sábado, 10 de novembro de 2018

AMIGOS DO PEITO (152)


A PROVA INCONTESTE: HPA LUTOU PELAS BOAS E NOBRES CAUSAS
Goreti

Quando a memória começa a falhar, nada como rever gente querida e perdida no tempo, aparecendo assim do nada para lhe reavivar algo perdido lá nuns desvãos inexpugnáveis. Ontem tive o prazer de rever uma antiga colega dos bancos de faculdade, a MARIA GORETI. Ela me lembra várias coisas, inclusive o ano que ingressei no curso de História, 1983. Como faz tempo. Ela também fez História, mas não é da minha turma. Começou o curso alguns anos depois e enquanto ouvíamos o Nicodemos cantar e tocar sua rabeca na noite bauruense me reavivou uma história, dessas que nem sei se conseguiria mais relembrar algum dia sem a ajuda de aparelhos.

Entre goles de cerveja me disse: “Quando entrei na faculdade, primeiro ano, primeiros meses, encontrei vocês já todos engajados, protestando pelos corredores da USC/ainda FAFIL. As reivindicações eram pelos mais variados motivos e eu ali, tão novinha, ainda perdida, querendo participar e não sabendo como. Num dia cruzo com uma turma colando cartazes pelas paredes da USC, alguém com megafone e a reivindicação era favorável para que, nós mulheres, tivéssemos permitido o uso de minissaia. Fui requisitada por você para ficar fiscalizando da chegada de alguém enquanto os cartazes eram fixados”. Perguntei a ela: “Tem certeza, estávamos protestando para que vocês pudessem usar minissaia?”. Ela riu e confirmou: “Sim, você não se lembra? Eu adorei a ideia, apesar de vir todos os dias do trabalho e na maioria das vezes de calça jeans, aquilo que você e outros promoviam era para quebrar as pernas do conservadorismo reinante na USC. Resquícios do vigente regime militar, quase em final de carreira. Aquilo foi me aproximando de vocês, tão corajosos. Foi a partir dali o meu decisivo passo para ser o que sou hoje, a minha tomada de decisão e entendimento do que de fato ocorria. Devo isso a vocês”.
Paulinho PT Tilibra, única foto da época USC/FAFIL

Eu me senti o cara mais útil do mundo. Essas pessoas que Goreti diz estavam mobilizadas e barbarizando os corredores da USC eram a minha turma de História. Ali tinha gente da seguinte laia: Duílio Duka, Wilson Tuim, Barbosa, Paulinho Tilibra (ele na única foto que tenho daquele período), Sonia Mazzi, Maria Alice, Sonia Fardin, Fabíola Soares e outros. Sempre me esqueço de citar alguns, mas isso faz parte de minha já confusa cabeça com o passar dos anos. Tínhamos o quartel-general da contra revolução no Bar do Lori, onde nos abastecíamos para os reveses e criar a coragem para tudo o mais. Foram anos inesquecíveis e algo dito a mim por Duílio Duka, ocorreu com Goreti quase da mesma forma e jeito: irmã Jacinta, a então diretora maior da USC, lhes disse em distintas oportunidades quando renegociavam dívidas de mensalidades: “Isso aqui não é uma instituição de caridade”. São tantas histórias daquele período, eu e meu primeiro veículo, um velho e saudoso Opala verde.

Pulo as histórias e me atenho a lembrança da Goreti a me encher de incontida alegria. O que ela me diz é que fui um ativista e agora posso dizer isso em alto e bom som, pois a tenho como testemunha ocular dos fatos. Depois, mais importante que tudo, fui um dos que a incentivaram a ser a pessoa que hoje continua iluminada e cheia de uma pureza altamente revolucionária, a dos que buscam a vida toda por transformar as pessoas para melhor. Não imaginam a alegria que ela me possibilitou. Tenho que confessar, sempre gostei de mulheres e de minissaias, mas a questão lá naqueles tempos também foi decisiva para ser o que sou hoje, algo não muito diferente daquela época. Quando ela me reavivou a memória passei a pensar nisso, o fato de não ter mudado muito, pelo menos na maneira como encarar o mundo injusto, combatido com a mesma intensidade. Envelheci somente por fora e nesse momento, se já pensava em baixar a guarda, aposentar a esgrima, com os novos acontecimentos nesse insólito país, creio terei que colocar o bloco novamente na rua. Eu e aquela turma toda, inclusive ela, Goreti.

