quarta-feira, 30 de setembro de 2009

DIÁRIO DE CUBA (38)

UM POLIESPORTIVO E O CONTATO COM AS RUAS DE SANTIAGO DE CUBA
Ainda continuo relatando as andanças ocorridas no dia 20/03/2008, uma quinta-feira. Após o descanso para os pés inchados, com direito a uma soneca reparadora, partimos os dois, eu e o Marcos Paulo em busca de um restaurante a nos aplacar a fome. Descemos a rua central em busca de um com preços mais do que convidativos. Não nos guiamos por nenhuma espécie de guia, nada disso, seguimos nossa intuição e se assim foi feito até aquele momento continuaria até o fim. Eram mais de 14h e após olhadas mil e andanças idem, escolhemos um quase vazio. Eu acabo comendo qualquer coisa, Marcos é mais exigente e não fica sem sua carne vermelha. Escolhemos dois "cerdos" e ficamos a presenciar um cubano tocando no teclado e cantando uma canção típica. Logo surgem mais dois e o som fica mais animado. O nome do restaurante é Dom Antonio e nossa conta ficou em exatos treze pesos e oitenta centavos.

Sentamos por um certo tempo num banco na praça Dolores e ficamos a observar a movimentação das pessoas. A disposição dos bancos, todos um ao lado do outro, favorece a aproximação e o contato com quem está sentado ao lado. Escolares uniformizados de um lado, turistas com jeitão de italianos de outro, flanando como nós. Somos abordados somente uma vez por uma senhora que se aproxima e nos oferece bananas. Comemos junto dela. Saímos a caminhar e diante do Parque Abel Santamaria, defronte um quartel, a frase de um hino cubano: "Morir por la Patria es vivir". Ficamos observando crianças fazendo exercícios, comandadas por um instrutor.

Na sequência encontramos e adentramos um grande complexo poliesportivo, com futebol de campo, taekendo, basquete e judô. Um grande campo com arquibancadas cobertas, tendo ao lado um ginásio de esportes, com arquibancadas de madeira e ao lado, uma imensa piscina vazia, com muitas crianças jogando bola dentro dela. Muitas quadras de basquete. O local chama-se "CVD Antonio Maceo", assim como o estádio. Demos boas risadas observando o estilo com que os cubanos jogam futebol. Não me arrisquei, por causa dos pés já inchados, mas se fosse em outra ocasião, com certeza pediria uma vaga num dos times. Do alto da arquibancada vazia ficamos assistindo por mais de meia hora ao jogo. Nesse amplo local percebemos o quanto o esporte é importante para o cubano. São várias modalidades sendo praticadas ao mesmo tempo, de uma forma bem aberta e espontânea, com um instrutor atendendo cada uma delas. E muitas, mas muitas crianças, espalhadas por todos os locais.

Chegamos no hotel por volta das 19h. Ali pertinho estava ocorrendo um "Festival de Trova", mas como sofri um bocado no retorno (uns dois quilômetros) ao hotel, preferi não arriscar. Ficamos no hotel lendo e assistindo o noticiário na TV. Queria muito estar sem dores na manhã seguinte (sexta-feira santa) quando iriamos conhecer um bairro mais afastado. Com os pés suspensos tentei dormir mais cedo, mas com o corpo louquinho para espiar a vida noturna de Santiago, ainda mais com o barulhinho vindo do andar de cima do hotel, onde rolava um som em alto estilo. Não foi possível. No próximo relato tem mais...
UMA MÚSICA (50 ) E UMA FEIRA DO MUNDO EM BAURU

O MUNDO AQUI EM BAURU NUMA FEIRA INTERNACIONAL DE ARTESANATO
Primeiro a letra da música O MUNDO (André Abujamra), que ouço até gastar aqui no mafuá no CD "VAGABUNDO", com Ney Matrogrosso e Pedro Luis e a Parede: " O mundo é pequeno pra caramba/ Tem alemão, italiano e italiana/ O mundo filé milanesa/ Tem coreano, japonês e japonesa/ O mundo é uma salada russa/ Tem nego da Pérsia, tem nego da Prússia/ O mundo é uma esfiha de carne/ Tem nego do Zâmbia, tem nego do Zaire/ O mundo é azul lá de cima/ O mundo é vermelho na China/ O mundo tá muito gripado/ O açúcar é doce, o sal é salgado/ O mundo caquinho de vidro/ Tá cego do olho, tá surdo do ouvido/ O mundo tá muito doente/ O homem que mata, o homem que mente/ Por que você me trata mal/ Se eu te trato bem/ Por que você me faz o mal/ Se eu só te faço o bem/ Todos somos filhos de Deus/ Só não falamos as mesmas línguas/ Todos somos filhos de Deus/ Só não falamos as mesmas línguas/ Everybody is filhos de God/ Só não falamos as mesmas línguas/ Everybody is filhos de Ghandi/ Só não falamos as mesmas línguas". Existem várias gravações, numa outra com o Karnak (que infelizmente não tenho), do próprio André, muito linda também. Ouçam isso: http://www.youtube.com/watch?v=PMKg5s3o4VY&feature=related

