quinta-feira, 21 de maio de 2020

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (125)


RENATO MORA NO VITÓRIA RÉGIA - CUIDA DOS PATOS E DOS OVOS SENDO CHOCADOS NO PARQUE

Diante da balbúrdia estabelecida e em curso neste país, algo ainda acontece a comprovar da existência de como se dá a vida pulsante dos moradores de rua. Em tempos de pandemia são esses os mais desprotegidos, vivendo praticamente ao “deus dará” pelas ruas da cidade. Particularmente, nas poucas saídas que tenho efetuado aqui de casa neste período – já se prolongando por mais de 60 dias -, quando desço de carro, passando pela avenida Nações Unidas, na altura do parque Vitória Régia, uma cena me faz não só virar o pescoço e observar a reunião de moradores de rua, todos eles concentrados nos bancos de um parquinho infantil ali localizado. Como estarão todos esses?, minha pergunta e preocupação. Eles ali continuam, sei disso, pois continuo vendo um amontoado de gente ali e sei também, resistindo como podem.

Nesta semana, recebo mais uma notícia sobre algo proveniente dessas pessoas, considerados por muitos como “invisíveis”. Jaime Prado é cinegrafista, já tendo trabalhado em várias TVs locais e regionais, hoje aposentado como servidor público estadual do Hospital Lauro de Souza de Lima, famoso pelo tratamento de hanseníase. Ao longo de sua vida soube ir atuando em outra área, essa também uma das que movem sua vida, a fotografia. Não sai de casa sem estar com uma pendurada ao pescoço e fotografa tudo o que vê pela frente, sendo um dos recordistas em flashes por essas paragens, possuidor de um considerável arquivo. Como faz regularmente, seguindo as normas de segurança no período, dias atrás estava no parque Vitória Régia, muito próximo ao lago ali existente e foi abordado de forma ríspida por um morador de rua. Levou um susto, mas ao tomar conhecimento do que se tratava, ficou amigo do sujeito na hora e produziu mais um belo ensaio fotográfico.


Eis seu relato, em algo por mim solicitado, para descrever o ocorrido com ele no local: “Renato é mais um anônimo que a nossa sociedade muitas vezes ignora. Uma pessoa muito articulada fala bem e tem um sentimento de estar separado dos familiares. Alguns moram no Nordeste e ele aqui fazendo do parque o seu abrigo, ali ele dorme e cuida do casal de patos e dos 25 ovos que estão meio camuflado por lá. Henrique, se você quiser ir a tarde lá comigo, me dê um alô amigo. Podemos conversar direto com ele e seus amigos que cuidam e protegem os patos e os ovos. Renato é um verdadeiro AMBIENTALISTA ali no parque, ele cuida e trata com todo carinho do casal de patos. Tive informação que estão querendo recolher os ovos para colocar numa chocadeira, mas isso vai dar briga, porque eles não vão deixar retirar os ovos. Vamos aguardar. Pode usar as fotos amigo, o complemento dos comentários deixo ao seu critério pois sei da sua capacidade de ver as coisas boas que ainda acontece na nossa Bauru Moderna”.

O contato inicial foi mais ou menos assim. Jaime foi chamado a atenção pelo Renato, pois esse o estava vendo avançar e caminhar muito rente ao lago e pensava estar ele interessado em retirar de lá os ovos. Ao saber da história, teve início ali mesmo algo que, pelo que conheço o Jaime, vai ser não só o acompanhamento dessa história até o nascimento dos patinhos, como aproveitar para conhecer mais um pouco da vida de cada um daqueles ricos personagens vivendo nos bancos daquele parque. Jaime quer ir mais longe e quer também me contar como os tais patos chegaram ao parque e o faz me enviando outra curta mensagem, pelo que percebo, já sem conter a emoção, algo bem constante em sua vida: “Meu amigo, esse casal de patos, vamos transformá-los num símbolo do parque Vitória Régia. Eu tenho até a foto da senhora que levou o casal e deixou no lago. É uma bauruense de família tradicional da cidade”.

