segunda-feira, 30 de novembro de 2015

FRASES DE UM LIVRO LIDO (97)


“EU NÃO DEFENDO O PT” E ALGUMAS FRASES DO BARÃO DE ITARARÉ
Um me para na rua só com o intuito de me perguntar: “Como você ainda consegue defender o PT?”. Minha resposta é curta, grossa, objetiva e a repito em alto e bom som, lá e aqui, para conhecimento de tudo, todas e todos, ou melhor, feita de forma ampla, geral e irrestrita:

Eu não defendo o PT. Sou é contra a hipocrisia que a todos acomete nos dias atuais. Não me peçam, pois não o farei para adentrar o cordão dos que enxergam todos os males do país só no PT. Fujo desses, vesgos por pura conveniência. O PT errou e erra muito, merecedor de exemplar penalização, mas a pergunta que não quer calar é só uma: Só ele? E os outros? E outra, essa a que dói mais nos que só pegam no pé do tal PT: Por que você age assim e faz questão de não enxergar mais nada além dos males do PT? Que corrupção quer ver findada? A nossa endêmica corrupção estará resolvida e solucionada com o fim do PT? Aqui repito uma frase do mais odiado desses, o ex-presidente Lula: “Quero saber se o dinheiro do PSDB foi buscado numa sacristia”. Sim, para o PT vale tudo, para esses outros, vale nada. Que merda é essa? Não aprovo também essa bestialização da delação premiada. Se dela nasce uma prova, tudo bem, mas que seja comprovada nos tribunais. A prisão no país de hoje antecipa a pena. Muitos aplaudem hoje essa verdadeira república jurídico-policial de Curitiba, instituída pelo juiz Sergio Moro e referendada, apoiada e alicerçada pela arrogância midiática, uma que tudo pode e age pelo medo coletivo. Bestas os que acreditam estar em curso o fim da corrupção ou algo sendo feito nesse sentido. Se a maioria se acovardou e nem mais reage, talvez por medo de ser defenestrado pela mídia perversa, cruel, insana e nojenta, além de mentirosa e falsa, o que está em questão é o fim do estado de direito. Poucos se atentam para isso. Espezinham só o PT e livram a cara de tudo mais. É contra isso que me posiciono contra, nada mais. Criminosos, corruptos, bandidos, malversadores do bem público, todos devem pagar pelos seus erros, mas todos, só isso e nada mais.

Escrevo disso tudo e me chega às mãos um livrinho velho, carcomido pelo tempo, até com alguns sinais de traças e cupins a roer-lhe os miolos. Releio algumas de suas frases e me delicio com o que já acontecida nos tempos dele, o Barão de Itararé. O livro é o “Máximas e mínimas do Barão de Itararé”, edição do saudoso Círculo do Livro, 1985. Vamos as frases:

- “Temos todos a hora do rato e a hora da ratoeira”.
- “De onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo”.
- “Os homens nascem iguais, mas já no dia seguinte são diferentes”.
- “Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mais vivos”.
- “Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo”.
- “O feio da eleição é se perder”.
- “A balança era, antigamente, o símbolo da justiça. Hoje é a desgraça da freguesia dos armazéns de secos e molhados”.
- “Um bom jornalista é um sujeito que esvazia totalmente a cabeça para o dono do jornal encher nababescamente a barriga”.
- “Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados”.
- “Basta um frade ruim para dar o que falar a um convento”.
- “Esse mundo é redondo mas está ficando muito chato”.
- “E há juízes que sofrem da bola”.


Que o Barão sirva para algo elucidatório e por que não, conspiratório na cabeça das pessoas. Por fim, algo que não foi retirado desse livro, mas que li hoje logo pela manhã ao procurar um texto para escrevinhações mestradinas, algo que faço dia após dias nesses e nos próximos meses. Achei o máximo e serve também para ampliarmos a discussão corruptiva assolando esse país: “...nossa tarefa máxima deveria ser o combate a todas as formas de pensamento reacionário” – Antônio Cândido. Disso, ninguém pode me acusar, pois tento a cada instante, ao menos encurtar as distâncias e encurralar preconceituosos e intolerantes, além de reduzir os efeitos da hipocrisia reinante. Ela reina, soberana entre nós, emburrecendo cada vez mais esse imenso país continente.

domingo, 29 de novembro de 2015

UM LUGAR POR AÍ (74)


O ARMAZÉM INTERIORIZA A VIDA DO PAULÃO E DA VALÉRIA – 35 ANOS DA MAIS BOA, HARMONIOSA E NECESSÁRIA CONVIVÊNCIA

Histórias quando ouvidas, relatos quando feitos tem que ser transcritos para o papel com a devida rapidez. Guardados na memória eles correm o risco de irem se diluindo como poeira e depois, quando no momento de serem relembrados, bem lá na frente, talvez a ocorrência da perda de trechos significativos. Seguindo essa premissa conto algo ocorrido ontem, 27/11, sábado à noite, portanto, bem fresco em minha memória. O Armazém Bar, reduto pioneiro de rock, encravado no centro bauruense, ali ao lado da praça parteira Bernardina, juntinho da Pedro de Toledo, resiste ao tempo e completa 35 de quase ininterruptos anos (com breves reformistas paralisações). Na frente da casa dois bons e salutares dinossauros (no que de mais bonito o termo possa exemplificar) da vida cotidiana bauruense, Paulo Roberto Penatti e Valéria de Carvalho Costa. Ele, considerado por algum tempo como um predador, ao estilo Tyrannosaurus rex. Hoje, mais dinossauro que nunca, é mais comedido (cada vez mais perto dos 70 anos), até cordato e conciliador , talvez um herbívero (pero no mucho). Ela, algo sui generis só de bater os olhos e constatar que ainda existem pessoas com a carinha do saudoso Woodstock e se alguém mantém essa fisionomia, ela é sem dúvidas, a que melhor dignifica e representa isso. Ao olhar para ela, sempre me bate aquilo de constatar comparando com minha situação: por que não fiz o mesmo? Se ela conseguiu, eu também poderia, se ao menos ousasse ter tentado. São duas pessoas que se completam, integram e se materializam em algo meio que surreal nesses tempos atuais, a impossibilidade de abalos sísmicos numa relação de mais de 35 anos de plena convivência.