Fui me lembrar dessa música ontem ao passar pela av. Duque de Caxias e ver um outdoor imenso com a chamada para algo que havia presenciado mês passado em Presidente Prudente, a "Feira Nacional e Internacional de Artesanato". Passei por lá meio correndo e vi coisas fantásticas, de várias partes do mundo, mas o que mais me impressionou foram as pessoas, os próprios expositores. Circulei mais olhando para os paquistaneses, egípcios, africanos, indianos, chineses, peruanos, italianos, palestinos e de várias outras partes do mundo. De hábitos tão diferentes dos nossos, estavam todos ali, numa convivência harmoniosa e cheia de conhecimentos (acabei por me esquecer que estavam ali para comercializar algo de seus países). Ver um asíatico circulando pelo local com seu traje típico e de pés descalços, muito informal, me fez parar e refletir sobre como somos tão diferentes.

Lá já havia cantarolado a música "O Mundo" e ontem o fiz novamente. Essa Feira chega à Bauru dos dias 02 a 11/10, acontece no Clube Luso Brasileiro, sempre das 15 às 22h e será uma rara oportunidade de termos bem aqui no nosso quintal, algo vindo de lugares bem distantes. Passarei por lá várias vezes, tudo para ficar olhando e se possível conversando com essa gente de fora, representantes de um mundo tão distante do vivenciado aqui no nosso quintal (isso é Fernando Pessoa), afinal por lá acabarei me encontrando com: "Tem nego da Pérsia, tem nego da Prússia, da Zâmbia, do Zaire...". A realização dessa Feira é uma feliz idéia e tomara que dê muito certo por aqui. Eu sei que por traz disso tudo está o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e uma loja fantástica lá de Curitiba, a "Artesanatos do Mundo" (http://www.artesanatosdomundo.com.br/) e o Mãos & Arte. Baterei cartão por lá.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

FRASES DE UM LIVRO LIDO (29)

O AFETO QUE SE ENCERRA – PAULO FRANCIS
Nunca morri de amores pelo que li do Paulo Francis, mas não nego, ele escrevia bem e em alguns casos seu pensamento até batia com o meu. Do conservadorismo passo longe, mas do arrojo e da coragem em se pocicionar, gosto muito. Li alguns de seus livros e um desses é esse aqui, O AFETO QUE SE ENCERRA, um de memórias, escrito em 1980, publicado pela editora Civilização Brasileira RJ. Esse comprei num sebo e fui ler somente em 2007. Francis é um frasista incorrigível e para selecionar algumas é uma dureza danada. Vejam o que consegui:

