segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (120)


ALGO DE UM BAITA AMIGO E DOS MOTIVOS PARA CONTINUAR ESCREVINHANDO


SALVADOR É FUNCIONÁRIO PÚBLICO, ADVOGADO, TROMPETISTA E SUJEITO LIBERTÁRIO
Nesses tempos obscurantistas nada como reverenciar e gastar escrita com quem de fato valha a pena. Não perco mais tempo em escrevinhações dos que se deixam enganar facilmente, os que se vendem a preço de banana, os que aceitam pacificamente serem conduzidos por aqueles que lhes cravarão a faca nos costados. Muitos triste deste momento ver os tais “pobres de direita”, pululando e fazendo questão de prestar juras de amor a tudo que venha contra seus próprios interesses. Quem joga contra o próprio patrimônio e de forma consciente não merece mais a mínima atenção. Daí, escrevinho somente sobre aqueles ainda resistindo na cancha de luta. Hoje, um desses.

SALVADOR DIAS acaba de completar 50 anos. Mora na periferia desta cidade, resiste bravamente às investidas do capital e se mostra altaneiro em permanecer ao lado dos interesses do povo mais simples. Conseguiu à duras penas algo lhe garantindo um futuro ainda confortável, um emprego público estadual, com o qual se formou, hoje também advogando. Casado, filhos já quase formados, faz tudo isso e também milita socialmente, hoje ativamente no PT, núcleo de base DNA Petista. Dele uma breve história, linda como a dos que se predispõe a fazer algo diante deste insensato momento do país. Tempos atrás aprendeu a soprar instrumentos musicais, estudou mas foi fazer outras coisas na vida. Diante de alguns trompetistas pipocando país afora a entoar um “Lula Livre” pelos mais diferentes cantos do país, acabou sendo convidado a fazer o mesmo em sua aldeia. Topou, não sem antes avisar estar sem treino.
Tocou certa manhã dominical na feira e fez sucesso. Passou a ser o soprador oficial dos eventos de resistência. Hoje ri, contando de ter sido convidado para uma reunião num sindicato sobre um futuro evento. Vai, não é reconhecido e num certo momento, um líder sindical diz como sugestão: “Por que não convidamos o corneteiro? Foi tão bom lá na feira”. No final da reunião, pede um aperte, se apresenta e esclarece: “Corneteiro é uma coisa e trompetista é outra”. A partir dali, todos os presentes souberam fazer a distinção entre uma coisa e outra. Salvador agora é o mais novo cinquentão na praça, boníssima pessoa, largo sorriso, sinceridade na fala e no olhar, bravo guerreiro, um pelo qual vale muito a pena escrever e deixar registrado o que faz nesse momento para termos o país liberto dessas garras conservadoras a nos rodear.

SEU ORLANDO, O CHARRETEIRO DE CAFELÂNDIA SE FOI E COM ELE A HISTÓRIA ORAL CONTIDA EM SUA VIDA
Ontem alguém me contava a história do seu Orlando, um senhor dos mais simples, rude, singelo e puro, charreteiro uma vida inteira na vizinha Cafelândia, falecido por esses dias. Dizia ser praticamente impossível vê-lo na cidade sem a presença da carroça e de seu cavalo, ambos inseparáveis, quase um fazendo parte do outro. Foi por décadas uma espécie de faz tudo, levando e trazendo pessoas, quando nem os táxis estavam presentes. Todos sabiam onde encontrá-lo e ele sempre disposto, solicito e prestativo. A história dele e dos relacionamentos com sua cidade através de seu meio de locomoção e de vida me fez ir buscar uma foto pelos meios internéticos. Vasculhei algo daquela cidade e o máximo encontrado foi essa foto, publicada por morador e nos comentários ali encontrados, as despedidas de praxe para pessoa tão ilustre. Nada mais, registros esparsos, nada mais consistente sobre o charreteiro tão ilustre. Alguém por lá fez questão de ressaltar que, havia sido informado pela sua mãe, havia sido ele quem os buscaram de charrete no hospital quando do seu nascimento. Vivia de pequenos fretes, cada vez mais esparsos e sempre preservando a integridade física do animal, algo do qual fazia questão de apregoar e manter. Escrevo isso tudo, com a única foto dele conseguida, só para ressaltar da importância do resgate histórico das histórias populares. Elas se perderão todas com o tempo se ninguém se predispor a contá-las e restará como História de cada localidade, somente o registro feito pelos donos do poder local. Diziam, seu ORLANDO reinou por Cafelândia, mas nada encontrei dele escrito. São exatamente histórias como as dele a me interessar, ainda mais diante das malversações dos tempos atuais. Prefiro me ater a esses, os ditos simplórios, originais condutores da vida intestina de uma cidade, seja ela qual for. Elas levam minha vida pra adiante...

AS HISTÓRIAS A ME MOVER, TANTO PARA LEITURA, COMO PARA RELATOS OUVIDOS E REPASSADOS ADIANTE
Lucia y el paraíso, texto publicado no melhor jornal diário do nosso mundo, o argentino Página 12, p Juan Forn:
"Lucia Berlin está en el paraíso. El año es 1965 y el paraíso es un pueblo de veinte casas junto al mar en una playa de México. Lucia Berlin vive en ese pueblo con su tercer marido y sus hijos. Los hijos son de sus matrimonios anteriores: en cuatro años tuvo tres hijos y acaba de descubrir que está embarazada de nuevo...", leia completo clicando a seguir: https://www.pagina12.com.ar/160889-lucia-y-el-paraiso?fbclid=IwAR2P1yYePqqGv_ANH3MBiXdIzpL6jmHzW_OKsc1MkbfQ4qEXEFIC47xO8SQ 

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