terça-feira, 30 de outubro de 2018

FRASES DE UM LIVRO LIDO (133) e RELATOS PORTENHOS / LATINOS (57)


O QUE VEM A SER O NEOLIBERALISMO? RESPOSTAS NUM LIVRO ARGENTINO, “PRONTUÁRIO”

Ando lendo mais e creio, daqui por diante, o farei ainda mais e mais. Livros, vários numa fila. Trouxe alguns da Argentina, amigos lá conquistados, todos jornalistas da rádio 750AM. Além de Victor Hugo Morales, o manager do programa La Mañana, dois outros, Fernando Borroni e Gustavo Campana. Trouxe livros de todos. Desta feita li um magistral do Campana, o “Prontuario – No hay neoliberalismo sin traición” (editora Colihue, 2017, 304 páginas). O tema tem tudo a ver com a situação de nossos países, ambos enfurnados num vil sistema neoliberal, danando com o povo e favorecendo uns poucos privilegiados. Ouço o trio todos os dias pela rádio e gosto muito, pois são uma espécie de amaciante para meus ouvidos, amortizador de tudo que não consigo mais ouvir pelas rádios brasileiras. Não existe mais nenhum programa de rádio no Brasil como o produzido por eles, mostrando o outro lado da situação. Por aqui, tudo visão única de pensamento. Por lá, poucas possibilidades e eu tive o prazer de conhecê-los pessoalmente, tendo publicado até um artigo sobre eles em Carta Capital. Por dois anos seguidos quando de minha ida em julho à Buenos Aires volto pessoalmente ao programa La Manãna. Dessa vez trouxe dois livros do Campana. Terminei ontem de ler o primeiro deles.

Nele algo sobre o “grande objetivo do neoliberalismo: dividir a força opositora mais importante e ocultar o inimigo real, para confundir o argentino”. Tanto lá como cá, algo de idêntica crueldade: “Não existe palavra que possa representar a dor, quando uma alta porcentagem da população foi enganada, desde um púlpito político”. Ao ver Bolsonaro sendo eleito, essas palavras soam como proféticas. Com Macri se deu o mesmo. “Para encantar as maiorias, as corporações maquiam as promessas eleitorais que escondem projeto anti-populares e deixam o trabalho sujo nas mãos de oportunistas profissionais, se disfarçando de estadistas para ocultar a verdade e ocultar projetos inconfessáveis”. Enfim, tudo muito parecido, tanto lá como cá. Campana explica dos motivos do título: “Por fim, todos sem exceção, peões e reis, serão imprescindíveis e ao final da trama, transformam seu currículo em PRONTUÁRIO”.

Escolhi frases esparsas, dessas a demonstrar toda a crueldade produzida pelo neoliberalismo, esse insano, pérfido e insensível sistema a privilegiar grandes grupos econômicos em detrimento de atender os anseios da imensa maioria da população. Os exemplos são deles, expostos diante da situação vigente com Maurício Macri como presidente da Argentina e caem como uma luva para a situação vigente no Brasil com Michel Temer. Com Bolsonaro deve piorar, pois o que virá já é uma fase adiante, ainda mais pérfida do neoliberalismo. Sintam a força do escrito a seguir, quando ao ler, bate uma identificação de imediato e até vejo Campana escrevendo isso do meu país e não do dele:


- Para que exista o neoliberalismo, para obtenção do tempo necessário para realizar o saque, a traição é uma ação imprescindível. (...) Se mantendo no poder, essa organização política faz da injustiça e extorsão, do saque ao cinismo, da desigualdade a repressão, um culto conhecido, universalmente conhecido. (...) O neoliberalismo é uma merda quando pensado em função da democracia. Porém, uma merda destemida, insípida, inodora. É uma merda patética. Uma asquerosa merda, sem alma e sem coração. (...) O neoliberalismo é incompatível com a democracia.

- Somos afogados por informação degenerada, oscilamos entre as falácias, no apogeu do cinismo. Não há como escapar desse pântano de carne podre. É impossível transpor tanta imposição, tanta impostura, tanta traição. (...) Somos vítimas desse engarrafamento informativo. Embromados como estamos nos é retirada a capacidade crítica. (...) O novo neoliberalismo não é outra coisa que um genocídio sem sangue à vista. (...) O amontoado de informação descomposta nos desespera, e porque nos descompõe nos incomoda, destrói o animo e nos empurra para a depressão, que sempre surge atrás de nossas irresponsáveis euforias.

