segunda-feira, 29 de abril de 2013


DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (49)

BETO MORREU, VANZOLINI FOI EXCOMUNGADO, STF E CONGRESSO ASSINARAM UNIÃO ESTÁVEL, ESQUENTA ESFRIOU, OU NÃO SERIA NADA DISSO!

Amanheço fora de minha aldeia já no domingo, distante mais de 700 km. Dessa forma, estive impossibilitado de comparecer às últimas missas do padre Beto, ministradas em dois templos católicos e acredito, não o faria mesmo estando aí, pois no mesmo horário estaria acontecendo o encerramento do Festival Internacional de Bonecos. Esse sim, senti muita falta em não ter podido comparecer, nem no sábado, nem no domingo. Abdiquei de freqüentar missas e não o faria nem nessa, histórica pelo visto, pois enquanto batuco essas linhas tomo conhecimento que Beto foi excomungado. Bombou de gente, filmaram seus últimos pronunciamentos de tudo quanto é jeito usando a batina e sua fala deve ter sido das mais significativas, com muita emoção, carga de algo que só ele pode sentir naquele momento, o de após tantos anos, passar para o lado de cá. Começa outro ciclo a partir de hoje.

Minha tristeza hoje ao acordar não foi tanto por isso, pois Beto é novo e tem uma vida já consolidada, cheia de novas oportunidades pela frente. Assédio para que faça isso e aquilo não lhe faltarão. Se tiver pretensões políticas, já o vejo como um dos postulantes à Prefeitura Municipal. Se for picado pela mosca azul, tomara que toda a dialética juntada ao longo de tantos anos de estudo esteja a serviço de Bauru. Torço por isso, para que deixe de ser só moderno, sendo também um ser social ativo no posicionamento ao lado dos mais necessitados, dos trabalhadores, dos excluídos e rejeitados, contra o cruel sistema político que nos apunhala em cada movimento. Seria de uma utilidade sem fim vê-lo colocando em prática o que prega para uns poucos, em conversas até agora reservadas, expandindo para uma prática realmente transformadora. Aguardemos. Mas escrevia sobre minha tristeza matinal e ela se deu ao ligar o rádio logo cedo e escutar um samba de um mestre, Paulo Vanzolini, que octogenário, faleceu nessa manhã. Um dos grandes da MPB, desses comprovando que o samba tem muita gente boa também em São Paulo. Depois de Adoniran Barbosa, Vanzolini é o segundo nome da constelação paulista dos nossos mestres musicais. Ele é muito mais que o autor de “Ronda”. Recentemente o Chico, lá da Banca do Carioca, Feira do Rolo me emprestou os quatro CDs de um maravilhoso trabalho dele. Gileteei todos e com direito a reprodução da capinha colorida de todos. Gasto eles em minha vitrolinha. É para chorar.


O brasileiro que hoje toma conhecimento nacionalmente de quem é o ex-padre Beto (virou assunto nacional), pouco conhecia de Paulo Vanzolini. Dentro da hipocrisia que rege a maioria de nossos meios de comunicação, onde o patrão ouve Tom Jobim, mas põe para rodar Belos e Telós, Paulo não é tocado. Prolifera nas FMs e TVs o que de pior temos e até o tal do Esquenta!, na TV Globo, comandado pela Regina Casé, quando mescla o ruim com o bom, percebo hoje abrir mais espaço para continuar esmerdalhando os ouvidos brasileiros. Trata-se de coisa pensada, pois nada é feito sem sentido nesse país. Assim como prevalece o lado mais conservador das igrejas, num discurso querendo que todos continuem manada, a música é só mais uma extensão disso, outro elo dessa corrente.


