quarta-feira, 19 de setembro de 2018

PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (139)


CARREGADORES DE BANDEIRAS
Antes das escrevinhações de praxe, conto o que vi na feira dominical, bem na entrada da Feira do Rolo, domingo passado, quando adentra o local um cortejo dos mais insólitos. Tendo a frente, numa espécie de abre alas o candidato a deputado Edu Avalone e na sequência um séquito com umas vinte pessoas carregando bandeiras com as cores e o nome do dito cujo. Foi patético, primeiro por vê-lo na frente, numa vã tentativa de ser reconhecido, olhando para os lados, buscando ser reconhecido, mero reconhecimento na face das pessoas. A maioria passava diante dele incólume e tudo era tentado para se fazer ver, quase dando piroetas para atingir seu intento. Desse séquito conto o que percebo desses. São pessoas as mais simples, orieundas das mais diferentes camadas populares da cidade. Gente trabalhando, ali na lida, sem nenhum compromisso com a tal candidatura, mas ganhando o seu. Nada contra. Nítido que, daqueles ali, uma mínima porcentagem daria o voto para tal candidato.

Dito isso, levo também em consideração o que me conta Cláudio Lago sobre suas incursões no sábado passado no Calçadão da Batista, quando foi planfletear os santinhos dos seus candidatos do PT. Me disse que ao ver como estava o local, não distribuiu acintosamente e nem desbragadamente os seus papéis. O fazia quando sentia alguma empatia, conhecidos e quetais. Agiu assim por se ver diante de um cenário onde existia mais cabos eleitorais do que eleitores. "Além do desperdício, entregar por entregar, enfiar o papel na mão do transeunte é algo a causar mais raiva do que proximidade", me diz. Disse algo mais e foi sobre esses mesmos, os tais que denomino como carregadores de bandeiras, não num sentido pejorativo e sim, no funcional, a exata denominação do que fazem no momento para levantar uns trocos. "Henrique, vejo entre os tais uma grande quantidade de conhecidos, muitos moradores dos assentamentos sociais nas redondezas de Bauru. Alguns ao me verem, fazem o sinal na mão utilizado para denominar o voto no candidato do PT, Lula e Haddad. Ou seja, estão ali trabalhando, mas nem eles votam nos candidatos cujas bandeiras carregam".

Junto as duas observações e concluo com um algo mais, esse de minha exclusiva lavra. Eu já carreguei e continuo carregando bandeiras de partidos e candidatos, causas nobres e afins. No meu caso, o faço por ideologia, por afinidade e me considero um felizardo por assim o conseguir fazer. A imensa maioria nas ruas, esquinas e locais públicos encontraram com essa atividade uma forma de suprir a falta de oportunidades e trabalho. Se safam como podem e conseguem. Vejo gente nessa atividade em muitos lugares (nessa eleição muito menos que nas outras), inclusive também carregando bandeiras para a coligação que defendo. Não consigo passar por nenhum desses sem esboçar um olhar de tristeza. A gente sabe comparar quando a coisa é feita por afinidade/convicção e quando é feita por necessidade. Em cada olhar desses nas esquinas da vida, algo para cortar o coração. Passo e abaixo a cabeça, envergonhado não pela pessoa ali estar naquela situação, mas por existir uma situação beneficiando/favorecendo isso e demonstrando por A + B dessas imensas diferenças de classe existentes no capitalismo. Enfim, bandeiras foram feitas para serem desfraldadas, mas sinto um desvituar de sua função precípua em situações como a da foto estampada junto a este texto, sacada das redes sociais, de algum lugar perdido nesse imenso país continente.

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