segunda-feira, 30 de abril de 2012

PALANQUE – USE SEU MEGAFONE (22)
O QUE ESTAMOS DEIXANDO FAZEREM COM A SAÚDE ESTADUAL
Retorno à Bauru hoje na parte da manhã, e uma distração foi a de folhear a ambos os jornais dos dias em que permaneci fora. Elucubrações sobre pouca coisa de novidade. Dentre tudo o que li e vi, algo me chama a atenção, a SITUAÇÃO DOS DESEMPREGADOS DA MATERNIDADE. “A transição da administração da Maternidade Santa Izabel pode deixar 150 pessoas sem emprego a partir do dia 1º de Maio”, estampa uma manchete do BOM DIA. Algo mais do que previsto, a de que a FAMESP (Fundação para o Desenvolvimento Médico Hospitalar), famigerado órgão que responderá junto ao Governo do Estado por tudo o que acontecer nos hospitais de Bauru. Tudo começou com o Hospital Estadual, depois o Manoel de Abreu, depois a Associação Hospitalar de Bauru, onde estão o Hospital de Base e a Maternidade Santa Isabel. Perdeu-se toda e qualquer autonomia na questão hospitalar na cidade (isso ocorre em todo o estado). Bauru está toda nas mãos da FAMESP, que num resumo muito simples é o Estado repassando uma dinheirama de elevada monta para alguém gerir em seu nome, o que antes era sua obrigação. O funcionalismo não é mais público e a gerência do negócio não é mais estatal. Concurso novo, 150 sendo admitidos com a nova roupagem e dos velhos, todos os que não foram aprovados, rua. A indenização ninguém quer pagar, nem quem chega, a Famesp, nem a administração anterior, a AHB - Associação Hospitalar de Bauru. Pior que tudo isso é o derrame de grana, sem controle absoluto, para uma empresa gerir o negócio hospitalar. Com a engrenagem funcionando, uma elevada facilidade de manipulação e desvios variados. Fonte de desvios contínuos, tudo fazendo parte do negócio. É essa máquina que está administrando a Saúde estadual. Esse é o grande negócio, o que impera sob a orientação e total controle de gente do PSDB. Estamos todos num MATO SEM CACHORRO, sem tirar nem por. Se o motivo da mudança de gerência foi a falência de um modelo por causa, principalmente de corrupção, quem me diz que tudo não continuará ocorrendo no novo modelo?
Ainda dos jornais, o que mais me chamou a atenção foi a tomada de posição da Comissão de Direitos Humanos da OAB/Bauru, numa matéria paga publicada no Jornal da Cidade em 29/04/2012, com o título: “Carta aberta à população de Bauru”. Trechos da preocupação deles, expressadas no que havia resumido no parágrafo acima. Leia na íntegra o documento assinado pelo advogado Gilberto Truijo clicando a seguir: http://www.baurunapolitica.com/2012/04/carta-aberta-populacao-bauruense.html

domingo, 29 de abril de 2012

UM COMENTÁRIO QUALQUER (98)

RETORNO AO BRASIL, NOROESTE FRACASSOU E AFONSINHO EM CARTA CAPITAL
Já estou de volta ao Brasil, cheguei na parte da manhã, onde fui conhecer a Catalunha e a Espanha, mas ainda não em Bauru. Após 11h de vôo entre Madri e São Paulo, malas extraviadas (já localizadas, mas não recuperadas), permanecemos eu e Ana em Sampa mais um dia (eu só com a roupa do corpo) e algumas considerações iniciais sobre a retomada da rotina diária:

1. Triste tomar conhecimento do fracassso noroestino, em derrotas que não me pareciam previsíveis. As do Barcelona e do Real Madri, que todos do outro lado do mundo, onde estive até ontem também não pareciam nada previsíveis, mas aconteceram, parecem dar o tom do que é realmente esse negócio denominado de futebol. Perdemos e iremos permanecer na segunda divisão do Paulistão em 2013. Fico mais triste nas derrotas noroestinas, o time de minha aldeia, do que nas do Corínthians, que também fico sabendo hoje, onde foi desclassificado das finas do Paulistão pela Ponte Preta. Coisas do futebol. O Noroeste continua o mesmo, com endinheirados no seu comando, porém despreparados para tocarem o que tocam. Não entendem nada de paixão, só de negócios e nem isso parecem saber fazer direito. Penamos todos.

2. Mal chego no aeroporto de Guarulhos e uma das primeiras coisas que faço é ir até uma banca de revistas comprar a edição semanal na Carta Capital. Leio desde tenra idade. Lembro de quando estudava na Escolinha da Rede, com meus 14 anos e toda semana comprava o Pasquim nas bancas e o levava para a escola. Buscava regularmente o carioca Jornal do Brasil, religiosamente todo domingo na banca que existe até hoje junto da Praça Machado de Mello. Sabia os horários da chegada do jornal e o fazia para ler a revista de Domingo, os textos do Carlinhos Oliveira e de tantos outros. Lia também a Folha SP, época maravilhosa de Cláudio Abramo, a Veja do Mino e tantas outras. Hoje, deixei de ler os jornalões, pois praticam um jornalismo de péssima qualidade, escamoteando a verdade. Não deixei de ler, mas anda cada vez mais seletivo. Carta Capital é a melhor revista brasileira, sem tirar nem por. Com ela sigo, pois não se desviou de uma rota onde o jornalismo é levado a sério. Folheando a revista no carro, trajeto entre o aeroporto e a casa dos sogros dou uma sonora risada e assusto a todos. Explico o motivo, feito aos
acupantes do carro e a quem aqui me lê. São fatos de uma identificação cada vez maior entre um leitor e o seu meio de informação. Mês passado enviei algumas cartas para o amigo (o vejo como mais que um amigo) Mino Carta, editor e fundador dessa e de tantas outras revistas nesse país e ele acabou publicando um texto meu na seção Brasiliana (já descrito aqui). Num trecho de uma das missivas trocadas por e-mail, fiz a ele uma singela sugestão. Sócrates, o jogador, falecido recentemente manteve na revista uma coluna semanal sobre esportes, a Pênalti e com o seu falecimento e não sendo colocado em seu lugar nenhum novo colunista, foi deixada de lado. Em 19/03, quase nas despedidas de uma longa carta escrevi o seguinte: "E mais uma coisinha, na qualidade de fiel leitor, desde o começo da era semanal (tenho todos aqui no meu mafuá particular), queria te sugerir algo para a continuidade de uma coluna semanal sobre esportes. Sócrates era o cara, mas como nos deixou antes da hora, por que não alguém da mesma cepa para ocupar o espaço? Sugiro dois, José Trajano e Afonsinho. Pense nisso. Um abracito bauruense do HPA". Finalizo. Na edição que comprei, a de nº 695, em suas páginas 42 e 43, o texto "Prezado amigo Afonsinho - Novo Colunista: O ex-craque, também doutor, substitui Sócrates em Carta Capital". Não é para se achar em perfeita sintonia com a revista, quando alguém lembrado por ti é o escolhido para ser o colunista a preencher vaga existente? Não tenho a pretensão de achar que a escolha foi por causa do meu toque, longe disso, mas o que ressalto aqui é a sintonia existente entre o que leio, o que busco e o que encontro em CC. Afonsinho é um velho conhecido dos amantes de um futebol jogado à moda antiga, parentes aqui em Bauru e tendo jogado bola no vizinho XV de Jaú, cruzava constantemente com ele pelas rodas de samba e carnaval carioca, tendo já mantido uma coluna sobre futebol no jornal carioca O Dia e cai como uma luva dentro da linha editorial da revista. Nem bem chego e já aguardo ansioso a edição da próxima semana, quando Afonso estreará, aos 65 anos, o novo espaço.

