Manhã chuvosa a deste domingo, 02/11, Dia de Finados, quando até a feira estava meia boca. A do Rolo estava com muitos espaços vazios. Carioca, o livreiro, preferiu permanecer em casa, sem molhar seus livros. Decisão acertada. Os paralelepípedos estiveram molhados durante toda a manhã. Circulei por ali junto de um amigo de outras paragens. Nem o garapeiro compareceu nesta manhã. Fomos em busca de outro, subindo a Gustavo. Paro para ter uma reveladora conversa com um estimado advogado - adorador do furdunço dominical, como eu -, sobre o futuro do Aeroclube, algo preocupante com a destinação daquela área, agora nas mãos da Justiça, que deverá decidir seu destino nos próximos dias. Aquela imensa área, hoje considerada como um vazio urbano de alto valor, principalmente para o setor imobiliário da cidade, é motivo de uma disputa entre os que lutam para manter a área intocável, sem seu loteamento e os que querem, na Justiça, vergar os preservacionistas e ganhar muita grana, não se importando nem um pouco se um dia, aquilo tudo foi reservado como resquício histórico. Tudo isso faz parte de uma luta ininterrupta, a travada por todos os lugares, sempre a envolver o certo e o errado, o tal do "progresso" sendo feito com gente lucrado muito e cavando lugares para ganhar sempre mais. Enfim, vivemos no Capitalismo.
Pensava que, aquela conversa seria a mais signitificativa da manhã, mas na quadra seguinte, diante do Pequeno's Bar, reencontro antigo inquilino, dos tempos de meu Mafuá na beira do rio Bauru, trabalhador braçal, nordestino oriundo de uma cidade bem próxima do Recife, hoje renegando tudo, pois foi abduzido pelos ideais bolsonaristas, dominando-o e fazendo com que, discuta com tudo e com todos que encontre pela frente, tudo para defender seu inquebrantável "mito". Ele se achega e já me preparo, viria algo pra cima de mim. Ele me conhece muito bem e sabe, abomino tudo o que possa resvalar em defesa deste pérfido período bolsonarista no comando do país. Sobre este personagem dos meandros desta cidade, como eu frequentador dominical da feira, havia conversado dias atrás com seus parentes e amigos, todos nordestinos e estes, preocupados com ele, pois renegava até as origens, tudo para defender aquele que, pela informações recebidas diariamente pelas fontes lidas no seu celular, era inocente e injustiçado. Já havia bebido algumas e chega chegando:
- E dai Henrique, ainda consegue achar que está tudo bem? Não acha que o careca lá do Supremo já passou de todos os limites?
- O careca, infelizmente é o que segura as rédeas, no momento, deste país. Não fosse pela existência de um ministro como ele no Supremo, estaríamos neste momento, vivendo algo bem parecido do que gente como tu, acha o certo, o retrocesso e gente como Bolsonaro, este hoje condenado, livre e fazendo um horror no Brasil, principalmente no quesito desrespeito para com a Constituição. O que o careca faz é simplesmente respeitar a legislação existente e não se vergar para criminosos como este que tu defende.
- Mas você não acha que o Supremo deveria deixar Lula governar. Ele interfere nos atos do Governo? Quem governa o país é ele, o Careca e Lula pouco faz. O Alexandre de Moraes tornou-se o grande inimigo da nação.
- Em nenhum momento Alexandre de Moraes impede Lula de governar e também não interfere nas ações do Governo Federal. Que raios de confusão é essa. Hoje nós temos um Congresso Nacional, este sim, impedindo Lula de governar e só aprovando projetos contra os interesses do país. Daí, para não permitir que o país regrida e se degringole de vez, o Supremo entra em ação para não deixar a coisa desandar. Acho isso ótimo. Não se trata de interferência, mas de um poder que, quando acionado, tem correspondido. O Supremo não age em desacordo com a legislação, muito pelo contrário, tem agido para que ela não seja descumprida. Tem sido mais atuante que antes, pois o desrespeito vem do Congresso, com indecisão em aprovações importantes, daí muita coisa que seria para os deputados decidirem, cai no colo do Supremo e, felizmente, para o bem deste momento brasileiro, ele não tem sido omisso. Nada além disso.
Neste momento, quem estava comigo, o tal do amigo de outras paragens, entra na conversa e dá sua opinião, para meu profundo desapontamento:
- Henrique, concordo com o que este senhor diz. Xandão passa dos limites, hoje o Supremo é ele, tudo ele que decide e já passaram dos limites. Deveriam se ater ao que é a eles submetido e não querer decidir em tudo.