- Eu só sei o que penso quando passo para o papel.
- Foi aos aoito anos que comecei a perceber a ambivalência, a ambiguidade, a falsidade do que pregavam.
- A ordem estabelecida é uma tirania contra os súditos.
- Tolero (de uns tempos para cá...), de cara alegre, os tolos, como recomenda o apóstolo Paulo.
- O carro, o instrumento mais anti-social, excluídos os artefatos militares, já concebidos pelo homem.
- A Ciência cristã é causa ostensiva de nossos conflitos.
- Religião seja devaneio que não se sustenta ao menor teste empírico intelectual.
- Morremos uma vez só. Felizmente, porque nascemos diversas.
- Uma esquerda que não vai ao povo, preferindo dirigi-lo de alto-falante, sem ouvi-lo ou estudar-lhe as necessidades, como esse povo as sentia na carne e não pelo presumido em manuais de substituismo, é meramente patética.
- Soldado cumpre ordens, sem dúvida, mas se estas encontram resistência, se o manual se prova irrealista, ele começa a pensar.
- ...não há certezas em política, e perder, às vezes, é instrutivo. As esquerdas brasileiras provaram o dito hegeliano que a única lição da História é que ninguém aprende lições práticas da História.
- As classes dominantes nunca praticaram o que pregaram.
- Se se trepava, não era costume alardear. Hoje, quem não alardeia corre o risco de ser considerado impotente ou coisa que não quer revelar.
- Futurologia é coisa de gente menor, de astrólogos a tecnocratas.
- Canastrão é quem sempre representa a si próprio.
- Os repressivos não morrem, dormem apenas.
- Escrever rápido não quer dizer bem. Há lentos esplêndidos.
- Trinta anos é o fim da juventude, prazo limite que se permite (ou me permito) à debilidade mental, à negligência do que é importante, ou assim me parece.
- Todo brasileiro privilegiado sabe que é cúmplice de um crime, seja praticante (minoria), omisso (maioria), ou esbravejante (minoria). Somos todos, de certa forma, “iguais”.
- A maioria do povo pagava e continua pagando todas as contas, enquanto a classe “compradora" permanece na sela do burro manso que é o Brasil.
- Wilde dizia que falava mal da (alta) sociedade quem não consegue penetrar nela. Minha opinião dos críticos da “esquerda festiva” é que gostariam de participar dela.
- Sei ao menos o que detesto e rejeito.
- Classes, porém, são pessoas, idividualizadas, e é assim que o revolucionário real teve e terá de confrontá-las.
- Marx escreveu tanto e tão bem que permite a exagetas toda espécie de desvio e devaneio. Não nos iludamos. A força inconstestável dele, a meu ver, reside na análise do sangrento suicídio do capitalismo, e não no socialismo que espera nascer do morto.
- “Corrupção” é da essência do sistema capitalista, um dos óleos que azeita a máquina propulsora do dito.
- Há tipos na imprensa que detesto, pela vassalagem sórdida aos poderosos. E fedem tanto que o poder termina lhes apodrecendo nas mãos, ou poluem de maneira tão óbvia, que ninguém sério os leva a sério, lacaios histéricos de uma classe condenada. Reconheço que a imprensa é a cara da sociedade.
- Restam prazeres. O maior é torcer o nariz dos poderosos.
- Todos nós somos humilhados de uma maneira ou de outra, afetivamente, profissionalmente, etc.
- Não tenho rancores porque disponho de tribuna onde posso me expressar. Se me sinto atingido, revido.
- O mundo sempre viveu pegando fogo. Nossas vidas, gotas d'água no aceano, são tempestuosas até no íntimo familiar. Só se desilude quem se iludiu.
OUTRA COISA: Acontece de 28 a 30/09 no auditório do Museu Ferroviário de Bauru um Encontro sobre Museus e não posso participar. Vida atribulada e tarefas mil pelas estradas da vida me impedem de estar em lugares onde gostaria de marcar presença. São as agruras da vida. Padeço do mal generalizado, denominado 'Contas a Pagar'. São elas que me conduzem...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

UMA DICA (43)

SACIS DE BOTUCATU DE MALAS PRONTAS PARA APORTAREM EM BAURU
Fico sabendo que a atual Administração Municipal de Botucatu, ligada ao tucanato promoveu em declaração pública via noticiário da TV TEM, o desencanto pela cidade estar ligada aos Sacis. Não assisti à reportagem, mas pelo que entendi, não querem mais que Botucatu continue sendo conhecida como a cidade dos Sacis. Querem dar à cidade uma outra conotação e estão renegando tudo o que foi feito até agora. Uma pena e assim sendo, sempre existe muita gente interessada na repatriação de toda a sacizaiada lá existente e na continuidade de sonhar ao lado deles, de valorizar o folclore brasileiro e principalmente, se der lúdico, crianças com corpo de adulto. O difícil vai ser conseguir juntar todos os que estão lá por aquelas bandas e trazê-los para outro habitat. Sabe como é, a maioria já deve estar ambientada e toda mudança causa algum transtorno, ainda mais em se tratando de sacis. Eles, além de arredios, costumam aprontar das suas, principalmente com aqueles que os menosprezam (podem ir acompanhando como algo de grande complexidade arteira irá acontecer lá pelos lados dos que os renegaram).

Por outro lado, se existe os que querem se ver livres do sacis, um outro tanto quer se aproximar, fazer contato e ir juntando os que estão arredios, possibilitando que vivam felizes em novos locais. Aqui em Bauru, há dois anos atrás, TITO PEREIRA, um malazarte e assumido folclorista, não teve receio de trazer dois para cá, no evento público da festa de 112 anos de Bauru, realizado lá no parque Vitória Régia. Nesse ano, no dia em que os tropeiros fizeram aquela bela caminhada na Nações Unidas, juntou-se a outro, desses também a gostar de uma boa conversa e histórias mil, SÉRGIO COELHO, lá da Texas Ranch e estão lançando a idéia de trazer o batalhão que está sendo desprezado na vizinha Botucatu. De conversa em conversa, parece que existe uma data próxima onde o sonho poderá se tornar realidade. É que no próximo mês acontece aqui em Bauru a 2ª edição do Festival Revelando São Paulo, um evento onde a cultura regional é valorizada em toda sua extensão. Estão sondando possibilidades de durante o evento trazerem uma quantidade maior de sacis para Bauru. O tempo urge, pois o negócio não é tão fácil como parece. Trazer sacis não é um negócio muito simples. Nada é feito como num transporte de gado, o bichinho é arredio e para viver feliz precisa sentir que as condições lhe são favoráveis. Os preparativos andam em fase adiantada e acho que tudo irá dar muito certo. É ver para crer. Sorte para os que estão a trazer a felicidade para cá e MUITO CUIDADO para os que abdicaram dela. E viva o folclore brasileiro!