- Como um modelo pensado para uma minoria pode enganar a milhões? (...) O novo neoliberalismo é o crime perfeito. Para falar com propriedade, digo ser o crime perfeito. (...) O neoliberalismo é incompatível com o humanismo, incompatível com a cultura, incompatível com a sensibilidade social, incompatível com o pão de cada dia para todos e todas, incompatível com a solidariedade, incompatível com a poesia. (...) Não tem limites os canalhas que se apropriaram do poder, afanaram o uso da palavra liberdade.

- Uma doutrina econômica baseada na transferência de recursos do povo para as corporações, é uma filosofia que ameaça de morte o espírito do sistema. Um projeto que não existe sem repressão, é uma declaração de guerra à República. (...) ...tem como única finalidade transformar os direitos constitucionais em uma mera formalidade. (...) Para que reine o lobo com pele de cordeiro, sempre são indispensáveis os traidores. (...) ...mistura o melhor e o pior da condição humana. (...) O neoliberalismo como fase canibal do capital, nasceu para sepultar os sonhos do campo nacional e popular. (...) O imperialismo se chama globalização e as vitimas do imperialismo se chamam países em vias de desenvolvimento.


- “Desde agora és meu escravo, sou o novo dono de tua vida. Mas pode se tranquilizar, não irei te matar”. (...) Apesar de te roubar para sempre, valores indispensáveis (liberdade, identidade, independência e soberania), o poder assegura não haverá violência extrema. O novo donos de nossas vidas se comprometem a não apertar o gatilho, desde tenhamos o compromisso de respeitar as regras do jogo. O preço que alguns estão dispostos a pagar para continuar respirando é entregar todos os seus tesouros: pátria, sonhos, projeto coletivo... (...) Um sistema que resulta impossível de ser auditado. (...) Optaram por um partido que terminaria com milhares de pequenos empreendimentos. (...) A mordaça impede a ocorrência de declarações públicas. (...) Arrancaram a possibilidade do povo identificar seus verdadeiros inimigos e os transformaram em seres indefesos. (...) Para o neoliberalismo, a história adulterada é o prato do dia, sempre mantida por uma caricatura repleta de falsos heróis. (...) Viajam na velocidade de um sonho, porém a contramão. (...) São os verdadeiros autores do engano coletivo.

- A versão mais cruel do capitalismo, age com forte dose de brutalidade explícita e também tenta terminar com a política. (...) Governam com selo patronal, falam (a palavra justa seriam ordenam) como o único idioma que conhecem e pretendem seguir para sempre. (...) Querem um país modelo século XIX, agropecuário e anti-industrial, com peões obedientes, sem voz, nem voto. (...) Um processo tão devastador, quanto veloz, que num par de anos e noutro de decretos, transfere soberania e recursos do Estado aos grupos econômicos nacionais e multinacionais. (...) Baixas políticas, econômicas, sindicais e jornalísticas, confluem para o mesmo resultado: adulterar o desejo das maiorias.

- Muita gente não pode mais fazer greve porque não tem mais trabalho. (...) A maioria dos projetos políticos terminam seus ciclos em virtude dos seus acertos. (...) Praticam uma economia baseada na acumulação rentista-financeira, dívida externa impagável, monumental fuga de divisas, hegemonia do mercado para impor suas regras aos assalariados, achatamento do Estado, liberação pela entrada de capitais externos, congelamento dos salários e o aparato produtivo destruído pelas importações. (...) Com ausência de protagonismo popular não existem lutas, desaparecidos, mortos, presos, exílio. Não há conquistas. Não aparece toda a dor, que depois se converte em lei. (...) É quando os legisladores rompem o contrato social, em virtude de um negócio individual.

- É um absurdo chamar de governabilidade o desmantelamento de direitos. Governabilidade tampouco é permitir a destruição do país. A governabilidade se cuida sozinha, com multiplicação de direitos. (...) Estão a serviço do aplauso fácil dos amigos mais próximos. (...) As ditaduras mataram discursos parlamentares de todo tipo e tamanho, cada vez que o entendem necessário. (...) Para poder viver em um país sem Constituição, nem direitos, a permanência do Poder Judiciário é indispensável. (...) Sempre foi necessário a máscara de homens julgando ser justos para consolidar o robô. Indispensáveis para confirmar a destruição do Estado de Direito a participação dos Tribunais. (...) O triângulo que compõem o poder econômico, imprensa hegemônica e família judicial é uma máquina de destruição perfeita. Saque, maquiagem midiática e legitimação via Tribunais.

