quinta-feira, 30 de novembro de 2017

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

BEIRA DE ESTRADA (85)


ENCONTRO NO SEMÁFORO - ELE LÊ MUITO MAIS DO QUE SE POSSA IMAGINAR
Desço a rua Araújo Leite com meu meio de locomoção e no cruzamento com a avenida Rodrigues Alves o sinal estava fechado. Paro e quem se aproxima do vidro lateral é um senhor negro, aparentando uns quarenta anos, com um pano sujo nas mãos:

- “Posso limpar o vidro, tio. Coisa rápida”.

Quando lhe digo que não, pede se não lhe arrumo algumas moedas. Olho no console do carro, junto o que tenho e lhe passo. Ele agradece, para diante do vidro dianteiro do carro e fica olhando um bom tempo. Volta a ficar na minha frente e me diz:

- Estava olhando o seu livro, gostei do título. Do que se trata?

- É a biografia de um cara que foi revolucionário aqui por essas bandas, aqui e na Europa, Garibaldi, ele viveu no século XIX. Só para sacar, comparo ele com o Che Guevara, esse já vivendo no século XX. Foram pessoas querendo transformar o mundo, lutar pelos desvalidos, contra as injustiças.

- Poxa, deve ter sido um cara legal mesmo. Eu gosto muito de ler, acho que já li mais de duzentos livros na vida. Fico aqui boa parte do dia, já trabalhei em outros lugares e quando estou sem fazer nada, gosto de ler tudo o que me cai nas mãos.

- Você está sempre aqui neste sinal, né? Já te vi outras vezes – pergunto.

- Sim – ele responde.

- Não vou te dar este, pois estou começando a ler e sei que vai me encantar, mas te prometo, trago outros para ti. Vou separar e trago. O mais rápido que puder.

O sinal abriu ele fez sinal de positivo, acelerei e me fui dali. Vim pensando no que lhe prometi e isso não me sai da cabeça. Já estou separando alguns livros para lhe levar, mas tem que ser alguns onde ele realmente possa se interessar. E daí minha dúvida, nada sei dele além do gosto pela leitura. Volto lá e pergunto do que gosta? Escolho algo aleatoriamente? Levo uns dois e questiono isso quando da entrega? O certo que lá estarei para um papo mais prolongado e elucidadtivo, não só sobre livros, mas também (e principalmente) sobre como foi parar ali num sinal limpando vidros dos carros.

Isso tudo me instiga mais e mais sobre esses nossos tempos, mais ainda sobre esse cidadão, bem acima da média de leitura da imensa maioria do brasileiro.

OBS.: O livro em questão e no meu parabrisa dianteiro é "Garibaldi na América Latina - O mito do gaúcho", Gianni Carta, Boitempo Editorial, 1ª edição, 2013, 296 páginas.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (121)


“AQUI NÃO SE DISCUTE POLÍTICA, FUTEBOL E RELIGIÃO” – NOSSO MUNDO MEDROU
Busco Ana na saída de uma firma da cidade, local de grande concentração de pessoas, local onde acho por bem não identificar, mas sim o diálogo a seguir, enquanto voltávamos para casa:

- Henrique, saio de um local onde estávamos numas vinte pessoas reunidas e o proprietário do lugar, percebendo algo mais ríspido num diálogo entre duas pessoas, foi até eles e fez questão de intervir: “Aqui não por favor, aqui é melhor não se discutir política, futebol e nem religião. Vamos manter um clima cordial entre as partes, sem alterações”. Deixou bem claro as normas vigentes no lugar e instituídas por ele.

- Ana, é até entendível, diante do mundo onde vivemos. Por ser uma empresa e tratar com todo tipo de público, vejo que sua atitude não difere de quem atua com bom senso. E se age assim, o faz seguindo algum antecedente já o corrido por ali. Perceba como todos estão na defensiva e com isso, quem perde é os ainda não querendo briga com isso, mas prolongar uma simples conversa, algo não mais possível na maioria dos ambientes.

- Sim, aquela atitude do ator Pedro Cardoso se posicionando e saindo da gravação de um programa ao vivo é para poucos, cada vez menos pessoas possuem a coragem para fazer o que ele fez. Isso numa firma como a que estive, imagine seu proprietário dizendo o que pensa, diante de como estão acirrados os ânimos, na certeza, perderia clientes. Ao assumir um dos lados, qualquer que seja, os do outro lado se voltariam contra ele. Ele não só perderia o cliente, como esse faria barulho, divulgaria e ele estaria exposto. A que ponto chegamos.

- Não sei se viu hoje Ana, o quadrinista que foi ser entrevistado no programa do Bial na TV Globo e aceitou que lhe colocassem uma tarja numa estrela vermelha. Foram claro com ele, com a estrela daquela cor na frente do boné “não rolaria a entrevista”. Ele insistiu no boné, mas aceitou a tarja com fita isolante. Quando o questionaram, existe os que estão a favor dele e os contra, por ele ter se vergado ao poder da emissora. O chama de tudo, desde “banana” até coisas piores. Ele se justifica, mas isso, pelo visto, pouco vale, nas redes sociais, o pau come e de grosso calibre.

- Todos de pavio curto e a defender o seu ponto de vista e sem entender dos motivos do outro. Ele, o quadrinista talvez não esteja na mesma situação do ator Pedro Cardoso e achou que fala seria importante para seu trabalho e capitulou. O fato é que algo parecido está se repetindo nos mais diferentes lugares e situações. A maioria embaraçando a todos.

- Sim, Ana, o mundo está muito embaraçado e cada vez as pessoas opinam mais. Vejo no meu facebook, cito sempre esse exemplo. Quando posto algo, como o fiz esses dias, sobre a saúde de minha sogra, sua mãe, todos opinam, uma avalanche de curtidas e comentários, já quando posto algo sobre política, onde exponho minha opinião, percebo que muitos continuam lendo, mas nem curtem, ficam na sua. Tá todo mundo muito quieto quando é para tomar partido, se posicionar. Muitos o fazem e esses já são conhecidos de todos, mas a maioria se omite.

- Henrique, não julgue esses. Cada um sabe muito bem onde o buraco aperta, até onde pode ir. Hoje por qualquer coisa se perde um emprego e para arrumar outro, você sabe, já era. Sei que até bem pouco tempo isso não ocorria, hoje está bem nítido. Se diante de tudo o que está ocorrendo, essa perda de direitos coletivos, mesmo assim a resistência se mostra tão pequena, não seria por causa da instalação desse medo coletivo mantendo todos aquietados, de cabeça baixa?

- Repito sempre frase do argentino onde estive lá na rádio 750 AM de Buenos Aires, o Gustavo Campana: “Não existe neoliberalismo sem traição”.

E assim chegamos ao nosso destino e outros assuntos ocuparam nosso tempo.

OBS.: Links dos dois textos citados – 1.) O do ator Pedro Cardoso: http://portalimprensa.com.br/noticias/brasil/79935/pedro+cardoso+apoia+funcionarios+da+ebc+e+abandona+programa+ao+vivo e 2.) O do quadrinista no programa do Bial: https://www.revistaforum.com.br/2017/11/28/globo-estrela-vermelha-em-bone-e-censurada-em-programa-do-bial/.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

CARTAS (181)


UMA CARTA PARA TRIBUNA DO LEITOR, JORNAL DA CIDADE, BAURU SP:


VEREADORES QUE JOGAM PRA TORCIDA
Faz-se necessário tomar o maior cuidado com esses. Possuem predileção por estar em evidência. Proponentes de pouca coisa aproveitável. Gostam mesmo é de surfar nas ondas do momento e percebendo possibilidades, alavancam incursões por vias desconexas, tortuosas, só para chamarem a atenção e desta forma permanecer em evidência. Alimentam-se da repercussão do factoide levantado. Jogam pra galera, manuseiam seu eleitorado com constantes balões de ensaio e se acham os tais, ainda mais quando o tema consegue infindável repercussão. É tudo o que desejam, provocar e obter ressonância. Mantém staff pronto para buscar novos temas e deles se utilizarem nas provocações. Assim se imaginam atuantes, geniais, perspicazes e cheios de boas ideias. Porém, de fato, produzem quase nada e desta forma, merecedores do mais ínfimo desprezo. Quando a bazófia produzida pela maledicente verve não atinge o objetivo, nem dormem direito, pois vivem disso, do incessante levantamento de temas, logo esquecidos e substituídos por outros. A importância é continuarem em evidência. Recomendável o desprezo, pois se pífios em proposituras sérias, consistentes, melhor serem esquecidos, ignorados. Quando se derem conta do ridículo do que fazem, talvez caiam em si e tirem o time de campo. Melhor seria se fossem peças de pura ficção e não o sendo, nada como mantê-los como peças decorativas, pois no ostracismo fenecerão doentes, falando para as paredes. Tétricas figuras de um tempo já necessitando ser esquecido.
HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO – jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).

domingo, 26 de novembro de 2017

INTERVENÇÕES DO SUPER-HERÓI BAURUENSE (107)


AS PERGUNTAS QUE NÃO SÃO FEITAS
Vivemos tempos esquisitos e todos sabemos que, em algumas ocasiões é bem melhor para certas pessoas ou instituições aceitar a situação do que regatear. Guardião, o super-herói bauruense entrou por esses dias numa dividida desta e foi fundo. Aqui e agora ele entra nos detalhes da ocorrência.