sábado, 28 de abril de 2012

PALANQUE – USE SEU MEGAFONE (21)
DESABAFO DE ALGUÉM DE OUTRA GERAÇÃO – recebido da professora e amiga Luiza Quinezi. O reproduzo por um único motivo. Ando de saco mais do que cheio com essa proibição das sacolas plásticas nos caixas dos supermercados e só no momento da saída com os produtos comprados. Dentro do mesmo, tudo continua como dantes, plásticos e mais plásticos. Juntei tudo isso com o texto recebido, que sei não ser dela, mas por ter me repassado, vejo que pensas como eu. Serve para reflexões sobre as imposições e o que podemos de fato fazer pelo meio ambiente:

Na fila do supermercado, o caixa diz a uma senhora idosa:

- A senhora deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não são amigáveis ao meio ambiente.

A senhora pediu desculpas e disse:

- Não havia essa onda verde no meu tempo.

O empregado respondeu:

- Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. Sua geração não se preocupou o suficiente com nosso meio ambiente.

- Você está certo - responde a velha senhora - nossa geração não se preocupou adequadamente com o meio ambiente. Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes. Realmente não nos preocupamos com o meio ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos ir a dois quarteirões. Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o meio ambiente. Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas. Mas é verdade: não havia preocupação com o meio ambiente, naqueles dias. Naquela época tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como? Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usamos jornal amassado para protegê-lo, não plástico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar. Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama, era utilizado um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não se precisava ir a uma academia e usar esteiras que também funcionam a eletricidade. Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o meio ambiente. Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos. Canetas: recarregávamos com tinta umas tantas vezes ao invés de comprar uma outra. Abandonamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos 'descartáveis' e poluentes só porque a lámina ficou sem corte. Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas tomavam o bonde ou ônibus e os meninos iam em suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima. Então, não é risível que a atual geração fale tanto em meio ambiente, mas não queira abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na minha época?

sexta-feira, 27 de abril de 2012

DICA (92)

GUERNICA NÃO DEVE SER ESQUECIDA, UM SAMBISTA E CUT PRESENTE
Continuo na Catalunha até amanhã à noite e desde ontem dei um breve pulo na Espanha junto de minha sogra, Darcy Soliva da Costa. Vapt-vupt e passeios pelo centro de Madri. Andanças mil e eu empurrando uma cadeira de rodas pelos museus da cidade. Ela, que já havia estado antes por aqui, me fez ir e adorei, conhecer três grandiosos museus na capital espanhola e num deles dou de cara com algo que me faz sentar no chão e ficar admirando por longos minutos tudo o que já havia recebido de informação de um dos quadros mais famosos de Picasso, o de quando os facistas franquistas bombardearam a cidade de Guernica. Aquilo sempre me remeteu a todas as outras guerras onde o povo é trucidado e ao chegar no hotel, um pequenino encravado na Calle de Clavel, centro da cidade, abro uma insipiente internet e vejo no site do argentino Página 12 (sempre ele), na tira diária de REP (sempre ele), algo que me faz ficar de joelhos. Ontem fez 75 anos do cruel bombardeio e não sei de nada do que saiu publicado nos jornais brasileiros, mas justamente nesse dia estava vendo o quadro famoso de Picasso e depois a tira que aqui publico do REP. Choro, pois contato aqui, in loco e conto quando retornar ao Brasil, das agruras de todos os latinos por essas terras. Vou trombando com muitos, um atrás do outro, mas todos, sem distinção em funções braçais, aquelas que os espanhóis renegam, repudiam e por pagarem bem menos do que a todos os trabalhadores nacionais, servem para os muitos colombianos, paraguaios, guatemaltecos, peruanos, brasileiros, argentinos, panamenhos, mexicanos, venezuelanos, dominicanos e todos os demais que cruzei aqui. Isso ainda e sempre assim será, me corta, me dilacera o coração. Ainda somos um povo, todos nós latinos, de segunda categoria. Porém, altaneiros e guerreiros, como os trucidados no quadro de Picasso.

Chego agorinha mesmo de Madri, estou de volta em Barcelona. Peço desculpas pelo pouco que publico esses dias. Não dá para fazer mais. Minhas fotos estão todas na máquina, mas de mil e quero baixá-las todas de uma só vez, quando no Brasil. Paro pouco na escrevinhação, prefiro fazer a andação, o desbravar ruas e conhecer pessoas. Fico no débito até o retorno. Hoje ao abrir meus e-mails, duas notícias, uma triste, a da morte do sambista Dicró. Tenho dois discos com ele, um LP dele todo brejeiro cantando sua Zona Norte Carioca e outro, junto de dois outros monstros sagrados do nosso samba simcopado, Bezerra e Moreira da Silva. Quem me passou isso foi o Wander, do Buteco do Valente, um sempre atento guerreiro e consciente cidadão das terras bauruenses. Por fim, algo sobre o Dia do Trabalhador e algo promovido pela CUT Bauru. Recebo do amigo João, secretário local da CUT e reproduzo aqui. Que falar de Fala Mansa... Nada, preferiria outros, mas é com esse que vamos. A Praça Rui Brabosa e o Parque Vitória Régia estarão cheios e se alguém por lá, dentre os festeitos do lado de baixo do palanque lembrarem, dia Primeiro de Maio é o Dia do Trabalhador e eu estarei chegando de volta à Bauru. Nos veremos e dessa vez, cheio de novas histórias para contar.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

ALGO DA INTERNET (58)
PERFIL LITERÁRIO,  AS TROMBADAS DESSA VIDA E COMO CONHECI O D'AMBROSIO
Dia desses me deparo totalmente por acaso com uma conhecida voz radiofônica, OSCAR D’AMBROSIO. O acaso eu conto aqui. Abertura da II Jornada de Direitos Humanos de Bauru, sábado à noite, 20h, 14/04, um rapaz franzino de terno preto assiste a todo o evento calado, com diálogos com os poucos conhecidos. Chama minha atenção. Na saída, está um tanto perdido e no ponto do ônibus. Ao ver meu grupo passar pergunta: “Passa algum ônibus aqui até a rodoviária?”. Eram quase 23h e ele querendo ir para Sampa. O deixamos por lá e a voz eu reconheci, mas ainda não sabia de onde. Pergunto se fazia algum programa de rádio. Na afirmação, confirmamos ser na Unesp FM, mas ainda não o identifico. Fico com seu cartão e pouco depois de sua partida a ficha cai. Esse tal de D’Ambrosio é o apresentador do PERFIL LITERÁRIO, um programa de segunda a sexta da Unesp FM, das 0h00 às 0h30.