domingo, 27 de setembro de 2009

OS QUE FAZEM FALTA (01)

JOHN LENNON, UM REVOLUCIONÁRIO A ATRAVESSAR GERAÇÕES
* (Comecei aqui no mês passado um novo espaço, com OS QUE SOBRARAM e nesse mês venho com OS QUE FAZEM FALTAM. Intercalados mês um, mês outro, cito aqui pessoas que fazem e fizeram a diferença. São as que possibilitam a esperança de um outro mundo, mais justo... As tais imprescindíveis.)
Na mediocre irrealidade do século 21, da mesmice, do profundo pesadelo coletivo que mata a cultura rica em teorias e práticas, mata-se também a arte para matar as pessoas. Tudo isso as vezes nos faz esquecer das grandiosas lutas e grandiosos artistas que lutavam por uma revolução, uma libertação de todo um povo, da consciência libertada. John Lennon é um artista lembrado hoje apenas pelas grandiosas canções, mas o verdadeiro homem, idealista, revolucionário, o sistema tratou de apagar, jogar no esquecimento após sua morte em 1980, o último grande incomodo artístico para o imperialismo. Resgato aqui um pouco do homem que não queria ser rei, queria ser real, o verdadeiro John Lennon esquecido propositalmente para que novas gerações não se influenciem a pensarem como ele e sim como os babacas do encardido showbusines.

Cínico, ácido, irônico e sarcástico, o beatle John Lennon trata-se da transformação da rebeldia rock’n’roll do fundador dos Beatles em ativismo político, revolucionário e fez com que suas declarações e manifestações em público passassem a incomodar gente graúda no governo americano, mais especificamente Richard Nixon, em sua campanha para reeleição em 1972. John percebeu que poderia se reinventar como ser humano, não como celebridade. Sua relação com a cidade mudou sua forma de ver o mundo e o tornou consciente de seus limites e missões. Estes batiam de frente com a administração Nixon que, além de colocar o FBI em seu encalço, acionou pessoalmente seu departamento de deportação para devolver aquele inglês de volta pra sua ilha. Já havia perdido uma eleição para um Kennedy, não ia perder para um beatle. Há mais de trinta e cinco anos, quando acabou de gravar o álbum Imagine, em que apresentaria o maior hit de sua carreira, dentro ou fora dos Beatles, ao mundo, Lennon decidiu mudar-se para os Estados Unidos.

Lennon queria, mais que o palco, o palanque. Rebelde sem causa, Lennon era o menos proletário dos quatro Beatles e, entre eles, era quem tinha a consciência artística mais aguçada. Ao chocar estes três universos, o arruaceiro que sentava no fundo da classe, o menino estragado pelos confortos da tia e o existencialista crítico da própria produção artística, criava uma personalidade distinta, doce e ácida o suficiente para até hoje ser considerado uma espécie de santo moderno. Mas se nos primeiros dias da montanha-russa dos Beatles, John era tido como o espertinho, sempre com uma resposta pronta para qualquer provocação, à medida em que as coisas começaram a fugir do controle, o que parecia apenas sarcasmo juvenil aos poucos foi dando lugar a outro tipo de manifestação.

Lennon soltava muitas tiradas históricas, algumas antológicas sobre a Guerra do Vietnã. Porém, foi outro assunto que deu pano para a manga e transformou Lennon em algo maior do que um mero popstar.“O Cristianismo irá acabar. Irá diminuir e encolher. Não dá pra fazer nada, estou certo e provarei que estou certo”, disse numa entrevista de 1966. E continuou: “Hoje, somos mais populares do que Jesus. Eu não sei o que irá embora antes, o rock’n’roll ou o o Cristianismo”. Em menos de um semestre, tempos pré-satélite e internet, a frase atravessou o oceano e chegou nos rincões cristãos dos EUA como se Lennon tivesse dito que os Beatles eram maiores que Jesus Cristo. Discos queimados, rituais realizados pela Ku Klux Klan contra o grupo, planos em adiar mais a turnê, ameaças de morte. E John mais uma vez soltava seu verbo brilhante, "Se tivesse dito que a televisão era mais popular que Jesus talvez tivesse me safado", "Agradeço a grande queima de discos, para fazer a fogueira tiveram que comprar nossos disco, obrigado".

