sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

MEMÓRIA ORAL (156)


ALGUNS PERSONAGENS QUE FAZEM O CARNAVAL DE BAURU – RELATOS DESSE HPA
Abro minha caixa de e-mail hoje e lá mais um reconhecimento. Uma revista de grande circulação deve ter tomado conhecimento de alguns perfis escritos por mim sobre carnavalescos de Bauru. Pede para que envie alguns, pois pretendem publicá-los. Junto tudo na correria, pois meu tempo urge hoje por aqui e alguns reproduzo novamente aqui, pois já saíram no facebook com o título de “Personagens sem Carimbo – o Lado B de Bauru”. São oito no total e no final, o relato de dois amigos que desfilam comigo no bloco “Bauru Sem Tomate é Mixto”.


ATHAIENE LUCIANA B. tem o samba no pé, parece já ter nascido com ele ali colado ao seu corpo. Aos 22 anos, faz um curso profissionalizante de Segurança do Trabalho e está em busca de uma boa colocação no mercado de trabalho. Mora no Mutirão Primavera, ali logo abaixo do jardim Redentor e sempre que ouve o sinal do samba, cai nele. Nesse ano, o chamado foi o da escola Coroa Imperial, do Geisel e lá, embalada pelo sonho de voar (de nada menos que Ícaro), a menina voará em algum lugar de destaque. Ele tem assombrado os que a veem nos ensaios, deslumbrado olhos e despertado a cobiça dos que manjam de que nesse negócio de samba no pé, não adianta ser indicada por ninguém, tem mais é que provar ali no sapatinho, no gingado da música rolando. Foi trazida para a escola por um dos seus diretores, Jeremias e a cada vez que inicia o sapateado, ganha mais adeptos e admiradores. Sua mãe também está engajada na escola e dessa forma, uma segue a outra, caminhos diferentes, mas de dedicação ao que está sendo preparado como espetáculo. Se faltaram até hoje boas oportunidades de trabalho, no quesito samba, parece estar fincando sua marca registrada e fazendo acontecer. Athaiene é uma dentre tantas, que luta por um lugar ao sol. E o sol está logo ali na curva da esquina.


ANA LUCIA TIBURCIO mora ali no Geisel, nas imediações do trevo principal, pertinho da Perdigão, tem 46 anos e recentemente passou poucas e boas por causa de uns mais que sérios problemas de saúde. Teve um aneurisma e a partir dele sua vida se transformou. Foram 35 dias internada e cinco em coma. As sequelas elas sente no dia a dia, mais lento, tentando e fazendo de tudo para se recuperar. Consegue por causa de uma força de vontade, dessas que não sabe direito onde busca. O que sabe é que, está fazendo de tudo e mais um pouco para sair novamente na escola de samba do seu coração, a Águia de Ouro, como madrinha da bateria, algo que conquistou ao longo dos anos, com muito samba no pé, dedicação e trabalho. Ana trabalha no Setor de Compras Administrativo de Eventos da Unesp Bauru, mãe de três filhos e esposa do Ulisses, sambista e radialista, vozeirão do samba na cidade. “Eu mesmo monto minha fantasia. Estou fazendo de tudo, mas se perceber que não vai dar, não desço no asfalto, como sempre fiz, mas num carrinho adaptado e no meio da bateria”, conta cheia de orgulho e satisfação. Sua casa está bem na esquina onde a escola ensaia, aliás o entorno de sua casa é toda envolvida com o festejo. Com um balcão na frente de sua área, tudo começa por ali na festa da Águia. Ana, mesmo ainda em recuperação, não para e ao ouvir a bateria batendo forte, não resiste, sai de casa e vai sambar no meio da rua. A torcida por ela é imensa e ela não decepciona.


VALDEMIR CAVALHEIRO, 46 anos gosta de se intitular “livre para voar”, após sua última separação. Ou seja, está com o coração vazio de um novo amor, mas por outro lado está mais do que ocupado como uma espécie de faz tudo da escola de samba Azulão do Morro. Acompanha Cidinha Caleda, a presidente em tudo., conquistando não só sua confiança, como o reconhecimento não só dela, mas de toda comunidade. Valdemir é conhecido por lá como o MI DO AZULÃO, trabalhando como operador de caixa numa rede de padarias na cidade e depois disso, dedicação exclusiva ao samba do parque Jaraguá. Sambista com mais de 30 anos de asfalto, começou na Mocidade Independente, foi campeão pela Império da Nova Esperança no ano do seu único título, o de 1986 e de pouco depois para cá só sambou junto do Azulão. Faz de tudo por ali, monta ala, fantasia, toca surdo e nesse ano pela primeira vez será um dos intérpretes do samba na avenida, junto de mais três pessoas. Morador da Vila Santista, fez de sua casa a extensão da escola, pois dentro dela monta com pessoas amigas e vizinhos alas que desfilarão na avenida. Mi desdobra-se para fazer tudo a contento, trabalho árduo, sem tréguas, porém sempre sorridente, alegre como deve serem tocadas as coisas envolvendo o Carnaval.


CLÁUDIO GOYA, 55 anos é famoso por toda Bauru como um dileto e competente professor do curso de Design na Unesp Bauru. São anos e anos de muita dedicação. Um daqueles que vive nas boas graças com os alunos. Acumula hoje o cargo de Coordenador do Curso e lá nada de braçada. Competente e uma audaz pessoa. Estatura mediana, jeitão malemolente de levar a vida, sabe extrair dela o que de melhor esse suco pode extrair. Pai de dois, vive feliz, alegre e pimpão ao lado do seu Marcelo, outra boníssima pessoa. A menina dos seus olhos é o seu Projeto de Extensão, denominado de LabSol – Laboratório de Design Solidário. Nesses dias juntou tudo e após receber um convite da Escola de Samba Coroa Imperial, baixou o santo sobre si e da noite para o dia transformou-se no carnavalesco da escola. Incorporou com tanto carinho e dedicação a tarefa, tornando-se por esses dias quase um escravo, entre rendas e paetês. Levou consigo o LabSol e o Neo Criativo (esse coordenado pelo professor Juarez Xavier), num congraçamento de jovens fazendo e acontecendo, propondo o novo de forma inspiradora para a escola lá do Geisel. Uma gente pensante e atuante. Goya sua a camisa, mas sua fazendo o que gosta. Quem o vê por esses dias nem o reconhece direito. Está tomado de um furor uterino, algo que o contagiou, tomou conta, fazendo com que coloque para fora o melhor de si, tudo em prol do que ninguém até então acreditava que ele pudesse se interessar, os bastidores dos festejos de Momo. Esse cara é um verdadeiro coringa.