Ainda nada sabia dele pessoalmente. Mas fui procurar na internet e lá numa rápida varredura, a descoberta da possibilidade de assistir a todas suas entrevistas, bastando clicar no http://www.cronopios.com.br/perfil_literario/. Ali aproximadamente 1400 programas, com escritores inimagináveis de serem encontrados por aí, mas reunidos em curtas entrevistas de 30 minutos cada. Algo sobre o programa pode ser lido aqui, num texto do próprio Oscar: “A literatura e a vida têm dois elementos em comum: o mistério e o sonho. Cada um de nós talvez nasça com um sonho imenso, que vai sendo podado pouco a pouco pela família, escola e trabalho. Não se trata de ações intencionais ou de uma teoria da conspiração, mas simplesmente da maneira como cada um reage a tudo aquilo que foge ao cotidiano estabelecido. No Programa Perfil literário, divulgado pela Rádio Unesp FM, cada entrevistado dá ao seu
sonho uma forma e revela assim parte de seu mistério, pois conhecer aquilo que uma pessoa imagina permite atingir uma vereda em que a riqueza das questões supera as certezas das respostas. O maior sonho está em manter a capacidade de perguntar, impedindo o conformismo e a acomodação. Ao perscrutar sonhos artísticos, é possível se conhecer melhor, pois se aprende a compreender e respeitar o sonho do outro. Por isso, esta jornada poética pelo mundo dos sonhos apresenta diversidade de soluções e de temas. As entrevistas do programa estimulam, portanto, a ver o sonho do outro como espelho do nosso. E conhecer sonhos alheios gera um adensamento do nosso sonho, talvez recôndito, talvez evidente, mas portador do poderoso fluir da seiva da vida". Mais desse Doutorando em Educação, Arte e História da Cultura, mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp e jornalista, integrante da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA- Seção Brasil), cliquem em www.artcanal.com.br/oscardambrosio, pois ele é responsável pelo conteúdo da página ou contatem direto pelo E-mail: odambros@reitoria.unesp.br. E, é claro, ouçam seu belo programa.

terça-feira, 24 de abril de 2012

PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (63)

O TREM DE BOTUCATU E O DE BAURU, O QUE ANDA E O PARADO
Uma notícia curta e grossa na edição do JC de 17/04, página 15, Caderno Regional, chama minha atenção. “Locomotiva é mostrada durante o desfile de aniversário de Botucatu” é o título, tendo logo a seguir uma foto da máquina restaurada e com a legenda “Maria-Fumaça foi reformada para passeios turísticos entre Botucatu e Rubião Junior”. Recuperaram a locomotiva e um carro de passageiros e lá está: “A recuperação da locomotiva e a reforma completa de um carro de passageiros com capacidade para transportar 40 pessoas possui um investimento de R$ 600 mil”.

Não preciso ler mais nada, quero somente fazer umas constatações e deixar no ar algumas perguntas:
Temos em funcionamento em Bauru o “Projeto Ferrovia para Todos” que há anos tenta fazer circular uma composição inteira férrea, toda restaurada, nos trechos da Cia Paulista, estação Central até Tibiriçá, mas tudo para encruado e não sai do diminuto percurso. O pessoal envolvido no projeto é aguerrido, batalhador, sua a camisa, o da SMC idem, mas isolados não fazem gol nenhum. Falta algo para vingar esse projeto de viabilização do aumento do trajeto e recolocar a nossa Maria Fumaça de fato para funcionar.

Lá recuperaram em Botucatu tudo em alguns meses, investimento divulgado e idem para o trecho onde o trem turístico irá percorrer. E aqui, o que falta mesmo para fazermos o mesmo? Lá a Prefeitura é do PSDB e a liberação do trecho já foi conseguida junto ao Governo Federal, que é do PT. Em Bauru, nossa vice-prefeita é do PT e viaja constantemente para Brasília, sempre com o intuito de fechar contratos de verbas para Bauru. Por que uma Prefeitura do PSDB consegue e aqui que é do PT não e junto a um governo que é do PT?

Fecho o texto com algumas conclusões. Em nenhum momento critico os que atuam na área e tão pouco dos da Cultura Municipal. Lutam e fazem muito. O buraco é mais em cima, no alto da pirâmide, onde ali falta um direcionamento do que se deve, se pode e se faz. Falta direcionamento, falta empenho, faltam projetos viáveis, faltam quem os façam, falta vontade de resolver, falta acender esse pavio. Mas agora me parece ser tarde, pois caminhamos para os últimos meses dessa administração e enquanto o trem de Botucatu vai estrear no trecho até Rubião Jr, o nosso continuará entre a Estação Central e a da Cia Paulista, meros 700 metros. Isso não é uma crítica, trata-se de uma constatação.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

AMIGOS DO PEITO (67)

DIA INTERNACIONAL DO LIVRO, BARCELONA E GONÇALEZ
Hoje, segunda, 23/04 é o Dia Internacional do Livro e como não vivo sem ter um desses à mão, reverencio todos os que já passaram por elas. Esse ano comemoro a data de forma inusitada, inédita e inesperada. Estou num país até então estranho para mim, a Catalunha, cuja capital é nada menos que Barcelona. Quando aqui cheguei na noite de domingo ainda acreditava e propagava estar na Espanha, mas com pouco menos de 24h de convivência com os catalões, chego á conclusão que todos por aqui já tiveram, a de que a Catalunha é um outro país, para mim, mais vibrante e empolgante que o outro, o legalizado. Afirmo isso por outra constatação. Sou um "tarado" por jornais e nesses dois dias, mais de sete diferentes já me passaram às mãos, a metade de Madri e a outra daqui, de Barcelona. Nos primeiros, uma velada e até declarada benção ao rei Juan Carlos, o que foi caçar elefantes em Botsawa e gastou a bagatela de 30 mil euros, além de ter fraturado o quadril, esse o motivo de tudo ter vindo á tona. Nos diários de Barcelona o pau come e o rei não tem perdão, nem trégua. Identificação imediata. Hoje, na famosa feira e comemoração da Festa di San Giorgio (o nosso São Jorge), cada mulher ganha uma flor e o homem um livro, numa troca mais do que justa. Ganhei o meu e dei minha flor, tudo na Ramblas, uma avenida divinal a cortar o centro da cidade e com bancas espalhadas por todos os lados. A cidade inteira estava nas ruas e dela também não sai. Não tenho como comentar mais nada, poi sestou exausto. Durmo um pouco e recomeço minha maratona amanhã logo cedo. Quando retornar à Bauru, tudo deverá voltar ao normal pelos lados do meu blog, mas por enquanto, tento publicar algo, para ir preenchendo o espaço até o dia de minha volta, 30/04.

 
Não posso esquecer de revenciar um amigo, o cartunista GONÇÁLEZ, que lança amanhã na Gibiteca Municipal "Aucione Torres Agostinho" a exposição em homenagem ao personagem Conan, o Bárbaro.São mais de 40 desenhos de autoria do ilustrador Leandro Gonçalez, todos feitos no formato aquarela, trabalhos em guache e esboços a lápis, que o autor, grande fã do personagem, produziu no último ano. A exposição fica aberta ao público até o dia 8 de maio, de segunda à sexta, das 8h às 17h, e sábado, das 8h às 12h. A Gibiteca fica dentro da Biblioteca Municipal Rodrigues de Abreu, na avenida Nações Unidas 8-9. Informações pelo telefone (14) 3235-1312 ou com o ilustrador no telefone (14) 3016-6854. Gonçalez é meu parceiro no Guardião, o Super-Herói de Bauru e acompanhei bem de perto todo o seu empenho nesse trabalho, de um dos seus ídolos, pois lá no seu ateliê ele tem quase tudo sobre Conan. E antes que me esqueça, a exposição não ocorre somente na Gibiteca e sim, também lá na rua Bandeirantes, no quarteirão atrás da Câmara, onde reside, trabalha e bate cartão. Vale a pena incentivar o trabalho desse arrojado batalhador dos pincéis e das tintas.