Ir ao Armazém e não bater sequer um papo com os dois é o mesmo que ir à Roma e não ver o papa. Nem consigo imaginar a cena. Imaginem os senhores (as), um sujeito, como ontem eu vi acontecer, que fica trinta anos sem voltar ao bar e sabendo que lá estarão os dois, chegando lá e não os encontrando ou pior que isso, indo lá e não parando para conversar com os dois. É o mesmo que não ir. Não deve existir coisa mais frustrante que isso. O de ontem, infelizmente não peguei seu nome, mas pesquei assim de soslaio surrupiando algo da conversa alheia, ter ele deixado Bauru nos anos 80 e se bandeado rumo ao mundo. Rodou um bocado, primeiro São Paulo e depois o velho continente. Nessa volta, quis rever um dos únicos lugares de Bauru do seu tempo e que continua intacto. Deve ter sentido a mesma sensação que a minha, que já fazia bem uns dez anos que lá não adentrava para bebericagens e conversações internas. Tudo está intacto. Nem museu consegue hoje em dia a proeza de manter tudo sem alterações, mas lá nessa casa do centro da cidade sim e Paulão diz, ser ele nesse ponto conservador, pois não pretende mudar nada além do já feito. Comentamos até do lanches Papa Tutti, que por uns trinta anos esteva ali na praça do Líbano e hoje aportou nos Altos da Cidade. O glamour dos saudosistas de antanho está irremediavelmente perdido. No Armazém, tenham certeza, essa possibilidade inexiste. Lá tudo continuará como dantes e no mesmíssimo lugar. Se até os vizinhos já foram apaziguados, por que serem abduzidos para outras paragens?

Conversar trivialidades com ambos já é um luxo, mas fazê-lo na porta do bar, bote ampliação nisso. Como a casa começa sempre com sua música ao vivo sempre por volta da 1h da manhã, pelo que vi, eles sempre estão mais a disposição lá entre 23h30 até 0h30, circulando e dando os últimos retoques em tudo, cada um sabendo muito bem o que faz por ali. Paulão não sai da calçada, primeiro porque fuma e não existe espaço interno autorizado para fumantes, mesmo com o jardim interno todo aberto para o céu, hoje um objeto sem a devida importância do passado dentro da estrutura do bar. Se ali não é permitido fumar ficou ocioso e daí, vejo que o casal sabidamente criou espaço com cones e cerca de fitas, área reservada para fumantes e bate papo ao ar livre na calçada. O jardim interno perdeu seu charme devido a isso. Se pudessem abrigar os fumantes estaria bombando. Interessante observar o intenso trabalho do Nilsão e outro na portaria externa, cuidando de tudo do lado de fora, olhos de lince e aquele tratamento que quem só é da casa ou entende os meandros da noite irão entender. Os funcionários são todos velhos abnegados, integrados ao estilo do ambiente e mais que amigos. Enfim, o reduto do rock preserva o que de melhor poderia fazê-lo, um estilo de vida, modo de ser meio que perdido nos tempos atuais, mas muito necessário, nem que seja em visitas esporádicas, para ainda ocorrer a tal da certificação de que o oásis pode e deve continuar existindo no meio do árido deserto. Enquanto esse casal tiver forças para tocar o barco adiante, a casa vai viver e bem. E o oásis vicejante.

O melhor da casa não é nem o rock, que continua vigorando no lugar como mantra, oferecido no cardápio do estabelecimento. O lugar é o rock, naquilo que todos um dia ao menos esbarraram, alguns caíram de boca e estão nele até hoje. O palco do Armazém é eclético e abriga também outros ritmos, todos muito próximos do rock, como o blues, algo de jazz com pegada e até folk. Ontem vi e ouvi na voz do Acústicos & Calibrados uma velha canção do Ultraje, o Independente Futebol Clube e a segui inteira do começo ao fim (pudera, a letra tem no máximo cinco ou seis linhas). Pois bem, tudo continua como dantes, a cor preta predominando nas mesas e cadeiras, o mesmo balcão com aquela madeira rústica que nem 35 anos de cotovelos variados e múltiplos ousaram detonar (deve ser aroeira pura), o palco no mesmo lugar e um sistema de som e ar impecáveis, adequados ao longo do tempo e perfeito, controlados todos do mesmo ponto, do lado da caixa, numa instalação que os dois sabem manusear muito bem e o fazem a noite toda, num leve tocar de dedos. Adorei os banquinhos feitos com velhos latões de leite (roqueiro bebe leite?). Eles dão liberdade e pedem que não invadam a deles, ou seja, para dentro do perímetro do balcão, ninguém pode ousar adentrar, sendo rico ou pobre, amigo ou mesmo chapa. Cada um no seu quadrado, em algo entendido por todos. Ultrapassar alguns limites por lá, com certeza terá o devido puxão de orelhas do casal, sempre com aquele jeitão de quem sabe resolver as coisas, por mais conturbadas que seja, quase sempre na maciota. A bebedeira é tratada com a experiência de 35 anos de muita convivência. Experiência, é claro, conta muito.

Os dois, o casal que não é um casal, mas não deixa de ser um casal de comerciantes é o melhor do lugar. Nem imagino como farão para promover a transição, algo ainda pouco pensado pelos dois, mas que um dia vai ocorrer e será a maior dor de cabeça de ambos. É isso, falei da casa, da alegria de rever tudo e constatar in loco a sapiência deles, sabendo fazer com que, tudo não só sobrevivesse, mas continuasse tendo aquela áurea muito além da nostalgia. A casa pulsa não só pelos inveterados amantes do velho e bom rock de ontem, mas também muito pelos de hoje, essa geração que é filho dos primeiros frequentadores do lugar. Impossível ir lá e não parar para comentar sobre esses dois. Eles possuem um jeito gostoso demais de receber as pessoas. Sabe aquele lugar que você vai e pergunta para o dono, como vão as coisas e o cara desata a falar dos problemas do mundo, que tudo anda parado, coisa e tal. Uma merda. Eu vou num bar também para desopilar minhas insatisfações, por os bofes pra fora, mas principalmente para dar e receber alegria e quando o dono do lugar já te recebe cheio de pessimismo, sinal de que a noite não vai ser boa. Com o Paulão isso não existe. O papo dele e também da Valéria te botam lá em cima, sobem teu astral e ao te introduzirem na casa, o teu espírito já se elevou, pois a conversa deles é sempre para cima, elevatória. Isso é também outro ponto mais que positivo do lugar.