GISELE APARECIDA BARONE, 50 anos é uma professora desiludida com sua profissão. Cansou de dar aulas, por aqui, Avaí e Pirajuí, cidades onde morou num passado não tão distante. Quando conheceu Chiquinho Saes, seu marido, envolveu-se de corpo e alma com algo que a pegou por inteiro, o amor pelo Carnaval. Primeiro foi com a escola de samba Tradição da Bela Vista, depois, em 1996, com a mudança deles para o Mary Dota, com a Tradição da Zona Leste. Mãe de duas filhas, avó de outras tantas, vê-la sentadinha num banquinho, ao lado de dois imensos isopores nos ensaios da escola, acontecidos numa quadra de futsal no meio do bairro, tudo descoberto, sujeito a chuvas e trovoadas é a constatação de que tem pessoas que fazem tudo e mais um pouco pela sua escola. Ela e Chiquinho juntam tudo, migalha por migalha, para ajudar a escola e transformou sua casa, num depósito, onde mal sobra espaço para dormirem. Isso perdura até o dia da festa. Gisele é incansável nos preparativos, uma espécie de faz tudo por lá, sendo também a que constrói o enredo. Quer mais? Vá lá para saber.

MARIA INÊS SILVEIRA é moradora lá do Santa Luzia, fazendo parte da conhecida e sorridente família dos “Fumaça”, conhecidíssimos mundo afora. Sua mana, Matilde, foi roupeira da Seleção Feminina de Basquete e viajou mundo afora, hoje de volta ao seio familiar. Essa digna representante dos Fumaça vive dignamente da coleta de material reciclado pelas ruas de Bauru e o faz sem pestanejar, uma das formas que encontrou para ter o que precisa, sem necessitar de pedir nada pra ninguém. Uma batalhadora e hoje, com mais de 60 anos no lombo, após concluir sua labuta diária se junta a outros dos seus e vai diariamente ao barracão da escola de samba Cartola e ali, presta um serviço de ajudante de limpeza, uma doação feita por amor ao samba e a pessoas que valorizam o que ela de fato é. Para a escola, Maria Inês é uma espécie de amuleto, sinal de sorte, sendo dela a primeira fantasia de gala, feita ano após ano, desenho milimetricamente traçado pelo carnavalesco Horácio. Semana que vem vai concorrer pela Cartola no Concurso Miss Terceira Idade das Escolas de Samba e lá estará, ela e seu inseparável sorriso e muito samba no pé. Quem a vê sambando, riso escrachado, malemolência por todos os poros, tem que reconhecer, o Carnaval não tem nada de festa pagã. Não vivemos só de pão e circo, mas o que seria de todos nós sem alguns necessários momentos de uma boa festança?

ANA CRISTINA IGNÁCIO SANTOS, 52 anos é a matriarca dessa família dos Santos. Vive no Mary Dota, mas adotou a Escola de Samba Azulão do Morro para, não só usufruir do bom samba, como levar consigo os filhos, GABRIEL DA SILVA SANTOS, 4 anos, mascote da bateria da escola e LARISSA CRISTINA SILVA SANTOS, 11 anos, rainha mirim da mesma bateria. Ana trabalha na CEF – Caixa Econômica Federal, agência da Nações e seus dois filhos estudam na mesma escola, o Colégio São Francisco, no jardim Bela Vista. Atravessam a cidade não só para estudar e trabalhar, como para sambarem, sendo vistos diariamente por esses dias defronte a casa de Cidinha Caleda, no Jaraguá, local de ensaio da bateria da escola, todos envolvidos com o samba no bairro. Incutiu cedo nos filhos o gosto pelo bom samba, já tendo abrigado em sua casa até dona Zica, a esposa do Cartola, quando em passagem por Bauru. O garoto toca caixa e repinique, a garota samba e a cada dia aprende um bocadinho mais e ela, a mãe acompanha e se prepara para comandar uma ala de passistas. O único que não samba é o marido, soteropolitano, preferindo ficar em casa. Dia desses a caminho do ensaio ouviu um lamento da filha em forma de pergunta, algo que faz questão de passar para frente: “Por que mãe, o prefeito esqueceu de cuidar desse bairro como cuida dos outros?”. Ana está ali ao lado da Cidinha exatamente por causa disso, o trabalho social feito no bairro. E, é claro, por causa do samba.

JÉSSICA DIAS DO NASCIMENTO é uma linda negra retinta, menina nascida e criada na região do Mary Dota, 22 anos, enfermeira do Trabalho, atuando todo santo dia das 23 às 6h da manhã numa famosa empresa do ramo de papel. Trabalha durante a noite e dorme toda parte da manhã e um pedaço da tarde. Já havia saído em algumas escolas de samba antes, como o Azulão do Morro e a Unidos do Samba. Pela primeira vez foi convidada a sair pela escola do seu bairro, a Tradição da Zona Leste e na eleição da Rainha do Carnaval emplacou o título. Bom sinal, começando sua participação com alegria, simpatia e amor. Ela é a própria alegria em pessoa, contando com a ajuda de muitos do bairro na concepção do que irá vestir: Eduardo fez a fantasia, Gê a maquiou, a Priscila a ensaia com rigor e aí por diante. Em casa um pouco de resistência, pois seu pai é pastor evangélico (“no começo falava muito, hoje não mais, viu que não adianta”, diz) e ela mesmo se diz uma evangélica em compasso de espera, não praticante. Dessa forma, o samba sai ganhando.


Não resisto e incluo no rol do carnavalescos um relato postado hoje na redes sociais pelo amigo Silvio Selva sobre ele e os loucos, dente os quais me incluo, assim como o outro com ele na foto, Esso Maciel: “Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais”. Posta finalizando uma frase, essa: “Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam”, JK, On the road.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (70)


UM BLOCO DO BALACOBACO ESSE “BAURU SEM TOMATÉ É MIXTO”
(Foi-me pedido um breve release para imprensa do que é o tal bloco e diante da rapidez que se fazia necessário, sem consultar ninguém, o que saiu foi isso).

Uma proposta diferente para o Carnaval de Bauru, um bloco carnavalesco que não sai no Sambódromo, não necessita de verba (nem pública, muito menos privada), não cobra nada de seus participantes, não possui abadá, muito menos cercados proibitórios e impeditivos, sai no sábado em pleno meio dia e por fim, reunindo todos os predispostos a populares e além disso, promoverem uma crítica social em cima de temas bem candentes no cenário da cidade Bauru. Trata-se do BAURU SEM TOMATE É MIXTO, com a volta da irreverência, da picardia, do bom humor e da necessária crítica social.