CONFESSIONÁRIO: O Blogger mudou tudo, diz que facilitou a forma de publicação. Inicialmente acredito que ocorreu exatamente o contrário, pois daqui de longe, sem ninguém para me auxiliar, com um tempo mínimo defronte um computador, estou tendo dificuldades mil para inserir imagens, ilustrações e fotos da forma como fazia anteriormente. Entendam, acredito que resolverei tudo quando retornar ao Brasil. Por enquanto, até dia 30/04 tudo seguirá meia boca.

domingo, 22 de abril de 2012

ALFINETADA (97) e CARTAS (84)
O HELIPORTO DA FÉ - Essa carta saiu publicada ontem n'O Alfinete, de Pirajuí e foi enviada para publicação no Jornal da Cidade, Bauru, em 18/04/2012.Um heliporto é sempre uma obra de grande utilidade, principalmente no fluxo contínuo de negócios, idas e vindas, operacionalidade mais do que comprovada. Num hospital, são os pacientes que chegam para um rápido atendimento, salvando vidas. Nos hotéis, os clientes vips pagam pelo luxo da fuga do caótico trânsito e os famosos na do assédio de inoportunos fãs. No meio empresarial, rapidez e fluidez nas transações comerciais. Porém, seu custo de manutenção é muito alto e quando tudo é colocado na ponta do lápis, mesmo a empresa fazendo uso de helicópteros, continua sendo muito mais rentável fazer o uso do pouso nas pistas convencionais dos aeroportos.

Aqui mesmo em Bauru conta-se nos dedos, de uma mão os heliportos em funcionamento. O mais famoso helicóptero de Bauru em funcionamento, sempre a sobrevoar a cidade são os da Polícia Militar. Meio mais do que eficiente para aplacar a ação dos marginais. Sua base está em terra e não no topo de algum edifício, ainda mais numa cidade como a nossa, onde existe muito vazio urbano a ser preenchido.

Um me assustou nessa semana. Circulava pelo centro da cidade e ao olhar para cima, descendo pela rua Bandeirantes, cruzamento com a Virgilio Malta deparei-me com uma grandiosa obra, talvez o maior heliporto do interior paulista. Achei que pudesse ser da rádio Auri-Verde, pela posição em que se encontrava construído. Não era. Só podia ser dos Correios, que dessa forma agilizariam a rapidez na entrega das correspondências. Também não era. Então, só podia ser da Câmara dos Vereadores, num gasto excessivo e nababesco. Constatei não ser e me redimo pela errônea acusação. Quando vi não ser também da polícia, entrei em parafuso.

Cocei a cabeça até identificar o dono da faraônica estrutura de ferro e aço no alto de uma baixa edificação. Era de um templo religioso. Sem entender, fico a matutar: O que uma interiorana igreja, numa cidade de pouco mais de 350 mil habitantes faz com um majestoso heliporto encravado no topo de seu templo? Refeito do susto, penso em organizar uma lista de necessitados, os com dificuldade de locomoção e financeira, daqui para outros centros urbanos. Submeterei tudo à administração daquele empreendimento e, na aceitação Bauru terá uma utilização das mais profícuas para obra de tamanha envergadura. Não vejo outra. Positivamente, Bauru já pode ser inserida na rota dos grandes voos de helicópteros. Venero os que pensam sempre para frente, altaneiros, pujantes, progressistas, levantadores de pirâmides e cheios de fé. Ela sempre em primeiro lugar.

OBS FINAL: Ontem choveu a cântaros em Bauru, o dia todo e a Marcha contra a Corrupção que iria ocorrer no Vitória Régia foi cancelada por absoluta falta que quórum. Na região, mesmo com chuva, ocorreu, mas como previa, trata-se de algo parecido com o "Cansei". Abstenho-me de participar de algo com essa formatação e composição.

sábado, 21 de abril de 2012

MEUS TEXTOS NO BOM DIA BAURU (172 e 173)
DOIS VELHINHOS - publicado edição BOM DIA BAURU de 14.04.2012
Cada vez mais aprendo com os velhinhos, fonte inesgotável de muita sabedoria. Imaginem dois deles, cada um “ponta de lança” em sua especialidade, antagonismo de ideias e ações, tendo a possibilidade de um franco e revelador diálogo? Primeiro a clara constatação de que o adágio, “os opostos se atraem”, cai como uma luva para o nada casual encontro em Havana, final de março, entre o big boss da religião Católica, o Papa Bento XVI, antigamente chamado por Joseph Ratzinger e o da crença Comunista, o comandante Fidel Castro. Arrivistas torciam por um irremediável atrito, retreta entre a foice fidelista e o cajado papal, que para desgosto de uma malta de agourentos não se sucedeu. Imagina se o papa da religião mais famosa do planeta, em visita à Cuba perderia a oportunidade de estar frente a frente com aquele que dizem ser o maior enfraquecedor de crenças religiosas. Ambos deviam estar mais do que sedentos pelo encontro e o mesmo se fez, com um fraterno bate-papo. Provocações houveram, mas amenizadas e embutidas no contexto da prosa e com a devida galhardia, inerente à causa defendida por cada um. O papa deu o seu apoio na luta contra o cruel boicote norte-americano enfrentado pela ilha e Fidel lhe disse, que ambas as causas, a do cristianismo e a do comunismo são muito próximas, pois defendem o social, a igualdade solidária e o ser sempre na frente do ter. Fala carregada de muita ironia, mas sincera. As alfinetadas vieram quando o papa esboçou algo sobre a provável falta de liberdades individuais em Cuba. Na réplica, o que deve ter gerado uma antológica e prolongada discussão, Fidel retruca: “Mas para que serve mesmo um papa?”. Imagino o ganho que tiveram os privilegiados presentes diante desses impagáveis velhinhos. Eu, dias depois, conversando sobre o assunto com minha sogra, ela quase alcançando a faixa etária dos dois, com seus 76 anos, fervorosa na crença batista me diz: “Deveriam ser tão iguais, mas um deles me parece não estar cumprindo bem os ensinamentos de sua crença”. E me pergunto, qual deles, hem?