Agora escrevinho algo deles. Um tem a cara do outro. Pudera, diriam, são mais de 35 anos de plena convivência. A maioria não entende muito bem isso dos dois não estarem juntos, mas se darem tão bem no quadrilátero do bar. A explicação vem da boca dele: “Somos uma família”. Sim, mas uma família não aos moldes do convencionalmente implantado no seio da sociedade vigente. Foram marido e mulher por longo tempo, hoje não mais, mas para qualquer um, os que conhecem ou não a relação de ambos, meio que impossível alguém se aproximar de um ou de outro com segundas intenções, estando o outro ali ao lado. Alguém consegue imaginar a Valéria namorando alguém por ali que não seja o Paulão? E vice versa. Isso deve ser um problemão para os dois. Eles se entendem e muito bem, isso o que vale e vale muito, pois num mundo onde as relações se encerram e daí o começo do tendel, não existe coisa melhor do que a observação feita por ele: “Sou amigo de todas as minhas ex”. Entramos num outro ponto, também inusitado e que ambos, mesmo não consentindo vão permitir que comente aqui. Não tem nada demais, mas provam o quanto o mundo precisa evoluir em certas coisas, algo já feito pelos dois. O patamar deles está degraus acima da dita normalidade do aceito.

Conto o causo real. No início do Armazém tinha mais uma pessoa, outra mulher, Paulão e ela juntos. Depois de certo tempo ela foi-se para a Holanda, Amsterdam e não mais voltou. Relação desfeita, o Armazém continua. Ele e Valéria se integram e depois se separam como casal, mas não como sócios. O tal da família, lindo de ver e entender. A última viagem de ambos, juntos como dois bons sócios foi rever Amsterdam. Ficaram todos abrigados em lugar seguro por lá, na casa da antiga bauruense. Sem nenhum tipo de problemas. “Não a via fazia 30 anos”, conta Paulão. Todos amigos e convivendo maravilhosamente bem dentro desse mundo onde algo assim ainda assusta a alguns, mas deveria ser o mais trivial. Conviver é isso. E conto isso não só pela história, que nos seus detalhes deve ter muito mais riqueza do que esse simplificado relato, mas pelo significado do todo no entendimento do que venha a ser essa verdadeira República Independente de Bauru, de São Paulo, do Brasil e do mundo, que é o Armazém Bar. Ali vigora algo mais significativo do que o vigente no mundo do lado de fora. Na experiência vivida pelos dois sócios, não só a certeza disso, mas algo que nos faz buscar lá no fundo uma coisa mais do que perdida nesses obtusos tempos: o entendimento humano. Nisso o Armazém e seu pessoal dá um verdadeiro banho em todos nós. Impossível, para qualquer um ainda com resquícios de lucidez, no mínimo não admirar esses dois.
Essa minha modesta homenagem aos 35 anos desse sacrossanto lugar, revisitado ontem por mim e Ana Bia. No Dia Nacional do Samba eu que amo o sambo, escrevo um bocadinho só de rock e de dois magistrais personagens ligados a ele.

sábado, 28 de novembro de 2015

ALFINETADA (139)


OITO TEXTOS SEMANAIS N’O ALFINETE, AGOSTO/SETEMBRO 2003
O gostoso nesses velhos textos publicados no famoso hebdomadário (o Marcelo Pavanato se divertia muito com esse nome) pirajuiense ainda em circulação é a comparação de sua atualidade, como no caso desse primeiro, doze anos depois e o mesmo problema pairando no ar. Será que escreveria eles da mesma forma e jeito? Alguns sim, outros, os mais políticos não. Não se trata de questão de amadurecimento, mas demudança radical na forma de agir de alguns dos políticos e daí, ocorre a mudança na forma como os encaramos. No mais, muitos deles o faria do mesmo modo e jeito. Vamos aos selecionados nesse mês:
Edição 230 – nº 162 – Quem é mesmo radical dentro do PT? – publicado em 27/07/2003

Edição 231 – nº 163 – O furo jornalístico – 02/08/2003
Edição 233 – nº 164 – Capitalismo sem riscos – 16/08/2003
Edição 234 – nº 165 – Programa de beira de rio – 23/08/2003
Edição 235 – nº 166 – Adequações – 30/08/2003
Edição 236 – nº 167 – Penso, logo “hesito” – 06/09/2003
Edição 237 – nº 168 – Yes, nós temos motivação – 13/09/2003
Edição 239 – nº 169 - O Estatuto das Cidades – 27/09/2003

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

INTERVENÇÕES DO SUPER-HERÓI BAURUENSE (89)


"O QUE FOI ‘DELCIDIDO’ ALI PODERIA TAMBÉM O SER AQUI”, SUGERE GUARDIÃO

“O juiz na partida de futebol dessa última quarta, decisão da Copa do Brasil, Santos 1 x 0 Palmeiras marcou um pênalti, mesmo existente, pouco usual. Foi naquele empurra-empurra sempre ocorrendo dentro da grande área. A marcação foi alvo de comentários de vários cornistas esportivos: ‘Terá que utilizar o mesmo critério nos próximos ou ficará desmoralizado’. Quase ao final da contenda, acabou fazendo vista grossa para outro, justamente envolvendo o outro time e daí a pergunta: ’Por que para um, SIM e para outro, NÃO?’. No futebol é assim, mas...”, diz Guardião, o super-herói bauruense diante de uma banca de jornal e olhando as últimas manchetes dos diários e hebdomadários.

Não pensem que nosso dileto super-herói tenha se bandeado para a crônica esportiva. Longe disso. Sua análise, como ele mesmo explica, cabe sob medida para o fato político de maior relevância na semana: a prisão do senador petista Delcídio do Amaral, também líder da situação no Senado Federal da República. Para reunir tudo o que foi dito, de teor mais ou menos idêntico, eis a manchete do jornal de nossa aldeia, o Jornal da Cidade, edição de 26/11: “Senado mantém prisão inédita – Líder do governo é o primeiro integrante da Casa a ser detido em pleno exercício do mandato; parlamentar ofereceu mesada a Cerveró”. O problema maior, o motivador da prisão foi pelo fato dele tentar obstruir investigações policiais. Sim, o fato eleva a Operação Lava Jato a um outro patamar. “Prendendo Delcídio, outros também poderão ser presos. O precedente está estabelecido e o próximo deverá ser o presidente da outra Casa de Leis, a Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do PMDB, esse com extensa ficha de desmandos. Mas o será?”, eis a pergunta feita pelo intrépido Guardião.