A mudança para Lennon havia sido maior: ele havia percebido o poder da sua voz. E até o fim dos Beatles, passou a amplificá-la para diferentes lados, cada vez mais ciente do poder de comunicação das canções, mais do que o de entretenimento. Cada música de Lennon entre 1967 e 1970 tem conotações que vão além do mero pop. Quando mudou-se para os Estados Unidos, veio pilhado de política, gastando o verbo em entrevistas memoráveis e compondo canções que cada vez mais apertavam o dedo nas feridas que o incomodavam. Assim, foi natural que, ao chegarem em Nova York, no dia 3 de setembro de 1971, John e Yoko tenham sido recebido por duas das principais figuras do ativismo político americano: Jerry Rubin e Abbie Hoffman. Os dois eram parte do grupo que ficou conhecido como “os sete de Chicago”, que, ao lado da banda MC5, tomaram de assalto a Convenção Nacional do Partido Democrata Americano em 1968, lançando a candidatura do porco Pigasus para concorrer com Eugene McCarthy e Hubert Humphrey, os nomes que surgiram após o candidato natural, Robert Kennedy, morrer assassinado no dia 6 de junho daquele ano.

Logo entraram no coração da contracultura política nova-iorquina e logo estavam organizando e participando de passeatas, protestos e shows com motivações políticas. O principal deles foi o concerto para a libertação de John Sinclair, ativista político, antigo empresário do MC5 e criador dos Panteras Brancas (outro partido de gozação), que havia sido condenado a dez anos de cadeia por ter sido apanhado com dois cigarros de maconha. O concerto aconteceu no dia 10 de dezembro de 1971 e dois dias depois Sinclair estava livre. Mais do que prometer, Lennon cumpria. Quase dez anos mais tarde, o estagiário de direito Jon Wiener foi ao escritório do FBI e pediu os arquivos da polícia federal americana sobre John Lennon. O beatle havia sido morto há menos de três meses e o estudante tinha um pressentimento sobre o que poderia haver nas fichas do Bureau. “O FBI me disse que eles tinham mais de 400 páginas sobre Lennon dos anos de 71 e 72, quando ele mudou-se para Nova York e se juntou ao movimento pacifista”, conta hoje Wiener, autor do livro “Gimme Some Truth – The John Lennon FBI Files. No livro de Wiener, provas que a paranóia que começa a baixar sobre Lennon a partir de 72 era real: telefones grampeados, movimentos rastreados, transcrições de reuniões com amigos, tentativas de batidas para apreensão de drogas.

O motivo da perseguição do governo americano era simples: Lennon era contra a guerra do Vietnã, o presidente Nixon era a favor e os dois estavam em rota de colisão. Ainda mais quando Lennon, Rubin e Hoffman resolveram fazer de tudo para atrapalhar a campanha para a reeleição de Nixon, de canções a protestos sistemáticos. Perseguido pelo FBI e pelo serviço de imigração americano e completamente obcecado por causas políticas que ia descobrindo diariamente, Lennon deixou a música em segundo plano. Anos mais tarde, ele participaria de duas músicas em show de Elton John, mas foi o Lennon político, com a farda da força aérea britânica, longas e volumosas costeletas, sem barba e de óculos de lentes azuis, que encerrou oficialmente a carreira de John nos palcos. Publicada no dia 21 de janeiro de 1971 no jornal inglês “Red Mole” (isso mesmo, a “Toupeira Vermelha”), a entrevista a seguir foi realizada pelo escritor, diretor e jornalista comunista paquistanês Tariq Ali. Ali, um dos principais críticos do capitalismo ocidental desde os anos 70, quando protagonizou debates históricos com o homem que mandava nos EUA na época. Ele é autor de vários livros sobre a contracultura e movimentos políticos da década de 60 e de diversos temas em voga nesta era de peso político nos ombros do inconsciente coletivo.