Focado em Bauru e cujo tema de sua marchinha para esse ano é “Bauru – Alegria sem Mixaria!”, numa alusão evidente com algo saído de dentro da Câmara dos Vereadores de Bauru, quando um dentre os três médicos vereadores, lá num certo dia, no auge da crise médica na cidade, do alto da tribuna profere algo assim: “Médico não trabalha por mixaria, quem trabalha por mixaria é médico cubano”. Pronto estava dado o mote para o bloco fazer sua rima principal, a “Bauru, Bauru, Bauru, cidade da alegria/ Bauru, Bauru, Bauru, onde o doutor não ganha mixaria!”. A partir daí, os autores Silvio Selva e Tatiana Calmon versam sobre um amplo universo, desde a enxurrada de títulos de cidadania (a maioria para pastores evangélicos – ainda faltaria um sem o tal título?), os problemas com os médicos que dão cano no atendimento (“estou querendo mesmo logo um doutor cubano”), a contenda na Seplan, o viaduto inacabado, a dívida crescente na COHAB, culminando com o tema da camiseta, “aquela coisa verde imitando Nova Iorque”, a estátua da Liberdade da Havan, cuja polêmica começo aqui e foi parar até no New York Times.

A estampa da camiseta desse ano é obra do artista Fausto Bergocce, seguindo indicação fomentada pelo bloco, passando literalmente o rodo na réplica da estátua da liberdade (essa em letra minúscula) da loja de departamentos Havan e fazendo sua festa no entorno dela deitada. Esse o melhor jeito encontrado pelos integrantes do bloco para continuar se divertindo e em cima de uma esdrúxula situação, a de uma está tua fincada no trevo de maior circulação da cidade, permanecendo ali como se fosse o portal de entrada de Bauru. Não o sendo e de gosto mais do que duvidoso, portanto, merecedora de toda jocosidade de quem ainda possui dentro de si o espírito livre, jovial, desordeiro e, principalmente, carnavalesco. Esse o espírito retratado no desenho, esse o espírito principal dos integrantes do bloco.

Pergunta-se muito sobre a “organização” do bloco e a melhor resposta é a de que ele prima pela desorganização. Quando organização houver, com certeza, ele terá perdido o seu espírito principal. O mesmo pode ser dito sobre seus organizadores. Existe sim um grupo que o fomentou ano passado, quando saiu pela primeira vez, mas afirmar que alguém possui o título de mando do bloco é algo que nenhum desses quer ter isolado sobre si, até porque os credores cairiam em cima dele assim de imediato. No grupo criado, me incluo, Henrique Perazzi de Aquino, assim como Oscar Sobrinho, Tatiana Calmon, Sílvio Selva, Rose Barrenha, Gilberto Truijo, Alberto Pereira, Helena Aquino, Ana Bia Andrade, Kananga do Alemão, Leandro Gonçalez e tantos outros.

Sairemos sempre no sábado de Carnaval, concentração na praça Rui Barbosa e descida pouco depois da doze badaladas da igreja da Matriz, descendo todo o calçadão da rua Batista de Carvalho e terminando seu percurso na praça Machado de Mello. Contamos sempre com a colaboração da CUT –Central única dos Trabalhadores que graciosamente nos empresta sua carriola móvel de som, que o ano todo é utilizada em atividades sindicais e nesse dia, para os festejos junto ao bloco (atividades também reivindicatórias, de cobrança e de contestação). Uma das únicas despesas é com os músicos, sendo que nas duas edições contamos com o Regional do Kananga do Alemão (seis componentes), descendo a pé, tocando instrumentos e cantando junto dos componentes do bloco e dos agregados que vão se juntando no percurso.

Esse ano por iniciativa coletiva foi instituído uma espécie de homenagem anual para alguém que o grupo considere relevante como pessoa humana, não só no ambiente do Carnaval, mas no da cidade num todo e como primeiro homenageado por decisão unânime o escolhido foi o artista plástico e multi polivalente Esso Maciel, com mais de 70 anos de irreverência, picardia e ousadia. Pensamos em dar-lhe como justa homenagem o título simbólico de Madrinha do Bloco, mas ele mesmo, após aceitar a comenda, o fez com uma só ressalva: "Prefiro MadrinhO, no masculino, pois sabidamente homossexual, sou macho". E assim o será.

A festa não seria completa sem a participação popular, aquela que se junta ao grupo ao longo do percurso, juntamente com muitos que aderem e já vem de casa com alguma fantasia previamente preparada. Todos são muito bem vindos. A cobrança da venda de camisetas se faz necessário, sendo essa a única fonte de renda do bloco para poder quitar seus compromissos financeiros com os músicos, os únicos também que estarão trabalhando no evento. Porém, quem estiver sem camiseta é muito bem vindo e poderá participar sem qualquer tipo de constrangimento. A intenção é continuar festando com o Carnaval, a maior festa popular brasileira e junto dela, poder unir a tão necessária crítica em cima dos problemas locais, pois dos nacionais as instâncias de cobrança são outras. Esse texto é mais um chamamento para os que ainda estão indecisos se devem ou não deixar o conforto de suas casas no próximo sábado e aderirem pelo festar na Batista. Espero ter convencido a todos e todas no sentido de que ainda vale muito a pena botar o bloco na rua. Contamos com a presença de todos (as). Quem perder essa é a “mulher do padre”.

HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO – pela desorganização do BAURU SEM TOMATE É MIXTO 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

UM LUGAR POR AÍ (48)


UCRÂNIA, UGANDA E VENEZUELA É AQUI, FICA ALI NA BENEDITO ELEUTÉRIO...
Na Ucrânia a voz das ruas não é a da democracia. No resultado das manifestações advinda das ruas o que está mais em evidência é algo muito semelhante com o quase finado Nazismo (toc toc toc), renascendo e querendo varrer qualquer vestígio/resquício de lucidez. Lei e respeitar o semelhante são detalhes de um passado vigente até pouquíssimos dias. Em Uganda um truculento presidente, insuflado pelo que de pior existe no quesito religiosidade, acobertado por uma espécie de Conselho Deliberativo desvirtua tudo o que possa ser recomendado como plausível ou mesmo, aceitável. O pior dos mundos, onde dar a bunda pode dar pena de detenção de até 14 anos e tão logo a lei foi promulgada, sai uma lista nos meios de comunicação com o nome de 200 contumazes homossexuais. Um eminente linchamento em praça pública. Na vizinha Venezuela, um presidente é eleito e nem bem começa seu governo, membros da oposição querem dar um golpe, tirá-lo do poder a fórceps, destituição na marra, insuflados pelo Grande Irmão do Norte. Instiga lutas fraticidas nas ruas, faz uso de corruptos como líderes, tudo para conseguirem seu intento. E parte da imprensa não enxerga o óbvio, sendo o fio condutor da valsa conspiratória golpista. Para esses vale tudo nessa hora, até desviarem do que eles mesmos tanto apregoam como caminho democrático. Quando o outro faz uso da mesma artimanha, pau nele, mas eles podem e aí, tudo bem, tudo é permitido. Desavergonhados.