Como sabemos todos, Guardião acaba dando seus pitacos nas esferas foras da jurisdição bauruense, mas sua especialidade, seu raio de ação é mesmo Bauru e arredores. Na verdade, ele descreveu esse enredo introdutório só para desaguar sua linha de pensamento em algo bem local. Vamos aos fatos: “Não dizem que pau que dá em Chico, dá em Francisco ou mesmo, se algo foi ‘delcidido’ lá deveria ter o mesmo procedimento em ‘delcidimento’ daqui? Pois bem, explico onde quero chegar. O bicho pega em Bauru quando empresários estão depondo na Comissão de Fiscalização e Controle do Legislativo e lá denunciando pedidos de propina em troca de concessões de áreas públicas para instalação de comércio e indústrias. Fala-se de R$ 10 a R$ 20 mil por caso e tudo envolvendo diretamente gente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Pois bem, diante disso o secretário da pasta ameaça com processos os depoentes por denunciação caluniosa, sob alegação de proteger os trabalhadores e a administração. Alguns vereadores, como Moisés Rossi contestam essa versão. No rádio ouço o Tizoco da 94 FM falando em algo beirando o constrangimento de novos depoimentos. Daí, encerro o que penso, juntando o tal procedimento do juiz lá na partida de futebol e a prisão do senador. Se penalizou ali, penalize aqui e se ali existia um cerceamento , o mesmo não ocorre aqui? Pensemos todos nisso tudo”, e dessa forma sai voando em busca de algo para fazer, numa cidade tão cheia de providências a serem tomadas.

OBS.: Guardião é arte pura, ficção em forma de verdade, desenhos a cargo de Leandro Gonçalez e pitacos escrevinhatórios e mafuentos desse impertinente e desajustado, o HPA.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

COMENDO PELAS BEIRADAS (08)


“QUANTOS MIL GASTARAM E O QUE MUDOU NELA? ESTÁ TUDO IGUAL..."
Essa foi a frase que ouvi da boca de muitos que circulavam pela praça Rui Barbosa, quando hoje pela manhã os funcionários da Prefeitura Municipal retiravam os tapumes e a devolviam para utilização da comunidade. Ufa! A praça é novamente do povo e para o povo, mas... Esse mas é por minha conta e risco. Estava passando por ali hoje justamente no momento em que eram descerradas as tais placas e diante do que ouvia, principalmente por gente acostumada muito mais que eu e com conhecimento de causa para criticar: ambulantes, aposentados, comerciantes e tudo o mais que existe ao redor e no interior de uma praça central, ou seja, o povo. Pelo que deu para sentir, pelo tempo gasto na reforma, pelo alto investimento e pelo alarde do que seria feito, o entregue não deve ter correspondido às expectativas gerais. Querendo entender isso tudo produzo esse texto.

Comento o que vi feito. O coreto todo remodelado, lindo, impecável (foi onde mais detive minha atenção). A área do chafariz idem. Uma linha de azulejos de piso cortando a praça de fora fora, desde a igreja até a rua Primeiro de Agosto, como se fosse um tapete, algo novo, bonito. E margeando a igreja, desde a rua Gustavo Maciel até a Antonio Alves, uma linha demarcatória como piso (estreita, tamanho de um lajota) próprio para guiar cegos. E, por fim, os banheiros, pelo visto ainda não totalmente concluídos, mas gradeados (não entrei no seu interior e isso nem era possível naquele momento). Claro, junto a isso um serviço de jardinagem em algumas partes, não no todo. E os últimos retoques, de devem ser dados a seguir antes da entrega definitiva. Foi isso. Agora, deixo como perguntas, como dúvidas a serem respondidas por quem de direito um algo mais:

1 – Quanto foi gasto no todo para a tal remodelação da praça?

2 – Houveram aditivos pagos para empresa executora da obra?

3- Quando a mesma foi fechada e daí a computação de quanto tempo permaneceu fechada?

4 – Somando o valor investido e o que foi apresentado como resultado, existe de fato o entendimento de que o todo foi um bom investimento?

5 – Para o que foi feito seria de fato necessário todo esse tempo?

6 - Teremos evento de reinauguração ou a entrega será simplesmente feita com o acesso do povo e nada mais?


Deixo isso como porta de entrada para um ampliado e necessário debate, afinal, estamos falando de dinheiro público. Na verdade, ouvi o início de uma espécie de lamurio no local e o repasso da mesma forma, ou seja, repassado como título dessa peça reclamatória e com pedidos de explicação. Percebam que não teço críticas com elevação de voz, nem contesto nada, somente questiono, pergunto e busco maiores informações, para só assim emitir uma opinião mais abalizada. Vejo sim, a princípio, um tempo prolongado demais para obra considerada de pequena monta. No mais, peço a tudo, todas e todos que confiram como o fiz e ampliemos a discussão. Publico todas as dezessete fotos que ali tirei, relatando também que naquele momento, um grupo de funcionários da operadora telefônica Vivo estavam se preparando para descer o calçadão e ali se concentravam, sendo esses o primeiro grupo de pessoas a efetivamente ocuparem o novo espaço. Nada mais.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (85)


UNESP BAURU UNIDA CONTRA O RACISMO – INÉDITA CONGREGAÇÃO ABERTA DEMARCA POSICIONAMENTO
Três coisas movimentam Bauru nessa tarde de terça, 24/11. A primeira é a forte chuvarada a estraçalhar com uma cidade pouco preparada para intempéries. Depois, a alegria de ver a terceira escola estadual sendo ocupada na cidade, numa reação mais do que necessária contra a brutal e esdruxula remodelação da Educação estadual proposta pelo governador Alckmin. E por fim, ocorreu hoje a apresentação dos trabalhos apurados pela Comissão Preliminar de Natureza Investigativa da UNESP Bauru, em razão dos fatos e atos racistas praticados no seu Campus contra o professor Juarez Xavier. Na Reunião Aberta (uma inédita e valorosa iniciativa) , das 14 às 15h, na sala dos Órgãos Colegiados, presidida pelo diretor da FAAC, o professor Nilson Ghirardello apresentou o documento com os resultados finais lidos pela presidente da comissão, a professora Maria Cristina Gobbi. Um resultado dos mais importantes na luta contra toda e qualquer ato discriminatório que porventura possa ocorrer novamente nesta universidade pública.

Diante de uma plateia atenta, aliada à presença de vários órgãos da imprensa local, o repúdio foi divulgado na forma de um incisivo documento, tendo como pontos mais importantes o fato de suas decisões terem sido tomadas e recomendadas como premissas básicas para todo o campus universitário. Ficou claro terem sido buscados os mecanismos para elucidar os autores das inscrições racistas em alguns de seus banheiros. Segundo o documento, todos os envolvidos foram amplamente ouvidos e várias medidas estão sendo tomadas para coibir a repetição de atos da mesma natureza. ”O fato ocorrido dentro de um ambiente educacional, espaço para desenvolvimento e ação totalmente oposta ao ocorrido, mostra que se faz necessário uma ação imediata. (...) Veemência e indignação diante dos fatos, além da inquietação com as inserções feitas, causando indignação, revolta e tristeza. (...) Dois crimes, a saber, o de injuria racial e de racismo. E dez recomendações básicas aos envolvidos (...) Não logramos êxito na identificação dos autores, dessa forma pedimos o Arquivamento do processo”, foram algumas das palavras lidas pela professora Gobbi.

