quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

MEMÓRIA ORAL (249)


ALF E A CONSENTIDA OCUPAÇÃO EM BARIRI

José Nilson Motta, o Alf, 44 anos é um artesão nascido e criado em Bariri, distante 70 km de Bauru. Alto, espevitado e inquieto, bem que tentou trabalhar e buscar caminhos outros para sua vida, porém ao se descobrir artesão de madeira, morando numa cidade onde essa matéria prima é abundante, de fácil acesso, bastando ir ao campo para encontrar raízes e troncos de árvores, as quais coleta, seleciona e de acordo com uma classificação só sua, sabe antecipadamente o seu destino. Seu negócio principal é o trabalho com o formão, porém, hoje em dia, para sobreviver, produz muitos móveis, principalmente esses habituais de jardim.

Esse escultor artesão é bastante conhecido na cidade e região, pois extrai formas de madeiras desde que se conhece por gente. Começou sem ponto definido, atendendo encomendas ou expondo o que ia bolando em lugares diferentes. A primeira vez que se imaginou num ponto fixo foi pela necessidade de juntar tudo o que ia produzindo num só local. Como não possuía (e diz ainda não possuir) condições para alugar um barracão, a ideia que lhe veio à mente foi a de ocupar um cantinho de um esquecido espaço público. Matutou muito até se deparar com o considerado ideal. Criou coragem, levou tudo pra lá e foi ficando, abrindo novas possibilidades, até chegar no estágio atual.

A avenida Rotatória Expresso Sul corta a cidade de um lado a outro. Tem uma entrada por quem chega de Boracéia, passando pela usina da antiga elétrica CESP e no outro extremo, a rodovia para Jaú de um lado e Ibitinga de outro. No meio da avenida um espaço esportivo com quadras e campo de futebol, com várias saídas para o centro da cidade. Numa delas, cantinho inaproveitado, Nilson assuntou bem e teve a confirmação que necessitava. "Era o lugar ideal, acesso para a cidade, árvores ao fundo, ou seja, sombra e um espaço onde bolei montar meu aparato. Deu certo e já estou aqui nesse trevo há seis anos. Fiz daqui a extensão de minha casa, pois passo mais tempo aqui do que lá".

Ele a princípio denominava o que fez como invasão, mas hoje a denominação encontrada é outra, ocupação. "Se a gente for ter medo não faz nada. Fiz e depois fui falar com as autoridades. O atual prefeito é o Neto Leone, meu amigo de longa data, músico, baterista e quando soube, me apoiou. Sabe de toda minha trajetória, assim como o Renato Dias dos Passos, coordenador da Cultura no município. Hoje entendo como oficializado esse meu cantinho e com ele, além de tudo, ajudo a divulgar a cidade. Já dei entrevistas para canais de TV e jornais. Neles, Bariri sempre em evidência. Eu divulgo minha cidade com meu trabalho", diz.

No chamativo de tudo, Alf levantou uma choupana de madeira, cobertura de sapé e no entorno vai juntando suas peças, expostas também na calçada dos dois lados da rua. Isolou a área interna para proteger suas ferramentas e acessórios. Impossível não chamar a atenção, até porque muitas peças criadas são coloridas, todas pintadas à mão pelo próprio artista. Tem de tudo, para todos os gostos e preferências. Quando o abordei estava finalizando um oratório e fez questão de mostrar os detalhes de um pilão, tendo um pato esculpido do lado. Tudo vai dá criatividade e do formato da madeira encontrada. Tem macacos, cobras, ursos, misturados com móveis e afins. A publicidade é feita pelo boca a boca e quando lhe pedi um cartão, me disse com a maior naturalidade: "Tenho não, mas se quiser, marco meu telefone num papel".

O Ateliê do Alf, como é conhecido segue seu caminho de sucesso e como tudo chegando nesse patamar, atrai bons e maus fluídos. Ele vai tirando os ruins de letra, na maciota, sem se estressar e segue seu caminho, permanecendo ali, sempre com o formão na mão e pronto para negócios. Os carros param, o celular toca e ele segue a vida. Nesse final de ano, devido ao aumento de vendas, convidou outros profissionais para lhe dar ajuda e também ganhar um algo a mais. Quando estive com ele, manhã desta quinta, 05/12, eram três pessoas, garoava e todos num ritmo incessante. Parou por instantes, coisa de uns dez minutos, para me passar as informações. Anotei tudo até o momento da chuva aumentar, dispersar o escrito e antecipar a despedida. O recado dado por ele foi por mim captado com a devida galhardia: "E por que iriam mexer comigo, se sou uma espécie de cartão de apresentação de Bariri? Eu consegui meu lugar e estou conseguindo mostrar minhas qualidades. Quero ir mais longe".

OBS.: Passei hoje voando por Bariri, menos de uma hora na cidade e dentro desse tempo, não resisti, ao me deparar com as peças do Alf, fui ter com ele. Eis o texto saindo do contato. Para contatos, eis seus fones, celular 14.99174.1190 e fone whatts 14.98113.5932.

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