Lennon, recém-saído dos Beatles, começava a abraçar o ativismo político e usava sua influência pop para divagar sobre inúmeros assuntos relacionados à Guerra do Vietnã, o papel dos EUA e da Inglaterra no cenário internacional e sua função como intelectual orgânico, que prega e age ao mesmo tempo. A longa entrevista dada a Ali é antológica e pode ser lida clicando aqui: http://www.oesquema.com.br/trabalhosujo/2006/10. Sintam alguns trechos: "Eu sempre tive inclinações políticas, contra o status quo. É bem básico enquanto você cresce, como eu cresci, odiar e temer a polícia como um inimigo natural e desprezar o exército como algo que leva as pessoas embora para morrer em algum lugar" (...) "Todo mundo queria nos usar. Era uma humilhação em especial para mim, porque eu não conseguia ficar calado e sempre tinha que estar bêbado ou dopado para contrabalançar essa pressão" (...) "Eu percebi que tinha que agradar continuamente o tipo de pessoa que eu sempre havia odiado quando era criança. Isso começou a me trazer de volta à realidade. Comecei a perceber que todos somos oprimidos por isso resolvi que eu devia fazer algo sobre isso, apesar de eu não saber qual é o meu lugar" (...) "Quero influenciar as pessoas que eu posso influenciar. Todas aquelas que ainda estão naquele sonho e deixar uma grande interrogação em suas mentes" (...) "Existem basicamente dois tipos de pessoas no mundo, as pessoas que têm confiança porque sabem que têm a habilidade para criar e as pessoas que têm sido desmoralizadas, que não têm confiança em si mesmo porque lhes disseram que eles não tinham habilidade criativa, que eles deviam obedecer ordens. O sistema gosta de pessoas que não assumam a responsabilidade e que não se respeitem. As pessoas precisam acreditar em si mesmas" (...) "Todas as revoluções aconteceram quando um Fidel, um Marx, um Lênin ou quem for, que eram intelectuais, conseguiram comunicar-se com os trabalhadores. Eles juntaram um punhado de pessoas e os trabalhadores pareciam entender que estavam em um estado repressor. Eles ainda não acordaram, eles ainda acham que carros e aparelhos de TV são a resposta" (...) "Os revolucionários de alguma forma tem de atingir os trabalhadores, porque os trabalhadores não vão chegar neles" (...) "Vivemos em uma sociedade sem história. Não há precedentes de um tipo de sociedade destes, por isso podemos romper velhos padrões" (...) "Eu quero atingir as pessoas certas e eu quero que o que eu diga seja simples e direto". Sentiram o perigo de um Lennon para toda uma geração. Um ativista comunista atuando dentro do coração do Império. Ele precisava ser contido a qualquer custo. Daí ele foi morto.

Por fim leiam essa letra: Working Class Hero(Herói da classe trabalhadora) Logo que você nasceu eles te fizeram sentir tão pequeno/ Não dando a você um só instante/ Até que a dor é tão grande que você não sente nada/ Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser /Eles te ofendem em sua casa e te batem no colégio/ Eles te odeiam se você for inteligente e eles te desprezam se for um tolo/ Até que você está totalmente louco e não pode seguir suas regras/ Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser/ Quando eles tinham torturado e machucado você por 20 anos/ Então eles esperavam que você escolhesse uma profissão/ Quando você não serve para nada, você está cheio de medo/ Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser/ Mantém você dopado com religião, sexo e TVE/ você acha que você é tão inteligente, preparado e livre/ Mas você ainda é o camponês fudido tão quanto eu posso ver/ Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser/ Existe a sala no alto onde eles falam para você até agora/ Mas primeiro você precisa aprender como sorrir enquanto matar/ Se você quer ser como os tolos da montanha/ Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser/ Se você quer ser um herói, bem, basta me seguir".
OBS.: As duas últimas fotos foram tiradas na Praça John Lennon, em Havana, Cuba e na última, eu e o Marcos Paulo ao lado da estátuda do John. O texto acima foi escrito pelo companheiro Marcos Paulo, com pequenas alterações e reduções forçadas produzidas por essa mafuista.

sábado, 26 de setembro de 2009

COLUNA DO JORNAL BOM DIA (39 e 40) e ATUALIZAÇÕES CULTURAIS
PASSEATA FORA DO PRUMO - publicado na edição de 19.09.2009
Uma passeata de estudantes é algo a me motivar. Mesmo estando longe dos bancos escolares há algumas décadas, quero logo saber os motivos e se posso participar. Uma ocorreu aqui em Bauru, depois de longo interregno. Fico na espreita. Leio tratar-se de mais um “Fora Sarney”, como tantos país afora. Quero saber mais e me decepciono. Quando já estava nos preparativos com um cartaz feito a pincel atômico, ouço uma entrevista de uma das organizadoras no rádio, uma menina que deve beirar os 15 anos. “Nem sabia que isso estava ocorrendo, mas quando fiquei sabendo que outros lugares realizaram, achei que também podíamos fazer a nossa”, foi sua fala. É claro que ouvi também uma ladainha repetitiva contra os desmandos do Sarney. Fico esperto com atos contra Sarney, pois vindo de onde vêem querem na maioria das vezes sujar a barra do Lula e não tocam nos antecedentes. DEM e PSDB estiveram ao lado de Sarney até meses atrás e hoje, como se culpa não tivessem e num passe de mágica estão contras. Querem enganar a quem? A troco de que? Entender isso e juntar esses no mesmo balaio é algo imprescindível, pois foram os criadores do monstrengo atual, uma espécie de Dr Jekyll, do clássico “O Médico e o Monstro”, versão tempos atuais. Conheço esse filme e não é de hoje. Criminalizar um lado, no caso por Sarney estar apoiando Lula, deixando de lado os que possibilitaram ele ser o que é hoje, não me move nem um pouco. Estudantes foram mais críticos no passado e não se deixavam manipular tão facilmente. Pulei fora.