Ao botar os pés nas ruas hoje cedo, estampado na capa de revistas e em manchetes garrafais na dita grande mídia, algo sobre o STF – Supremo Tribunal federal estar sendo massacrado pelo Congresso Nacional. Pura falácia de quem nos engana diariamente. Uma briga de dois poderes, que considero, sem tirar nem por, farinha do mesmo saco. As prioridades que os próceres desses dois poderes possuem não são as do povo brasileiro, estando muito distantes da realidade do dia a dia de quem rala nas ruas. Eles não estão nem aí para cuidar do que é nosso, muito menos defender nossos interesses. Mandam em nós, é verdade, vivendo nababescamente num outro mundo, anos luz distante de nós todos. Hoje, num encontro que tiveram, com certeza já selaram um acordo de cavalheiros colocando fim a uma guerra que nunca ocorreu de fato. Foi tudo inventado, montagem para ludibriar a todos, pois tudo continua como dantes. Um tentou mandar mais que o outro e esse outro, deu um recadinho para aquietarem-se e na acomodação, viverão novamente felizes espoliando nossas forças até não mais poderem. Não defendo nem um, nem outro. Muito pelo contrário. Rejeito a ambos, pois nosso sistema político, enquanto não mudar, essa excrescência observada continuará tomando conta de nossas vidas. Não sou cético, sou realista. Tem mais, mas ralei muito hoje e estou exausto, sem vontade de navegar e ver as últimas palavras do que o agora somente Beto declarou do seu novo momento. Amanhã talvez. Hoje, o que embalará meu sono será a voz rouca de Vanzolini e uma bola leitura ao lado do berço. Tchau, pois estou um caco. "Levante sacode a poeira, dá a volta por cima..."
Ilustrações de Beto Maringoni, Angeli e Fausto Bergocce.

domingo, 28 de abril de 2013

OS QUE FAZEM FALTA E OS QUE SOBRARAM (45)
UMA EXPLICAÇÃO MAIS DO QUE NECESSÁRIA – DESCOBRI OUTRA “ENI AQUINO”

Fico estarrecido ao ler hoje a reportagem da matéria de capa da última edição da revista semanal Carta Capital, a de nº 746, “A Central de Grampos de Marconi Perillo – Nem aliados do Governador Goiano foram poupados da Espionagem” (http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/de-marconi-perillo-a-mister-magoo/ ). Além do pasmo natural após a leitura, vendo tudo o que o governador fez com a ajuda de um hacker, espionando adversários, inimigos e até amigos, um algo mais me chama a atenção.

Leiam esse trecho: “Sob as ordens do governador, Mr Magoo, o codinome de um hacker, esse é contratado para operar uma rede ilegal de grampos telefônicos, criar perfis falsos na internet e invadir a privacidade de dezenas de adversários e até de aliados. O contato com o hacker era intermediado por uma casal de radialistas de Goiânia, Luiz Gama e ENI AQUINO”.

Quase cai das pernas, pois o nome grifado em maiúscula é o mesmo de minha santa mãezinha, falecida há mais de dois anos. Essa radialista, ainda segundo a revista fez mais isso: “A partir das encomendas de Gama e AQUINO o hacker montou um fenomenal arquivo retiradas de computadores invadidos e telefones celulares grampeados. (...) O dinheiro saia de duas fontes antes de passar pelas mãos do casal de radialistas”.

Acho necessário algumas explicações, pelo bem de minha falecida mãe e da família dos Aquino, residentes aqui em Bauru. Primeiro, que o nome ENI não é dos mais fáceis. Aqui em Bauru todos conhecem a ENYS (com Y), a maior cafetina que esse país já teve (boníssima pessoa) e depois só conhecia mais uma, ENIS Orti, professora de Educação Física falecida mês passado, também aqui em Bauru. Essa aí, com o mesmo nome de minha mãe eu nunca tinha ouvido falar e me espantou a similaridade. Tudo bem, que no nome de minha mãe ainda tem outro sobrenome no meio, ENI PERAZZI DE AQUINO, mas para aproveitar, faço aqui um registro de forma antecipada que nada temos de parentesco com a tal da radialista lá de Goiás. E mais, minha mãe nunca esteve metida em irregularidades, ainda mais com tucanos (toc toc toc). Tenho que gritar isso em alto e bom som nesse momento, pois não quero que uma outra, envolvida em algo constrangedor, venha a colocar em dúvida ou macular a memória de minha mãe.

Em tempo: Minha mãe (última foto aqui publicada) é que me faz uma baita de uma falta. Essa outra Eni é só mais uma envolvida num mar de maracutaias, nesse mundo recheado de gente misturando o público com o privado, o seu com o do outro, o meu com o do governador, o do governador com o dos hackers e assim por diante. Por favor, peço a todos (as), não coloquem minha mãe no meio dessa confusão toda.

sábado, 27 de abril de 2013

MEUS TEXTOS NO BOM DIA (226)

RIQUEZA SIMBÓLICA – publicado hoje na seção Formador de Opinião, Bom Dia Bauru:

“Não sou um adepto de nenhuma fé em particular, mas tenho por elas grande apreço e admiração. Todas as entidades onipotentes e seus realejos de lendas oníricas são fruto de um esforço ficcional que remonta já há milhares de anos. A literatura cria mitos que são freqüentemente legitimados pela religião. Não é de se surpreender que, essas narrativas sejam tão repletas de um sentido figurado a cerca das idiossincrasias do homem.