Todas as cinco pessoas formando a mesa fizeram uso da palavra. Quem primeiro falou foi Nilson Ghirardello, diretor da FAAC: “Casos como esses acontecem não porque somos omissos, mas exatamente porque somos ativos no combate a esse tipo de ação. Não é pela falta de atitudes positivas, mas exatamente porque elas existem e são atuantes”. Na sequência o Assessor Jurídico da Unesp, Luiz Fernando complementou na mesma linha: “A universidade não teve forças suficientes para identificar os autores, mas devemos desculpas ao senhor, professor Juarez. Tenha a grandeza de aceita-la e tenha certeza, a situação aqui não se encerra. Muito obrigado e desculpas”. O representante da OAB local, advogado Eduardo Borgo ressaltou: “Essa uma páginas das mais tristes e a OAB como sempre se coloca ao lado do agredido. Esse é o nosso papel, o de estar sempre a frente e representando pessoas que tem e também as que não tem voz contra crimes de injuria e racismo. O ocorrido servirá e muito no combate contra novas investidas de atos racistas e de discriminação”.

Uma fala das mais inflamadas foi a do professor aposentado, diretor do Observatório de Direitos Humanos da Unesp Bauru, Clodoaldo Meneghello, feito de forma calma, porém dura e com um algo a mais sobre procedimentos que se repetem dentro do campus universitário. “Essa uma questão mais acadêmica do que ética. Ao falar do jornalismo, do cientista, do engenheiro, penso no comprometimento da profissão dentro das injustiças do país. Não devo discutir só da pessoa ser ética, mas do professor, do profissional representando sua categoria o ser. Se vocês lerem o que é contido oficialmente nas letras do que é cantado pelos alunos da Atlética em suas festas, ali algo a ser repudiado. Algo do esvaziamento do compromisso ético político das instituições públicas no país. O que está escrito nos banheiros eu vejo desde muito tempo, desde pequeno, mas temos que, agora deixar claro nossa indignação. Uma universidade deve remar contra o individualismo, o consumismo e o neoliberalismo em curso”, disse o professor.

Na sequência quem fez uso da palavra foi o representante na Comissão dos Técnicos Administrativos da Universidade e toca num outro ponto nevrálgico: “O que mais marcou na apuração foi o depoimento das senhorinhas da limpeza. Elas, a princípio acharam que aquilo era para elas. Disseram-nos, ‘limpamos diariamente tudo o que fazem e recebemos isso em troca, recebemos isso como resposta’. É muito ampla a discriminação ocorrida dentro da universidade, o que me faz perguntar: que tipo de ser humano estamos formando dentro da universidade? Se faz necessário cada vez uma maior atenção para o lado humano nas questões”.

Por fim foi dada a palavra para o professor Juarez, sobre como entendeu os resultados apresentados de forma pública e aberta. “A Congregação Aberta deixa claro o compromisso da universidade democrática e progressista. A Comissão foi extremamente zelosa, respeitosa e técnica, entendendo de forma primorosa o que estava em questão. Dois trabalhos devem ser destacados. Foi uma nova oportunidade para a Unesp e com as recomendações postas em prática, a demonstração que a intolerância não será permitida. A posição está clara, esse tipo de ação não será tolerada. O ocorrido mexeu com a própria universidade e daí as muitas ações sistemáticas em conjunto. Algo já estava ocorrendo. Vi isso nas últimas três edições da nossa revista, a Unesp Ciência e em todas algo sobre a questão. Ou seja, uma boa oportunidade para promover mudanças na universidade, daí nada melhor do que encaminhar o aqui decidido para as suas instâncias superiores. Importante a universidade como instituição se posicionar com respeito ao tema. Também importante um contato com o Ministério Público, uma provocação para assegurar os direitos consagrados em nossa Constituição. Se algo assim é intolerável na sociedade, dentro da universidade a sua proporção é ainda maior, daí a necessidade da continuidade desse debate continuar ocorrendo aqui dentro. Envolver toda a comunidade unespiana, um pacto no combate às micro violências repetidas dentro da universidade. Não tolerar nenhum tipo de tolerância”, foram suas palavras.

Dessa forma, a Unesp Bauru faz história, marca posição e demarca território. De forma pública, explícita e ampliada, em uma só voz, algo contundente contra qualquer tipo de ato racista ou similar. Um ponto mais do que positivo numa questão onde alguns setores da sociedade ainda se mostram complacentes, muito tolerantes com algo que não é novo, mas está a se aproveitar do momento e colocando a pontinha do rabo de fora, com um algo aqui e outro ali. Pelo visto, uma coisa ficou claro no que foi dito por todos seus membros e referendando pelos presentes: na Unesp Bauru isso não terá vez, voz, espaço e muito menos guarida.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

CARTAS (150)


AOS APOIADORES DA BEATIFICAÇÃO ALCKMISTA*
* Carta de minha lavra e responsabilidade publicada na edição de hoje do Jornal da Cidade - Bauru SP, Tribuna do Leitor:
O Governo Estadual comandado por Alckmin e ele mesmo enquanto pessoa possui uma infinidade de fiéis seguidores no estado de São Paulo, desses que o defendem com unhas e dentes e sob quaisquer circunstâncias. Não escolhem a causa, nem olham os motivos. Agem assim: partindo do governador, aplausos e apupos. Mesmo em casos de hesitações, erros e pisadas na bola, a ‘tropa de choque’ busca os culpados na oposição, mesmo essa não tendo motivo algum para ser culpabilizada. Essa “beatificação” do Alckmin é danosa para a sequência dos trabalhos, pois lhe passam às mãos na cabeça até nos mais descabelados erros. Não é só questão de falta de seriedade, tratando-se também de algo muito perigoso, uma espécie de salvo conduto para que faça daqui por diante tudo ao seu bel prazer e sem possibilidade de discordância. Algo necessitando de ser desestimulado, afinal, ninguém é perfeito e acerta sempre, muito menos Alckmin.