A conversa se volta para ele e assim continuamos, com nós dois já se dirigindo para deixarmos a feira.
- Meu caro, que confusão é essa e vinda de ti. Me diz que tem problemas com amigos e próximos por ser contra o Xandão e problemas por ser a favor. E daí, quer o que, ficar em cima do muro para não ter problemas com ninguém. Eu compro briga sim, pois se antes era contra muitas das decisões do Supremo, hoje vejo eles como guardiões da democracia. Eles estão conseguindo segurar na raça e coragem o avanço dessa direitona fascista no Brasil. Se já tivessem fraquejado, onde estaríamos hoje? Nem estaríamos mais aqui discutindo, pois viveríamos numa ditadura cruel, que inclusive pregava a morte de adeversários. É isso que defende. O povo deveria estar nas ruas defendendo os interesses do país, mas desarticulado não o faz a contento e diante disso, com todas as decisões sendo levadas ao Supremo, ele decide e, felizmente, não tem deixado a desejar, como tristemente fazia até bem pouco tempo. Isso tudo se deve a ministros corajosos, como o Xandão. E agora, lá vem você fazendo o jogo de querer enfraquecer o Supremo e favorecer o fascismo. de que lado está?
- Xandão não deveria tomar decisões contrárias aos interesses dos Estados Unidos. Eles são a maior democracia do planeta, continuam o sendo e com ministros de nossa corte fustigando eles, estamos criando problemas.
- Que absurdo. Os EUA deixaram de representar algum tipo de saudável democracia faz tempo e com Trump se transformou numa ditadura. Trump, como Bolsonaro, por tudo o que fez, não deveria nem ter assumido seu segundo mandato. É um ditador, tanto que já fala em rasgar a constituição deles e se reeleger para um terceiro mandato. Isso de ser dono do mundo, bombardear onde quer, isso é o certo? É isso que defende como democracia. Impossível defender Trump e enxergar nos atos de Lula e também do Xandão, em defesa de nossos interesses, como de confronto. Está de que lado? Tu me disse que não votou e não voto em bolsonaristas, mas estás a defender o discurso deles. Muito contraditório.
Ele tenta argumentar com um exemplo pífio de algo onde Xandão, supostamente agiu com uma brasileira, morando nos EUA. Um único exemplo e a partir dele, o trata como o pior exemplo possível. Não enxerga nada de bom no que faz, contendo os excessos advindos dos congressistas e inclusive, nada diz sobre o julgamento dos golpistas. Ainda tentamos continuar conversando, sem altercações e o fazemos até o último minuto quando estivemos juntos. Não o queria destratar, mas tive que jogar duro. "De que lado está? Me dizia ser de esquerda, mas vejo que não o é. Não adiante dizer que nunca votou no Bolsonaro para querer se dizer de esquerda. Se mostrar contra o papel do STF hoje é preocupante. Queria que ele agisse de que forma, aceitando as barbaridades advinda do Congresso e da direitona fascista?", foram alguns dos meus argumentos.
Me despedi deste meu amigo, com ele me dizendo que, a partir de agora não queria mais discutir política comigo. Falaríamos de tudo menos deste tema. Não quero e não vou fazer isso com quem está próximo de mim. Temos que continuar a discutir muito de políticas, pois não quero conviver com ninguém se omitindo de falar tudo o que pensa. O faço com argumentos e se os da outra pessoa, mesmo divergindo forem fortes, me vergo, sou convencido, do contrário continuarei brigando muito pelos que defendo. Faço isso por todos os lugares por onde circulo. O que não aceito é, como hoje, virem com conversinhas cerca-lourenço, sem fundamento, provocativas, negacionistas e pregando o retrocesso do país. Não suporto gente na minha frente a defender ideais de retrocesso, fundamentalistas e chegando como cordeiros, sendo lobos na destruição do que ainda nos resta de democracia. Subo nos tamancos contra estes, sem nenhuma paciência e nem pegando leve, inclusive quando estes são amigos. Sinceridade acima de tudo. Sou transparente e muito velho para ficar contemporizando, pegando leve com quem está claramente querendo destruir o que tão duramente conquistamos.
E assim foi minha estadia lá pelos lados da feira da Gustavo na manhã deste chuvoso comingo.







", gaúcha Ana Saugo:

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