Quando se pensa que algo nesse sentido só é possível em terras distantes, ledo engano, tudo pode estar se repetindo bem diante de nossos olhos e poucos estão se atentando para desvios no que prescreve o estabelecido, o combinado, o registrado, a legislação existente. Ontem, terça, 25/2, tivemos eleição no Esporte Clube Noroeste para composição do seu novo Conselho Deliberativo, encarregado dos destinos do time nos próximos anos. Que o Noroeste vive momentos de penúria ninguém tem a menor dúvida. Quando se esperava renovação, chegada de gente com a mente arejada, concepção moderna no modo de dirigir, o que se viu ontem foi algo no sentido oposto disso. Ouço dito por todos que lei foi feita para ser respeitada. No Noroeste isso não vale para nada. Pelo que li hoje exposto em relatos contundentes pelas redes sociais e parte da imprensa, a certeza de que o que foi feito rasga o escrito no Regimento vigente. Primeiro quem está lá não aceita nada diferente deles, pois divulgam que na existência de disputa, com chapa oponente desistiriam de tudo. Na discordância fazem biquinho, birra e levariam a bola embora. Muitos foram impedidos de participação no pleito, ouço da necessidade de um cheque de alto valor, comprovante cabedal financeiro. Pior que tudo, torcedores são ameaçados e menosprezados, demonstrando que a esses é só permitido torcer, nada mais. Na Ucrânia rasgaram as leis, tudo pelo novo. Em Uganda renegam o passado e impõem o que lhes veem pela mente. Na Venezuela os golpistas passam por cima de leis para derrubarem o legalmente eleito. Se existe alguma semelhança no Noroeste, mera coincidência. Tem coisas que valem um certo tempo, outras em nenhum tempo e outras são moldadas, modificadas ao sabor do vento. Uns podem fazer isso, outros nunca.


Em tempo: A rua Benedito Eleutério é onde fica a sede do Noroeste, a Panela de Pressão e a lateral do estádio Alfredo de Castilho.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

BEIRA DE ESTRADA (32)


BIOGRAFIAS NÃO AUTORIZADAS DO LADO B DE BAURU (03)
ESSO MACIEL, UMA VIDA DEDICADA ÀS ARTES E SUA DESPEDIDA DO CARNAVAL (será?) - (Texto publicado no jornal mensal Metrópole News, de Vinicius Burda, edição de fevereiro 2014):
Eu se pudesse largava tudo o que estou fazendo e ficaria horas e horas escrevendo só sobre meus amigos, temas que gosto, histórias recolhidas por aí, mas as ditas “obrigações do dia-a-dia”  me fazem correr atrás do que dizem ser “o prejuízo”. E vou na onda, sobrando algumas poucas horinhas para escrevinhações desses. As faço a toque de caixa. Hoje de um dileto amigo, ESSO MACIEL. Quando da realização do 4º SLAM – Festival de Poesia do Minuto em 26/08/2013, uma contundente declaração de outra amiga, Mariza Basso: “Foi a última aparição da Onça, conforme anunciado pelo seu criador Esso Maciel. Esso há muitos e muitos anos veste a pele da Onça geralmente para sair no carnaval, ontem no SLAM poético realizado no Museu Ferroviário de Bauru, a Onça Morreu! Esso deu um show de disposição e talento com seu jeito irreverente e polêmico. Um amigo querido fiel há muitos anos, meu primeiro ídolo teatral. Vida longa ao Esso!”. Isso teria que ser matéria de capa de todos os jornais locais, dar na TV, o rádio divulgar como algo a enlutar essa cidade. A Onça do Esso pendurou as chuteiras. Não vi uma linha em lugar nenhum. Essa foto da Mariza, a última de Esso como Onça já é histórica. Saúdo meu amigo Esso, aroeira pura nesse varonil torrão cheio de contradições homéricas. Dele, esse vídeo, também gravado por Mariza no último ato:http://www.youtube.com/watch?v=n6A9zBhHcko.

Esso é uma pessoa especial. Passando dos 70 anos continua um meninão, desses a aprontar com a vida. Leva a sua cheia de privações, num refúgio criado por ele mesmo, um canto onde criou um mundo particular, só seu. Lá nos altos da Vila Falcão, ele e seu caos veem a vida passar e não se importam com o que acontece nas ruas, o importante é que todos ali, ele e os cães possam continuar fazendo tudo como no dia anterior. Uma repetição feita com gosto, uma vida dedicada nos que realmente não lhe traem, esses seus verdadeiros e únicos amigos. Foram 30 no total, hoje não passam de dez. Sai pouco de casa e quando o faz, ainda choca algumas pessoas. Finge não perceber e cada vez sai menos. Doente, magro,  não se trata, deixa a vida lhe levar. Com o que ganha, uma merreca de aposentadoria, come mal e parcamente, mas não deixa que nada falte aos seus animais.

A Secretaria Municipal de Cultura lhe fez certa vez uma justa homenagem com a gravação de um histórico vídeo sobre sua vida, o projeto “Primeira Pessoa”, sendo ele o primeiro retratado. Na película está fino como um fio de cabelo, pesando pouco menos de 50 quilos. Um faquir, admirável e desprendido engolidor de espadas, espadachim de uma causa perdida, mas nem por isso fechado em copas. Na gravação estava todo maquiado, falante como nunca, solto como uma pluma e foi ótimo, pois disse tudo em tão poucas palavras. Roberto Pallu, um cinegrafista mais do que profissional soube captar um Esso em ponto de explosão. Com três câmeras gravando ao mesmo tempo, pegou-o em todos seus ângulos e o resultado foi algo único, belo, forte e para ser guardado. Algo para ser guardado, de alguém cuja posteridade está mais do que garantida.

Durante o Carnaval é impossível dissociá-lo da festa. Ele encarna o que essa festa possui de mais significativo e autêntico. Vê-lo nas ruas nos dias atuais é a constatação de estar diante de um menino, com um esbelto corpo, andando sempre muito à vontade, com roupas a fugir do trivial e um discurso voltado para o novo, o que virá. Sempre chamou muito a atenção em tudo o que fez na vida. Isso desde sempre, foi a irreverência em pessoa quando funcionário público e um maldito como jornalista e poeta. Fama de criador de caso, ele já se acostumou com isso, hoje tira de letra e continua a fazer as coisas como sempre fez, sem pedir opiniões e medir as consequências. Aderiu a algo praticado insistentemente no dia a dia, o denominado Bloco do Eu Sózinho. Nos Carnavais sempre esteve presente com alegria, rebeldia e irreverência, mas só, fazendo uma festa só sua. Um bardo a navegar por portos nunca dantes navegados. E continua tocando sua vida como sempre fez, marcando presença onde acha que deva estar. E comparece, altivo e feliz, fazendo o que gosta. Esso é um resistente. Esso é um menino num corpo envelhecido. Esso é um poeta posto em marcha lenta. Esso é a cara dos que não se entregam facilmente. Esso é tudo isso e muito mais e só por isso merecedor dos píncaros da glória.