POBRE DE DIREITA - publicado na edição de hoje, 26.09.2009
Tim Maia foi dotado de uma verve picante, ácida, irreverente e das mais diretas. Perdia o amigo, mas não a piada. A sua frase mais famosa é uma rara reflexão sobre o Brasil que ele atentamente observava: “O Brasil é o único país onde, além de puta gozar, cafetão ter ciúme e traficante ser viciado, pobre é de direita”. Seria irônico, se não fosse trágico. Quero me ater ao último tópico. Essa é de doer até a medula. Não dá para imaginar o pobre brasileiro, danado e espoliado, defendendo interesses que não são os seus. Sou um pobre assumido, mas rara exceção. Resisto. Pobre aqui não pode nem ouvir falar em MST, o único movimento social de luta pelos seus interesses. É conservador e influenciado pelo que vê e ouve (quase não lê). Acredita em histórias de carochinha, bastando estar na telinha ou ser ouvido na rádio para acreditar piamente na lorota a lhe engambelar. Chega a ficar com dó do rico quando pego com a mão na botija, mesmo esse sendo um ladravaz contumaz. Vota no partido do rico, daquele que lhe dá um mimo agora e logo a seguir o apunhala. Adora abrir portinhas novas na periferia, em igrejinhas caça-níquel. Caem cegamente e repetidamente no conto do vigário, mas não movem uma palha para se juntar aos movimentos sociais, lutar pelo respeito aos direitos humanos e tentar virar a mesa. Está atordoado, acreditando que tudo cairá dos céus, sem necessidade de luta. Sonha e quando percebe alguém dos seus na batalha, tem o disparate de torcer contra.