"A Prefeitura Municipal de Bauru vive hoje uma verdadeira sinuca de bico. Que os tempos são bem outros de quando os governantes eram Lula e Dilma, disso não se tem a menor dúvida. E que as relações institucionais entre os lá nos Governos Estaduais e Federal hoje se processa de uma forma muito mais autoritária e impositiva, também sem a menor dúvida. Explico. Reclamar de Lula e Dilma, praticantes da democracia na sua essência é simples, já reclamar e querer dar uma de durão na queda com, por exemplo o governador Alckmin ou o ilegítimo presidente Temer, isso são coisas mais do que antagônicas. Hoje muito mais perigoso", começa sua explanação.

"Pois bem, vejam o caso de Bauru e desta loucura que está sendo a Prefeitura Municipal de Bauru ter que aceitar de bico calado, como se fosse um presente do Governo do Estado para Bauru a entrega do Hospital de Base, o tal hoje ainda administrado pela conceituadíssima (sic) Associação Hospitalar de Bauru. Que é um presente de grego até as pedras do reino mineral possuem absoluta certeza. E se isso vai ser, com toda absoluta certeza um peso inestimável para os cofres já debilitados da Prefeitura, por que aceitam isso sem nenhum tipo de questionamento? O que o faqzem agir desta forma?", são algumas perguntas feitas por Guardião.

"Do que a Prefeitura tem receio neste momento? Se ela recusar o presente de grego, o cavalo de tróia sendo rodado pra dentro das muralhas da cidade, teme alguma retaliação por parte do Governo comandado pelo ser Alckmin? Que acordo é este, onde a cidade vai se estrepar e tem que permanecer calada? Se o mesmo Governo está em vias de inviabilizar suas já existentes universidades públicas, como todos sorriem quando Alckmin brinca de entregar Faculdade de Medicina para Bauru? Se com o dinheiro que o governo Alckmin repassa para Bauru não vai ser possível, lá na frente, administrar o hospital, por que não esperneiam e recusam? O que fizeram com nossos atuais governantes para se manterem calados e sem reação? Estariam dopados? Ou não sabem mais fazer contas? E por que a mídia local não faz estes questionamentos para nenhum dos lados, nem para o Governo Estadual, nem para a Prefeitura Municipal? O que acontece, me digam?", questiona um transtornado Guardião.

OBS.: Guardião é obra da verve criativa do artista Gonçalez Leandro, com pitacos escrevinhativos deste mafuento HPA. Agradecido pela dica de Rodrigo Ferrari, num comentário lido está semana sobre o mesmo assunto e prontamente giletado pelo intrépido Guardião.

sábado, 25 de novembro de 2017

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (149)


CANADÁ É COMUNISTA!?!?! - SAIR OU NÃO, EIS A QUESTÃO*
* Essa é a história, contada por ele mesmo, de um amigo bauruense batendo asas e indo de mala e cuia, reunindo junto dele algumas pessoas e aportando no Canadá. O desencanto dele não é de hoje e agora acentuado com o que já definimos como o "Brasil acabou". Daí, nada melhor do que fazer o que ele fez, ir em busca da realização de seus sonhos em outras paragens. As duas fotos foram tiradas da última vez que o encontrei, na porta da Livraria Cultura, capital paulista, abril de 2016.


Pessoal, cheguei de viagem na quinta-feira, mas só agora, às 2:30 da madrugada deste domingo consegui sentar no computador para escrever algumas impressões de viagem, minha avó deve ter alta daqui uma semana e tudo está corrido além da conta para cuidar de muitas coisas, mas para todos que me perguntaram, a cirurgia dela foi bem sucedida, a infecção está sendo controlada e vejo que genética forte ela tem, pois nessa idade aguentar tudo isso não é fácil. Mas falando brevemente do Canadá, foi uma correria enorme pois devido a minha avó internada, foi preciso abreviar em alguns dias, mas tudo deu certo na parte de papeladas e negócios a resolver e também a confirmação de algo que eu já sentia e muito forte, encontrei o meu futuro lar, o Canadá é realmente um lugar que me faz ter a sensação de estar em casa, de pertencer aquele lugar.

É uma questão de identidade, cada pessoa se identifica com algo, em todos os aspectos, seja na música, no cinema, num país, e encontrei o meu lugar, porque o Canadá é a cara do mundo, um país construído por imigrantes e portanto não tem uma "cara canadense", lá encontramos com muitos asiáticos, árabes, latinos, africanos, muitos refugiados da Síria que foram recebidos de braços abertos, uma multiculturalidade que faz essa ser a cara da cultura canadense, onde essa mistura no convívio serve para quebrar alguns pré-conceitos, onde não é porque uma pessoa tem uma forma de cumprimentar que não seja como a nossa que faz dela uma pessoa sem calor humano, e sim por ela ser apenas diferente de você.

O senso de comunidade é algo que me cativou demais, incrível como as pessoas fazem coisas para ajudar uns aos outros quando necessário, devido a tranquilidade de vida, as casas não tem muros ou grades para separar dos vizinhos, todos respeitam a privacidade de cada um, mas se precisar de algo, prontamente lá estarão para ajudar, conheci pessoas maravilhosas e se propondo a ajudar no que precisar quando for em definitivo para lá, todos, sem exceção, me receberam com alegria, mesmo quando apenas parava alguém para pedir informação. E incrível que não importa de qual país de origem a pessoa é, quando falava ser do Brasil, perguntavam do futebol e do Neymar e eu causava estranheza ao dizer ser torcedor da Argentina e fã do Messi :)

Eu encontrei o meu lugar porque lá como disse, tem a cara do mundo, poder conviver com tantos diferentes, de diferentes culturas, é um aprendizado impagável. A sensação de segurança também é algo que não tem preço, poder andar pelas ruas até altas horas da noite sem se preocupar em olhar para os lados parece surreal para quem vive num país onde mata-se mais gente por ano do que em países em guerra.


Sabem outra coisa que vi no cotidiano canadense?? Lá você tem que se virar com tudo da sua casa, cada um faz o seu e todos se ajudam, pois lá não há empregadas domésticas, como todo serviço é valorizado lá, o salário tem valor real, simplesmente não há empregadas nas casas. O transporte público é outra coisa inacreditável, várias opções, tudo muito limpo, moderno e organizado, incrível a pontualidade dos ônibus e a tarifa barata e subsidiada pelo governo, aqui a tarifa é superfaturada e ainda tem subsídio da prefeitura, como não querer sair disso aqui??

Aqui quando se fala em direitos trabalhistas, logo alguém grita: "Comunista, vai pra Cuba", pois bem, no Canadá a carga horária é de apenas 6 horas dia e o salário é beeeemmmm maior que no Brasil, o poder de compra do trabalhador é enorme, financiamentos lá tem média de juros de 3% ao ano e não vi nenhum banco querendo sair de lá, aqui paga-se um juros astronômico e salário mal paga supermercado. Ah e outra coisa, nos finais de semana quase nada abre no comércio, lá se valoriza muito o estar com a família nos fins de semana, isso me lembra quando o camarada Roque Ferreira quis regulamentar o comércio em Bauru aos domingos e logo teve a grita geral: "só podia ser coisa de comunista". O baronato brasileiro é uma piada, burros e com ideais remanescentes do escravagismo.

