quinta-feira, 16 de julho de 2020

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (146)


PRONTO, ME DESCOBRI: O VAGABUNDO QUE ESCREVE DOS DESIMPORTANTES - "PESQUISADOR DAS VAGABUNDAGENS" OU MESMO "GARRINCHAMENTO DO MUNDO"

Luiz Antonio Simas é professor carioca, aqui se apresenta e vou na dele, não o plagiando, mas seguindo na mesma trilha, vertente e engajamentoi, ou seja, não me peçam para escrever algo mais profundo e trabalhado sobre esses poderosos de plantão, os endeusados pela historiografia oficial, pois não vai dar certo. Eu escrevo mesmo e gosto muito é de desvendar, contar causos, estar com pessoas nas quebradas, os que labutam pra dedéu, suam a camisa e lutam o dia inteiro e mais um pouco para se posicionarem neste amlaucado mundo. Ou seja, o Simas tem uma lado e eu também. Somos, como ele já se intitulou uma vez e mer apropriei da ideia, "Historiador das Insignificâncias". Foi desse embornal que tirei o título de minhas Lives/Entrevistas/Bate-Papos semanais (todo domingo, parte da manhã, ou 10 ou 11h), a "Lado B - A importância dos desimportantes". Para colocar um bocadinho mais de luz sobre essas denominações totalmente populares, repico aqui texto de sua lavra com uma algo a mais:

"ELEGIA E DECLARAÇÃO DE PERTENCIMENTO À MALTA DOS VAGABUNDOS - Luiz Antonio Simas
É comum que eu receba pedidos, ao ser convidado para escrever um artigo ou dar um curso, para enviar um currículo ou uma minibiografia. Como homem desprovido de Currículo Lattes, mas cioso de meu currículo vira-latas, ando, confesso, cada vez mais propenso a me definir simplesmente como um estudioso vagabundo das vagabundagens.

A etimologia de "vagabundo" traz o antepositivo latino "vag-", "que se move de um lugar a outro", "movimento incerto". Já o prefixo latino "-bundo", traz o sentido de "propenso a, cheio, repleto de alguma coisa". O "vagabundo" é aquele que é propenso a andar sem rumo definido, em constante deslocamento, capaz de movimentos incertos, surpreendentes (desde o vagar errante pelas ruas até um drible inesperado no jogo, um passo inusitado da passista, etc.). O vagabundo é um ser em disponibilidade.


Penso bastante na vagabundagem porque minhas pesquisas, ensaios, crônicas, músicas, cursos, são sobre aqueles que Michel de Certeau define como os "caminhantes inumeráveis", mulheres, crianças e homens comuns desprovidos de qualquer heroísmo oficial e retumbantes vitórias; andarilhos das periferias dos estudos historiográficos, excluídos de políticas públicas, inventores de mundos nas artimanhas do cotidiano das cidades. Nesse sentido, o futebol pra mim, entendido como um espaço de disputas e tensões sobre modos de pensar e fazer a vida, é absolutamente crucial; como as festas de rua e as sociabilidades construídas nas biroscas e rodas de samba.

Eu sou, em suma, um historiador dos vagabundos e dos seus modos de transitar nos paradoxos da adequação transgressora e do equilíbrio gingado, duas práticas daquilo que chamo, a partir de pontos de Seu Zé Pelintra, de "pelintrações": modos, táticas, de praticar sabiamente, driblando a precariedade, a vida.

De certa forma, busco também, no meu trabalho, a vagabundagem de não ter lugar certo. Escrevo sobre samba, com Nei Lopes, mas não sou sambista; escrevo sobre futebol, mas não sou cronista esportivo; escrevo sobre colonialidade - nos trabalhos com Luiz Rufino - mas não sou decolonial; escrevo sobre folguedos de rua, mas não sou um antropólogo das festas; escrevo sobre religiões, mas não sou encapsulado em nenhuma delas.

Eu sou, meu currículo Vira-Latas se resume a isso, um pesquisador das vagabundagens e um historiador vagabundo: errante disposto a atravessar os territórios que envolvem a crônica, a música, o tambor, o gol, o carnaval, a missa, o xirê, as festas da vida, as celebrações da morte. Sem rumo certo, entre a sonata de Bach e o aguerê de Oxóssi; entre o drible de Mané Garrincha e a poesia de Hölderlin, sendo uma coisa quando se espera outra.

Tudo que faço é uma elegia ao drible, essa nobre e vagabunda arte de garrinchamento do mundo".