Esso abriu uma exceção. Mesmo debilitado, doente de verdade, promete que se levado numa cadeira de rodas desfilará esse ano, talvez como uma despedida, no bloco “Bauru Sem Tomate é Mixto”, sábado de carnaval, descendo a Batista a partir do meio dia. É mais uma oportunidade de presenciarmos sua onça em ação. Ele merece todos os aplausos possíveis e imagináveis na festa desse ano. Será a madrinha do bloco, sua fonte eterna de inspiração.

OBS FINAL: O bloco carnavalesco (burlesco e farsesco) BAURU SEM TOMATE É MIXTO, uma reunião não sei como ainda possível hoje em dia, da necessária (e tão em falta) irreverência, cortará a Batista em toda a extensão do Calçadão da Batista no próximo sábado, 12h, da praça Rui Barbosa até a Machado de Mello, destilando uma contundente crítica a algo que merece ser criticado, espezinhado, repudiado, repelido e mordazmente enfrentado. CONTAMOS COM TODOS POR LÁ. Venham de onde vierem, do jeito que vierem, o bloco é a oportunidade de se manifestar e festar, sempre ao nosso modo e jeito. É só assim que sabemos fazer.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

RETRATOS DE BAURU (152)


SALETINHA É A DIALÉTICA, TEORIA E PRÁTICA JUNTAS NA MESMA PESSOA
Ser professor tem suas vantagens e desvantagens. Uma das boas vantagens é esse negócio de mesmo com o passar do tempo, décadas depois de turmas terem estado diante de tal mestre, existir um laço eterno, algo indissolúvel. Casos assim ocorrem por variados motivos. O mestre pode ter sido bonzinho, compreensivo, não reprovava ninguém, mas o mais gratificante é pelo motivo de ter contribuído decisivamente na transformação na cabeça dos seus alunos. Vieram para, no momento e lugar certos fomentarem e instigarem aquilo que seria o condutor de uma vida toda dali para frente. Gostoso reviver um pouco disso na história de um deles.

SALETE DA SILVA ALBERTI está hoje devidamente aposentada na função de professora, após anos de exclusiva dedicação à Unesp Bauru. Aos 77 anos, vive só num lugar incerto e não sabido. Morou quase uma vida toda ali na subidinha , quadra entre a Nações e o Clube das Nações, mas em 2006 acabou sendo sequestrada num dos retornos noturnos para sua casa. A história, além do sofrimento pessoal, virou folclore na faculdade, gerando até um vídeo registrado no youtube:http://www.youtube.com/watch?v=ASVEMpl_z3M. Essa é só uma das muitas histórias que a espevitada professora carrega consigo, franzina de corpo (pesa pouco mais de 50 quilos), mas imensa no cabedal do que fez durante sua vida toda, com um ensino voltado para a transformação do aluno num digno ser humano. Atuando nas hostes das Ciências Humanas, sua especialidade sempre foi o Materialismo Dialético, uma marca mais do que pessoal. Gerações trazem boas recordações dos seus tempos tendo-a como mestra, dentre os quais garbosamente me incluo. Deu aula não só na Unesp, nas também na USC – Universidade do Sagrado Coração, principalmente para os cursos de História e Geografia. Transformadora na acepção da palavra, sempre foi a própria PRÁTICA da TEORIA ensinada. Na festa do bloco Bauru Sem Tomate é Mixto, ocorrida ontem, 23/02 (Ela promete desfilar em 01/3), Oscar Sobrinho, um dos ex-alunos disse reproduzindo uma foto juntos: “Aqui a teoria e a prática”. Quer coisa mais linda que isso? Mais lindo é vê-la toda pimpona, esbanjando vitalidade e pronta para nos reavaliar a todos, se necessário for. Um encantamento de pessoa, o fermento necessário para que o ser humano não toque sua vida bovinamente.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (42)


CARNAVAL DE SALÃO EM BAURU, O DA HÍPICA É INIGUALÁVEL
Gosto demais de Carnaval, principalmente o de salão. Em Bauru já tivemos muitos. Décadas e décadas atrás tivemos dezenas deles, espalhados em vários clubes, para todas as faixas sociais. Eu fui sócio do BAC por vários anos e esse o que mais curtia, mas já estive em vários outros, no Nipo, Paulista, Noroeste, etc. Sempre curti essa festa, mas em algo mais popular. Dentro do seio capitalista, entendo que cada ser se sente melhor entre os seus. Nesse ano acabo de comparecer a um baile e quero escrever umas coisas dele. É o de abertura do Carnaval de Bauru, um tradicional na Hípica. Ele não representa a nata na cidade, a sua elite e ali a reunião de gente que trabalha, labutam o ano todo e nessa festa ali se reúnem. Dentre todos os que acontecem esse ano, esse o de minha preferência. Não vejo nele a presença dos bambambãs da cidade. Ele fica no meio termo e talvez por isso caia no meu gosto.

Ali um pouco de tudo o que representa essa cidade. Depois do revigoramento do Carnaval na cidade, esse baile se fortaleceu e nele de tudo um pouco. Muita gente fantasiada, alegria estampada em seus rostos, blocos produzidos com certa antecipação e até os que se preparam de forma isolada, produção única, desfilando a picardia pessoal própria de cada ser humano. Outro ponto alto é escolha da banda, a famosa da Folia e dentre muita gente conhecida ali tocando, destaco Denise Amaral, a cantora mais requisitada por esses dias, voz a embalar quase tudo, qualidade reconhecida em todos os setores da cidade. Ela, com sua sapiência musical e aquela dose de simplicidade (sem ser simplista), nada de braçada quanto o assunto é o Carnaval. Salão cheio, é o momento de curtir o momento e extravasar um pouco tudo o que juntamos ao longo do ano. Fiquem com as fotos, elas dizem mais do que qualquer escrito.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

O QUE FAZER EM BAURU E REDONDEZAS (41)


AINDA A BOÊMIA E O SHOW DA ZÉLIA DUNCAN NO SESC BAURU
Quando escrevo aqui que o bom mesmo na noite é BOÊMIA e não esse negócio de BALADA, alguns me desacreditam. Insisto na coisa e não me decepciono. Quem sai por aí atrás de balada, sai afim de uma determinada coisa e quem sai pela boêmia afora, sai em busca de outra. Podem até parecer meio idênticas no seu fim, mas não o são, pois diferem em tudo. A noite para mim é uma diversão, um congraçamento, reencontro de pessoas, fazer o que gosta com pessoas cuja proximidade é latente, jogar conversa fora, ouvir boa música, aproveitar o tempo disponibilizado para coisa úteis, etc e tal. Em um dicionário a definição é essa: “O que leva vida despreocupada; farrista; vadio; estróina”. Achei um tanto pesado demais.

