sexta-feira, 7 de junho de 2019

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (168)


HISTÓRIA EM TRÊS CAPÍTULOS


CAPÍTULO 1 - NUMA ESCURA ESQUINA DESTA CIDADE MAIS UM SONHO É DESFEITO

Esse local escuro da foto, bem debaixo dessa placa de Pare é o cruzamento das ruas Inconfidência com Gustavo Maciel, cem metros das linhas férreas, poucos metros do portão principal do CIPs, 100 metros da revenda da Disbauto, da avenida Nuno de Assis e pouco menos de 50 metros do Mafuá deste HPA. Não mais que três dias atrás bem aqui nesta esquina duas senhoras estavam tentando dar uma melhorada na renda mensal e ali posicionaram um carrinho para revender cachorros quentes. No primeiro dia foi um alvoroço na vizinhança, enfim, tudo o que é novidade chama a atenção. No segundo pipocaram algumas vendas e elas ali, das 17h em diante, já demarcando um território, ou seja, um ponto. No terceiro dia, noite de anteontem, quando nem bem a noite caiu, elas receberam visitas indesejadas e de pessoas não interessadas em lanchar, mas em roubá-las. E o fizeram na cara dura, se aproveitando do lugar com pouca iluminação e do pouco movimento nas ruas, mesmo carros passando por ali a todo instante vindo do Bela Vista e pegando direção do centro da cidade ou a avenida Nações Unidas. Além do susto, perderam o pouco que tinham. As vi chorando copiosamente no local e momentos depois uma viatura da PM ali chegou. Não sei se foi descoberto os autores do assalto, mas o que sei é que ontem, quinta à noite, elas não mais estavam na esquina e o local voltou a ficar como dantes, ermo e escuro. Conto isso tudo, com mais uma ponta de tristeza. Elas só queriam ser felizes e ali estavam para arrebanhar um algo a mais, ter um pouquitinho de grana a mais para sonhar terem conquistado algo parecido com um emprego, mas o sonho já deve ter se desfeito com o aperto ali passado. Constatarei logo mais, quando a noite chegar se elas estarão de volta ou desistiram de vez de ter e manter ali naquele lugar o carrinho de lanches. Não existe mais o que falar, existe só o que se lamentar. Toda vez que olhar para aquela esquina irei me lembrar e muito bem da fisionomia de uma delas, chorando e sendo amparada após o ocorrido por vizinhos e populares. E agora fico a me perguntar: para onde terão ido, se é que terão coragem para reabrirem e buscarem novo ponto? Enfim, a noite de Bauru é isso e muito mais.

CAPÍTULO 2 - ELAS VOLTARAM QUASE NO MESMO LUGAR...

Foi lindo demais passar pela esquina da Inconfidência com Gustavo e ver uma luz acesa, não na esquina, mas na garagem da casa onde moram, na rua Inconfidência, bem do lado do Centro Espírita. Reabriram as portas com a cara e a coragem, revendendo pastéis e espetinhos. Os caras, dois numa moto levaram seus celulares, mas naquela mesma noite, a PM recuperou o de uma, além de prender um deles. Disseram que já sabem de toda a trama, o outro logo seria preso e lhes prometeram em breve trazer recuperar também o outro aparelho. Com toda a vizinhança lhes apoiando, criaram coragem e transformaram a garagem não utilizada da casa onde moram no novíssimo ponto comercial. Colocaram uma luz, limparam o lugar e hoje levantaram a porta de aço. Elas se chamam Maria e Isa, ambas maranhenses e já escolheram o nome para o empreendimento, Marisa's Lanches & Salgados. Estão agora mais preparadas mesmo não sendo adeptas de violência, dizem que os próximos serão postos pra correr, pois a vizinhança toda agora está alerta e pronta para ajudá-las na fiscalização. A luzinha acesa é como uma chama no meio da noite. São por demais simpáticas e vendo elas por lá, atravessei a rua e fui conhecê-las, junto de outros vizinhos. Elas são por demais comunicativas, repetiam a história para todos os que ainda não sabiam dela em detalhes. E a cada instante surgia alguém perguntando se agora tudo estava calmo. Teve até gente oferecendo montarem o carrinho defronte outro lugar mais movimentado, onde a vigilância podia ser mais adequada. Elas preferem ali, agora bem ao lado de onde moram. Amanhã cedo já me prontifiquei a ajudar numa faixa a ser fixada bem na frente, onde escreverei o que irão pensar e me comunicar tão logo me levem o pano. Vai dar tudo certo, elas são por demais de arrojadas e com a devida garra, creio terem conseguido criar um elo mais do que sólido com as pessoas ao redor. Acabo de me tornar mais um dos atentos vigilantes, sempre alertas para ajudar no que for preciso.


CAPÍTULO 3 - VENCERAM E O SINAL ESTÁ ABERTO PRA ELAS
Elas me pediram a faixa, uma vez que disse ter as tintas de pano. Tão logo me virão estacionar pela manhã, se aproximaram e com um pano retangular em mãos, me disseram: "Esse é do tamanho um pouco maior que a porta lá da garagem e vai ficar muito bom. Coloque Mariza's -Salgadinhos, Lanches, Pastéis e Marmitas". Fiz a toque de caixa e ao levar, chamaram imediatamente os homens da casa, arrumaram uma escada com o vizinho, pregos com outros e em menos de dez minutos a faixa com os dizeres já estava fixada. O mais gostos foi ouvir de uma delas: "Ela vai nos trazer muita sorte. Tem males que vem para o bem e depois do susto, vamos começar nossa maré de sorte". Não pude esperar para ver os resultados já nessa noite, pois tinha atividades bem longe dali, mas é muito bom perceber a empolgação das duas sócias, bolando coisas diferentes, guloseimas e algo mais da culinária que só elas, maranhenses possuem. Enfim, de algo que começou tão triste, com o assalto e a perda dos dois celulares, um deles já recuperado pela PM e hoje, quando as vejo com o avental ali de portas abertas, esperando seus clientes e cheias de sonhos pela frente, dá uma vontade danada de abraçá-las e não só torcer para que tudo dê muito certo, mas ajudar, com algo além de um escrito numa faixa. Essas duas vão longe e quero qualquer dia desses, poder sentar aqui e escrever um algo mais, um outro capítulo, com algo ainda mais abonador e que a abnegação delas sirva de exemplo para tantos outros sonhos irem se tornando realidade.

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