancho, mas interessando para muita gente. (...) tenho um pendão para o esquisito, a gente tem sé que colher bons temas, saber ordenhar uma matéria que ainda não foi devidamente contada e muito na caruda ir tentando a emplacar. (...) Tento conquistar a confiança de algumas pessoas para elas abrirem seu e-mail e verem o que lhes enviei. (...) Os editores de livros brasileiros cabem num salão de festa de prédio, não passam de vinte pessoas e daí, o segredo é correr atrás. O problema é chegar até as pessoas que não querem te publicar. Não se intimidem, peçam ajuda e não desistam. A regra é que as pessoas não querem o que você quer e sua missão é as convencer do contrário”, com uma fala assim ele intercala as histórias até agora contadas e como conseguiu ter muitas delas publicadas.
Rascunhos do HPA


Conta mais e eu só anotando: “Eu estou sempre em lugares onde muitos não gostam e não estão. Cato minhas histórias nesses ambientes, pois sei que o acesso a informação é um privilégio e daí vou atrás dele. (...) Nada é essencial, existem milhões de trilhas a serem seguidas e conquistadas. Claro que conta você ter experiência profissional, internacional, essas coisas, mas o que conta mesmo é a boa história, algo considerado essencial e a forma como você a escreve. Ninguém consegue ter a cesta básica do jornalismo por inteiro. (...) O mercado, todos sabemos, se dissolveu por inteiro, está em pandareco, mas pense nisso: o que essa dissolução acarreta? O jornalismo que se autogere presta um serviço pra muita gente. Não precisa todo mundo escrever sobre o que rola nos salões grã-finos. Eu optei por escrever o que está por detrás desses salões e vejo que isso desperta muito interesse. Tem boas histórias em cada canto que circulo. Mesmo com tudo de pernas para o ar, eles, os donos das publicações continuam precisando da gente para boas histórias e notícias. (...) Vivo de biscates, de pequenos trampos, que na junção, me são satisfatórios. Existe esse novo mercado, ele não vai conseguir abarcar todos nós, mas muitos estão conseguindo se safar dentro dele. (...) O jornalismo, mesmo que você não consiga emprego com ele, saiba que essa formação pode ser muito útil para outras coisas, principalmente para te ensinar a pensar”.

Mais não ouvi, pois tive que sair antes da hora (uma pena) e acabei perdendo o papo particular, a troca de contatos com ele. Havia pedido a palavra, me identifiquei, disse escrever por aqui algo sobre o lado B, os personagens da aldeia bauruense que NÃO são notícia. Ele se mostrou  interessado em conhecer o blog e essas histórias. Quis também saber como, ele conseguiu já lançar tantos livros sobre essas histórias e que falasse algo sobre o caminho das pedras para quem, como eu, escreve sobre esses personagens esquecidos e ainda nada conseguiu publicar. A explicação foi dada no corpo do meu resumo de sua fala. Por fim, não comprei seu livro, R$ 55 pilas, mas sei onde achar quando estiver com algum sobrando no bolso. O que me vale nesse momento é saber que outros tantos seguem na mesma trilha seguida por este mafuento escrevinhador, a de buscar histórias insignificantes e as transformar em grandes relatos. É o que me move, é o que move Felitti e é o que me moverá mais e mais daqui por diante. Cavarei espaços e darei notícias daqui em breve. Neste momento, busco o contato com o escritor para uma providencial troca de figurinhas.

* Em tempo: “Escrevinhador das insignificâncias” é um termo criado pelos historiador carioca Luiz Antonio Simas e incorporado por mim, achando também muito apropriado para Felitti.
Caju, Ana, MUCHACHO e este HPA


UMA NOITE, DIA DE IMENSA TRISTEZA
UMA NOTÍCIA PRA LÁ DE ENTRISTECEDORA*
* Publicado ontem à noite, tipo 20h, ligação de Fausto Bergocce me informando do infortúnio.
Estive em Iacanga três semanas atrás e é claro, Muchacho Garcia nos recebeu maravilhosamente bem, como só ele sabia fazer. Um socialista na acepção da palavra, agora novamente vereador, lutando contra o ódio reinante no mundo hoje, principalmente no nosso país. Não sei mais o que dizer, uma pessoa alegre, de bem com a vida e com uma vitalidade assombrosa. O conheci há tão pouco tempo e nos tornamos amigos desde o primeiro contato. Baita ser humano. Inacreditável saber do acidente no percurso entre Iacanga e Reginópolis e sua perda. São esses momentos onde a gente não se recompõe jamais. E pensar que em menos de quatro horas atrás ele estava por aqui no facebook postando coisas edificantes contra os malversadores desses nossos tempos. Um bravo, sempre.

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