20h QUARTA, 15/07: CAMPAINHA TOCA E NO MEU PORTÃO SEU ROBERTO DO ALHO
Velho conhecido de histórias aqui já contadas, esse abnegado trabalhador vive da revenda de alho, processado por ele mesmo e entregue pessoalmente pedalando em sua sua bicibleta. Começou trabalhando para bares e resturantes da cidade e hoje estendeu a clientela, até como questão de sobrevivência para residências particulares. Traz tudo processado, devidamente empacotado e vende embalagens com meio e um quilo. Dessas pessoas que merecem não só um vídeo, mas um baita abraço, que hoje não dei, mas por pouco não resisti, pois a emoção foi tamanha ao saber que ele está forte, rijo, bem e trabalhando, pedalando cidade afora. Liguem para ele, pois além do bom papo, grande possibilidades de se tornarem amigos assim de cara, um alho de primeira em suas mãos. Hoje ganhei o dia, pois estava deveras preocupado com o sumiço do amigo e ele me aparece assim do nada no meu portão, com a algibeira cheia de alhos e mesmo tendo comprado um pacote semana passada não pude passar batido, pois amigo é pra essas coisas. Viva seu Roberto e sua vitalidade! Fone 14.996172944 - EIS O LINK PARA ASSISTIR O VÍDEO: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/3639601026069880/

ESCREVERIA O DIA INTEIRO DE PESSOAS COMO SEU ROBERTO, MAS... - ALENTO PARA MINHA VIDA
Pessoas, histórias de vida como a do seu Roberto do Alho, retratadas aqui ontem à noite num audio ao vivo me tocam profundamente e me movem. É o que gosto de fazer, estar com eles, ouvir e relatar suas histórias, experiências e ir passando adiante o que possuem de melhor, a resistência e a força de vontade com que enfrentam esse touro à unha e isto desde que se conhecem por gente. Não consigo produzir a contento, primeiro por causa da pandemia, depois pela questão de sobrevivência que me leva a continuar mascateando quinquilharias para pagar minhas contas - sou mascate do século XXI, depois pelas obrigações do lar, enfim, uma somatória de itens, todos conspirando contra, mas não me impedindo de nas horas vagas e dentro de minhas parcas possibilidades, continuar fazendo o que mais gosto, que é escrevinhar dos tipos populares, advindos da mais profunda camada dita como popular. Vale muito a pena - e disto tenho a mais absoluta certeza - escrever destes, contar detalhes de suas trajetórias, ressaltar o que fazem, como fazem, as condições adversas não os impedindo de sair à luta e estar a cada dia em busca de um lugar ao sol. Sou contagiado por esses, diria, hipnotizado, pois possuem poder de magnetismo ainda não desvendado por mim a contento.

Por outro lado, existe a vida como ela é do outro lado e dela não tenho como me afastar. Além da vida pessoal, tem este país num buraco encralacrado, quase sem volta e a necessidade imediata e contínua de arregaçar as mangas de camisas, calças, meias e até cuecas e estar permanentemente na luta, lida total para tentar reverter o quadro de insanidade em curso. Não posso ficar contando histórias de vida sem estar enfurnado da cabeça aos pés na luta incessante pela devolução do país para caminhos não só mais palatáveis, como buscar outra alternativa, pois sendo adepto e sabendo que "outro mundo é possível", permanecer aqueitado e indiferente. Isso decididamente não é comigo. Portanto, intercalo essas histórias de vida, recolhidas aqui e ali - agora bem menos, pois a pandemia me impede de sair de casa -, escrevo ora de um assunto, ora de outro e assim toco minha vida, tentando ser útil, mostrar meu lado mais sensível, aproveitável em algo da humanidade perdida no individualismo dos tempos atuais, onde esse cruel e insano sistema predatório neoliberal rentista nos impele a agir contra os interesses coletivos e pensar só nos nossos. Luto contra isso a cada instante de minha vida.

Ontem, comecinho da noite, quando já estava nos preparativos para a hibernação noturna, eis que a campainha toca e nela seu Roberto. A vida se reascendeu ali naquele instante e com a chama flamejante, ao saber que me chamava, fui até o portão com o coração na mão, pois desde o começo da pandemia estava buscando informações deste cidadão e nada consegui captar. E ele me chega assim do nada, oferecendo o produto que é também o seu ganha pão de mais de quarenta anos. Havia acabado de comprar alho de outro grande amigo, esse também tentando se reiventar, o Celso Costa lá do Assentamento Aymorés, com o Alho Tantônho, mas não pude deixar de gastar também com seu Roberto, pois ele havia vindo de tão longe, já tinha perecorrido tantos caminhos, tantas portas fechadas deve ter encontrado pela frente, o frio e a vontade irrefreada de fazer de tudo e mais um pouco para não voltar para sua casa com a cesta cheia de sacos de alhos. Desci, comprei, papeamos, quase nos abraçamos - resistimos bravamente - e por fim, decidi ali na hora fazer um vídeo. Percebo que este bomba, pois em 12 horas de postagem está com mais 600 pessoas que já o assistiram. Todos o acarinhando, isso me reconforta. Além disto peço, não só escrevam, liguem para ele e peçam o alho.