O Estado canadense tem pelo menos duas vezes mais o tamanha do brasileiro e aqui dizem que deve-se ter estado mínimo e cortar gastos, lá ao contrário, com o mundo em crise, o governo gasta muito mais para manter a economia aquecida, todo setor estratégico como energia, são controlados pelo poder estatal, assim como a educação e saúde que são públicas e de excelente qualidade para todos e tudo administrado pelo poder público, não tem fundação, afundação, OS, nada disso. Drogas foram descriminalizadas e dependentes químicos recebem ajuda do governo, tanto moradia, tem uma rua destinada a pessoas com problemas com drogas e também recebem uma ajuda de custo.

Não existe paraíso e o Canadá lógico que não o é, mas ao prover bem estar social e ah, os impostos lá são altíssimos e progressivos, o Skaf teria pesadelos lá, mas o retorno em infra-estrutura é enorme, paga-se impostos com gosto. O Canadá ensina como é importante esse senso comunitário, que só assim podemos confrontar as imperfeições da vida. E pra mim isso ficou claro também ao ver no rosto de duas pessoas queridas que estão tendo a oportunidade de mudar a vida também, lágrimas em forma de alegria, o que me faz perceber que finalmente posso me sentir feliz por realizar algo tão belo.

Logo escreverei mais coisas e assim que salvar no computador vou enviar um pequeno vídeo que gravei na câmera digital uma parte da descida do avião e a bela Toronto vista por cima, uma sensação difícil de descrever. Seguiremos na luta e como sempre digo, sonhem grande sempre e lutem por isso.

Camarada Insurgente Marcos Paulo Resende

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

MEMÓRIA ORAL (218)


BLACK FRIDAY PELOS SEBOS DO CENTRO DA CAPITAL PAULISTA – CADÊ? ONDE? QUANDO? POR QUE?
Sexta-feira, 24/11 das mais agitadas na capital paulista. A cidade inteira parece se movimentar em busca das tais promoções da Black Friday, um algo mais inventado pelo comércio para agitar e incrementar vendas, alavancar negócios. Meu interesse é outro e saio da toca em busca de algo onde espero fazer bons negócios: livros nos sebos paulistanos. Meu interesse específico é matar saudade de tempos de antanho quando percorria com mais assiduidade um determinado quadrilátero do centro da maior cidade do Brasil, não tão provida assim de livrarias. Lembranças de, pelo menos, vinte anos atrás, quando em incursões profissionais, conciliava o tempo disponível em caminhadas por redutos onde reinavam livros. O espaço físico é o velho centro da cidade entre a praça da República e a avenida São João, principalmente o calçadão entre o teatro Municipal e a praça, depois até outra praça, a da Sé.

Desço do metro na estação República e sigo pela Sete de Abril até a rua Xavier de Toledo. Nenhuma livraria resistiu ao tempo no lugar. Na entrada da Xavier, entro numa última e resistente loja de CDs e descubro dos motivos de ainda estar aberta: no estoque sendo oferecido, imensa maioria de títulos para gostos mais recentes. A senhora, única funcionária da pequena loja vem até mim: “O que gosta?”. Digo ter preferência por MPB e ela me mostra somente coletâneas, nenhum novo lançamento. “Não sei se sabe, mas agora só gravam porcaria. Tem muito funk”. Não discuto, quieto tento encontrar algo, nada de novo, preços até convidativos, mas gostos muito diferenciados dos meus. Penso com os meus botões: Até quanto tempo essas pequenas lojas ainda resistirão abertas?

Na mesma rua, quase esquina com a antiga loja da Mesbla, havia um sebo imenso, numa sobreloja e lá um paraíso de livros. Tempos atrás saiu na imprensa, a loja fechou, seu dono faleceu e a partir daí os seus não mais se interessaram em continuar o negócio. Um desalento parar na calçada, olhar pra cima e ver aquilo tudo fechado. Lembranças me saltam aos olhos. Pensei em subir, mas como até o cheiro seria outro, declinei e continuei meu caminho. Logo no final da quadra, tendo do outro lado da rua o pomposo Teatro Municipal, sou abordado no largo por um jovem a me entregar um exemplar do jornal “Hora do Povo”. Com ele nas mãos, outras lembranças e algo dessa resistência deste grupo político. Na primeira página o preço, R$ 1 real, mas a distribuição é gratuita.

Na Barão de Itapetininga o único resquício livresco são duas bancas de revistas com suas laterais contendo livros, todos em promoção e na garimpagem alguma possibilidade. Variação de preços de R$ 5 até R$ 30 reais. Escolhas feitas nas ruas, de costas para quem passa e daí algum perigo. Sigo em frente até metros antes da praça da República e lá, do seu lado direito, tempos atrás, ali uma papelaria e sempre com muitos livros. Comprei vários ali, mas ela fechou e em seu lugar um café. Enfim, outros cheiros e preferências. Não parei nem para o café. Seguindo pela Ipiranga, quase na esquina com a São João, ali tinha uma banca onde comprava jornais de quase todas as capitais brasileiras. Era gostoso encontrar, por exemplo, um Zero Hora gaúcho, mas hoje vejo a banca ali no lugar, mas fechada e em nenhum lugar encontrei jornais além dos poucos paulistas e o único de fora do estado, o O Globo do Rio de Janeiro. Não me arrisco a comprar mais nenhum destes.

Adentro a São João e do lado de lá da rua, eis dois lugares resistindo ao tempo, o Sampa Discos no nº 572 e o Promosampa no nº 556. Há mais de vinte anos estão por ali, cheios de livros, LPs, CDs e revistas usadas. São hoje do mesmo dono e num deles, vasculho e consigo encontrar três preciosidades, entre R$ 5 e R$ 10 reais. Ao pedir desconto, ouço o clamor do balconista: “Estamos no limite, veja nosso movimento, fraco. Nosso Black Friday é o ano todo”. Permaneci mais de meia hora no local e se entraram uns cinco clientes foi muito. Só eu comprei algo. Brinco com o dono na saída: “Todo sebo deveria ter um lavabo para limparmos as mãos na saída, pois poeira é mato em todos”. Nenhum que conheço possui esse benefício aos seus clientes.

Tento algo na loja do novo SESC, ali na 24 de março, desço ao subsolo, mas tudo como em qualquer loja da rede, seus preços já são abaixo dos de lojas rebuscadas e, portanto, sem descontos. De lá vou pra um lugar conhecido na rua Aurora, num rua depois da Praça da República, lugar dos inferninhos com shows de sexo. Ufa, lá está a Livraria Treze Listras ainda aberta, no meio da barafunda do lugar, ocupando desde sempre o nº 704. Seu proprietário, Jaime, me diz estar ali há mais de 30 anos, mas antes dele o lugar já existia e outras tantas ao seu lado, todas hoje fechadas. Resiste pelo prédio ser próprio. Mantém 3 andares abarrotados de livros, poucos catalogados e nos superiores tudo empilhado, lugar escuro e de pouca frequência. Fui o único a adentrar ali nos meus 30 minutos no lugar e ouço dele o que persiste nos resistentes: “Vendo muito pouco para clientes vindo aqui, quase tudo hoje, mais de 80% pela Estante Virtual e compro bibliotecas inteiras em lote fechado, por metro”. Compro dois livros, com um pequeno desconto e saio de lá com a certeza de que necessitarão de boa higienização.