- Cada desembarque neoliberal necessita armar um cenário de destruição, para depois oferecer o ajuste salvador. (...) ...para privatizar, desregular e converter a suposta ausência do Estado em uma grande presença a favor das corporações. (...) Haviam de fabricar um inferno para justificar a cirurgia maior e sem anestesia. (...) O neoliberalismo sempre ingressou na América Latina através de um desastre controlado, um terremoto social que primeiro gera comoção e depois confusão. A violenta destruição da ordem econômica preexistente é o eixo da terapia de choque. (...) Colocam em marcha um plano para domesticar o sindicalismo combativo, para conseguir controlar milhões de trabalhadores.

- Para ocultar a inexistente solidez de um plano econômico, o país se volta a cena de um crime, a buscar uma ajudinha num assassino. (...) Um intercâmbio entre amigos que modificou o futuro de milhões de seres humanos. (...) Nenhuma das medidas econômicas neoliberais deve ser analisada individualmente, todas fazem parte de um mosaico que quando aparece em toda sua dimensão, revela a profunda complexidade da trama. (...) E quanto aos estados menores, são autorizadas a viver com respirador artificial. (...) A manta curta nunca é justa, sempre protege a uns poucos (capital concentrado e os centros financeiros de poder), enquanto desampara a maioria. A quem deve proteger do frio da governabilidade, eis a pergunta que não estão dispostos a responder. (...) Votar em defesa dos interesses da Pátria, parece que tem efeitos colaterais. (...) A abertura econômica inundou o mercado interno com mercadoria estrangeira e decretou a morte do aparato produtivo nacional. (...) Como das outras vezes, pouco depois do acordo, começa uma nova onda de despedidos. (...) A falta de responsabilidade empresarial, que pelo menos reclama do capitalismo, por aqui se traduz numa insultante falta de compromisso com a lei.

- Estão sempre prontos a se mostrar “forte ante os fracos e fracos ante os fortes” e “a comissão interna que nos representa, está do lado da patronal”. (...) A morte da indústria nacional gerou desemprego e reduziu quantidade de trabalhadores ativos, consequentemente gera menos contribuições. Só uma porcentagem minoritária dos que foram despedidos voltaram para o mercado, porém ganhando 50% do seu antigo salário. (...) Tentar corrigir um erro político, com outro erro político, só os leva ao ridículo. (...) O cárcere é a escala mais alta da demonização social. “Toda pessoa submetida a processo penal deve ser julgada em liberdade”. (...) “Todo ancião vive demasiado e isso é um risco para a economia global”, Christiane Lagarde (FMI), março 2015. (...) A condição inolvidável da direita, ser forte ante os fracos. (...) A estratégia comunicacional do neoliberalismo expõe os professores como vitimizadores e os alunos como reféns. (...) Trata-se de um plano sistemático de saque do Estado. (...) Balas de goma, gases lacrimogêneo, patrulheiros, carros de assalto, caminhões hidrantes, helicópteros, polícia montada e serviços, saíram à caça. (...) Uma constante do neoliberalismo, sua obsessão pelos meios de comunicação. (...) No reino da palavra oficial, as vozes opositoras não tem lugar. (...) A liberdade de expressão, a mãe de todas as liberdades. Quando calam a palavra, quando morre o direito à informação, quando terminam com a opinião crítica, todas as demais liberdades estão em terapia intensiva. (...) A pátria não existe para eles, porque o outro ocupa um espaço insignificante em suas vidas. (...) “Não questionamos nomes, sim os métodos”, Facundo Moyano. (...) Imensa a lista dos membros do oficialismo, acusados de negociações inconfessáveis com a função pública. (...) ...e convidou o país a tornar-se um grande negócio imobiliário. (...) As Ciências são um saber de mero luxo.


Muita emoção lendo essas páginas. Obrigado por tudo, meu caro Gustavo Campana. Me gratifica demais ter tido o prazer de te conhecer. Você dignifica o jornalismo.