SINAIS DE FUMAÇA - publicado edição BOM DIA BAURU de 21.04.2012
Sábado retrasado, 7/4, deixei o estádio Alfredo de Castilho em estado de graça, pois o Noroeste havia saído na frente no quadrangular final da 2º Divisão do Paulista, quando ganhou de 1 x 0 do forte São Bernardo. De lá, querendo comemorar mais um bocadinho busquei a Ana, a alma gêmea e fomos conhecer um lugar irretocável, o Dr Beer, no final da avenida Elias Miguel Maluf. O lugar caiu no nosso gosto logo de cara e lá um músico, Marcos Félix nos encantou atendendo nossos pedidos com canções de Bosco/Blanc, Cazuza e Cássia Eller. Jogo ganho, cardápio bem elaborado, prato supimpa, preço honesto, boa música e com a melhor companhia desse mundo. Tudo de bom já me tinha acontecido. Que nada, faltava algo. Vi de longe um casal de amigos e fui cumprimentá-los. Na mesma mesa e ouvindo o animado papo sobre futebol, vila Falcão, família e botequins, um senhor se aproxima e confirma se sou quem sempre fui. Ao ouvir de mim a confirmação me abraça e diz algo a me fez sentar, tomar um ar, pedir para aumentar a refrigeração, o som e a dose da cevada. Ali diante de mim estava um senhor dos seus oitenta anos, Odair Castilho, que além de me informar ser leitor semanal dos meus textos do BOM DIA, sapecou essa: “Sabe aquele texto que escreveu anos atrás sobre uma conversa que havia presenciado na Praça dos Expedicionários, papo entre dois velhinhos”. “Sim, era sobre o Brasil ter perdido a oportunidade de eleger Brizola presidente”, confirmo. “Eu sou um daqueles senhores. Vim te falar que nossas convicções socialistas continuam inabaláveis, fazendo falta e que desde aquele artigo te leio toda semana, aliás, recorto e coleciono todos eles”, disse na sequência. O texto é o “Revivendo Brizola”, publicado aqui nesse Formador de Opinião em 18/04/2009, exatos três anos atrás. Confesso que me deu um branco, incontida alegria, vontade de cantar, dançar e acho que foi por sentir que meus sinais de fumaça não são em vão, pois alcançam quem os leiam em algum lugar por aí. Ganhei ali o dia, o mês e o ano. Obrigado, seu Odair.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

ALGO DA INTERNET (57)

UM PÉ PARA TRÁS, UM PARA FRENTE: MARCHA CONTRA A CORRUPÇÃO EM BAURU
Circulando pela internet uma movimentação morna de uma tal de “Marcha da União contra a Corrupção – SP – Bauru”. Começou incipiente e deu uma crescida nos últimos dias, com data de realização marcada para amanhã, sábado, 21/04, Parque Vitória Régia, 14h. Fiquei com um pé mais do que atrás, pois não vi nada de muito envolvente entre os organizadores. Num certo momento pesquei que estariam até renegando o apoio de partidos políticos, entidades sindicais, órgãos legalmente estabelecidos, essas coisas. Nada contra ocorrer um ato dessa natureza, sem a participação deles (muitos nada confiáveis, é verdade), mas queria pescar também os motivos reais do evento, quem estaria por trás, quais bandeiras estariam levantando e pouca coisa consegui de concreto.

Contra a corrupção todos somos, mas vou além sou contra o corrupto e o corruptor, sou contra o ato ilícito do alto e do baixo escalão, do graduado e do sem nenhuma graduação, do dito esquerdista e do dito direitoso, do PT e também do PSDB, do DEM, PPS, PMDB e todos os outros. Odeio distinção nessa hora, como ocorreu escrachadamente com aquela passeata do “Cansei” e movimentos nesse sentido como as promovidas pela revista “veja” (minúscula mesma), que caçam corruptos de um lado e o são de outro. Quero falar de corrupção e propor já uma mudança no regime político, o grande causador da corrupção. A corrupção não terá fim com o atual regime capitalista (ele é foco agregador de corrupção, aliás, não vive sem ela e dela), um vive do outro. Topariam isso? Se não, prefiro ficar de fora, pois faltará liga.

Essa moçada, a maioria cheia de boas intenções não pode se deixar levar por gente aproveitadora. Muitos irão se aproximar e propor ajuda, bancar gastos, abrir portas e se deixarem até mostrar caminhos. Entender dos motivos de estarem ali é primordial antes de lhe passarem o microfone. No Jornal da Cidade de hoje, um trecho da matéria reproduzo aqui: “Tudo começou com trocas de ideias em redes sociais, que se consolidaram em um grupo de, pelo menos, dez jovens. Estes iniciaram uma mobilização através do Facebook que ganhou o nome de “Marcha da União Contra a Corrupção”, e decidiram que Bauru também poderia fazer parte do evento nacional de combate à corrupção. Mais de 10.000 pessoas foram convidadas em Bauru e região”.

Sou daqueles que participo de tudo o que me convidam, desde que consiga entender o que está por trás do convite. Não como mais gato por lebre. Tenho predileção por esses movimentos políticos, povo nas ruas, mas enquanto não entender tudo, não me movo mais. Ou melhor, até me movo, mas preciso ter plena liberdade para expor tudo o que sinto. Aqui em Bauru não faz sentido uma manifestação desse porte sem tocar no caso da AHB – Associação Hospitalar de Bauru, no que estão querendo fazer com o DAE – Depto de Água e Esgoto, com o problema ferroviário (troca do modal férreo pelo rodoviário), com o lucro absurdo das empresas a administrar o transporte coletivo, Obras Inacabadas, etc e etc. Falar da corrupção do Demóstenes, da Veja, do Sarney, do Mensalão, do Metrô paulistano é sempre muito fácil. Quero ver bandeiras e faixas contra os desmandos dos daqui, com nome e sobrenome. Aqui tem tanto corrupto como em qualquer outro lugar. Seria bom ver seus nomes nas faixas e cartazes.

UM SÉRIO COMBATE: Ontem na seção da OAB Bauru, 20h, dentro da II Jornada Direitos Humanos de Bauru, um sério debate sobre a participação da MULHER na época da Ditadura Militar e o seu papel no Brasil e no mundo nos dias atuais. Gravei um pequeno trecho, emocionado grito de alerta da professora e militante política da Saúde, bauruense e hoje radicada em Curitiba PR, LIGIA CARDIERI. Instigadora de um não esmorecimento na eterna luta que devemos continuar travando.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

BAURU POR AÍ (66)

DIA HISTÓRICO - PETRÓLEO, FERROVIA E NA MÚSICA BAURUENSE
Cito aqui dois casos, um da Argentina e um nosso, bauruense.

No da Argentina, caso já citado aqui no blog em texto de anteontem, com o Governo assumindo 51% das ações de empresa exploradora de petróleo naquele país, no caso a espanhola Repsol. Diante de seguidas irregularidades, dessas que fazem um Governo até se ajoelhar diante dos interesses predatórios do capital, a decisão da presidenta Cristina Kirchner em resgatar para o país o que de fato sempre foi seu, o petróleo saído do seu território. Agourentos a fazer a defesa do capital em detrimento dos interesses do próprio país onde nasceu e mora existem tanto lá como cá, enfim, verdugos custeados pelo “deus dinheiro” estão espalhados mundo afora. Escrevem e dizem besteiras mil, tudo seguindo os ditames do que lhes prescreve as leis neoliberais. Reproduzo aqui duas manchetes de jornais em lugares distantes e campos opostos a exemplificar o que digo, do acertado da decisão da Casa Rosada. No Jornal da Cidade, Bauru, edição de hoje, lá está: “YPF: Expropriação tem apoio da Oposição – Membros de partidos tradicionais da oposição se somaram ao projeto, somando 59 votos dos 72 possíveis”. No argentino Pagina 12 de hoje: “El oficialismo consiguió el apoyo de dos opositores para la firma del dictamen que habilita que el Senado vote la semana que viene la expropiación del 51 por ciento de YPF”.