Na mais por ali, tudo terra arrasada, Nada além dos livros expostos nas bancas de revistas, como numa grande defronte o Largo do Paissandu. As demais desapareceram com o tempo. Fui aconselhado a caminhar no sentido da praça da Sé e lá fui. No caminho encontro a religiosa Livraria Vozes e num canto da praça tradicional Livraria da Unesp. Essa está no clima do Black Friday, com desconto de até 40% em algumas publicações. “Vou ver se estendo os descontos até amanhã, sábado”, me diz a gerente. Na esquina de cima da praça tem uma Saraiva, grandona, mas nela resolvo não entrar, pois atravessando a rua tem o mais famoso sebo paulistano, o do Messias. Ali um contraste com todos os demais, pois além de tudo muito organizado, vários funcionários e um movimento singular, com constante entra e sai de pessoas. Quem já vem em busca de um título, consulta nos vários computadores se existe exemplar no acervo, do contrário, uma perdição ficar vasculhando de estante em estante. Tudo catalogado, revistas, livros, CDs e tudo o mais. Na saída, ver o próprio Messias ali no seu reservado, em carne e osso é a própria história de como ele se safou ao longo do tempo, para se manter num negócio hoje desprestigiado e sobrevivendo nãose sabe bem lá como. Trago três e consigo algum desconto.

Na volta ao hospital, limpo os livros e os espalho sobre um sofá para os comentários com a sogra. “O paulista não lê. Uma classe letrada ainda lê, mas o grosso não lê mais nada. No Rio, vejo ainda que a classe média lê mais, cultiva um negócio de arte, algo que vejo pouco aqui. Temos muito mais sebos lá que aqui. Por aqui gostam mais de rock, dormem na fila desses shows, só uma minoria continua lendo. O povo não curte esse tipo de coisa e sem público fecham. Esquisito isso, não?”, me diz, Darcy Soliva da Costa, 81 anos, eu e ela aqui reclusos num quarto de hospital, aguardando sua cirurgia a lhe introduzir uma válvula no coração.
Encerro com a história que contei a ela sobre os tempos quando escrevi o livro sobre Reginópolis, uma pequena cidade do interior paulista, pouco mais de 3 mil habitantes. Lá uma linda biblioteca, recheada de novidades, porém pouco frequentada e a funcionária me diz na ocasião: “Estudantes vem só para trabalhos escolares, algumas senhoras de idade mantém o hábito da leitura e nenhum homem, nem de meia idade, nem velho. Eles têm vergonha de serem vistos aqui”.

Para não dizer que não estive em outros lugares, saio no começo da noite pela avenida Paulista em busca da nova edição da Carta Capital e adentro a Martins Fontes, ali na altura do 900. Um cartaz anuncia que por ali tem desconto da sexta Black Friday. Entro, vasculho as prateleiras com a devida rapidez de quem necessita voltar com rapidez ao hospital, mas ao pegar nas mãos um do Gianni Carta, o “Garibaldi na América do Sul – O Mito Gaúcho”, não resisto e esvazio os bolsos. Volto duro e lendo pelas ruas as proezas de um revolucionário tão em falta e necessário nos dias de hoje. Agora, nos próximos dias passo a folhear o que trouxe com a sogra, alguém com quem conversa desbragadamente sobre esse gosto infernal por leituras e a me fazer sair num dia de descontos pelas ruas paulistanas, não em busca de aparelhagens e traquitanas domésticas, mas de leitura. Estamos bem servidos para os próximos dias.

HPA – 24/11/2017

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (45)


GUMERCINDO E NISMAN, MACARRÃO E BRUNO, GREGÓCIO FORTUNATO E GETÚLIO VARGAS – O SERVO E O SERVIÇO SUJO

Na Argentina neste exato momento algo me surpreende, a história de Gumercindo e Nisman. O fiscal Nisman se suicidou dois anos atrás, pressionado pela infinidade de erros cometidos ao longo de sua vida, ora subordinado ao Estado Argentino, quem lhe pagava o soldo mensal, ora prestando serviços fora do expediente, fruto da ganância pessoal e assim, com benesses oferecidas por interesses externos, alguns vindo diretamente de órgãos obscuros dos EUA, que o bancavam para defender seus interesses. Pressionado, estava para ter seus atos revelados, optando pelo suicídio. O desGoverno criminoso e neoliberal de Maurício Macri, mancomunado com um Judiciário subserviente ao seu poder de mando tentaram incriminar a ex-presidenta Cristina Kirchner, como mandante do crime. A intenção caiu por terra e hoje, quem está encalacrado até o pescoço com a morte do promotor é seu serviçal, um quase escravo, Gumercindo.

Esse fazia todo tipo de serviço para o fiscal, não existindo para isso, nem hora, nem questão. Totalmente subserviente, prestava serviços em tempo integral e de uma paga “X” proveniente de emprego público, arranjado por Nisman, era obrigado a devolver em espécie 50% ao patrão. Dias antes de se matar, liga ao serviçal e lhe impõe: “Me arrume um revolver. Traga carregado”. Sem possibilidades de questionar algo, como sempre agiu e sempre lhe foi imposto pelas condições do trabalho estabelecido entre as partes, o revólver lhe é entregue. De posse dele, Nisman se mata trancado no banheiro de seu apartamento. Como estava atuando em processos contra Cristina, sempre muito bem pago por grana advinda de lugares distintos de sua folha salarial, ela foi envolvida, mas como o absurdo não vingou, alguém precisaria ser culpabilizado por tudo. O Judiciário argentino se recusa a investigar o lado escuso do promotor: para quem prestava continência, muito além de quem lhe pagava o salário, pois isso fere os princípios do neoliberalismo, o que tudo faz para defenestrar qualquer um que ouse defender interesses populares.

Tanto lá na Argentina, como aqui no Brasil, o Judiciário perdeu qualquer resquício de credibilidade e hoje, ambos atuam aliados aos grupos instalados no poder, defensores intransigentes das leis de mercado e do neoliberalismo predatório. Aqui pretendem prender Lula sem provas e lá tentam fazer o mesmo com Cristina. Aqui Lula não pode ser candidato, lá farão o mesmo com Cristina, mesmo ela sendo agora senadora. Vergonhoso papel o do Judiciário, o de lá e o de cá. A tristeza da semelhança das situações se completa se deparando com a situação de Gumercindo. Tantos iguais a ele são serviçais de poderosos, desses pagos para fazer tudo, desde limpar a bota e a bunda do patrão, como fazer qualquer tipo de serviço sujo. Não pensem que pessoas iguais a Gumercindo não existam aqui no Brasil. São muitos. Macarrão, aquele que servia ao goleiro Bruno é um exemplo. Fez o serviço sujo por devoção ao patrão. Desaparecidos daqui e da Argentina, alguns sem aparentes explicações, podem ser creditados a esse tipo de serviçais. Nas sombras e catacumbas dos jogos de poder, além desse inexplicável entrelaçamento do Judiciário com o que de pior temos na política, ainda temos os muitos Gumercindos e Macarrões, prontos para tudo, até por amor ao amo. Seria isso uma das pérfidas partes de mais um ciclo do neoliberalismo? Muito antes disto, outra história, bem brasileira, no relacionamento entre Gregório Fortunato e o então presidente Getúlio Vargas. Ele, sem Getúlio saber, para não ver o patrão sofrer tentou matar um desafeto do presidente e se deu muito mal.

Vejo muita gente em torno de tantos políticos, empresários, figurões com grana e ao vê-los como agem, enxergo e penso qual seria o limite de sua atuação quando o patrão lhe der uma ordem? Cumprir ou cumprir. Como terra sem lei, em momentos onde a Justiça claudica e se mostra favorável aos grupos de poder, surgem de tudo, desde milícias, paramilitares e apaixonados políticos prontos para fazer a cagada em nome dos endinheirados. Tomar cuidado é pouco em tempos assim. Será possível existir gente paga para fiscalizar e legislar no Brasil e pronto para se vender aos interesses externos? E esses teriam Gumercindos ao seu dispor? Penso muito nisso nos últimos tempos.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

FRASES (162)


QUEM NÃO TEVE PROBLEMAS COM VOOS CANCELADOS NO AEROPORTO DE BAURU/AREALVA LEVANTE A MÃO?