O exemplo mais recente e gritante é o que fica demonstrado na carta publicada na Tribuna do Leitor, JC de 22/11, “Aos apoiadores da Apeoesp”, escrito por Kleber R. Moni. Seu texto é todo construído para confundir, misturar fatos, espalhafatoso e ineficiente. Claro que a Apeoesp não é nenhum exemplo de sumidade em acertos, mas querer culpar ela pelos caos causado pela insanidade da reestruturação educacional em São Paulo é no mínimo grotesco. Inaceitável a intencional bobageira de misturar uma específica queima de livros com Alemanha Nazista, mascarados professores com ideologia marxista e doutrinação em sala de aula com deixar de ensinar. Isso só existe na cabeça de gente totalmente despirocada da realidade, enxergadores de fantasmas até em vento ao contrário. Menospreza também a organização e conscientização estudantil e joga toda a culpa no sindicato, nunca no atual Governo e em suas maléficas pretensões. Percebo a incitação a um bestial e desqualificador medo coletivo em curso, algo sendo tolerado, pois servem a algumas conveniências. Ou abortamos essa linha de ação totalmente fora da realidade, ou estaremos propiciando o surgimento de uma verdadeira caça às bruxas logo mais na curva da esquina. Repúdio é pouco para tudo o que li. Quem fundamenta num só texto tantas inverdades não pode passar impune, tem que responder pela brutal e insana provocação, item por item.

Escrever é um ato de coragem, mas quando se coloca no papel uma infinidade de admoestações grotescas à adversários, provocações desnecessárias e com a clara de intenção de causar, de gerar o ódio, a resposta irada e o confronto, além da falta de responsabilidade, a perversidade de querer desestabilizar o já instável momento claudicante brasileiro. Um texto como esse deve ser repudiado pelo próprio homenageado, o governador, pois o vejo com a mesma intenção bajulatória daquele cidadão que o quis homenageá-lo com troféu e diploma pela gestão eficiente da água em São Paulo. Menos, gente, muito menos. Apoiem, sem problemas, mas sensatamente, sem falácias e enaltecimentos acima do razoável. Ou ele já é santo e não sabíamos?

Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História.

Leiam também o texto que gerou minha resposta, AOS APOIADORES DA APEOESP e confiram se tenho ou não motivos para a escrita:http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=241225

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (78)


AOS MÚSICOS - UM TEXTO NO JORNAL E ALGO DE MINHA LAVRA E RESPONSABILIDADE
Abro o JC de ONTEM e na página 2 um belo texto do João Pedro Feza sobre os músicos. Não me canso de repetir vivermos em Bauru uma situação privilegiada, pois estamos rodeados de ótimos músicos. Ouço diariamente, se quiser, quando boto o bloco na rua, o melhor da MPB em vozes divinais e em lugares os mais diversos. Realmente e tão somente um privilégio. Olho para a região de Bauru e cada vez mais me certifico disso. Mas quero tocar em outro assunto e espero com isso não ferir o sentimento dos tantos amigos músicos. É uma simples opinião, compartilhada ontem com o Luis Giannini de Freitas, numa mesa com cevadas variadas, na escolha de rainha de Escola de Samba. Vejo muitos músicos bauruenses com claro posicionamento mais voltado para o pensamento dito de direita, linha conservadora. A imensa maioria deles com uma situação nada estável, cheia dos mesmos problemas que todos os demais na labuta diária dos nossos tempos, luta contínua e incessante, mas muitos possuindo um claro posicionamento de defesa do estabelechiment do capital. Quando escrevo direita/esquerda, passo ao largo da defesa do atual Governo Federal, de Lula ou Dilma, mas de um pensamento menos conservador. Poderiam me dizer que esse é o pensamento dominante hoje em dia, o mais conservador, principalmente em São Paulo e isso não deveria assustar. Não me assusta, mas talvez pelo fato de ter crescido ouvindo uma geração de músicos que não se colocavam de jeito nenhum ao lado dos posicionamentos mais conservadores e defendiam com belas letras temas mais sociais. Cito alguns: Gonzaguinha, João Bosco, Ivan Lins, Beth Carvalho, Martinho da Vila, Alceu Valença, Raul Seixas, Mercedes Sosa, Milton Nascimento, Chico Buarque de Hollanda, Aldir Blanc, Zeca Pagodinho, Leila Pinheiro, Elis Regina e tantos outros (as). Trata-se de uma mera reflexão, não generalizo quando a faço, nem a faço pensando em específicas pessoas, somente uma observação feita sem maiores aprofundamentos. Por toda essa aura permeando o meio musical, sempre espero achar bons revolucionários do outro lado das belas vozes. Só isso. No mais, adoro continuar convivendo do belo repertório proporcionado pela cena musical bauruense. Bom domingo a tudo, todas e todos. HPA

AOS MÚSICOS - JOÃO PEDRO FEZA
Que surpresa para um expert em nada: sediada no litoral, a rádio Santa Cecília assim se chama por ser Cecília a santa padroeira dos músicos. Oportuna revelação para hoje, Dia do Músico.

Meio avoado e muito concentrado quando preciso. Muito preciso quando inspirado: taí um resumo visual desse ser bacana entre humanos ouvintes. De fato, sem os músicos, estaríamos atordoados num silêncio sem melodia. Como Teseu num labirinto quieto e vazio.

Do virtuoso ao mais econômico em notas e frases, o músico ajuda a dar algum equilíbrio na nossa rotina caótica - ainda que a própria rotina dele seja, por vezes, uma bagunça. Dizem que a mesa bagunçada no trabalho é sinal de que a pessoa dali é criativa. Redenção? Minha mesa clama por arrumação, mas que nada: eu me apego à tal crença da criatividade no sonho de ser agraciado com alguma boa ideia.

Existiria aí algum músico cuja mesa seja arrumada? Aliás, existe músico que faça sistemático uso de mesa? Sei não, o músico é a própria imagem da liberdade. Isso é sedutor. Tive uma colega de trabalho que dizia: “Não resisto a um cara com guitarra no palco”. Na época, quase comprei uma. Há mesmo um brilho nesse negócio de estar numa plataforma ligeiramente elevada em relação aos demais. Mas não se pode “pagar pau” sem critério: há músicos mais ou menos. Porém, até mesmo aquele não provido de tantos recursos, pode - se quiser - compensar com estudo, empenho, atitude e alma inventiva. Fico especialmente feliz em perceber quantos ótimos músicos tem Bauru. Chego a suspeitar que a água que chega na minha casa não tenha a mesma fonte: a dos músicos deve ser um aquífero específico, que só abastece quem já tem algum talento latente. Dessa água somos todos apreciadores de alguma forma.