Vamos ao caso bauruense, onde, infelizmente, o DIA HISTÓRICO não é positivo, e sim, negativo. A ALL- América Latina Logística, concessionária da malha ferroviária (cessão do Governo Federal) está praticamente encerrando suas atividades administrativas e fechando sua linha de reparos férreos, tornando Bauru um mero polo de passagem de trens, nada mais. Tudo o mais será transferido para Mairinque. Devolve tudo e lacra as portas, transfere ou demite funcionários e dá um adeus bem dado para a cidade que até então a acolheu. Essa a prática de todas essas concessionárias onde o dinheiro, o lucro fácil está acima de tudo. O Dia Histórico de hoje é um DIA DE LUTO, pela segunda (acho até que seriam muitas outras) PUNHALADA nas ferrovias na cidade, primeiro quando da privatização e agora, com o encerramento de atividades ferroviárias na cidade.

Critica-se a decisão Argentina, mas ela é soberana, altiva e de resgate dos interesses de uma nação. Algo louvável e a demonstrar coragem. Aqui pelo Brasil, falta isso. Não seria o momento de uma retomada na questão férrea? Não seria o caso de uma revisão do que foi feito e o que queremos para o projeto modal férreo no país? Não seria o caso de exigir na Justiça tudo o que esse pessoal dessas concessionárias assinaram que fariam com as nossas ferrovias e nunca o fizeram? Essa, vejo, a única possibilidade de reverter esse Dia de Luto em Dia Histórico, talvez Dia de Resgate. Mas isso é um mero sonho e sonhos, bem, não passam de sonhos.

UM RESGATE HISTÓRICO PARA ENCERRAR O DIA: Quem gosta de música na cidade, já deve ter ouvido falar de um menino roqueiro, que tocava uma guitarra como ninguém outro e acompanhado de uma voz a se destacar por onde passou. Tocou e encantou pelos quatro cantos bauruenses, foi sucesso, mas se perdeu nos descaminhos da vida. Seguiu caminhos evangélicos, tocou sozinho seus acodes religiosos na nossa mais famosa praça e sumiu do mapa. Na última terça, quando Turco tocava lá no Saudosa Maloca, deu uma canja para CID, esse do texto introdutório e ele pode demonstrar do que ainda é possível. Foram momentos de puro resgate, um Dia Histórico na vida de quem sabe e já vivenciou voltas e voltas, idas e vindas, “devorteios”, como diriam alguns. Lá reencontrou NETO, um dos tecladistas a encantar Bauru e reviveram juntos passagens de décadas a trás. CID está mais velho, sinal dos tempos, mas mostra que se lhe derem novas chances pode voltar a retomar a trilha perdida. Esse trem está tinindo para voltar a circular nos trilhos musicais, diferente do outro, o da ALL, que está prestes a deixar os trilhos férreos. Vejam e ouçam CID:

quarta-feira, 18 de abril de 2012

MÚSICA (85)

“SAUDADES DA REPÚBLICA” E MAIS UMA É DERRUBADA EM BAURU
Ontem ao passar na esquina da rua Alberto Segalla e avenida Octávio Pinheiro Brisolla, bem atrás do antigo aeroporto de Bauru, defronte o posto de combustível está sendo colocado abaixo um outrora casarão, com os telhados já todos retirados e marretadas comendo soltas, poeira espalhada pela rua. Até o final do ano passado funcionou ali uma animada REPÚBLICA ESTUDANTIL, um reduto de encontros pueris, moradia de uma rapaziada a fazer festa e, porque não dizer, um barulho a perturbar aqueles todos que nunca vivenciaram o que foi e é morar num lugar desses. Sabia que a casa havia sido pedida pelo dono, aluguel não renovado e tudo deve ter sido removido para outro local, pois desde janeiro imperava no local um sepulcral silêncio, como se fosse um final de festa. Permaneceu fechada até semana passada, quando começaram as marteladas e a depredação.

Escrevo isso cantarolando, a eterna “Saudades da República”, o maior sucesso de Luiz Ayrão, um sambista carioca, suburbano e a entender do riscado de ter sido jovem, espírito irreverente, brincalhão e morador de república. Vejam ele cantando em algo retirado do Youtube (http://www.youtube.com/watch?v=5OL2aLe0Zw8.com/watch?v=5OL2aLe0Zw8) e se tiverem um tempinho o façam curtindo a letra, sempre atual: “República, república/ Ai que saudades dos meus tempos de república (estribilho 2x)/ Chegava de porre no quarto / Cantando chorinho e sambão / Acordava no meio da noite / Fazendo a maior confusão / A camisa que eu mais gostava Enxugava o chão do corredor / E uma meia da mulher amada / Era lá na cozinha o melhor coador/ Estribilho/ Livro emprestado não vinha/ E o que vinha não ia também Tomava o dinheiro emprestado / Depois não pagava ninguém/ Nota baixa tirava de letra/Na roda de samba e batida/ E brigava sem ser carnaval / Se falasse mal da portela querida/ Estribilho/ Requeijão que mamãe me mandava / Sumia sem nêgo saber/ A pelada era de madrugada/ Com bola de não sei o quê / Esse tempo agora é passado / Foi um doce de felicidade / Pois agora a barriga burguesa / Atrás de uma mesa chora de saudade”.

A realidade da letra dói na consciência de muitos ex-estudantes. Os tempos são outros. Lembro de uma antológica em Bauru, o CASARÃO, ali na rua Constituição, logo saindo da Nações. Terrenão imenso, dois andares, fervendo de dia e de noite, ininterrupto entra e sai, tanto que seus donos ao conseguirem colocar na rua os estudantes, a derrubaram já no dia seguinte, não deixando pedra sobre pedra. O terreno está lá até hoje, passados mais de cinco anos da derrubada, cercado e na espera de ser vendido (não para utilização estudantil, viu!!!). Ali ficaram hospedados muitos dos que vieram participar da OLA – Observatório Latino Americano, realização da SMC,em parceria com os estudantes da Unesp no ano de 2007. Participei de alguns convescotes e sei que isso agradava a moçada (que não tinha hora para dormir), mas irritava a vizinhança (os que têm hora para deitar e acordar).

Além dessas duas lembranças e sempre cantarolando a música do Ayrão, me contaram nessa semana o que anda acontecendo com uma das mais famosas repúblicas bauruenses dos tempos atuais, a TIJUCA, um reduto boêmio e festeiro. Suas festas já não atraem gente como antes, tudo por causa dos personagens da noite, os nóias, drogados e a perambular pelas ruas, desorientados e em busca de dinheiro fácil para consumir mais droga. Esses adentram as repúblicas, portas sempre abertas e roubam todos, fazem uma limpa (ampla, geral e irrestrita). Muitos estudantes estão deixando de comparecer nessas festas e a da Tijuca, antes sempre lotada, hoje fenece a olhos vistos. Como estudante não costuma brigar com nóia, estao num sério dilema: Que fazer daqui para frente e continuar festando de portas abertas?

