sábado, 16 de maio de 2020

CHARGE ESCOLHIDA A DEDO (158)


HOJE, DOIS MESES DE CONFINAMENTO - O URSO CONTINUA HIBERNADO...

Cá estou, trancado a sete chaves, com essas aos cuidados da dona do estabelecimento, uma que raramente permite minha escapulida, mesmo uma mera ida à padaria na esquina, coisa de 150 metros. Pois bem, essa minha rotina desde 16 de março, ou seja, hoje completamos, eu e Ana Bia Andrade, exatos dois meses de consentida reclusão e com poucas perspectivas de sair nos próximos dias, pois, pelo que se vê a coisa só tem piorado. Com o relaxamento das medidas de isolamento, a insensibilidade governamental deste paranóico hoje instalado no Governo Federal, o país se viu dividido, uns se isolando mais e mais e outros botando as caras nas ruas todos os dias, daí nos transformanos no epicentro da coisa, onde o grau de transmissão está a cada dia batendo novos recordes, alcançando índices estratosféricos. Fosse outra a atitude de quem nos governa, até poderíamos estar adentrando outra situação, com algum relaxamento, mas no momento, quer queiramos ou não, quem está com a razão é o governador João Dória, que abomino, mas está sendo sensato para com a população paulista. Essa intranquilidade que se vê nas ruas era para ter sido amenizada com atitudes, gestos humanitários e sensíveis, proposta governamental de amparo aos cidadãos num todo, desde os trabalhadores, pequenos empresários e comerciantes, todos no mesmo balaio, mas o que se viu é um quase completo abandono. Uma ajuda emergencial só ocorrendo sob pressão, com parcela significativa de brasileiros ainda desprezados e vivendo à mingua no período, outro tanto com a cabeça a mil, pois desamparados. O país bate cabeça, enquanto o alucinado aposta na sua permanência no mundo político na continuidade da instabilidade. Eu não arrisco, perdi muito com a paradeira, como todos, mas quero viver, até para ter o gostinho de lá na frente ter dado o meu quinhão de participação na queda desses ignóbeis hoje no poder. Se deixando levar, arriscando a pele neste momento, perderei o prazer de lutar ao lado dos que ainda querem ver esse país voltar a sonhar. O confinamento continua. Se consegui me manter até agora, com esses 60 dias em prisão domiciliar, que venham mais dias, para depois sair soltando fogo pelas ventas. Basta de conciliação com quem pensa o país para trás, pois muito além da pandemia, existe uma turba destruindo o que ainda resta de soberania neste país e com esses não devemos ter dó, nem piedade. Aqui em casa ninguém entra e ninguém sai, além de nós dois, reclusão levada a sério. Saídas só com requerimento em três vias e assinadas com trocentos carimbos autorizativos, quase nunca se conseguindo todos. Boto a carinha pra fora da janela por alguns instantes, grito, escrevo por essas vias, volto para meu bunker e continuo seguindo as regras prescritas por quem quer viver. Lá na frente o pau vai comer e quero estar prepapado. Para tanto já faço flexões todo dia, alogamentos de corpo e alma. Aos 60 (sendo completados dia 23/06) quero estar em forma para ajudar a virar essa mesa de pernas pro ar de uma vez por todas...
ps: Ana se recusa a me deixar fotografá-la após esses dois meses, sem antes passar por trato de recomposição das partes, o que só ocorrerá ao final disso tudo. Eu, também me recuso a aparar minha barba e o que me resta de penugem no cocorutcho. Portanto, sem data prévia para ocorrer. Um dia, quem sabe, a gente se recompõe.


