sexta-feira, 19 de abril de 2019

BEIRA DE ESTRADA (106)


RECUPERAÇÃO DE NOTRE DAME, CODEPAC, BAURU E EUROPA NO MESMO BALAIO
Certa feita aqui em Bauru, eu presidia o CODEPAC - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Bauru, anos do último Governo Tuga Angerami e numa das reuniões tentávamos um acordo para o tombamento somente da parte frontal, a fachada do prédio da Lusitana, esquina da Batista de Carvalho com Gustavo Maciel. Os representantes dos proprietários, contrários ao tombamento se posicionaram e uma senhora, herdeira do imóvel disse textualmente: "Eu adoro patrimônio histórico, acho lindo os museus da Europa, frequento eles, mas não vejo porque a preservação de nada por aqui, pois não existe leis para essa proteção. Lá lindo, aqui e no meu imóvel, sou contra".

Lembro deste diálogo neste exato momento ao ouvir na televisão que a reconstrução/revitalização/restauro da Catedral de Notre Dame, em Paris será possibilitada, pois o valor arrecadado entre a iniciativa privada, aproximadamente 4 bilhões de dólares em poucos dias é mais do que suficiente para tal. Nenhuma grana pública, uma vez que tudo foi preenchido pela grana de doações privadas. Dentre os doadores, muitos empresários brasileiros e dona Lili Safra, banqueira residente desde sempre na Europa, com valor de alto quilate. Por aqui, nossos museus, imóveis tombados, leis de incentivo, conselhos de defesas do patrimônio, estão todos cada vez mais estagnados, paralisados, aturdidos e contidos. Chego a pensar que a empresária bauruense não errou quando de sua manifestação, mas é cruel demais da conta se deparar com essa situação e se mostrar indiferente, inerte e quase nada poder fazer para reverter a triste situação.

TIRAM O PARALELEPÍPEDO E COLOCAM ASFALTO NO LUGAR...
Isso que está a ocorrer agora em Bocaina, quando a Prefeitura daquela cidade insiste em colocar asfalto sob um histórico piso de paralelepípedo é bem característico deste país. Não fazem esforço nenhum para valorizar um piso histórico e na primeira oportunidade querem logo asfaltar tudo e o que é pior, nem retiram as pedras, colocam o piche por cima. Culturalmente um desastre. Lembro que aqui em Bauru, dos tempos quando presidia o CODEPAC - Conselho de defesa do Patrimônio Cultural e Histórico de Bauru, num certo dia nos chega a denúncia de que a Polícia Militar tinha se movimentado para que a Prefeitura Municipal asfaltasse todo o piso de paralelepípedo onde está hoje localizada a Feira do Rolo. Fizeram uma parte e a justificativa lá deles era de que, com asfalto facilitaria as ações de encontrar drogas jogadas ao meio fio pelos que dela fazem uso na região. Usando dos argumentos que o largo a envolver prédios históricos e tombados deveria passar por restauro, quando o piso de paralelepípedos seria todo recuperado, nivelado, o asfaltamento foi embargado e estancado a sangria no local. Sabe o que aconteceu? Desde então, creio já mais de dez anos, nada foi feito para restauro do piso, encontrando-se todo desnivelado, feio e macambuzio. Nem por isso devemos ser favoráveis à sua retirada. A Prefeitura teve no passadio equipes especializadas em paralelepípedos e hoje nenhuma profissional dentro do seu quadro de funcionários com essa qualificação, porém, instigar e provocar para que volte a tê-los é parte fundamental de quem ousa ainda continuar discutindo questões de patrimônio cultural dentro de uma cidade latino-americana com mais de 100 anos e com mais de 400 mil habitantes. O mesmo que ocorre agora em Bocaina se repete por muitas outras cidades e o tema levantado pelo arquiteto José Xaides Alves em seu texto é mais do que pertinente. Endosso e passo adiante a discussão sobre o tema.

O post do Xaides: “Prefeitura na contramão da cultura, do turismo e do meio ambiente - Vejo com pesar esta tentativa equivocada da prefeitura de Bocaina SP, de trocar a pavimentacão de paralelepípedos históricos da Cidade de Bocaina. A quem interessa isso? De fato não poderá ser para valorizar ainda mais esta cidade que se valoriza a cada dia com seu patrimônio cultural e artístico. Reduto de belas obras de arquitetura do período cafeeiro, e especialmente das obras do pintor Benedito Calixto, a cidade deveria ficar atenta em se tornar estrategicamente uma joia nesse momento em que o Turismo Cultural, Ecológico e Artístico cresce em todo mundo, e cada vez mais globalizado as pessoas buscam nichos de ambientes diferentes, culturais e ambientalmente bem cuidados. E não a mesmice de padrões alienígenas impostos por construtoras visando lucros de curto prazo, que destrói a identidade histórica. Para a economia urbana futura, preservar os pisos em paralelepípedos do centro histórico é inteligente, fortalece o caminhar do pedestre, diminui o impacto e riscos de segurança do trânsito, permite maior permeabilidade das águas, atrai mais gente e o turismo cultural, etc. Pra que se tornar lugar comum?????”.

COM SEMANA SANTA, FERIADO PELA FRENTE, NADA COMO IMAGINAR CRISTO HOJE E LUTANDO A FAVOR DOS INJUSTIÇADOS DESTE MUNDO E ENFRENTANDO O SISTEMA - ESCAPARIA DA CRUZ? Eis a matéria do jornal Brasil de Fato, “Jesus não morreu pelos nossos pecados e sim, por enfrentar o sistema”: https://www.brasildefato.com.br/2018/03/31/artigo-or-jesus-nao-morreu-pelos-nossos-pecados-e-sim-por-enfrentar-o-sistema/?fbclid=IwAR2Vh0VoPS5PDcRhHF13phk06-t-Cf5NaIHi2D_aqFqBW2O5OzrbN0EYGgg
Miguel Rep, edição de hoje no melhor jornal diário do nosso mundo, o argentino Página 12.

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