Dificilmente numa roda de quem já fez uso do aeroporto de Arealva, o Moussa Tobias, um deixaria de levantar a mão. Existe uma máxima hoje sendo repetida como mantra: “Basta um mero cachorro urinar na pista para voos serem cancelados”. Tudo se deve à precariedade das instalações, pois mesmo com o dito esforço (mental, espiritual e sanitário) das tais “forças vivas” da cidade, para que o “internacional” (sic) aeroporto de cargas, o “mais importante do interior do estado” (sic) fosse levantado no meio do nada (distantes 15 km da área urbana da cidade), nem instrumentos a pista possui. A história deste aeroporto é macabra desde o começo. Reza a lenda que, a aquisição do terreno pelo Estado de SP já foi feita para beneficiar o idealizador da ideia, projeto e àrea da mudança do aeroporto. Tudo foi consumado e até hoje, não se observa pela mídia local nenhuma crítica neste sentido. Nem mesmo com todos os insucessos, saídas e entradas frequentes de companhias aéreas com destino Bauru, o projeto de carga já totalmente inviabilizado e demonstrado inapto, nenhum crítica para o local. Existe um acordo de cavalheiros em Bauru: poderoso não critica ação de outro poderoso, pois o criticado de hoje, pode muito bem dar apoio para obra de outro. Eles se entendem muito bem e dane-se o resto. Algo sério mesmo sobre os motivos deste aeroporto estar onde está só será feito por alguma investigação particular ou acadêmica, pois do contrário é assunto intocável. Vez ou outra surgem os que ainda querem ver o verdadeiro aeroporto de Bauru, o lá entre a Getúlio Vargas e a Octavio Pinheiro Brizolla loteado pela especulação imob iliária. Quer queiram ou não as forças vivíssimas de Bauru, eles mesmo fazem uso dele muito mais do que o de Arealva, enfim, a utilização do velho é muito maior que a do novo. Até o governador Alckmin quando chega em Bauru com jatinho ou helicóptero, adivinhem em qual prefere descer?

Choveu forte esta semana em Bauru e como sempre voos adiados. A novela se repetiu e um voo iniciado em São Paulo arremeteu no meio do caminho e voltou para Sampa, com todos os passageiros vindo de ônibus no meio da madrugada. Motivo: chuva e tempo ruim. Quem dá risada com tudo isto é o Expresso de Prata, que sempre fez das suas para inviabilizar e viabilizar outros meios de transporte que não o rodoviário. Meios aéreo e ferroviário são colocados para escanteio na discussão dos grupos de interesse ligados ao lobby rodoviário. Reproduzo abaixo algo publicado pelas redes sociais, desabafo da professora Ana Bia Andrade, lembrando das varias vezes onde passou pela mesma situação e na defesa de colegas que estavam no tal voo de quarta para quinta:


"Até quando vamos aceitar a piada que é o aeroporto de nossa cidade ? os 'vips' só pousam no aeroclube. o trabalhador, que viaja de avião, não pousa, arremete. volta pra guarulhos, congonhas, campinas e chega sei lá a que horas. se chegar..... pode ter que dormir em uma 'cápsula do tempo' (já me aconteceu). quem vai buscar gasta uma grana de combustível ou de transporte (ônibus circular esquece) e fica 'na pista' depois de atravessar uma estrada perigosa, ruim e mal iluminada. as cias aéreas cobram o preço que querem. se precisar viajar de urgência, paga 2 mil reais pra voar 25 minutos pra sp. af bauru....".

Não teria menos dispendioso para os cofres estaduais, uma bela de uma reforma no Aeroclube de Bauru e não enfiar grana em algo já comprovadamente considerado inútil e de pouca utilidade. Isso sem contar o custo de uma viagem de taxi de Bauru até lá, em certos casos, compensando mais buscar outros meios. Muitos já descartam definitivamente a utilização deste meio de transporte para ir e voltar à Bauru, devido aos constantes cancelamentos de voos. E daí, o que fazer com o elefante branco do tamanho de uma fazenda encravado ali depois das penitenciárias bauruenses?

Cão urinou na pista, pode esquecer, não tem vôo subindo ou descendo em Arealva.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (129)


A BAURU QUE FAZ POR FAZER E A QUE SE ESQUECE DOS ANTECEDENTES

Vamos por partes, como magistralmente fazia Jack, o Estripador.

Parte 1 – Inauguração da praça da Consciência Negra nos arredores da avenida Nações Unidas. A Semana da Consciência Negra se aproximando, dia de Zumbi dos Palmares, feriado em muitas localidades e nada em Bauru, algo precisava ser feito e pensando desta forma, a laboriosa equipe da Prefeitura Municipal correu para preencher a lacuna. Nada como homenagear os negros bauruenses com uma praça, porém tudo às pressas, algo ainda insipiente, sem nada, grama por nascer, sem bancos, arvores e tudo o mais, só um terrão batido. E assim, no dia de ontem, com ilustres convidados a placa foi descerrada e mais uma praça passou a figurar no rol das existentes na cidade. Uns poucos elogiaram, mas outros, mais sensíveis, chamaram a atenção pra o descalabro. Tatiana Calmon pisou acertadamente no acelerador e tascou: “Me desculpem os companheiros e camaradas do movimento negro, mas, pessoalmente, acho uma afronta reinaugurar um bico de calçada, sem banco, sem árvore, sem água, sem nada, como praça África, como parte importante do calendário da semana da consciência negra. Não é uma praça. Não é sinal de combate ao racismo e ao preconceito, ao contrário. E ver uns e outros que sempre tiveram os negros como seu alvo predileto discursando foi lamentável. Meu estômago não aguenta”. E para descerrar a placa, além do prefeito e de convidados da comunidade negra, escolhem o vereador coronel para o discurso de inauguração. E sem farda, ele hablou pacificamente com todos os sorridentes presentes. Já da praça, nos próximos capítulos serão implementadas as melhorias prometidas. Aguardemos.

Parte 2 – O processo junto ao Iphan – Instituto de Preservação Cultural e Histórico, órgão do Governo Federal, para certificação do sanduíche bauru (neste caso, o correto é em minúscula), tornando-o bem imaterial reconhecido institucionalmente em todo território nacional é algo em curso desde os idos de 2007. Representantes do Iphan estiveram na cidade e na mudança de Governo municipal, de Tuga para Rodrigo, prioridades neste quesito deixaram de ocorrer e tudo passou a correr mais lentamente. Neste momento, ao abrir os jornais, um deputado federal da vizinha Ourinhos assume o papel de levar para as instâncias palacianas de Brasília a velha reivindicação desta cidade. Nada contra se apropriar dos louros, mas se algo for aprovado, salutar relembrar o que já foi feito, até para construção do real histórico, o processo correndo há mais de uma década. E neste exato momento, além do coronel deputado de Ourinhos, o vereador coronel de Bauru também se dizendo proponente da provável certificação.

Parte 3 – Desde que me conheço por gente, áureos tempos que um tal de Batata voava pelos ares bauruenses com seu ousado planador, a cidade já era considerada como “capital nacional do voo à vela”, isto tudo devido em primeiro lugar à localização de nosso aeroporto, o que recebe mais voos do que o oficial, lá no meio do nada, beiradas de Arealva. Vento não falta no lugar e nos hangares levantados pela força braçal dos bravos ferroviários, instalações condizentes para a prática do rico esporte. Ico, o dono do bar Aeroporto vende adesivos, camisetas e outros mimos referentes ao esporte, além das paredes do estabelecimento estarem forradas de fotos comprovando o que já está na boca de tudo e todos. De onde veio? Quem lançou a ideia? Como se propagou? Desde quando se fala disto? São boas perguntas a merecer as respostas adequadas, pois quando algo for institucionalizado, que os louros do feito da cidade ser considerada oficialmente como “Capital do Voo à Vela” não recaia sobre quem a levanta somente neste momento e com visíveis intenções eleitoreiras. A César o que é de César, melhor assim.

Tudo devidamente destrinchado, Jack, o dito Estripador se recolhe aos seus aposentos. Tchau!


UMA  OUTRA COISA
BRASILEIRO ANDA DE ONIBUS, MAS SÓ FORA DO PAÍS
Escrevo de Patrícia Ayala, vice-presidente do vizinho Uruguai. Ela aguarda o ônibus circular para chegar ao seu trabalho. Sem comentários. 

Conto uma história bauruense de um dos tantos dias em que desço de ônibus pro centro da cidade. Estava no ponto defronte o shopping, 7h da manhã e um vizinho ali me vendo, para e quer saber dos motivos de ali estar. "Uai, vou de ônibus, carro guardado. Por que?", respondo. Sua resposta não esqueço jamais: "Faz mais de dez anos que não entro num ônibus em Bauru". 