ALGO MUSICAL PARA ENCERRAR O POST: Tenho amigos musicais, que tocam, cantam e encantam, uns mais outros menos. Esse que vos apresento (a parte musical) é uma das pessoas mais críticas que conheço, o amigo comunista Marcos Paulo Resende. De inflexível posicionamento, inclusive no musical, eis o mesmo cantando e tocando um dos seus ícones, John Lennon. Vamos saborear com moderação:

terça-feira, 17 de abril de 2012

PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (47)

DEMÓSTENES, CACHOEIRA E O RELACIONAMENTO COM A IMPRENSA: POLICARPO E A “veja” e O PETRÓLEO ARGENTINO NAS ONDAS DE UMA RÁDIO BAURUENSE
Muito se disse nos últimos anos sob a atuação desvirtuada da revista “veja” (com minúscula mesmo). Ela atua como se fosse uma espécie da paladina da lei e do confronto com a corrupção e tudo o que ocorria de errado no país. Sempre enxerguei nisso exatamente o oposto, pois fazia somente o ataque a um dos lados da corrupção, isentando o outro. Seus interesses acima de tudo (agora sabemos, inclusive das leis). Cometem inúmeros deslizes, todos mais do que condenáveis por qualquer código de boa conduta jornalística. Meu velho pai do alto dos seus 82 anos sempre me disse: “Cuidado com os moralistas, esses os piores. Quando se descobre algo deles é sempre de arrasar”. Não deu outra.

Com o caso Demóstenes (um dos meninos do Cachoeira e afins), adivinhem quem está com sua “respeitabilidade” mais do que comprometida? A revista “veja”, pois nas escutas telefônicas efetuadas sob abrigo da lei, mais de duzentas ligações do esquema do bicheiro Cachoeira para o editor chefe da revista em Brasília, Policarpo Júnior. Para sentirem a gravidade da situação, leiam um trechinho curto e a bem demonstrar como eram as relações entre a revista e o mundo do crime, numa fala gravada do Cachoeira: “Porque os grandes furos do Policarpo fomos nós que demos, rapaz. Todos eles fomos nós que demos”.

Para mim não se faz necessário dizer mais nada. Todo o dito jornalismo investigativo na revista foi obtido por essa via, de mão única e da pior espécie. Isso para mim tem um nome, conluio com o crime (ou seria o próprio crime?). Hoje já se sabe que aquela gravação daquela graninha lá do cara dos Correios, R$ 3 mil reais, foram feitas por Cachoeira e repassados ao Policarpo. Quando uma revista aceita fazer parte de um esquema dessa natureza para atingir seus objetivos, ela além de perder toda sua credibilidade, precisa ser criminalizada, para o bem da informação que é repassada ao leitor. Que esse leitor compra gato por lebre já faz tempo, isso é do conhecimento até do reino mineral (jargão de Mino Carta), mas a continuidade disso precisa ser interrompida e já, com processos e punições. Esse o tipo de imprensa que cassa ministros, impõe situações, quer ditar normas e faz um jogo pior do que o que denuncia, só que por debaixo do pano. É o lobo cuidando do rebanho. Não entro no mérito do que já fizeram, mas do que faremos com algo tão danoso para o futuro da credibilidade da imprensa brasileira num todo. A pergunta que deixo no ar é para a ANJ – Associação Nacional dos Jornais e outras associações do gênero: E com eles, não tomarão atitude nenhuma? Cadê a incisiva cobrança de providências? Se nada ocorrer, creio que estão assumindo publicamente concordarem com os métodos da dita cuja revista.

Sabem qual o culpado disso tudo segundo alguns articulistas da mídia local? Lula e Zé Dirceu, que não possuem nenhum elo com nada dessa cachoeira (essa a verdadeira cortina de fumaça, embaralhar o jogo para confundir incautos). Gente séria, age de outra forma: “Mas à CPI cabe, agora, revelar o submundo de promiscuidade entre a Veja e um bandido. O Brasil está na iminência de tornar-se uma República”, frase final reproduzida do site Tijolaço, do deputado federal Brizola Neto.

OUTRA ATITUDE E UMA ANÁLISE RADIOFÔNICA EM BAURU: Ontem na vizinha Argentina (que já fez a sua Comissão da Verdade, enquanto engatinhamos), após os seguidos desvios de conduta da empresa espanhola exploradora de petróleo Repsol (um deles a de obrigar o Governo, mesmo existindo e sendo extraído petróleo em abundância no país a comprá-lo de fora), a expropriação de 51% das ações dessa empresa e devolvê-la ao controle público, com a reativação da estatal YPF. Ela mostra que em alguns casos a decisão das mulheres é mais rápida, ousada e precisa do que a de alguns morosos homens. Fez o correto, restabelecendo ao país o controle do que é de fato e de direito seu. Na rádio 94FM, hoje pela manhã, programa Informa Som, dois posicionamentos antagônicos. No primeiro Reinaldo Cafeu, presidente da ACIB Bauru, diz sem analisar o mérito (parece querer confundir a explicar), que isso é um “retrocesso, contramão da história, existe um contrato de privatização vigente” e Paulo Sérgio Simonetti na mesma linha diz que”Cristina Kirchner formaria o casal perfeito com o venezuelano Chávez”. Por bem, dentro do trio apresentador existe uma terceira pessoa, o jornalista Luiz Roberto Tizoco e esse conseguiu recolocar a discussão num mínimo de seriedade, demonstrando como que um país pode conceber ter petróleo em abundância e ter que importar o produto, além de que a “repetida insensibilidade de uma empresa privada não deve prevalecer sobre as ações do Estado”. Ufa!, respirei aliviado. Nada como opiniões divergentes, antagônicas e tudo colocado à baila, discussão franca e objetiva. Quem quis entender as razões de um e de outro, como eu, tiveram a certeza de que Cristina fez a defesa dos interesses do seu país, corajosamente e quando isso ocorre, quem sai ganhando não são os interesses de um grupo, mas de uma nação. Ponto para Cristina e para Argentina.

OBS.: Nas duas fotos, a capa de hoje do diário buenarista Pagina 12 a demonstrar como um sério órgão de imprensa reage a uma ação acertada do governo do seu país e na segunda o "Trio dos Meninos" do Informa Som, Tizoco, Simonetti e Cafeo (foto internética extraída do acervo da 94 FM).

segunda-feira, 16 de abril de 2012

MEMÓRIA ORAL (119)

DOIS ATOS, EM AMBOS A BUSCA DA VERDADE AINDA OCULTA
Sábado, 14/04, dois atos (ou seriam eventos?) ocorrem em Bauru e batem de frente contra os acomodados, os conformistas e os acostumados a verem a banda passar sem nada fazer. Na parte da manhã no Calçadão da Rua Batista, centro da cidade, das 9 às 12h, o Ato pela Revogação do aumento concedido pelo prefeito Rodrigo Agostinho para as tarifas de ônibus em Bauru e à noite, às 19h30, no auditório do SESC, a abertura da II Jornada de Direitos Humanos de Bauru. Tanto num como noutro uma movimentação que deveria contar com intensa participação popular.

No primeiro, após a decisão do prefeito municipal de referendar o valor proposto de aumento pelas empresas que atuam no transporte coletivo, sem pestanejar e de forma quase automática, um pequeno movimento nasceu da iniciativa de um único vereador, Roque Ferreira – PT e de um agrupamento ligado ao seu grupo político, a Juventude Marxista. Tales Freitas, também idealizador do blog Protesto Jovem, designado pelo partido, ficou encarregado da divulgação, feita primeiro via internet e depois, com os interessados que apareceram para ajudar na confecção de cartazes, bonecos e na distribuição de panfletos.