A boa notícia é que a fonte é inesgotável e, em que pese o predomínio comercial de um ou dois gêneros, sempre haverá uma nova safra de músicos espetaculares a matar nossa sede de som. Por falar nisso, hoje tem chorinho (Jd. Botânico, 10h), samba paulista (Sesc, 16h) e rock (Pq. Vitória Régia, 17h) só para ficar nas atrações gratuitas. E, mesmo que você não saia de casa, pense na música que mais gosta. E, em intimista homenagem aos músicos, tire três minutos e meio para novamente ouvi-la. Nietzsche, o filósofo e compositor alemão, teria dito: “A vida sem música seria um erro”. Não vamos errar justo num dia de domingo.

O autor é editor executivo do JC:
 http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=241218

domingo, 22 de novembro de 2015

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDOS (123)


"EU SEI, MAS NÃO DEVIA"


VOLTO DA FEIRA E UM TÍTULO QUE DIZ TUDO...
Volto nesse exato momento da feira, mais precisamente da do Rolo, o congraçamento humano mais harmonioso na Bauru dos tempos atuais. Sol efervescente sob nossas cabeças, calor escaldante, fumacinha subindo dos paralelepípedos e um povão a lotar as transversais das ruelas ali entre barracas. Sento junto à banca do Carioca, o lugar onde se discute trivialidades mil e beberica-se cevada de inúmeras procedências. Na saída vejo uma imensa amiga com um livro às mãos e com o título dissertações e divagações inúmeras e intermináveis: "EU SEI, MAS NÃO DEVIA". O que devemos, podemos e temos que saber e o quanto o saber de algo acaba por transformar nossas vidas em algo mais ou menos palatável. Viajando com tudo isso na cabeça, venho almoçar junto aos meus. Decido: Já não quero saber mais nada, melhor assim. Cabeça vazia, devo deixar a vida me levar? Tropico no caminho com tanta coisa na cabeça. A leveza nos faz levitar e passar ao largo de certas coisas.


HOJE TEM BALLOTAGE NA ARGENTINA - MARCHA DE LA BRONCA

Ballotage para eles, los hermanos é a votação do segundo turno (segunda vuelta). Numa disputa pau a pau, centímetro a centímetro e tanto lá como aqui (Dilma x Aécio), a eleição presidencial sendo decidida cabeça a cabeça. Na disputa, o governista SCIOLI, indicado por Cristina e MACRI, prefeito de Buenos Aires e ex-presidente do Boca. Algo como aqui, petralhas e tucanalhas, dita esquerda e direita num confronto angustiante. A decisão é amanhã e já se anuncia que Macri não aceitará a derrota e Scioli promete prosseguir os avanços sociais implantados por Cristina. Do lado dos governistas, o anúncio de que com a derrota a invasão neoliberal será completa e avassaladora (a qual concordo) e do outro, a da oposição, a de que perdendo, o país continuará caminhando para o caos (o que discordo). Conto algo musical da disputa. Uma famosa música, essa que aqui reproduzo, MARCHA DE LA BRONCA, com Leon Gieco, Lerner, Cordera, Calamaro & outros, escrita anos atrás em forma de denúncia contra as barbaridades de um mundo rodeado de “mentiras organizadas e moralistas”. Daí o motivo da tal bronca. Os dois lados da briga eleitoral fazem montagens e a utilizam ao seu bel prazer, como se a bronca só ocorresse do outro lado, como se as mazelas das dificuldades argentinas estivessem localizadas só nos erros do adversário. Não entro na contenda, mas posto a versão original, gravada num estúdio e com seus autores em cena. Linda, aliás de arrepiar. Para encerrar e como não escondo de ninguém minhas preferências, torço por SCIOLI, pois acompanhando o posicionamento de cada grupo, percebo nitidamente o retrocesso que o país vizinho terá com um governo neoliberal, conservador e agressivo com minorias e lutas sociais. O caminhar se faz sempre para a frente... Cliquem a seguir para ouvir a linda canção:https://www.youtube.com/watch?v=836cQtEw1YQ Querendo tomar conhecimento das outras versões, o google e o youtube estão aí para isso, mas o que vale é essa, linda na essência e no momento de sua elaboração.

HOJE PODE SER UM GRANDE OU UM MAL DIA...
Acompanhando a eleição na Argentina, Scioli x Macri e o sucessor de Cristina Kirchner saindo desse pleito, segundo turno em curso. A partir de janeiro transformações profundas ou não na política do Cone Sul e, consequentemente, no Mercosul e em toda política latinoamericana. Alternâncias de poder devem ser algo mais do que normal numa sociedade dita democrática, mas impossível não ocorrer um entristecimento diante de uma real possibilidade do atraso do neoliberalismo declarado e despudorado voltar a governar um país. Tanto lá como cá, dois países totalmente divididos e o mesmo que enfrentamos agora, essa divisão muito mal resolvida pode também vir a se repetir no vizinho país. Vale a pena espiar o que diz exatamente nesse dia o Página 12: www.pagina12.com.ar.Ouço uma rádio argenbtina nesse exato momento, a Continental, onde atua um dos melhores jornalistas daquele país, Victor Hugo Morales. Espiem um pouco do debate fluindo pelas ondas do rádio, algo que vejo pouco, quase nada por aqui: http://www.continental.com.ar/player.aspx?id

PRÊMIO MAIS ORIGINAL DE BAURU
Não existe outro igual. Todo ano o mesmo maravilhamento se repete e se consolida. É lá no distrrito de Tibiriçá, 10 km de Bauru. A família Baté reúne forças e faz uma festança para homenagear aqueles que estiveram ao lado da comunidade representada por eles durante o ano que se encerra. Reúne as famílias do lugar, junta a comunidade e justamente no Dia da Consciência Negra, 20/11, também de Zumbi dos Palmares promove o almoço e a entrega de medalhas com a insignia de Zumbi. Nesse anos foram 30 homenageados. E parte da cidade segue para lá, no imenso barracão do Centro Comunitário e com um belo de um almoço, o congraçamento humano é elevado à sua máxima potência. A premiação por lá não tem jabá, muito comum em outros prêmios pela aí, mas a sinceridade dessa gente mais simples e como entendem devem ser as homenagens entre os seus e os que estão e estiveram ao seu lado. Publico um álbum com algumas fotos da festança desse ano. Olhem bem e vejam, se na maioria das vezes, eles não acertam em cheio. As fotos lá tiradas dizem mais do que minhas palavras. Viva os Baté, a festação promovida por eles, Tibiriçá e Zumbi dos Palmares.