Depois achei isso nos alfarrábios consultados: “Do latim bohemĭus, o termo “boémia” tem diversos significados. A palavra está associada ao estilo de vida à margem das regras sociais e que privilegia a arte e a cultura acima das coisas materiais. No sentido lato, uma pessoa boémia é aquela que leva este tipo de vida. Por exemplo: “O João é um boémio, vive num vagão de comboio e dedica-se à pintura”, “As noites de boémia eram um clássico de Paris na década de 60”. Estas acepções do termo também permitem referir-se à boémia em geral, como a comunidade de pessoas que vive desta forma: “A boémia de Buenos Aires reunia-se no Café Tortoni”, “Após o encerramento do centro cultural, a boémia perdeu o seu principal refúgio”. A designação para este modo de vida surgiu a partir do uso originário do termo: Boêmia é uma região da República Checa de onde partiram muitos grupos de ciganos com destino a outros países europeus. Os ciganos, à semelhança dos artistas do século XIX, viviam com valores sociais diferentes dos da burguesia conservadora e sedentária. Desta forma, os intelectuais passaram a ser conhecidos como sendo boémios”. Fiquei satisfeito e se formos procurar o que venha a ser “baladeiro”, algo bem diferente.


Tudo isso para expor aqui algo ocorrido na quinta passada, 20/02, no recinto que me formou culturalmente ao longo das últimas décadas, o SESC Bauru. Seria bem diferente do que sou se não fosse o SESC e sua programação ao longo dessas décadas. Devo parte do que sou a eles, impecáveis. Uma parcela de culpa nesse negócio de ser boêmio devo ao SESC e aos seus programadores. Pois bem, na última quinta mais uma, dessa vez um show com ZÉLIA DUNCAN. No folheto que trago para casa e guardo numa caixa (coleciono e já tenho várias caixas de shows antigos) lá está escrito: “Carioca de Niterói, ZD começou a cantar e compor em Brasília, onde cresceu. Lançou seu primeiro disco em 1990 e de lá para cá foram vários álbuns solo, além da participação em projetos especiais, como em songbooks de Edu Lobo, Dorival Caymmi, Chico Buarque, Djavan, João Donato, Marcos Valle, Tom Jobim e Francis Hime; no Projeto Cidade do Samba, de Zeca Pagodinho e Max Pierre; e a turnê com os Mutantes, em 2007. Com Simone, lançou em 2008 o DVD e CD ‘Amigo é Casa’, gravado no Auditório Ibirapuera em São Paulo. Neste circuito de shows que realiza nas unidades do SESC, Zélia apresenta repertório de seu último CD, “ZD canta Itamar Assumpção Tudo Esclarecido’, só com músicas de autoria de Itamar, um dos ícones da Vanguarda Paulista dos anos 80. Com o disco, a cantora foi contemplada com o Prêmio da Música Brasileira, nas categorias de Melhor Cantora e Melhor Álbum Pop/Rock/Reggae/Hip Hop/Funk”.

Eu tenho aqui no mafuá alguns LPs e três CDs solos dela, além do com a Simone. Posso considera-la uma das grandes da MPB no seu momento atual. Possui um repertório considerado romântico, mas avançado, bem pop e moderno, letras ao meu estilo, compositores afinados com o novo, uma proposta ousada. Possui sucessos que muitos cantam e ao chegar no SESC uma surpresa, a casa estava bombando, lotada. Fui eu (Ana nos TCCs na Unesp), Ademir Elias (aniversariante e novamente solteiro) e Duílio Duka (veio na minha audiência, direto de Botucatu e pernoitou em casa). Como é maravilhoso sermos reconhecidos por onde passamos. Do momento que entramos até conseguirmos chegar até a fila para conseguir refrescar a garganta com cevada gelada foi algo demorado, paradas obrigatórias, abraços, beijos, apertos de mão, agrados, paparicos, aconchegos, fuxicos e conchavos, tudo numa boa. Amigos em profusão e conhecidos idem. Em lugares assim, pessoas iguais, proximidades de pensamentos e ideias.

Foi um show saboroso além da conta. Não porque estávamos sozinhos, sem nossas parceiras, mas porque tudo estava encaixando certo demais naquela noite. Zélia estava inspiradíssima, a casa estava mais que receptiva, o público idem, um congraçamento perfeito. Não sou crítico musical. Gosto e pronto, sai de lá satisfeito e meus dois parceiros idem. Escrevo tudo isso para novamente dizer que as investidas noturnicas de gente próxima de mim, os lugares onde frequentamos são assim, desse naipe. Naquela noite tocava no Templo Bar o violeiro Levi Ramiro e o guitarrista Norba Lopes, outros que gostamos além da conta. Hoje sábado tem show no mesmo SESC em cima da obra de nada menos que Dolores Duran. Amanhã tem show com Lucinha Lins e Tânia Alves. É disso que gostamos, é nisso que marcamos presença, é assim que gostamos de ser boêmios. Desculpem, mas eu queria escrever algo assim e postar algumas fotos do show. Pois bem, o motivo foi dado e cá está o texto e algumas das fotos. Viva Zélia, Viva o SESC, Viva a Boêmia e Viva esse trio que sabe muito bem onde pisa.

