segunda-feira, 26 de novembro de 2018

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (122)


O BATE PAPO COM TIDEI DE LIMA DENTRO DO BANHEIRO DE UM POSTO DE COMBUSTÍVEL
Foi agora pela manhã. Ao abastecer o tanque do meu meio de locomoção, eis que me bate aquele incontida vontade de urinar. Recorro ao mijatório do Posto Aeroporto, ali na Octávio Pinheiro Brizolla e ao aguardar a saída de quem me antecedia no reservado banheiro daquele estabelecimento, eis que sai de lá o ex-prefeito, ex-deputado, ex-secretário de Governos variados e múltiplos, engenheiro TIDEI DE LIMA. Pelo sim, pelo não, sei que todo encontro com Tidei é frutificante, ou seja, surgem papos dos mais amigáveis e agradáveis, algo quase impensável nos tempos atuais. Tidei é do time que gosta de papear, não seria no sentido de jogar conversa fora, mas de acrescentar algo mais, expor e ouvir, parlar e fizemos isso enquanto nos limpávamos da ida ao banheiro e lavávamos nossas mãos. Foi mais ou menos isso.

- Tidei, cadê o nacionalismo dos tempos atuais. Os caras estão entregando tudo. Tudo aquilo que o FHC não conseguiu privatizar, eles estão querendo fazer tudo de uma só vez. Nem os generais hoje são mais nacionalistas.

- Calma, Henrique, eu não torço por eles, mas aguardo e espero por algo não tão ruim. Bolsonaro distribui tarefas para os tais Postos Ipirangas, muitos deles, pois não sabe o que fazer e nem como deve ser feito. Esse economista é desses vendilhões, homem totalmente do mercado, mas deve ser contido. Não dá para se vender tudo. Sabe quem irá controlar essa gana dessa gente? O vice, o Mourão. Ele já deixou transparecer isso numa entrevista à Folha semana passada, já deixou antever algo assim. Não se deve ir com muita sede ao pote. Ele sim vai ser o interlocutor com o meio militar e nem toda caserna é entreguista. Impossível ser de outra forma.

- O perigo, Tidei, não vai ser as leis, essas provavelmente não mudarão, mas as ações aqui na ponta. Semana passada já denunciaram uma apresentação da Casa da Capoeira no Dia da Consciência Negra num escola pública como macumba, vaiaram uma cantora num bar cantando Chico Buarque e um palestrante visto como esquerdista já foi impedido de se apresentar numa faculdade, tudo em Bauru e o cara ainda nem assumiu. O pessoal é mais realista que o rei. Uma década atrás eu me encontrava toda semana com, por exemplo, Dudu Ranieri na feira de domigo e nos entendíamos, o papo rolava e sem nenhum tipo de agressão. Com os que estão aí hoje isso parece não ser mais possível.

- Isso é ruim demais. Dudu abria espaços para gente falar e se apresentar, reconheço isso. Triste ver o que acontece hoje. Te conto algo de um bar onde me reúno com frequência. O papo era sobre política, eu quieto. Pediram minha opinião, dei e o fiz claramente, falando o que penso e como penso. Nunca foi petista, votei no Ciro no primeiro turno e no Haddad no segundo, pois era a única e possível alternativa. Sabe qual foi a reação que meus conhecidos tiveram comigo? Fui tachado de petralha. Não consegui mais prosseguir com a minha linha de interpretação. Não está mais dando para dialogar, isso concordo contigo, perdemos isso, aquilo que o Dudu fazia com maestria na feira não é mais possível hoje. Embruteceram a conversa.

- Tidei, vivo um desalento em relação ao futuro, você me diz ainda nutrir esperanças de algo, não sei no que, pois o time dos caras é muito ruim.

- Concordo que algumas peças são realmente um horror. Esse ministro da Educação, por exemplo, é um retrocesso sem tamanho. A Educação não merece um sujeito desses no comando de uma das pastas mais vitais do Governo. Algo você vai concordar comigo, chegou o momento do PT e das esquerdas dar um breque e fazer uma reavaliação de tudo o que foi feito, como foi feito e ver como poderá reverter isso, os tais próximos passos. Não dá para esperar mais. Continuar como está será ruim demais para todos. Reconhecer os erros e corrigir para poder continuar. O momento é agora.

- E mais, Tidei, já que você cita o ministro da Educação, veja como todos se dizem família, impolutos e certinhos, mas uma boa quantidade deles casam com mulheres mais novas, uns 40 anos pelo menos. Um carolismo às avessas e são muito piores do que tudo o que já tivemos. Não nos representam em nada.

Não deu tempo pra mais nada. Rindo saímos do banheiro e nos despedimos no saguão do free-shop do posto. A conversa, sem nenhum tipo de segredo inconfessável, entendi como algo ótimo para ser divulgada, até para servir com abertura de mentes e da necessidade de ampliação do diálogo. Posso não concordar com o Tidei em muita coisa e sei, nem ele concorda com tudo o que penso e faço, mas conversamos numa boa, dentro de algo mais do que salutar e necessário. A reprodução do que me lembrei do breve diálogo serve como aperitivo para que isso possa continuar ocorrendo sem o trauma de um ou outro ser tratado disso e daquilo. Que não falte boas conversas daqui por diante, ocorram onde puderam acontecer (toc toc toc). Banheiros são desses bons lugares para algo nesse sentido, como comprovo com essa publicação.

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