Magia Negra
Magia negra era o Pelé jogando, Cartola compondo, Milton cantando. Magia negra é o poema de Castro Alves, o samba de Jovelina…
Magia negra é Djavan, Emicida, Mano Brown, Thalma de Freitas, Simonal. Magia negra é Drogba, Fela kuti, Jam. Magia negra é dona Edith recitando no Sarau da Cooperifa. Carolina de Jesus é pura magia negra. Garrincha tinhas duas pernas mágicas e negras. James Brown. Milton Santos é pura magia.
Não posso ouvir a palavra magia negra que me transformo num dragão.
Michael Jackson e Jordan é magia negra. Cafu, Milton Gonçalves, Dona Ivone Lara, Jeferson De, Robinho, Daiane dos Santos é magia negra.
Fabiana Cozza, Machado de Assis, James Baldwin, Alice Walker, Nelson Mandela, Tupac, isso é o que chamo de magia negra.
Magia negra é Malcon X, Martin Luther King, Mussum, Zumbi, João Antônio, Candeia e Paulinho da Viola. Usain Bolt, Elza Soares, Sarah Vaughan, Billy Holliday e Nina Simone é magia mais do que negra.
Eu faço magia negra quando danço Fundo de Quintal e Bob Marley.
Cruz e Souza Zózimo, Spike Lee, tudo é magia negra neles. Umoja, Espírito de Zumbi, Afro Koteban…
É mestre Bimba, é Vai-Vai, é Mangueira todas as escolas transformando quartas-feira de cinza em alegria de primeira.
Magia negra é Sabotage, MV Bill, Anderson Silva.
Pepetela, Ondjaki, Ana Paula Tavares, João Mello… Magia negra.
Magia negra são os brancos que são solidários na luta contra o racismo.
Magia negra é o RAP, O Samba, o Blues, o Rock, Hip Hop de Africabambaataa.
Magia negra é magia que não acaba mais.
É isso e mais um monte de coisa que é magia negra.
O resto é feitiço racista.
Sérgio Vaz (poesia passada a mim por Renata Santin).


UMA FESTA NO SEIO DE UMA ESCOLA DE SAMBA
O saboroso, o mais prazeroso dentro de uma escola de samba são suas intestinais festas, onde a possibilidade real de congraçamento humano. Encontros e desencontros, onde o que verdadeiramente vale é a possibilidade do reencontro, do estar um diante do outro, do falar de coisas em comum e mais que tudo, sambar juntos, irmanados, pois quando de um desfile uma estabelecida rivalidade. Esse princípio de conversa, as retretas preliminares são as mais saborosas desse mundo. Fui em uma ontem, sábado, 22/11, lá num buffet no Geisel, quando a Escola de Samba Coroa Imperial promoveu a escolha de sua rainha para 2016. Léo Lima apresenta o samba enredo Tropicália, sobre a América Latina. Eu, com essas poucas fotos não quero comentar nada das escolhas, das decisões tomadas, dos encaminhamentos feitos. Quero sim, dizer duas ou tres palavrinhas sobre isso dessas reuniões de gente do samba de Bauru. Vi muitos das mais variadas escolas no salão e todos sorrindo, alegres, pimpões, dançando e cantando. Um verdadeiro e original culto à alegria. É o que vale, ainda mais num mundo cheio de possibilidades de desunião, onde um tal de ódio de classe insiste em levantar sua bestial voz. O meu contentamento num lugar desses é sem fim. É o que tento expressar nas fotos que por lá tiro e agora espalho ao mundo. Gosto de ressaltar em flashes a fisionomia das pessoas, principalmente as da comunidade, os que labutam o ano inteiro e que defendem de fato e de direito o amor por sua escola. E quando em estado de alegria, tudo fica mais lindo, cresce a importância, o significado bonificante de se reunirem e festarem em conjunto. Viva o sorriso humano!

sábado, 21 de novembro de 2015

RETRATOS DE BAURU (179)


JAPHETTE É O BENIN EM BAURU, ALEGRIA PURA E SINCERA ENTRE NÓS

Meu texto de hoje é para homenagear uma pessoa com poucos anos de Bauru, mas conhecida por uma infinidade de pessoas. Mais e mais, dessas que batendo os olhos, a certeza de estar diante de alguém diferenciado, cheia de muita luz mais que própria. Uma pessoa que nem bem chegou, uns três anos atrás, já está com data marcada para nos deixar, final do ano que vem. Pela marca pessoal que está imprimindo em sua passagem por uma atônica Bauru, trata-se dessas pessoas marcantes, irradiantes e cativantes. Escrevo um pouco dela justamente hoje, no dia da Consciência Negra e aproveito para também lembrar de Luiza Mahin, uma beniense como ela.

Começo com texto dela entre aspas: “E dai, tinha chegado a minha vez de ser homenageada. A presidente do conselho negro olhou na minha direção e chamou: JAPHETTE OZIAS LANTONKPODE, filha de Nicole Bada e Patrice Lantonkpode, nascida em Benin (África). Naquela hora, eu percebi que esse premio não era só meu. Estavam sendo homenageados euzinha, os meus pais, e todos os beninenses. Das mães da minha madrinha, mãe adotiva, amiga, e companheira de luta Nina Barbosa, eu recebi meu prêmio. A pessoa curiosa que eu sou fui pesquisar sobre a biografia da Luiza Mahin. Vendida como escrava, a Kehinde foi tirada de Savalou, no Antigo Daomé (atual BENIN) para o Brasil. E depois, recebeu o nome de Luiza. sim! o meu premio carrega o nome de uma beninense, que lutou pelos seus direitos. Não poderia ser melhor”. Agora o que sei dela. Pouca coisa. Estava infeliz em seu país cursando algo onde não se encontrava. Buscou algo na Alemanha, chegou a estudar a língua, mas pelo custo abortou a ideia. Foi quando pintou a possibilidade de uma bolsa no Brasil. Deu tudo certo, veio e ano que vem conclui o curso de Design na Unesp Bauru. Trouxe tecidos de seu país e ao conhecer a Nina, aturbantou a cidade inteira. Risonha, graciosa, transbordando alegria, vence barreiras, galga degraus e toca seu barco com sapiência e maestria. Por concentrar tudo o que é num só ser conseguiu um grande feito, o de superar os obstáculos de uma africana no meio da terra do sanduíche. Achou sua turma e daí por diante, viceja. Tem quem não a quer mais indo embora, mas tem do outro lado do oceano outros que a aguardam para colocar em prática os ensinamentos aqui adquiridos. E tem um beniense terminando doutorado na Alemanha, o namorado e também retornando quase ao mesmo tempo que ela. Aproveitem, ela tem pouco mais de um ano entre nós. Viva OZIAS JAPHETE LA BLESSED.