O que mais existe por essas bandas são os que não podem ser vistos em hipótese nenhuma dentro de um circular. Morreriam de vergonha. Desavergonhados vivem melhor neste mundo insano e doente.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

COMENDO PELAS BEIRADAS (47)


AS AMIZADES FACILITAM A CAMINHADA - O CASO DE REGINÓPOLIS
Caminhar sozinho é uma coisa e em grupo outra. Tem quem prefira continuar insistindo na caminhada sozinho. Os motivos são muitos e vão desde a dificuldade de relacionamento, até o desencanto em tentativas anteriores. O fato é que, mesmo com algumas experiências não muito bem sucedidas, para a obtenção de sucesso em empreitadas variadas, nada melhor do que fazê-las coletivamente. Uso um esdrúxulo exemplo para comprovar meu dito. O ditador do Zimbábue, 93 anos, Robert Mugabe, 37 anos no poder foi defenestrado por um golpe de estado militar e pelo simples fato de ter perdido a noção do autoritarismo e do isolamento político. Não querendo ninguém além de sua esposa (e só ela) na linha sucessória, demite todos os próximos com condições de assumir o poder quando do seu falecimento. Nos preparativos para lhe passar o poder, algo familiar, ao estilo de algumas empresas, do patriarca para a esposa, eis que esses, antes todos se beneficiando das benesses do poder, mas agora alijados de qualquer possibilidades, insuflam os militares para fazer o serviço sujo e desta forma destituir o idoso presidente. Militar faz serviço sujo para civis em variados lugares. Aqui já o fizeram e lá no Zimbábue acabaram de fazer. Se o gajo tivesse mantido suas relações cordiais com os outros se beneficiando das benesses deste pobre estado africano, creio eu, tudo continuaria como dantes. Sairia um, entraria outro, sem eleições no meio. 

Não me recriminem pelo sórdido exemplo. Estou um tanto sórdido e desiludido nos últimos tempos. Queria mesmo com esse texto reforçar algo sobre amizades e isolamentos e o fato de tudo ocorrer com mais tranquilidade quando junto de outros. Eu mesmo, aos 57 sou um assumido dependente dos amigos. Não vivo sem estar rodeado de muitos amigos (as), enfim, eles me conduzem para meus caminhos e também para os descaminhos. Toco minha vida ao lado desses e ontem, quando promovi a exposição de fotos lá na Feira do Rolo, a "O Que Você Veio Buscar na Banca do Carioca na Feira do Rolo?", na verdade, aquilo tudo foi uma imensa reunião de amigos. Fátima Guermandi, uma dileta amiga de Pirajuí me ensinou a repetir uma frase e dela faço uso sempre: "boi preto anda com boi preto". Na manada toda seguindo por uma caminho, nada melhor do que um seleto de grupo de amigos seguindo no sentido oposto. Aquilo lá na feira foi uma saborosa reunião de "bois pretos", os que remam contra a maré diante dessa imensa manada de verde-amarelos esmerdalhando com o que ainda resta deste país. Eu conheço a maioria dos que lá estavam e deles não me separo, aliás, faço coisas para me aproximar mais e mais. Diante deste atual estado predatório neoliberal, se não fosse eles, estaria irremediavelmente danado, desesperançoso de tudo o mais. Aquele conglomerado de gente ajuda a seguir tocando o barco no meio desta tempestade. São energizadores, eles para comigo e eu para com eles.

Escrevo disso e me lembro de algo solicitado a mim, coisa de uns dois meses atrás pelo amigo, o cartunista Fausto Bergocce, reginopolense hoje radicado (exilado seria o termo mais correto) lá em Guarulhos, na grande São Paulo. Ele vive na cidade grande, mas de tempos em tempos não aguenta e volta pra sua Reginópolis, onde reencontra amigos, anda a pé de bar em bar, senta na praça, ouve os passarinhos, põe o pé no rio Batalha, revê antigas namoradas, toma café na padaria da praça, conversa fiado, imita passarinhos e faz algo mais do que saboroso: se reune com amigos. Fausto está entusiasmado por ter descoberto um grupo de amigos, desses que ao menos uma vez por semana deixam suas casas e sentam em bares da cidade, cada vez num diferente e falam mal de tudo e de todos, resolvem os problemas todos da cidade, do estado e do país. Só pelo fato de deixarem seus afazeres, criarem um grupo e se bandearem pra rua já é grande feito. O que discutem eu não sei e nem perguntei isso pro Fausto (não quero me decepcionar). Os grupos onde ainda consigo me relacionar se reunem para propor a transformação deste mundo em algo mais palatável, pois vê o atual falido e crê que outro é possível. Já o grupo de Reginópolis não sei o propósito. Talvez o façam só para cervejar, falar de sexo, drogas e rock and roll, criticar a política local, enfim, escrevo essas besteiras todas pelo simples fato de gostar de quem ainda consegue se reunir em grupos e saracotear pra lá e pra cá. Ruar, no bom sentido do termo. Quando ele me enviou uma charge com eles reunidos, veio com um pedido: "Olá Henrique, taí a arte da Turma das Quintas....com Nando, Nadir, Fernando, Dirceu, Orlando, João Garcia, Reinaldo, Josè Yunes, Polegada, Dário, Reinaldo e Munir...e quem mais vier! Se você puder, faça um belo texto (como é de seu estilo), pra essa bonita confraria de amizade. Como o nome diz “ Turma das Quintas “, ele costumam se reunir em vários bares da cidade, pra trocar boas conversas e tomar muita cerveja!!!".

Eu como me reúno sempre que posso, divulgo o grupo de Reginópolis e cito só um dos muitos onde me encontro, o bloco farsesco, burlesco e algumas vezes carnavalesca, o Bauru Sem Tomate é MiXto. A gente quer barbarizar estruturas falidas e denunciamos isso, mas cada grupo tem lá seus interesses e motivos. O da Turma das Quintas só indo lá pra saber e pelo visto, cerveja não vai faltar. Só como informação: Reginópolis fica 90 km de Bauru.

domingo, 19 de novembro de 2017

AMIGOS DO PEITO (139)


EXPO NA BANCA DO CARIOCA, NIVER MANA HELENA E TIBIRIÇÁ
Foi uma manhã das mais efervescentes. Ferveu logo cedo com a exposição "O QUE VIESTE BUSCAR NA BANCA DO CARIOCA?", onde lá junto da famosa banca de livros, LPs e CDs do Francisco Carlos Jaloto, as fotos das pessoas que desde junho foram por mim fotografas circulando ali pelo local em busca de algo bem suspeito. Muitos estiveram por lá prestigiando a exposição e os fotografei novamente junto das fotos da exposição. A exposição da exposição.

O mais gostoso é você começar o dia com um casal, a Magali Arantes, dentista e fotógrafa, junto do marido Valter, que vieram na feira do rolo só para presenciar a exposição. Que papo gostoso, saboroso e ela entendendo a proposta deste mafuento, que não é fotógrafo (nem nunca será), mas produziu algo com um olhar de quem enxerga as coisas da rua e valoriza suas possibilidades.

Ver Carioca vestir a camiseta igual a minha, que ele havia trazido numa caixa e ao me ver com a "Eu amo a rua", sacou a sua e a envergou pela manhã inteira, algo de amigo pra amigo. Esticamos barbantes, busquei prendedores de roupa, esticamos fios, subimos em banquinhos de plástico e quando demos conta, pronto, a exposição estava pronta, montada ali na parede da Associação dos Aposentados. Foram 68 fotos e ver a cara de satisfação de cada um, principalmente os personagens ali da própria feira, eles ali representados, isto é coisa que não tem preço.

Os amigos e amigas foram chegando depois das 10h30 e foram muitos, gente que nem esperava, mas fazendo questão de estar ao meu lado neste dia. O papo rolou solto e foi uma gostosura. Pelas fotos dá para se perceber o quanto foi instigante ter feito a mesma, dentro da maior simplicidade e notar que o resultado foi mais do que instigante. Diria, emocionante. Já penso numa outra, dentro de moldes mais ou menos parecidos, fotos de minha lavra, sem técnica rebuscada, mas com o olhar de quem tenta entender um pouco das coisas da rua. Já a montei mentalmente e começo os registros tão logo a sogra querida saia do hospital.