Um comentário:

Mafuá do HPA disse...

COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:
Nair Nasralla Alguns apontamentos meus para melhorar suas lembranças: em 3/2/80 a FAFIL tornou-se FASC (Faculdades do Sagrado Coração) e em 5/12/1984 o MEC aprovou a transformação da USC. Nomeada como primeira reitora a Ir. Elvira Milanda. A Ir. Jacinta só assumiu em 1988 e nunca foi diretora. Ela permaneceu na reitoria por 17 anos.
Eu fiz parte dessa turma de História de 1983, e nunca houve proibição de saia curta, não nesse tempo , só na época da antiga FAFIL havia um 'aconselhamento' sobre o hábito de vestimenta dos alunos, não na década de 80.
Eu mesma no calor, usava bermudas e saias nas aulas, nunca houve proibição.
Fomos a primeira turma depois que a Fasc recebeu permissão de reabrir o Curso de História, substituindo o antigo de Ciências Sociais projetado durante os anos da ditadura.
Era uma licenciatura Curta que formava para o ensino de Estudos Sociais e Organização social e política brasileira.
O Curso de História ficou proibido de funcionar no final dos anos 60.
A Irmã Jacinta foi uma grande educadora, tinha uma relação democrática com alunos e professores.
Recebia e dialogava com grupos de alunos.
Trabalhei com ela durante mais de 20 anos, fui presidente da Adusc inclusive e me confrontei com ela sobre reinvidicações do corpo docente. Ela era uma Reitora que tinha uma formação humana e democrática admirável.
Recebi meu diploma já como USC, aliás das primeiras turmas, e a Ir Elvira ainda era reitora.

Henrique Perazzi de Aquino SIM, mesmo com confusão de algumas datas, o texto permanece inalterado. Eu mesmo em minha época, adorava denominar o lugar de "Fafil", até por provocação. Irmã Jacienta teve sim esse espírito humanista, mas não a isentou de tecer o tal comentário, dito a mim textualmente pelo Duka e renovado por Goreti. Virou folclore da universidade. Quanto a proibição, também não me lembrava de ter feito a tal manifestação, mas a colega Goreti jura de pé junto (acredito nela). A USC sempre teve um pé no carolismo, vide até o chileno por aqui e hoje (toc toc toc), tomara que não queira relembrar auréos tempos. Em tempo: gostava de conversar com a Jacinta, talvez a última dentre elas todas que ainda se interessava por nós, pobres mortais.

Duilio Duka Henrique Perazzi de Aquino Com as devidas acertivas da Nair, não deixo de abonar suas palavras e seu enfoque, meu amigo.
Aqueles foram verdadeiros velhos bons tempos de militância e de luta na Fafil.
Faltou o enfoque ao Dirceu. ( um Bedel faz-tudo) e gente boa.

Henrique Perazzi de Aquino Tenho muita saudades do Dirceu, um cara que nos entendia. E nunca sacaneamos com ele. Estávamos em formação, ele nos entendia, nós a ele e pregaávamos o "pau" nas manifestações. Boa lembrança.

Nair Nassarala , eu me lembro das saias e bermudas que você usava na época, até como profefessora depois de 1987, nunca falei nada......mas, memórias em conflito

Nair Nasralla Eduardo Nasralla, memória boa hein? Kkkkkk, beijinhos

Duilio Duka Bons velhos tempos da nossa vida de universitários, né Henrique.
Pena que alguns já não comungam mais o mesmo espírito utópico e anti-capitalista.
Mas, vida que segue com os guerreiros e guerreiras que sobraram e ainda acreditam que um outro mundo é possível. Um mundo que promova a humanidade e não a barbárie.

Maria Alice Haddad Lula Vieira To chorando aqui, meu querido amigo Henrique. Que saudades. Que bom sentir que apenas envelhecemos. Beijos em todos e todas

Henrique Perazzi de Aquino É isso mesmo, apenas envelhecemos por fora, na carcaça, mas por dentro a chama continua acesa e lutando pelas minisaias todas desses novos tempos.