OUTROS ASSUNTOS - DANDO UMA GERAL:
1. Estive por duas vezes no Teatro Municipal de Bauru. Dia 15/09 assistindo a apresentação do quinto aniversário da Orquestra Municipal, sob regência do maestro Paulo Pereira e retornei no dia 22/09, para a apresentação do sétimo aniversário da Banda Sinfônica Municipal, sob regência do maestro Roberto Soares. Nessa última algo a amocionar, Zé Luís, motorista da Cultura, o mesmo que semanalmente dirige a van de alunos para os cursos de música em Tatuí, se interessa pelo tema, estuda música com afinco e hoje, além de levar os alunos está integrado ao grupo (farei em breve um Memória Oral com ele). Uma justa homenagem para o Zé (sempre existe um Zé metido no meio das coisas), que além de uma espécie de faz tudo é de uma humanidade sem fim. Mesmo com muita gente jogando contra, essas duas instituições estão mais do que consolidadas e seguem em frente, diante de um mar revolto à sua volta (entenderam, né?). Tudo grátis.
2. Outro que não me canso de elogiar é o amigo Sivaldo Camargo. Trabalhei ao seu lado por quatro anos e sei de sua competência, comprovada mais uma vez nessa última quinta, 24/09, numa apresentação memorável na Oficina Cultural, quando lá esteve dirigindo um especial e pocket show "Tom e seus Tons Geniais". Gente maravilhosa cantando e falando sobre a obra de Tom Jobim. No palco estavam Marcos Belinasi (além de tocar, canta que é uma beleza) , Paula Veloso (veio do litoral só para esse show), Má Veloso (que lindo rever essa voz e pessoa), Daniel Magalhães (piano), Regina Mancebo e o Sivaldo (narração). Sai de lá com a alma lavada e após o Opinião, esse especial do Tom, Siva está iniciando ensaios para outro musical, o "Ponte Áerea", algo juntando a Sinfonia do Rio de Janeiro e a Paulistana. Disse a mim que irá superar o que foi o Opinião e tem estréia prevista para dezembro, lá no Templo Bar. Levado, esse Sivaldo, não? Em tempo, o espetáculo no Oficina foi totalmente grátis.
3. Audren Victorio é minha amiga, canta que é uma barbaridade e além desse dom, sua a camisa lá na Assessoria de Imprensa da Prefeitura. De lá dispara convites para os amigos comparecem a eventos pela cidade. No de música lá no Jardim Botânico ("Um Canto no Botânico), fez algo para o do dia 20/09, domingo, que não resisti. Fui conferir o Noz Moscada, com um chorinho de primeira no meio da mata, num palco feito com bambus. Nesse domingo, amanhã, 27/09, 10h30, quem canta é ela, junto do seu Awe Trio (Audren, Willian e Erino). Estará dividindo horário com as também excelentes apresentações de música erudita no SESC, direção da Rosa Tolon, que nesse domingo quase no mesmo horário traz uma apresentação da Orquestra Sinfônica Municipal de Botucatu. Que fazer? Onde irei? E ainda, no mesmo horário a derradeira partida do Noroeste contra a Catanduvense. Leiam como Audren faz seu convite: "Tenho certeza que ao lerem isso, vão pensar ou mesmo dizer: Essa Audren deve ter surtado de vez mesmo! Chamar a gente para um programa em pleno domingo, 11h da MADRUGAAAADA?! Eu sei que vocês vão dizer que é tudo mentira, que não pode ser. Mas gente! Despertem o lado natureba que todos nós temos! Pensa bem! A gente levanta cedo pra trabalhar, então porque não levantar cedo para encher a alma de paz e alegria?Ar puro, lugar aconchegante, com umas interferências humanas, que por incrível que pareça, são interferências super positivas! Música da boa! Mudas de árvores para quem quiser levar pra casa, frutas fresquinhas doadas pelo CEASA..Depois até rola uma visita no Orquidário, no Viveiro das Samambaias, um passeio na trilha (e nem adianta ir com segundas intenções e levar a sogra, cunhado chato, criança pestinha, essas coisas, que nessa trilha , não dá para se perder”). Ainda rola até mesmo, uma soneca, para compensar a interrupção, embaixo das árvores. Basta levar uma esteirinha ou uma mantinha para jogar no chão.Ô gente !Depois de todas essas dicas, posso até ter surtado, mas “vamo combiná” que faço parte da ala MB “ Maluco Beleza” do Sanatório MH ( Mundo Humano). Então vamos nessa vai? Só gente boa topa umas coisas assim! Então... Muitos de vocês já aguentaram tanta coisa comigo, até me suportar cantando... (sorte que eu compenso com ótimos instrumentistas, hihihihi!) Então, por que não? E o melhor de tudo! É um programa BBG! Isso é raro! Ah! Quer saber o que é BBG?! Bom,Bonito e de Graça! Não é raro?".
4. A amiga, atriz e agitadora cultural Regina Ramos convida todos para o Aniversário de dois anos do projeto "Teatro aos Domingos", no Automóvel Clube, 27/09, 16h, com a peça "Adeus fadas e bruxas". É um espetáculo Infantil e o ingresso custa somente R$ 5,00. É o último espetáculo desse mês.
5. Silvio, do Grupo Elite (samba do bom e do melhor, sem mela-cueca), volta ao Sobrado, nesse sábado, hoje, 26/09, 17h (e até o arroz secar). Sobrado é bar do Makalé, lá na Gerson França, Altos da Cidade, no 15-80. Fui com a Zezé no sábado passado e lavamos a alma, o cerebelo e saímos a dançar no meio da chuva, coisa que que o Elite faz a gente fazer meio que sem pensar.
6. Tem muito mais. Nicodemos, o saxofonista cordelista e rasqueador de rabeca retorna do Mato Grosso e circula por apresentações variadas pela cidade. No próximo dia 10/09, promove um Sarau. Vamos nos preparando para rever o amigo (falo mais lá na frente). Dia 11/10, na Hípica a "Festa dos Brahmeiros", com chopp, feijoada e samba, sob a batuta do casal Ana e o bom baiano Abelardo (a cozinha, ou melhor o feijão será por sua conta e risco). Hoje tem feijoada no novo bar do Marinheiro, lá na Wenceslau Brás, vila Falcão. E por fim, algo político. Acontece aqui na cidade, hoje, 26/09, 9h30, na Câmara Municipal um Encontro do PSB - Partido Socialista Brasileiro, que traz à cidade Ciro Gomes, provável candidato à Presidência da República. Seguro as pontas com o Ciro, mas não engulo essa da vinda do Chalita, militante tucano de auto-ajuda e da Canção Nova, chegando num partido que ainda se diz "socialista". Essa travou na garganta e não desce de jeito nenhum. Chalita como candidato ao Senado num partido socialista. E o Romário, que adoro como jogador de bola, mas que chegou já trocando o nome do partido para PSDB. Esse são os vanguardistas dos tempos atuais. Ainda bem que pulei fora desse balaio e padeço pelos amigos e políticos que respeito, ainda lá dentro. Coitada da Erundina, Isaias, Calegari, Capiberibe...