Na ambigüidade Deus e o Diabo não são diferentes. Lucífer ocupava acento ao lado do criador, mas é depois da guerra do paraíso que a bíblia se faz obscura. Seu nome desaparece das páginas, principiando a introdução de um novo personagem, Satã. Lúcifer odiou, primeiro aos homens, depois a criação e, finalmente, ao próprio criador, cujo lugar passou a cobiçar e a quem declarou guerra, com apoio de uma horda divina. Uma batalha abalou as estruturas do céu, com os derrotados sendo arremessados ao inferno.


Das profundezas ele acossa a humanidade com seus prodígios maléficos, definitiva disputa de poder com Deus. Ele não pune os maus, ele os cria. É sua forma de triunfar em uma guerra perdida pela força. Assim como todos os mitos que emergem em sonhos e permanecem no imaginário popular, a cristandade orbita em torno de uma dicotomia incômoda, no caso a solene refrega entre o amor e o ódio. É do conflito e da dúvida que nasce a epifania.

A bíblia é perfeitamente aplicável à vida se interpretada a orbita metafórica, mas é pedir demais que um adulto esclarecido a encare literalmente. Se nos desapegássemos de toda carga mística apregoada por mais de um milênio, o livro se despoja de todo estremecimento religioso e alcança seu lugar de direito, um encadernado de fábulas edificantes, notáveis por sua imanente riqueza simbólica”.

Esse texto está entre aspas, pois não é meu. É de meu filho, Henrique Aquino, 19 anos e parte dele publico aqui para aproveitar momento de discussão sobre o tema, homenagear os escritos de um jovem e comemorar os novos tempos propostos pelo BOM DIA a partir de amanhã.

O QUASE EX-PADRE BETO E UM NOVO HORIZONTE SE DESCORTINANDO DIANTE DE SI

Decisões não são nada fáceis. Na maioria das vezes são difíceis e dolorosas. Adia-se a tomada de algumas delas, pois se sabe que ao tomá-las, uma transformação diante de si. Num simples ato, uma vida completamente nova descortinando-se diante de si e a partir daí, a também difícil tarefa de deixar para trás tudo o que foi feito até então. Vejo muito disso em pessoas recebendo uma nova proposta de trabalho e permanecendo naquela indecisão por um tempo, refletindo muito até o passo decisivo. Hoje estamos diante de uma e escrevo um bocadinho dela com o personagem aqui citado.

BETO ainda é padre da igreja Católica Apostótila Romana e desde sua formação, teve dentro da estrutura bancada por Roma, a amplitude de seus conhecimentos em opções feitas por ele, de acordo com sua linha de pensamento. Estudou e permaneceu por algum tempo na Alemanha, onde cresceu ainda mais materialmente e ampliou sua dialética forma de encarar esse mundo. Sempre viveu dentro de duas realidades, uma da igreja, que nunca mudou e uma dentro de si próprio, em constante mutação. Mente aberta, propõe o novo, mas sem direcionar moderno, a favor das liberdades do corpo e mente. Diz-se que entre amigos sempre se mostrou a favor da libertação também dos povos, mas nunca explanou isso abertamente. Hoje o vemos abrindo mão de suas funções religiosas, não se vergando aos ditames arcaicos de uma instituição secular e que pouco mudou ao longo dos séculos. Quer dizer, mudou o padre, não a igreja. Algo de muito bom ouvi de sua boca no afastamento proposto por ele para resolver o problema criado com a divulgação de suas idéias. “A igreja finge que impõe regras, a maioria arcaicas e sem sentido, a maioria dos fiéis finge que as cumpre e tudo segue num cenário de muita hipocrisia”. Seria ótimo a guinada do quase ex-padre, agora podendo opinar sobre tudo mais livremente e tendo um posicionamento também mais contundente com as grandes injustiças que sempre acometeram nosso povo. Veremos como se sairá diante de um intenso assédio, que será submetido daqui por diante, inclusive político. O daqui por diante terá uma sentido imenso na compreensão do acerto ou do erro da atitude tomada.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

COMENTÁRIO QUALQUER (112) 

QUEM DEFENDE O STF, A CÂMARA DEPUTADOS E QUEM NÃO DEFENDE NADA

Ouço o radialista Chico Cardoso quase diariamente pelas ondas da Auri-Verde. Dia atrás quase ejaculou de contentamento ao ler e interpretar a notícia de que o deputado federal José Genoíno PT/SP havia feito da tribuna da Câmara uma proclamação de inocência aos crimes que lhe foram imputados pelo dito mensalão. Pulou daquele assunto para o do STF – Supremo Tribunal Federal, onde segundo ele, “onze decidiram e não erraram”. Chico não age diferente de um Merval Pereira, Arnaldo Jabor, Nelson Motta e outros quetais. 