Quando me deparo com o que consegui fazer, ali no improviso, tenho a mais absoluta certeza: é isso que quero fazer de minha vida daqui por diante e agora, já com quase 60 anos e um mês de vida, com não sei quanto tempo ainda pela frente de olhos abertos, preciso centrar fogo e produzir mais, escrever mais, estar mais com estes, enfim tentar conciliar o que mais gosto de fazer com os demais afazeres, tornando isso também algo onde possa ir tocando minha vida sem percalços maiores. Pessoas como seu Roberto acendem e reacendem meu fogo interno - nunca apagado -, em alguns momentos temporariamente amainado. Consegui também bater algumas fotos dele ali na praça, diante de minha casa e com elas ilustro este texto e também me servem para dar mais um pontapé numa reiniciada de projetos inconclusos. Recomeço, destravada e reínicio de algo até então estancado. Vamos em frente, agora também com as Lives, ou melhor Entrevistas Bate-Papos "Lado B - A importância dos desimportantes", que a cada domingo traz neste espaço uma pessoa das entranhas desta cidade e as mostra com garbo, como merecedora de toda pompa, pois advinda das quebradas do mundaréu são cheias de belas, ricas histórias de vida, todas merecedoras de muito destaque. 


Sou assim e pronto. Um eterno sonhador...

DECEPARAM A GLANDE PENIANA NO VITÓRIA RÉGIA

Ontem publiquei aqui no rodapé de meu texto diário algo sobre bancos no parque Vitória Régia e um deles com aparência peniana. Num certo momento do dia comentei num post:

"Espero que após essas brincadeiras todas, a ala conservadora ligada umbilicalmente à Prefeitura e a Câmara Municipal não movam campanha para remover o banco. Ele já é patrimônio bauruense, assim como as EMAS lá junto ao Palácio do Planalto. Ambos precisam resistir...". Eis o que aconteceu hoje:

"Bauru sendo Bauru e mantendo o título de "Springfield Brasileira"
Vamos ao caso: após ventanias recentes, umas árvores grandes (Timburí) de mais de 50 anos, caíram no Pq Vitória Régia, então a administração teve a idéia de fazer bancos com a madeira, sendo uma forma até de homenagear a árvore e incentivar o reaproveitamento

Pois bem, depois dos bancos prontos, começaram a cornetar (como sempre) falando que esse da foto parecia um pênis, e aí a administração foi lá e "resolveu".

Fui obrigado a concordar que os administradores locais capitulam numa simples pisada mais dura no chão, não sendo necessário nem bater fortemente com os pés. Eis o que postei junto ao meu anterior comentário: 

"Inacreditável, o pessoal da Prefeitura não possui nenhum senso de humor e nem sabe permanecer quietinho até tudo amainar. Foram lá e podaram a cabeça do dito cujo. Dizer o que da evidente e nefasta castração?".

3 comentários:

Anônimo disse...

Henrique, nos anos 70, Paulo Pontes escreveu um dos textos mais brilhantes da dramaturgia verde-amarelo. Chama-se “Brasileiro. Profissão: esperança”. Foi adaptado a um musical estrelado por Paulo Gracindo e Clara Nunes. O título diz tudo. Quando assisti ao vídeo que você postou com o seu Roberto, o vendedor de alho em Bauru, lembrei dessa obra prima. O Brasil de nossos dias voltou ao infortúnio do desemprego, do medo, da insegurança social e agora do genocídio. Seu Roberto é o retrato 3x4 dessa situação. Fiquei feliz por ver nele a fé, a garra, a tenacidade dos bravos e, principalmente, a esperança por dias melhores.... quando encontra-lo, diga que enviei um grande abraço...
René Ruschel

Anônimo disse...

Amigo te encaminho isso, com a tua cara:

A rua

Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia -o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia, Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua.
João do Rio.

ROSE MARIA BARRENHA

Anônimo disse...

‘EU AMEI TE VER’
É o fim da picada. A criatividade do artista, nascido em Ponta Grossa e criado em Rolândia, foi capada! Ele, inclusive, deve ter perdido a cabeça ao ver o que fizeram com o seu belíssimo trabalho!
É o fim de uma obra de arte de glande de porte. Digo: de grande porte!
Fiquei sabendo que até o youtuber Léo Picon viria a Bauru conhecer o trabalho genial. Já era.
Quem viu, viu.
Eu vi!
Ou, como diria o cantor Tiago Iorc, dono de um enorme talento, “eu amei te ver”!
vitor oshiro jornalista