quinta-feira, 18 de abril de 2019

AMIGOS DO PEITO (157)


BEBER EM BAR DE AMIGO É A PEDIDA DAQUI POR DIANTE...
Sigo a risca algo dito a mim tempos atrás pelo Marcão, ex-proprietário do Dona Pingueta: "A gente tem que prestigiar bar de amigo, de quem pensa igual a gente e não ficar gastando nossa grana em bares onde além da linha de pensamento é bem outra, o clima idem". Ontem fui conhecer o mais novo bar num dos bairros bauruenses onde já foram palco de homéricos bares, a vila Falcão. Cito dois assim de memória, o Jama e o Pé de Varsa, ambos na rua Campos Salles, esses já nos anais (ui!) dos botequins e com histórias mirabolantes, acontecimentos inenarráveis dentro do cenário da vida sob a ótica de um balcão de bar.

Fabricio Genaro é um perseverante. Por oito anos foi assessor parlamentar dos mais aguerridos, desses que você bota a mão no fogo e não se queima, sujeito pra lá de gente boa, no que essa denominação tem de mais valor. Tem passagem histórica pelo tempo de vida atuando nas hostes junto aos camelôs do centro da cidade, numa inesquecível banca, ponto de encontro e reencontros. Menino bom, morando com a mãe, toca sua vida de uma forma memorável e diante de algo bem ao estilo desses nossos tempos, quando os empregos estão em extinção, acaba fazendo o mesmo que a imensa maioria do povo brasileiro e cria o seu. Enfim, ciente de que, com o currículo que possui, poucos lhe abririam as portas para emprego, abriu um negócio pra chamar de seu, o Bar do Genaro, ali no cruzamento das ruas Wenceslau Brás e Altino Arantes. É muito fácil, no trevo do Relógio de Sol, siga como indo para o campo do Noroeste, essa a Wenceslau e três quadras acima, a esquina com a Altino. Chegou.

Faz uma semana que suas portas estão abertas e ainda está na fase de conquistas, ou seja, portas abertas, mostrando a que veio, cheio de planos e ideias. Reformou aquilo tudo no braço, ele e amigos, como o Silvio Durante. O lugar tem a sua cara, identidade revelada nas fotos espalhadas pelo bar, onde imperam desde o bom e sempre útil Raul Seixas, como bandas como o Rolling Stones e um Mick Jagger com os peitinhos de fora. No balcão interno, algo como mantra, frase lapidar de Fernando Sabino: "Tudo certo no final, se não deu certo é porque ainda não chegamos ao final". Tem pimentas de todos os gostos espalhadas pelos balcões, uma até dentro de recipiente com formato de caveira (essa deve ser da brava).

Estive lá ontem à noite em grande estilo, acompanhado de amigos e conhecidos, para uma noitada num local merecedor de gastarmos o que ainda temos nos bolsos. Como todos eram de sua laia, ele estava integrado ao grupo e além de nos servir, fez parte do grupo. Como está ainda começando e chegamos pouco antes do sol se por, ciente de que sua dispensa ainda está se formatando, sugerimos ir buscar linguiças de variados sabores num açougue, três quadras acima. Churrasqueira desligada, quando chegamos ele cozinhava para degustação própria uns filés de panceta e como filamos a iguaria, sugerimos completar com linguiça e feita nesse objeto hoje muito útil nas cozinhas de tanta gente, o Airflayer. de lá saíram porções, que de 20 em 20 minutos reabasteciam a fome insaciável dos presentes.

Rodada de conversação política e assuntos variados, com cerveja sendo revendida num preço honesto e dentro da necessidade solicitada, estupidamente gelada. O Clube do Bolinha se fez presente e já agendou novas investidas. A próxima se dará sábado agora, quando o lugar abrilhantará sua primeira feijoada, com samba de mesa, sob o comando de mulheres nos instrumentos e voz. Os amigos vão se achegando. Na inauguração, sábado passado, dia de jogo do Noroeste, muitos saíram do campo e ali marcaram presença. Já tem gente, como o fizemos, marcando convescotes reunitivos para o local, tudo pra prestigiar o amigo em início de contenda.

Bar, como é sabido, é lugar de conversas também fúteis e numa delas, os presentes notaram que do outro lado da rua, uma academia de ginástica e no andar de cima, o salão de esquenta, com imensa janela de vidro dando para o salão principal do bar. A música advinda de lá chegava em baixo volume, o que é louvável, mas as imagens de gente, corpo perfeito, malhação rolando solta, na comparação com os sentados nas mesas, além da baba no queixo, uma pitada de inveja ("ainda hei de fazer o mesmo", disse um dos presentes). Lugar aprovado, Genaro no toco, acaba por se transformar no mais novo prisioneiro bauruense, pois de agora em diante, para comparecer a alguns dos nossos atos contestatórios pela aí, só mesmo arriando as portas do botequim.

Seu lugar está tomando forma, tanto que aceita sugestões (desde que não seja para gastar os tubos). Nas paredes deve despontar um painel com fotos da ferrovia, dos trabalhadores dentro das Oficinas da NOB, ali pertinho ou mesmo de gente que fez história na vila Falcão. Surgiu a ideia de uma estante com livros, doados por amigos e para ir multiplicando a leitura. O cardápio será variado, já pensando em fazer frango assado aos finais de semana, comidinhas para grupos específicos e promover a rolança do bate papo descontraído e saudável, algo em falta hoje pela aí. Ou seja, Genaro está na lida, pronto pro que der e vier, aguardando os amigos, chegados, conhecidos e botequinistas variados e múltiplos, pois essa ideia precisa vigorar. Enfim, se a gente vai sair pra beber, que seja em locais como o do Genaro, amigo de quatro costados.

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