Como conheço o Jaime, sei que não ficará por aí e muito mais virá, pois quando começa a desvendar algo, vai fundo. Logo a seguir recebo mais esse texto: “Henrique, a senhora que levou o casal de patos no parque, faz muito tempo, é da família Giaconelli, uma das pioneiros em Bauru. Tiveram a primeira Padaria da Cidade, isso em 1910 por aí. Estou procurando a foto dela te mando”. Jaime cava isso, histórias deste quilate e assim dá sentido à sua vida.

Primeiro foi descoberto pelo Renato e ao vislumbrar estar diante de uma boa história e sendo por mim contatado, quer destrinchá-la por inteiro, nos mínimos detalhes. Tenho certeza, após a publicação deste texto ele vai continuar me enviando mais e mais detalhes, não só da senhora que levou os patos ao parque, como também, algo que muito me interessa, as histórias dos moradores de rua, os que de certa forma, ajudam e muito a também, como se vê, cuidar e preservar o lugar. Não me importa neste momento saber se foi um ato acertado os patos terem ali ido parar, mas como ali já estão, o ocorrido demonstra algo mais, de como se dá o contato desses moradores de rua, com toda a simplicidade peculiar e o trato para com os espaços públicos e os semelhantes à sua volta.

Histórias como essa resgatam algo bem evidente e pouco percebido pela maioria das pessoas, que são histórias advindas dos povos invisíveis, dos tantos renegados dos tempos atuais. Se não foi ainda percebido, algo bem latente e exposto a nós todos como chaga, o aumento substancial dos moradores de rua nos últimos tempos. O Brasil, isso bem antes da pandemia, está no meio de uma crise, com muitos dos seus sendo praticamente jogados para as ruas e delas fazendo seu habitat. Assim como Jaime, resgato muito dessas histórias, pois considero mais do que importante, não só tomar conhecimento de como se dá a vida das pessoas mais vulneráveis, mas dessa forma mapear e buscar soluções para suas vidas. Não será, certamente, num desgoverno como o vivenciado atualmente que esses terão os olhos dos mandatários voltados para suas necessidades, mas muitos estão e assim, ao lado desses trabalhando em serviços de Assistência Social, se dá um passo muito importante para mantê-los vivos e com esperança de voltar a ter uma vida dentro do formato onde estamos inseridos.

A vida de gente como o Renato é para mim muito importante e o destaque aqui, não são os patos, mas ele e todos os demais na mesma situação, os que sei, estão ali também para proteger os patos e seus ovos.

INIQUIDADES PANDÊMICAS
UMA FOTO E AS MUITAS POLÊMICAS NO SEU ENTORNO
Divulgada semanas atrás pelo vereador Meira, ferrenho opositor ao Governo municipal, apregoava de cestas básicas arrecadadas pelos serviços sociais da Prefeitura, acumuladas nesse depósito/barracão junto ao Recinto da Expo e não distribuidas e do outro lado, o prefeito acusando tratar-se de fake news, pois ali estavam exatamente aguardando serem distribuídas, conforme cadastro e necessidades a eles comunicadas. São duas versões para um debate acalorado ainda não findo e a demonstrar que nem sempre, existe somente o interesse pela busca de soluções coletivas para a mesma questão.
DUAS OPINIÕES A RESPEITO:
1.) "Não entendi. Antes de serem distribuídos os alimentos tem que ser guardados em algum lugar, não?", Antonio Morales.
2.) "Todas as famílias cadastradas estão sendo atendidas, ao invés de tantas críticas acredito que divulgar pra aqueles que não tem acesso a informação é de grande utilidade. São vários questionamentos, mas poucos são com boa intenção...muita politicagem envolvida. (...) Os cadastros são realizados nos CRAS que estão distribuídos nos territórios de vulnerabilidade na cidade... preferencialmente por telefone a fim de evitar aglomerações, podem ser a cobrar...pra todos aqueles que estiverem passando por dificuldade no momento e solicitar.", Flávia Gigliotti Rocha.
3.) "Esse Meira está querendo se promover as custas do sofrimento do povo. Está na hora dos militares voltarem aos quartéis, pois meu voto, ele não leva", Simone Altafim.

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