Tudo correu a contento, mesmo com o pouco apoio de divulgação via mídia local. Durante a semana só um meio de comunicação, o diário Bom Dia, publicou uma ampla matéria de duas páginas sobre o tema. Nada mais e se o número de pessoas não foi dos maiores, mesmo assim, pode ser considerado bom. “Hoje, no dia do evento, além do corre-corre com os cartazes e os bonecos, a TV Tem aparece e faz uma matéria sobre o ato. Fotógrafos dos dois jornais, o JC e BD também estiveram no local e isso é sinal de que tudo o que fizemos está dando resultado e não podemos ser mais ignorados”, diz Tales.

Com vários cartazes espalhados pelo local, quase esquina das ruas Batista com Treze de Maio, numa banca estão várias folhas preparadas para o Abaixo Assinado e fazendo uso do microfone, vão se alternando vários conhecidos militantes das causas sociais da cidade. Além do citado vereador, seus dois assessores e o jovem Tales, um grupo vão interceptando os transeuntes numa manhã de compras e convidando-os para deixarem seus nomes nas listas. No cartaz mais chamativo, a imagem do prefeito, num traço do cartunista Latuff e com uma catraca como se fosse uma arma apontada para o povo desferindo um: “É um assalto”.

“Aumento de Tarifa, NÃO! Qualidade de Transporte, SIM!”, “Busão Grátis, eu Curto!” e “Revogue JÁ!”, eram alguns dos demais cartazes, fixados ou sendo seguros por alguns dos manifestantes. Dentre um dos mais animados a convencer as pessoas a colocarem seus nomes nas listas estava o assistente social e militante do Movimento Negro local, Gaspar Reis Moreira. “Não dá para ficar indiferente, pois o ônibus está caro demais e precisamos fazer algo para mudar esse estado de coisas”, diz. Dos que param e ficam para o bate papo, Alberto, da Casa da Capoeira, Gilberto Truijo da Comissão dos Direitos Humanos da OAB, o professor Voltaire e sua esposa, o também advogado Jorge Moura, Magu do Movimento Hip Hop, entre outros, todos querendo entender a lógica e o que estaria por trás desse injustificável reajuste.

Alternância de falas nos microfones, agitada movimentação e no dia seguinte, nas manchetes dos jornais, o que a mídia interpretou do realizado: “Protesto ainda tímido nas ruas” (o que não deixa dse ser verdade). Ainda no sábado, no mesmo Calçadão, só que outro lado da rua, uma manifestação do Sinserm, o Sindicato dos Servidores Municipais, ligados ao PSTU, preferindo fazer um outro ato em separado, sobre outro assunto dos que mais deveriam gerar manifestações e protestos na cidade. “Não a Terceirização do DAE”, estava escrito no principal dos cartazes, contra um movimento crescente de interessados na privatização do serviço de água municipal.

Na parte da noite, o evento promovido pelo Observatório em Direitos Humanos da FAAC UNESP Bauru, coordenado pelo professor Clodoaldo Meneghello Cardoso, com contribuição do Centro de Estudos Sociais e Políticos Nossa Memória Ninguém Apaga, coordenado por Antonio Pedroso Jr, além de muitas parcerias e apoios. “Sábado à noite, conseguir reunir a quantidade de gente para um ato político de resistência foi altamente significativo. O SESC só aceitou a abertura aqui por minha causa. Sabia que eles estariam fugindo do padrão onde sempre atuam, mas acreditaram em mim. Sabiam que eu não iria deixar fugir do combinado”, conta Clodoaldo.

A mídia até que divulgou, mas ninguém apareceu para registrar a abertura, afinal, sábado à noite, nem os plantonistas parecem estar de plantão. Na apresentação inicial, Clodoaldo desabafa: “Dia desses fiz um questionamento numa sala de aula, queria que os alunos descrevessem seus sonhos futuros. A imensa maioria fez de sonhos individuais e somente um o fez sobre algo coletivo, esse em relação à América Latina. Esse evento é para despertar nos jovens, algo além dos sonhos individuais e profissionais. Estamos fazendo a nossa parte”. Na sua frente, aproximadamente umas oitenta pessoas, muitos ligados aos muitos movimentos sociais de Bauru.

Na composição da mesa, além dos dois citados, o vice-diretor da FAAC, professor Nilson Ghirardello e o ilustre convidado da noite, o coordenador do Projeto Direito à Memória e a Verdade da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, o ex- preso político e ex- deputado federal Gilney Viana. Pessoa carismática, bem humorada e inflexível na defesa do que tem a absoluta certeza de ser mais do que necessário para o país, a conquista do restabelecimento da verdade sobre os anos de chumbo da história brasileira. “Isso que ocorre hoje é o acúmulo de muitas lutas, dos que nunca arriaram suas bandeiras. Existe a necessidade do Estado fazer sua autocrítica e pedir perdão pela ação de seus agentes nas masmorras da ditadura. A ditadura militar jamais teve coragem de se submeter ao voto. Precisamos desmontar essa versão de que eles fizeram algo pela democracia e que o povo esteve ao lado deles. Isso é ridículo. Eu me levanto contra essa usurpação da verdade. Não houve dois lados, dois demônios. Isso é balela e não podemos admitir o que ocorreu como um tema pacífico na sociedade”, disse na sua fala.

No final, Clodoaldo lhe entrega uma bolsa cheia de livros e CDs do evento, que Gilney, com tom de brincadeira diz ser sua “matula”, aliás, diferente daquela com comida, essa uma “cultural de luta”, diz. E ele fala mais um pouco: “O que pedimos não é nada com reabrir feridas. É o restabelecimento da verdade, pois a feridas continuam abertas. Continuam impunes os torturadores de ontem e os de hoje, os da Polícia Militar que trucidam gente por aí. Queremos virar a página, como dizem alguns, mas só depois de a ter lido por inteiro. Não aceitamos de jeito nenhum a desonra que foi impingida aos nossos irmãos. Aos que não entendem muito bem o que ocorreu, temos que ser didáticos, mas aos que conhecem e agem de má fé, escamoteiam a verdade, com esses temos que ser duros”, conclui.

Por fim, quase 22h, com o fim do falatório no palco, uma reunião animada de militantes no salão ao lado, com ex-cassados, gente a militar pela causa social, outro tantos participantes da resistência contra a tirania militar e jovens, muitos deles em busca de informações históricas sobre o passado recente do Brasil. Ao assistirem um filme sobre a Anistia, era inevitável ouvir dos presentes ao nome em voz alta dos tantos que apareciam na Tela, imagens de Julião, Arraes, Brizola, Gregócio, Marighella, Tito, Iara, Bacuri, Fiel, Herzog, Angel e tantos outros. Em tom de brincadeira, para encerrar o ato, Gilney disse: “Só vocês mesmos. Marcar algo para a noite de sábado e me deslocarem de Brasília. Tenho que ser muito convincente com a mulher lá em casa para ela acreditar que aqui estive”. E todos os presentes foram para suas casas, cheios de muitas indignações sobre essas coisas ainda não resolvidas na história dessa ainda frágil nação. Nos dois atos, uma pequena injeção de ânimo a embalar as ações da maioria dos presentes, além da eterna busca da verdade, ainda oculta.