DIA DOIS DA ELEIÇÃO DE BOLSONARO – CONTINUO ME INFORMANDO PELO PÁGINA 12 ARGENTINO

A imprensa diária nacional padece do grande mal dentro do sistema neoliberal, todos estão encalacrados com o sistema, ou seja, fazem parte dele. Vivem na rebarba dele e sobrevivem com a paga a eles submetida. Nada de aproveitável. Pouca coisa se salva no país da terra quase arrasada: Carta Capital, Fórum, Brasil de Fato, Le Monde... No mais, em se tratando de imprensa massiva, jornal, rádio, TV, revistas, tudo perdido e sem nenhuma credibilidade, pois deixaram de praticar o Jornalismo dentro da verdade factual dos fatos. Hoje, com a chegada de Bolsonaro ao poder, talvez um deles, a Folha de SP, volte a praticar o jornalismo abandonado tempos atrás e o faça por ter se indisposto numas contendas com o presidente eleito, algo que sei, devem já ter se arrependido, mas como talvez não tenham como fazer um rearranjo como o já feito pela TV Globo, padeçam de tentar viver sem verba pública e saí, a saída será voltar a produzir algo a contento. Veremos. Hoje, para buscar informações confiáveis abro novamente o site do jornal diário argentino Página 12 e lá saboreio o que necessito, simplesmente a versão dentro da verdade dos fatos. Eis alguns dos textos sobre o Brasil, desde a capa, na edição de hoje, 30/10:
- “Com o coração mirando ao norte”, de Werner Pertot: https://www.pagina12.com.ar/151959-con-el-corazon-mirando-al-norte
- “As urnas pariram um Pinochet”, de Eric Nepomucemo: https://www.pagina12.com.ar/151960-las-urnas-parieron-a-un-pinochet
- “A pós-verdade no pré-fascismo”, de Juan Manuel Karg: https://www.pagina12.com.ar/151956-la-posverdad-es-el-prefascismo
- “EUA mira o Brasil em acordo militar e comercial: https://www.pagina12.com.ar/151953-ee-uu-mira-a-brasil-en-clave-militar-y-comercial
- “Triunfo de múltiplos fatores”, de Alfredo serrano Macilla: https://www.pagina12.com.ar/151951-un-triunfo-multiples-factores
- “Um país com renovadas doses de violência”, de Gustavo Veiga:  https://www.pagina12.com.ar/151950-un-pais-con-renovadas-dosis-de-violencia
- “Brasil, laboratório da guerra híbrida”, de Emir Sader: https://www.pagina12.com.ar/151952-brasil-laboratorio-de-la-guerra-hibrida
- “Bolsonaro deprecia os Direitos Humanos – entrevista de Jair Krischke, del Movimiento de Justicia y DD.HH: https://www.pagina12.com.ar/151948-bolsonaro-desprecia-los-derechos-humanos
- “Dor Brasil”, Marta Dillon: https://www.pagina12.com.ar/151737-dolor-brasil
Obrigado por tudo, meus caros de Página 12. Sem vocês não sei o que seria de quem busca informação confiável. Vocês são únicos em toda América Latina.  Necessito de vocês para continuar vivendo.

2 comentários:

Mafuá do HPA disse...

Resposta de Campana em outro post: "Henrique la palabra gracias no alcanza, para este gesto de enorme generosidad. Cuando estés por Buenos Aires, te alcanzo "Tribunas sin pueblo", a 40 años del Mundial '78. Gran abrazo". Respondi a ele no mesmo post: "caro Gustavo Campana, o "Tribunas sin pueblo" comprei de tuas mãos este ano e está aqui na fila para ser lido e dissecado como este. Tão logo o faça, publico outra resenha com frases. Volto para Buenos Aires julho 2019 (se a coisa não complicar demais por aqui com Bolsonaro) e nos voltamos a ver em 750AM. Abracitos brasileiros de muita resistência".

Anônimo disse...

Henrique Perazzi de Aquino você é o autentico Embaixador da URSAL em Buenos Aires, interpreta o sentimento de solidariedade que temos recebido dos hermanos argentinos, nestes dias tenebrosos. Viva a Pátria Grande.
PAULO José Oliveira Silva - Tupã SP