Obs.: Queríamos levar conosco nesse dia o Marcos Paulo, Roque Ferreira, Vitor Martinello, Wellington Leite, Lázaro Carneiro, Gilberto Truijo, Ademar Aleixo, Carioca livreiro da Feira do Rolo, Manoel Rubira, George Vidal, José Laranjeira, Silvio Selva, Paulo Neves, Orlando Alves, Vinagre, Juarez Xavier, Antonio Morales, Esso Maciel, Antonio Carlos Pavanato, Fausto Bergocce, Arthur Monteiro Jr, Luis Victorelli, Sivaldo Camargo, Elson Reis, Rui Bertotti, Gilson e Gilmar Dias, Tuga Angerami, João Francisco Tidei de Lima, Nildo Araújo, Tauan, Pittolli, Ralinho, Neto Amaral, Darcy Rodrigues, Gaspar Moreira, Tito Pereira, artesão Chico Cardoso, Rubens Colaciono, Nicodemus, Brandão, Fernando do Templo, Paulão do Armazem, Ricardo Coelho, Kyn Jr, Bordini, Oskar Sobrinho, João Bráulio. Kizahi Baracat, Maurício Passos, Celso Costa, Alberto Pereira, Daniel Marcos, Lau e uma pá de gente, todos precisando sair mais de suas casas e botar o bloco na rua.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

MEMÓRIA ORAL (155)


O PRIVILÉGIO DE PODER MOSTRAR O OUTRO LADO DE AGUDOS

Motivos para visitar Agudos existem muitos. Fui nesta semana até a vizinha cidade por alguns deles e os conto aqui. No primeiro, talvez o mais sério, motivado por uma Intimação Judicial feita por três membros da família Octaviani, solicitada pelo atual prefeito Everton (sobrinho dos demais), o presidente da Câmara dos vereadores Auro (tio do prefeito e irmão do ex-prefeito) e o ex-prefeito e hoje quase candidato a deputado estadual Carlos (tio do prefeito e irmão do presidente da Câmara). A audiência de conciliação ocorreu ontem, quinta, 20/02 no Fórum de Agudos, motivado pelo fato de ter citado em um dos meus textos pelo blog Mafuá do HPA e pelas redes sociais algo assim: “Falemos também do que ocorre nos bastidores da Prefeitura de Agudos, reduto do império octavianista. (...) Crueldade a olhos vistos”. Acusado de Danos Morais estou tendo que justificar a questão “imperial” e das “crueldades”.

Lá compareço, eu, meus dois bons amigos advogados, José Hermann e Gilberto Truijo, acompanhado de dois também bons amigos, que quiseram me acompanhar nesse primeiro imbróglio, Duílio Duka e Marcos Resende. Em poucas palavras informo que, lá compareceram os três acusadores, acompanhados de três advogados do escritório MB Misquiati & Bahia. Para solucionar e encerrar o assunto, a proposta de minha parte foi a de oferecer espaço dos mesmos meios aonde escrevi, um natural Direito de Resposta. Ali poderiam se defender e é claro, dentro do espírito democrático que a todos nos une, teriam réplicas e tréplicas, comprovando o que sempre prescrevo, ninguém é absoluto dono da verdade, mesmo que assim o queira impor. Mas, os acusadores queriam mais, e a singela sugestão deles era a de que eu fizesse uma Retratação. Entendi isso como pegar uma folha de papel e lá escrever que sou mesmo um retardado, que nenhuma crueldade existe em Agudos, por parte de quem administrou ou administra a cidade, concluindo também, por entender como algo mais do que natural, membros da mesma família estarem no poder há 16 anos e que, provavelmente dentre dois deles (um deles estará inelegível no próximo pleito) sairá o nome do sucessor do atual mandatário.

Disse que o faria, mas ao meu modo e jeito, o que não foi aceito. Para eles, o que eu fizesse teria que passar pelo crivo aprobatório dos três e dos seus advogados. Entendo que isso tornaria a contenda um ato interminável de queda de braço, com esse HPA escrevendo algo e não sendo aceito como retratação. O conciliador (não foi o juiz a nos atender e sim, um conciliador), diante do impasse, descreveu não haver acordo e deu continuidade ao que na esfera judicial recebe o nome de início da instrução processual. Diante disso, um dos meus advogados disse-me algo, considerado por mim como o que de melhor poderia ouvir naquele momento tenso: “Estaremos daqui para frente diante de um momento histórico. Tudo poderia ter sido encerrado aqui, sem traumas para todos os lados. Preferiram ver expostas as tais das ‘crueldades’ citadas por ti. Você será pioneiro em mostrar publicamente e expor isso, um outro lado da cidade de Agudos, um comentado por muitos, citado em muitas matérias na imprensa regional (nunca na local), porém ainda não difundido. Esse apanhado geral mostrará em detalhes a existência de algo desconhecido ou que a maioria finge desconhecer. Agudos ganhará com essa exposição”. Entendi nessa manifestação uma espécie de missão jornalística, a de fazer valer os preceitos da liberdade de expressão, não denunciando de forma grosseira, mas comprovando de forma prática e inconfundível o que expus em duas linhas. Não me furtarei de fazer isso, pois esse foi o caminho escolhido por eles, quiseram que assim procedesse e assim o será.

Agudos não é, e nunca será eternamente governada somente por membros da família Octaviani, disso tenho a certeza. Isso ainda pode perdurar por algumas décadas (toc toc toc), talvez anos, mas chegará o dia em que alguém sem qualquer tipo de ligação com eles assumirá novamente o poder. A tal democracia vivida por nós clama por algo assim, é do seu preceito básico a alternância do poder, não só de nomes de uma só família no poder, mas também de outras cabeças e grupos políticos, outra orientação, posturas diferentes, etc. A oxigenação política pregada pelo tal do “estado democrático de direito” prescreve isso como condição sine qua non de sua existência. Para iniciar o que denominei no título deste, como “privilégio” em poder mostrar esse outro lado agudense, saímos dali e os cinco escudeiros fomos todos até um dos redutos oposicionistas e de resistência na cidade, o Alternativa Salão, do militante do PSB, o cabeleleiro Enoque Antonio de Morais, reunindo em seu pequeno espaço uma verdadeira trincheira de representações judiciais contra a ação justamente da cidade de Agudos desde que comandada por um dos três membros da família Octaviani.

Foi-nos entregue um calhamaço de documentos, representações variadas de verdadeiras “crueldades” cometidas contra o município, matérias publicadas em vários órgãos de imprensa demonstrando que a normalidade apregoada não é assim tão normal, propagandas feitas de forma excessiva, etc e tal. “A defesa começa a ser construída baseada nesses fatos concretos. De elementos como esses sairão o irrefutável embasamento comprovando que o que disse não tem nada de ofensivo, muito menos provocativo e sim, somente de uma crítica concreta e justa a algo que precisa e merece ser verificada e investigada”, foi algo que ouvi dentre os presentes. Enoque não se cansa de mostrar documentos protocolados junto aos órgãos competentes da Justiça local, cobrando desses, ação imediata de possíveis irregularidades constatadas por ele. “Acabo de voltar da promotoria. Agendei para a próxima quinta o protocolo de mais cinco documentos nesse sentido. Eu faço a minha parte e não deixo passar sem uma cobrança em cima do que acho irregular e injusto. Tenho tudo o que fiz e o que farei bem organizado, tudo protocolado. Minha ação é assim, concreta. Não fico falando sobre o que vou fazer, vou lá e faço. O resultado é pouco divulgado e conto contigo para melhorarmos isso”, me conta. Leiam isso dele: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=enoque.