NORMAS E PROCEDIMENTOS DAQUI POR DIANTE - TOLERÂNCIA ZERO COM DEFENSORES DA DITADURA, TORTURA, PRECONCEITUOSOS E BOLSOMÍNIONS DE UMA FORMA GERAL
Ontem bati papo com amigo via telefone e falávamos sobre o "pavio curto" e isso de contemporizarmos, em muitos casos, aceitar a presença de gente que nos detesta em lugares públicos e mesmo nos cumprimentos diários. Somos um povo besta neste sentido. Ele me dizia sobre a presença de evangélico no seu portão e na abordagem foi claro: "Quero saber se em algum momento apóiam o governo em curso, aquele que faz arminha para a população, pois isso, até por princípio contraria os preceitos religiosos". Percebeu que a resposta não sairia, tendo com resposta: "Viemos lhe falar de religião e não de política". Foi claro com eles: "Por favor, não me deixem seu jornalzinho e não batam mais no meu portão, pois estamos em campos opostos. O que defendem passa longe do que professo. Passar bem". E lhe virou as costas. Até bem pouco tempo atrás, ainda tentava ser cordial com essas pessoas, mas hoje, assim como o amigo, não mais. Tento o diálogo, demonstro ser de lado oposto e pressinto se estão aptos a dialogar. Não estando, encerro o papo e nem perco mais tempo.

Isso não deve ser colocado em prática somente para esses que batem em nossos portões. Este amigo me dizia de um amigo de outros tempos, hoje declarado bolsomínio, professor aposentado da Unesp e cagando regra por onde passe. Da última vez sentou numa roda com ele no Bar do Português, mas quando começou a ladainha, lhe interrompeu na roda, sendo incisivo: "Pera lá, primeiro vamos analisar como você chegou até onde está e depois, se quer reproduzir esse discurso de ódio, quero saber dos demais se aceitarão, pois não aceito e os que concordarem que aqui continuem, eu saio da mesa, pois esse discurso é frontal não só ao que penso, mas também age de forma violenta, propõe até a força física para o que penso. Não posso mais permanecer na mesma mesa com pessoa com linha de pensamento a propor a defesa do regime militar e a minha eliminação enquanto pessoa. Deveria ficar quieto e já que não ficou, eu não te provoco e, portanto, não venha me provocar com esse discurso idiotiozante. Aqui não". E saiu e foi para outra mesa, seguido por alguns.

Por que continuar paparicando quem pensa e mantém uma linha de pensamento não só conservadora, como destruidora do que não bate com a sua? Esses, além de perigosos, precisam ser excluídos da convivência com quem pensa e age diferente. Não devemos mais nos misturar com esses. Por que continuar sendo gentis com esses? Chega. Se o cara posta algo a favor da tortura, do aniquilamento do adversário, não consegue separar o joio do trigo, confunde alhos com bugalhos, depois de tudo continua a defender Bolsonaro e o que faz como algo normal, essa pessoa não pode ser minha amiga e contar com meu aperto fraterno de mão. Quero é distância desses. Tendo isso muito bem delimitado, espero que o "tolerância zero" para com esses seja a melhor resposta. Os isolando estaremos deixando claro serem persona non grata na convivência com quem pensa o país por outro viés. Se não mudaram até agora, dificilmente mudarão, portanto, TCHAU pra esses.

HISTÓRIAS DO MUNDO PARA SOBREVIVENTES
* Texto do jornalista Fausto Wolff, do seu livro "A milésima segunda noite", de 2005, onde escreveu mil de igual teor. Este o de número196:

"Acreditem, os velhos paus-d’água que andam pelas ruas batendo papos exaltados com misteriosos companheiros que os passantes não enxergam, esses velhos nos quais as crianças jogam pedras e os cachorros mijam em cima quando dormem encostados aos postes de madrugada, esses velhos bêbados e loucos nem sempre foram assim. Houve época em que foram jornalistas como eu. Foram pessoas sensíveis que possuíam a capacidade de se estarrecer com o que passava à volta delas e nesse processo enlouqueceram, ou seja, enlouqueceram porque começaram a desconfiar que a sociedade, o Estado, o governo haviam enlouquecido. Como não podiam conceber serem as únicas pessoas normais dentro de uma coletividade que havia enlouquecido, começaram a se destruir bebendo em direção à morte. Garçom, mais uma cana, por favor!".