A exposição foi até umas 12h30 e a todo instante olhavámos para o ceú e aquelas nuvens escuras, ora ameaçavam, ora o sol dava o ar da graça. Por fim, a chuva não veio e tudo saiu a contento. Saímos de lá e fomos todos para o Bar do Barba, ali na esquina da Gustavo Maciel com a Julio Prestes e, além do chopp gelado, a festa de aniversário da mana Helena Aquino, seus convidados e os meus, todos juntos, comendo quitutes, desfrutando de um longo papo. O que já estava gostoso do lado de lá, no meio da feira, foi transferido a contento pro bar e realizamos a segunda festa de aniversário de amigos ali na feira dominical. O primeiro foi surpresa, da Fatima Brasilia Faria, ano passado.

Para encerrar o dia com chave de ouro, ainda buscamos força e alguns dos nossos nos juntamos com a festança ocorrendo lá em Tibiriçá, em homenagem ao Dia de Zumbi dos Palmares e Semana da Consciência Negra, quando a família Baté, além de uma feijoada para todos os presentes, algo repetido ano após ano, distribui medalhas do Zumbi para personalidades que estiveram ao seu lado durante o ano. Algo mais do que emocionante e depois, o samba, comandando solto, por quem entende do negócio, sob a batutra do mestre Zuza, um que sabe tirar sambas do fundo do baú e com uma memória de assustar gente sã.

O dia não podia ser melhor.

sábado, 18 de novembro de 2017

O PRIMEIRO A RIR DAS ÚLTIMAS (47)


OS QUE ANTES ESTAVAM DE VERDE-AMARELO NAS RUAS, HOJE QUEREM QUE A GENTE, OS QUE ESTÁVAMOS CONTRA O GOLPE DEFENDAM EM NOME DELES A BARAFUNDA DO PAÍS EM QUE FOMOS ENFIADOS POR CAUSA DAQUELA INSENSATEZ COLETIVA

As coisas são engraçadas neste país varonil. Recebo ontem de um dileto amigo internético, um que esteve vestido de verde amarelo até bem pouco tempo e hoje está revoltado com o país que ele ajudou a deixar do jeito que se encontra hoje, o seguinte e revoltado texto:

“IMPOSTO DE RENDA - Decreto que aumenta de 27,5 para 35%, a alíquota do Imposto de Renda. - Este reajuste atinge diretamente a classe média. Sem querer cortar gastos, o governo com sua exuberante incompetência, quer como sempre, repassar para a população. Assim é moleza, roubam, administram mal, e nos dão a conta para pagar. Passe adiante... - Se cada pessoa passar para 10 amigos de setores diferentes, no 6° repasse atingiremos milhões de brasileiros. Vamos tirar 5 minutos para mudar o Brasil e defender nossas famílias e nosso suado dinheiro. Eu fiz minha parte ! Faça a sua! R$6 milhões é o valor que vai receber cada deputado que votar pela Reforma da Previdência que corta sua aposentadoria. Estão querendo tirar o zap do ar pra que essa mensagem nâo viralize até eles tomarem uma providencia! VAMOS VIRALIZAR! MANDE PRA TODOS SEUS CONTATOS! A Globo está tentando esconder a todo custo, mas o zap vai divulgando...”

Respondi de um jeito que deve ter espantado o indignado cidadão:

“Espero que agora, sofrendo na pele a maioria dos brasileiros que foram enganados pela Rede Globo caiam em si e vejam que o grande culpado deste país estar na merda onde nos encontramos não se chama Lula e Dilma, mas o que "eles" (a Globo, Judiciário e políticos sujos) queriam era se ver livres de quem ainda fazia algo pelo povo, para no seu lugar cravar a estaca contra os interesses da maioria. Luta contra o que representa a Globo, meu caro, é devolver o país à normalidade, reestabelecendo o mandato de Dilma até o fim, reconhecendo o golpe que lhe foi dado e repudiando o que vem sendo feito de barbaridades, inclusive pela via do Judiciário. Para este país não acabar de vez, ou lutamos contra quem nos apunhala de verdade, ou eles tomarão conta de tudo. Minha escolha, feita desde lá atrás, não é pelo fim do PT, mas contra o que veio depois dele. Foram esses que estão destruindo com o que resta de Brasil e nada fazemos. Até quando?”.
Não seria o caso de passarem a se utilizar de...

Sua resposta veio com aquela mãozinha em sinal de positivo. Não me dei por vencido e aproveitando a deixa, tasquei algo mais:

“Percebam a cagada que foi apoiar e sair de verde-amarelo nas ruas contra uma provável corrupção, que hoje é imensaqmente maior e ninguém faz mais nada, todos passivos e quietos. Que país é este?”.

A resposta veio na forma de outra mãozinha em forma de positivo e uma frase, repetido como mantra quando alguns dos verdinhos são encostados na parede: “Infelizmente meu caro Aquino , Temer foi eleito junto com Dilma.....”. Claro, não me segurei nas pernas e tasquei isso como resposta:

“Só que foi traída, o povo todo, enfim, a nação quando se aliou aos golpistas, os tais de verde amarelo, que hoje se calam e não tiram a cara da toca nem contra isso que me postou inicialmente. Lembro muito bem de uma frase do Temer ainda quando vice: "Dilma me trata como figura decorativa". Lindo isto, ela sabia quem ele representava e o mantinha contido, à distância das decisões, enfim, todo o PMDB contido. Com o golpe, a traição cometida contra ela, eis o resultado”.

Sua resposta: “Tudo bem onde estão os traídos que não se manifestam ? Não batem panela ? ?????????”. A minha postei a seguir:

“Medo, meu texto fala disto (citava um texto publicado no blog em 16/11). Lhes tiraram tudo, inclusive a capacidade de entender o que se passa. Pensam só em como comer hoje, continuar sobrevivendo amanhã e como vão poder desta forma virar a mesa e sacar esses caras aí instalados, os tais que os verde amarelos, os tais lá da Getúlio Vargas? Esses sim, são coniventes com tudo o que ocorre hoje, pois mais esclarecidos, porém, ainda odiando o PT. A lavagem cerebral foi tão intensa que o ódio não os deixa enxergar e reconhecer o tanto de maldades que hoje vivenciamos. A empáfia desses infelicita o país, pois se fosse com o PT, insuflados por essa mídia que hoje denunciam, esses aumentos de gás e gasolina já tinham dado em muita confusão. Hoje, esses desavergonhados se omitem e fingem nada ser com eles. Uns bostas”.


Encerra a conversa com: “Espero que você esteja certo.... Torço por um Brasil de todos..... Abraços e VAI CORINTHIANS !!!!!!”. Na despedida ainda sacramentei:

“Sim, o Corinthians é nosso alento. Mas não dá mais para jogar a culpa no PT, que ainda fazia algo por esse povão e hoje, ninguém mais faz nada, perdemos todos os benefícios e direitos tão duramente conquistados ao longo de décadas. O desalento se expressa na fisionomia dos desvalidos, dos menos favorecidos, cada vez mais prejudicados e sacrificados. Uma ínfima quantia de pessoas se beneficiando de tudo. Rico não paga imposto, não contribui adequadamente com nada, sonega muito, sacanas em tudo, fortunas criadas e entramos na deles, ainda os defendemos. O problema da Previdência não é o pobre que precisa se aposentar, mas os grandões que não contribuem e ninguém cobra nada. Fazem o que querem deste país”.

Encerrou o papo definitivamente com: “Valeu Aquino... abraços”.


Foi assim. Nada mais a acrescentar.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (109)


A MANCHETE DO JORNAL, O PASSEIO PELA BATISTA E AS PORTAS CERRADAS
Eis o auspicioso Natal dos comerciários bauruenses, com muitas portas fechadas, cerradas em quase toda a extensão da rua principal do comércio do centro da cidade, a Batista de Carvalho, seu Calçadão. O dos comerciantes ainda não consegui avaliar, pois ainda não se sabe se as contratações temporárias ocorrerão dentro das normas trabalhistas antigas ou as recentemente implantadas e colocadas em vigência pelo governo do ilegítimo Michel Temer e seus asseclas. Se pelas novas, como já comprovado pelas empresas onde já foram aplicadas, ocorreram evidente aumento de lucratividade dos comerciantes e perdas consideráveis, irreparáveis e irreversíveis para os comerciários. Enfim, está é a tal da modernidade proposta pelos golpistas, aprovada pela Câmara dos Deputados e referendada pelos ditos pessoas de negócio deste varonil país.

