segunda-feira, 1 de outubro de 2018

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (121)


O CIRCO CHEGOU...
Aqui nas barrancas do ribeirão embosteado com o nome desta aldeia, ladinho com a avenida Nuno de Assis, reina a mais incontida alegria. Vez em sempre somos agraciados com a presença de um circo por essas bandas. Algumas vezes baixam no pedaço também alguns parques, o Vitinho um deles, mas desta vez é um circo. O Charles, meu cão está numa latição de dar gosto. Deve estar na fase do estranhamento com os novos visitantes. Eu não padeço de estranhamento nenhum, muito menos preciso passar por fase de adaptações, pois convivo com eles aqui desde a mais tenra idade. Por essas plagas já vieram de tudo, até os hoje não mais existentes circo teatros. Lotaram o terreno aqui em frente e antes de cada espetáculo, a única reclamação que posso fazer de tão estimados vizinhos é por causa da música saindo dos seus alto-falantes. Nada contra a música em si, pois sempre gosto demais dela, mas o gosto dos danados não é lá essas coisas e até agora, só ouço algo desprezível. No mais, anda tudo um maravilhamento de dar gosto por essas bandas. Não fosse a chuva no final de semana estragar parte da bilheteria deles tudo estaria mil maravilhas.

Desse tipo de circo nenhuma reclamação. Sempre gostei muito de circo e de seus operários. No circo, pelo menos nos que aqui aportam, o cara que está no palco, trabalha adoidado nos seus bastidores. Rala até para levantar a lona. E durante o espetáculo, quando não está no palco está atrás do carrinho de pipoca. Trabalham todos intensamente. Eu os observo com a devida atenção aqui do lado de fora. Tem um trailler bem aqui na frente de casa, um pequeno, desses que mal cabem uma cama e fico a imaginar como será a vida desses. Eu tenho tralhas pra caramba e no caso de um dia decidir abandonar tudo e viajar com o circo, quer dizer que não poderia levar nem 10% do que guardo aqui no mafuá? E meus livros onde se encaixariam dentro do pequeno espaço? E se tiver uma parceira com uma tralha maior que a minha? Penso nisso tudo olhando para as andanças do lado de dentro do alambrado separando a vida lá deles com a que levamos aqui do lado de fora. Uma amiga de minha falecida mãe um dia foi convidada para fugir com um cara de um desses circos, isso faz muito tempo, ela não foi e tempos depois a via triste, acabrunhada e falando sózinha pelas ruas. Minha mãe me disse ter ela nunca esquecido do convite e pouco antes de morrer havia lhe confessado: "Eu deveria ter aceito. Minha vida teria sido outra". Ela morreu sem conhecer esse outro lado da vida.

Agora triste mesmo ando com outro circo, um dos horrores, essa bestialidade proporcionada ao país plos admiradores do capiroto. O cara se mostra um banal, boçal, sem saber nada de nada, mas se propondo a resolver tudo e com as piores soluções possíveis. Encontrou um momento propício e foi conquistando adeptos, a coisa foi ganhando corpo, a desesperança desses tempos galopando e as mentes se desvirtuando da realidade, adentrando campos onde a rebeldia agora parece ser dar seu voto para aquele que a gente tem a mais absoluta certeza vai danar com nossas vidas de uma vez por todas. Circo de lona é coisa séria, mas esse circo do capiroto, além de perigoso, está servindo para revelar o que sempre vinha pela mente de muitas pessoas, nunca tiveram coragem de expor a cracoagem mental da qual eram detentores, mas agora expõem tudo com muita facilidade. Não adianta discutir com esses, pois já percebi, não possuem argumentos, só convicções. Fujo de conversas com esses e me espanta alguns até então tão próximos se acolhendo sob essa lona, mais que furada, decrépita apresentação. Faltando poucos dias para o pleito, não quero mais ficar de tititi com ninguém, nem ver debate nenhum pela TV, pois nada mais me acrescentarão.

Prefiro fazer fila diante desse circo aqui defronte o mafuá, pois ali tentarei rir e esquecer um pouco do que se passa do lado de fora desse mundo sem fantasia. O triste espetáculo proporcionado pela ascenção do capiroto deve ter um fim em breve, pois mesmo com todo empenho de uma falida mídia, o povo não está mais indo/caindo de olhos fechados na onda conservadora. Só mesmo os muito fora de órbita adentram um circo onde não se sabe mais se teremos alguma possibilidades de sair quando a coisa cansar ou o carro for jogado ladeira abaixo. Convido a esposa para ir comigo ao circo na noite de hoje, mas ela se diz cansada e com outros compromissos. Será que posso na minha idade, 58 anos, entrar sózinho? Não irão desconfiar de nada? Eu não aguentarei mais uma semana de televisão antes desse pleito. Prefiro que chegue logo o dia, cravarei logo meu voto para o retorno de Lula/Haddad e o PT pra tudo. Se algum de vocês vierem por essas bandas me procurando por esses dias e não conseguirem me encontrar, saibam de antemão, estou pedindo neste momento exílio no circo aqui em frente e só saio depois de consumada a apuração. Estou me aboletando pro lado da distração garantida. Só mesmo um circo de verdade para me fazer esquecer da iniquidade do mundo de hoje.

FINALMENTE DIPLOMADO...
Fui hoje buscar meu Diploma de Mestrado na seção de Pós-Graduação da Unesp Bauru. Agora, definitivamente (ou até prova em contrário) MESTRE em Comunicação, Área de Comunicação Midiática, após concluir o Programa de Pós com a defesa feita em 24/10/2017. O título de minha dissertação foi "O invisível midiático social: Interfaces folkcomunicativas de personagens bauruenses excluídos da mídia hegemônica", sob a coordenação da orientadora Maria Cristina Gobbi. Semana passada tive a confirmação de tudo ter valido a pena. Certa feita, bem antes de escolher o tema, minha orientadora havia me dito algo, que nunca mais esqueci: "Henrique, fazer isso tudo, voltar a estudar, escrever essa dissertação, pesquisar a fundo um tema só tem validade se quando terminar ele de alguma forma causar incomodos e por variados motivos for objeto de consulta. Fazer por fazer e tudo ser esquecido nas estantes da biblioteca da Unesp é o que de pior pode acontecer a qualquer dissertação". Aquilo me calou fundo. Fui abordado na rua por alguém que não revelo o nome, pois seria inconveniente, esse ligado ao Jornal da Cidade e me disse mais ou menos assim:
"Nunca alguém ousou escrever nada contra o que representa o Jornal da Cidade para essa cidade. Alguém fazer isso em Bauru é um bem para eles próprios, pois a maioria dos escritos até hoje são de pura louvação. Eles precisam ler sobre o contraditório, até para verem dos erros e acertos e pensarem a respeito. Fui procurar seu trabalho e vejo algo disso, algo que poderia até se aprofundar. Por que não faz isso?". Não sei. O que sei é que, mesmo deixando a desejar, se já foi objeto de pesquisa, de leitura pormenorizada, algum interesse despertou. Missão cumprida. Assim sendo, o dito cujo, o diploma vai em breve para moldura e estará sendo fixado com quatro baita pregos dos grandes, desses difíceis de serem removidos nas paredes do Mafuá. Na foto pela ordem, Silvio Carlos Decimone, Luiz Augusto Campagnani Ferreira, este HPA e Helder Gelonezi, esses três da Pós Unesp e pacientes comigo esse tempo todo. Grato a tudo, todas e todos envolvidos com essa conquista, em especial para a esposa Ana Bia Andrade.

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