Enoque não é único no que faz, existem outros bravos resistentes, nadando contra a maré. Cito o nome de dois, João Lucio Balduzzi Pereira e Ronaldo Cesar Barbosa de Matos, insistentes e corajosos no que fazem, de forma crítica, apontando os erros e as mazelas de algo ocorrendo na cidade pouco entendido ou pouco explorado. Junto a ele a ação de um bravo bauruense, Elias Brandão, que anos atrás conseguiu por sua iniciativa fazer valer que o cargo criado por Carlos Octavianni, o de gerente da Cidade, estava acima do de prefeito e a Justiça acertadamente o extinguiu. Dias atrás estavam eles todos reunidos e informando a população dos reais motivos dos atrasos na entrega das casas, quando da desapropriação do conjunto habitacional Minha Casa Minha Vida. Ali algo de muito cruel estava em curso e foi desconstruído pela ação desses bravos questionadores da real situação do que de fato acontece na cidade. O salão do Enoque é uma espécie de para raios de tudo isso. Muita coisa é ali levada, instigando-o na continuação ode sua desmedida luta, a de mostrar que tudo não é assim tão belo no momento atual vivido. Num espaço circundado por pôsteres demonstrando onde busca luz e inspiração, fotos de Che Guevara, John Lennon, Raul Seixas e Jimy Hendrix, são suas fontes de energia, inesgotável diria. “Não o conhecia e saio daqui encantado. Toda cidade precisa de pelo menos uns três ou quatro Enoques. Ele é o perfeito cidadão, faz mais do que toda a Câmara de Vereadores juntos no papel de fiscalizar o Executivo”, me diz Duílio Duka.

Como apregoado no início desse texto, nem tudo são lamúrias em Agudos. “A cidade está bonita, fruto de uma arrecadação invejável e conhecida por todos. Do lado visual, elogios, mas precisamos confrontar isso com o outro lado, o citado pelo Henrique”, me diz Truijo. Antes da partida de volta para Bauru sugiro a todos e, prontamente aceito, visitarmos a Dra. Jaqueline Josephs Naranjo, a médica cubana designada pelo Mais Médicos para atuar na cidade. Enoque nos diz que seu expediente é até às 13h no Posto Saúde local, e que está hospedada no hotel na praça central. Lá nos informam que ela mudou para um novo conjunto habitacional, num prédio nas imediações do Hospital. A localizamos por volta das 17h, ela estava em seu apartamento, prontamente desceu ao saber da visita de bauruenses e ficamos todos envolvidos por sua agradável conversa. Uma pessoa muito simpática e um desmedido amor por sua pátria, afinidade de pensamentos e ideias, com o que o governo de seu país está fazendo. Em nenhum momento conseguimos nenhum de nós, chamá-la de “doutora” e nem por isso a desrespeitamos. Pelo contrário, ela nos deu belas lições de cidadania humanitária.

“Amo minha pátria, sei de suas dificuldades. Essa minha segunda atividade fora do país. Já atuei na Venezuela por alguns anos. Essa questão do salário é algo de mínima importância. Cuba é um país pobre e para poder continuar executando com brilhantismo essa ação humanitária mundo afora, necessita da ajuda do seu povo. Parte do meu salário é usada nisso, na manutenção desse sistema educacional, o de saúde, o transporte gratuito com a compra dos maquinários e recursos necessários para a continuidade do atendimento à população cubana. Lá os meus, meu filho que tanto adoro e que voltarei a vê-lo só nas minhas férias, possuem todo o básico sem qualquer custo. Para manter isso, esse meu trabalho no exterior é necessário e fazemos isso com orgulho e sem maiores problemas”, me conta. Marcos Paulo, militante comunista, reflete conosco sobre as desistências ao programa: “Justificável que muitos cubanos que não vivenciaram o que foi o período anterior à Revolução Cubana, nasceram depois e já dentro do governo de Fidel compreendam pouco o que foi um passado de privação. Mesmo com toda educação, a contrainformação é muito grande e cada ser humano reage de um jeito. Na medida em que alguns cubanos tomam conhecimento do que de fato ocorre fora da ilha e levam essa informação para os que estão vivendo no país, na confrontação, estarão cientes de que o que vivem, mesmo com as tais privações é muito melhor em relação à grande maioria dos do lado de fora”.

Ouvimos atentamente o relato de Jaqueline, e de sua tristeza inicial, por saber ter que trabalhar isolada, somente ela representando o Mais Médicos na cidade. Isso tudo foi sendo amortizado com o passar dos dias, o apoio dos funcionários, seus colegas de trabalho, superiores na Secretaria Municipal de Saúde e, principalmente, no que fez questão de reafirmar várias vezes, na resposta dos pacientes e da população. “Hoje não tenho mais dificuldade em entender o que me dizem. Entendo tudo, talvez um pouco de dificuldade ainda persista na minha forma de expressão. Em pouco tempo, tudo estará resolvido. Até minha solidão inicial está se dissipando. Hoje sou convidada por pessoas variadas para ir a suas casas, festas e almoços. Os pacientes tem sido ótimos, procuro ouvi-los muito, entender o que de fato precisam e essa troca tem sido agradável, acredito, para ambos os lados. Moro sozinha desde que sai do hotel, tenho computador, mas não tenho internet. Leio muito e sei que estou sendo útil. E quero muito conhecer essa professora de música cubana que mora em Bauru”, nos diz.

Na despedida a troca de telefones e alguns prováveis convites, alguns para o Carnaval, que infelizmente não ocorrerá de nenhuma forma em Agudos; outros, talvez, para um contato com Rosa Tolon, a professora cubana de piano, residente em Bauru e um algo mais, a sua vinda no próximo domingo para a última festa antes do Carnaval do bloco “Bauru sem Tomate é MiXto”, quando poderá ter contato com algo em torno da maior festa popular brasileira. Saímos todos de lá, cientes que algo estará se iniciando a partir do que foi decidido no Fórum local, e alegres por ter a certeza de que na imensa maioria dos médicos envolvidos no Mais Médicos, pode ser exatamente como o vislumbrado na doutora Jaqueline: pessoas cordiais, corretas, dignas, cientes do que fazem e do posicionamento que precisam ter nesse momento, diante de tudo o que estão encontrando pela frente. Nos três momentos: o do Fórum, com a ratificação da riqueza em poder demonstrar a existência de outra Agudos; a do reencontro com o resistente Enoque e pela oportunidade de poder conhecer a médica Jaqueline. Tudo isso junto e misturado, nos dão a entender que nem tudo está perdido nesse rincão varonil. Vivenciamos esse outro lado do Brasil, um que caminha pelas suas vicinais e atalhos e disso faz sua trajetória.