SENSATOS NÃO AGUENTAM...
Nem sei se o ministro demissionário é tão sensato assim, pois só de ter aceito trabalhar na equipe do Bozo, isso já é demérito para desqualificar sua ficha curricular. Imagina só, alguém de bom senso deixando constar em sua ficha: exerci cargo de confiança no desGoverno que destruiu o país e o levou à bancarrota, vendilhões da pátria. Aqui mesmo em Bauru em um, o que um dia foi astronauta e desde o início se mantém no cargo de ministro, exatamente por dizer amém o tempo todo e se sujeitar a ser humilhado em público. Quieto, calado, sem voz e nenhuma força, segue, assim como todos os demais. Outro que passou por Bauru, esse atual ministro da Justiça, "terrivelmente evangélico", outro pronto a dizer amém em todas as circunstâncias. Por outro lado, existem os que, mesmo fazendo o serviço sujo, possuem um limite e quando nele chegam, produzem algum enfrentamento. Digo isto do ex da Saúde, o Mandetta, que num certo momento, viu que tudo o que estava sendo feito era contrário aos mínimos preceitos médicos. Bateu de frente até ser defenestrado. Não coloco no mesmo patamar o Moro, pois esse foi carro-chefe da armação desde o começo e na sua saída, mais armação, típico jogo de poder. Sim, nenhum dos citados valem nada e muito menos o que agora sai da Saúde, Teich. Pelo que sei é bolsonarista de carteirinha, desde o início do jogo sujo, mas em pouco menos de um mês, ao menos, percebendo o quanto é pérfido tudo o que ocorre no intestino do Planalto Central, joga a toalha. Isso não o isentará de nada, mas ao menos teve brio, o que muitos outros não possuem. Gostaria muito mais e isso melhoraria seu agora manchado currículo, se viesse a público e escancarasse o que de fato ocorre nos bastidores de Brasília. Se não o fizer, foi calado, contido, sendo mais um que se foi e nunca mais teremos notícia, desprezado pela Hsitória. Se falar, contar algo mais, terá seus minutos de glória e poderá constar numa rebarba histórica como alguém digno. Do contrário, igualzinho aos demais.

O PODER DA "CHARGE"
Eu sou pasquineiro e dele tenho muita saudade, mesmo ao rever toda a obra, ir redescobrindo e vendo o quanto foram machistas. Sim, eram de fato, mas desancaram de uma forma exemplar o regime militar. O poder do que fluia da verve daqueles intrépidos, no ofício da escrita e do desenho foi também primordial para desmoralizar o regime. Sofreram muita censura, mas não desistiram e hoje, ao rever a obra toda (como tento fazer aqui na quarentena), uma constatação: como fazem falta. Fazem falta, mas não posso negar a existência de uma legião de ótimos cartunistas, como esse aqui publicado, que nem o nome sei (gileteei do facebook de um novo e jovem amigo, conquista de hoje) e desancando sem dó e piedade esse desGoverno do Bozo & Cia. O enuncaido desta charge é bem real e tem muito a ver com O Pasquim. Quando este terminou, ouvi muito gente dizendo que eles já preenchiam mais as expectativas, antes concentradas em poucos órgãos das imprensa e depois da dita "abertura", uma pluralização de publicações, com charges saindo nos mais diferentes lugares. O traço foi pulverizado e se espalhou, ganhando espaço em quase todos os jornais brasileiros (aqui em Bauru, o Fernandão segue até hoje enfeitando a página 2 do Jornal da Cidade). Hoje, nem os jornais continuam mais como dantes, assim como o jornal impresso está em decadência, mas a charge continua pela aí, pulsando e propondo derrubar a insanidade pela exposição escanradada de suas mazelas. Com saudades do Pasquim, me vejo juntando charges e textos expondo a chaga do momento atual até possibilitar sua derrubada, de podre. A coisa está ruim demais para nós, o povo, mas boa demais para quem desenha e cria, pois motivo não faltam para destruir a podridão vigente e nisso a charge cumpre muito bem o seu papel. Sigo muitos desses todos, enfim, coleciono o que fazem, pois sei a importância deles na conscietização popular. Em certos momentos, vale mais do que um escritão de muitas laudas.

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