Primeiro a manchete do Jornal da Cidade de hoje, sexta, 17/11: “Economia de Bauru terá incremento de R$ 300 milhões com 13° salário”. Não contem com essa dinheirama no comércio, pois o endividamento neste final de ano é crescente, latente e pulsante. O dilema já está estabelecido: "pago dívida ou compro presentes e gasto no comércio?" Pensando em quantas anda o comércio e os comerciários, circulei ontem pela Batista e fotografei todos os pontos comerciais fechados, desde sua quadra 1, a mais pobrinha de todas, com lojas beirando a hora da morte e para espanto geral, logo a primeira, o Hotel Cariani encontra-se com suas portas fechadas. Naquele quarteirão só funciona o Hotel Imperial e um estacionamento. Todos os demais, caindo aos pedaços, em petição de miséria e fechados. Desolação num dos pontos antes mais movimentados de Bauru, suas estações ferroviária e rodoviária.

As primeiras quadras da Batista sempre tiveram um comércio não tão intenso, mais popular, porém quase sempre com sua totalidade de portas abertas. Tudo começa com a antiga Casa Sampaio fechada já há alguns anos, devido a disputa entre irmãos pelo imenso prédio, antiga loja de ferragens. O quarteirão 2 está uma desolação e até a mais antiga loja de discos e som, na esquina com a Gerson França também foi fechada. A outra, também do mesmo ramo e donos, resistiu até quando deu, defronte a Lojas Americanas, ambas fechando recentemente as portas e hoje, se alguém quiser comprar CDs só no que restou do setor da Lojas Americanas ou nos sebos. Vários pontos fechados há muito tempo, como uma loja onde comprei muito artigo esportivo na esquina da Azarias com a Batista. A única quadra onde não tem nenhuma porta fechada é a sete, antes da praça Rui Barbosa. Todas as demais possuem portas fechadas. Isso sem contar não ter entrado em prédios com salas para alugar e se o fizesse, seria uma inundação de fotos e mais fotos.

A amostragem feita por essas fotos não tem nenhum caráter de indicativos de índices de lojas fechadas, muito menos tonalidade alarmante ou algo parecido. Nem contei a quantidade, mas sei serem muitas, dezenas, beirando ao cento e só na região compreendida pelo Calçadão, quadra 1, junto a praça Machado de Mello até a sete, junto a praça Rui Barbosa. Nem olhei para as ruas transversais e laterais e adjacentes, pois daí esse número chegaria a estratosfera. Existem galerias inteiras vazias no centro da cidade. Nas conversas algo a irredutibilidade de alguns donos desses prédios, pois não querem ceder em nada no valor do aluguel, mesmo diante da quebradeira geral. Negociar valores de aluguel é algo impensável para estes, com muitos preferindo permanecer com a porta fechada do ter que reduzir o preço do valor da mensalidade paga. Coisas do mundo do capital, onde reina a insensibilidade. Daí, querer abrir um novo negócio na região, algo para quem gosta muito de viver perigosamente. Sei também que o abre e fecha é algo constante na região, mas hoje mais acentuado que tempos atrás.

As fotos demonstram um bocadinho da tristeza atual reinante no centro da cidade e que deve, neste ano, ser algo predominante para a entrada do último mês do ano e o período mais festejado das compras, o envolvendo Natal e o Ano Novo. O festival de portas cerradas é de doer e cada comerciário presenciando isto sabe muito bem que hoje o que ainda pode fazer é tentar segurar o seu emprego com unhas e dentes. Já para os novos, os que trabalharão em regime temporário, uma certeza, a de que o valor ganho no ano passado não será auferido neste e nem que a “vaca tussa”. Se predominar o que aconteceu recentemente com os empregados do famoso supermercados da rede Mundial, no Rio de Janeiro, já amplamente divulgado pelas redes sociais, o que vem por aí, além de péssimo para os comerciários, todos fragilizados e obrigados a atuarem com o que lhe resta de trabalho, ou mais uma avalanche de portas e mais portas fechadas. Fiquem cicando a seguir, para encerrar este texto, com o que ocorreu agora mesmo na rede Mundial: https://theintercept.com/…/mundial-greve-direitos-trabalhi…/

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (105)


O PAÍS ACABOU, MAS O CORINTHIANS FOI CAMPEÃO – EU E A JORNALEIRA

Chego em Bauru após semana na capital paulista, passo na banca de revista de uma considerada amiga, batalhadora como tantos outros neste insólito país e ouço dela, aquilo a me cortar o coração:

- Henrique, o país acabou. Não consigo mais ter uma vida tranquila. Veja meu caso, trago minha marmita, dois ovos fritos e esquento aqui na banca como posso. Não gasto nada. É daqui pra casa e de casa pra aqui. E cada vez posso menos, compram menos e minhas contas estão pela hora da morte. O que fizeram deste país, meu caro amigo, me diga?

Tento dizer e quase choramos juntos, um no ombro doutro. Eu e ela, desde sempre, sacamos o baú de maldades que estava sendo praticado contra este país quando destituíram Dilma. Hoje se saca claramente que o culpado de tudo não foi o PT. A grande sacanagem veio depois, com os que derrubaram o partido, criminalizaram todos deste partido e até o que venha a ser esquerda e comunismo, para implantar o que hoje vigora, o neoliberalismo predatório da sua pior espécie. Minha resposta para a amiga, ainda com a banca aberta foi só uma, além do lamento:

- Fizemos nossa parte. Resistimos até o último instante. Fomos vigorosos e valorosos. A turba influenciada pela mídia nativa, essa mesmo Globo hoje sendo criminalizada fora do país, pois aqui nunca o seria com o Judiciário que temos, todo entrelaçado com o que acontece com o país. Que fomos enganados, não existe mais a menor dúvida. O povo foi ludibriado, dia após dia e continua o sendo, pois até hoje não abriu os olhos. Enxerga tudo de ruim no PT, mas não faz nada com tudo o que lhe fazem hoje, infinitamente pior do que fazia o PT quando no poder. Todos vivem hoje no regime do medo, pois sabem que ao abrirem a boca, podem perder o pouco que ainda possuem. A maioria percebe a cagada feita, mas não estão vendo nem como mais reagir.

Olho para sua banca e ela desolada, triste mesmo, sem saber o que fazer para reverter sua situação e continuar de portas abertas. Nas manchetes dos jornais, só se fala na vitória do Corinthians e no fato de ser campeão com três rodadas de antecedência. Olha para ele, palmeirense e, na qualidade de corintiano, nem tenho motivos para comemorar e nem para tirar um sarro nela. Ela percebe e me diz:

- Este final de ano o seu time mereceu e o meu, com todas as chances que foram nos dadas, não as aproveitamos. Não temos do que reclamar. Nem está dando para se falar muito de futebol, de discutir esses assuntos, pois algo mais urgente precisa ser resolvido e estamos postergando isto. Rir e discutir futebol num momento como este não é possível. Dói muito mais isto em que nosso país está se transformando, todos de cabeça baixa, sem força para uma reação. Essa indiferença tem explicação, todos estão boquiabertos, cientes da grande cagada que foi ter apoiado a chegada destes hoje no poder, de ter acreditado no que a TV nos dizia, hoje se sabe, fomos todos enganados e com a chegada dos hoje no poder, não só nos calaram a boca, como perdemos tudo e nos calam a boca. Quem reclama é marcado e é mais importante saber como se vai colocar algo em casa hoje do que discutir como resolver o problema. Conseguiram nos calar. Estamos todos prostrados. Eu me sinto assim, derrotada e sem saber se até quando terei forças para continuar com meu pequeno negócio aberto.

Sai de lá quase em prantos. Ergui o som do carro e desci com a garganta mais do que engasgada. Pelo menos, o Corinthians foi um dos únicos times, cuja torcida se manifestou contra essa podridão do golpe, da Globo e da CBF. Um pequeno alento...