O que Chico repercute é o mesmo que parte da imprensa apregoa como se fosse o fim dos tempos e uma turba de facebookianos reverbera pelas redes sociais: “A Câmara dos Deputados, dominada pelos sentenciados pelo STF está querendo subjugar o Judiciário brasileiro aos seus ditames”. Para quem entende pouco do tema, fica como algo de inconcebível, um acordo para impor restrições ao último bastião de real Justiça nesse país. Porém, o que de fato ocorre não é bem isso e essa parte da imprensa não faz questão nenhuma em focar o tema por essa vertente.
Vamos a ela. Será que cabe mesmo ao Judiciário errar por último? Num momento em que temos observado constantes deslizes em suas decisões, como o fato de julgar levando em conta o “domínio de fato”, as tais das evidências de crime sem provas. O STF definiu algo assim: “No limite, se não há prova nenhuma, o acusado, definitivamente, é criminoso”. Num outro momento chegaram a julgar baseados em sustentação de não competir à acusação provar que alguém participou de um crime, mas ao acusado demonstrar que não sabia. Outro fato é que em passado não tão distante, ministros sustentavam que só o Congresso podia cassar parlamentares e hoje, já agem diferente. Eles, como maiorais, sempre estão certos, antes e agora, não se importando com esse vai e vem. O país presencia quase calado um avanço do arbítrio e se cala quando o Judiciário quer tomar decisões antes não inerentes a eles. Essa imprensa que elogia hoje, pode ser penalizada manhã e nem percebe que agindo assim agora, amanhã, quando estiverem mais senhores de si, talvez queiram ditar normas e leis até acima do mandatário maior do país, o presidente da República. Até agora todas as decisões foram de consenso entre ambas as casas de leis e hoje, o Judiciário tenta dominar sozinho o cenário. E por que não continuar tudo como até agora? 

Finalizo corroborando as palavras do analista econômico Luís Nassif: “Em suma, as figuras máximas da Justiça cavalgando o clamor popular para se impor. Foi um tapa no rosto das demais instituições o discurso do Ministro Luiz Fux na posse de Joaquim Barbosa, na presidência do STF, apresentando o órgão como o poder supremo, aquele que veio para suprir o vácuo de atuação dos demais poderes. Antes que se consolidasse essa superioridade institucional do STF – tão desejada por alguns Ministros – os abusos explodiram mostrando o que poderia ocorrer se não houvesse uma resistência da opinIão pública. Do lado de Gurgel, o mesmo quadro, a informação de que todos os processos envolvendo autoridades ficavam sob controle estrito dele e de sua esposa. O país atravessa tempos bicudos, em qua faltam figuras referenciais em todos os poderes. É hora das autoridades responsáveis sentarem e acertarem os ponteiros. A hora é apropriada. Alguns Ministros do STF parecem ter acordado do porre dos últimos tempos; e a PGR mudará de comando em breve”.

Não dá para fazer uma defesa do atual momento do STF, nem da PGR, nem da Câmara e quem o faz, fica evidente possuir um lado. Chico possui um escancarado, assim como os já citados da grande imprensa atual. O país parece ter sido colocado em segundo plano.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

UMA FRASE (104)

PADRE BETO, SEUS PROGRESSISTAS POSICIONAMENTOS E QUASE NADA DAS QUESTÕES SOCIAIS
A polêmica começou quando padre Beto deu uma entrevista para um canal virtual de TV, a Bauru TV, falando abertamente sobre algumas questões onde a igreja rejeita alterar seus procedimentos. Assista aqui: http://baurutv.com/2013/01/18/teologia-amor-e-vida-3/ . Para entenderem o que ocorreu, eis a reação da Diocese de Bauru, na pessoa do bispo diocesano: http://www.bispadobauru.org.br/nova/noticias.php?news_id=1379&acao=ler

Ontem tomei conhecimento do caso lendo o que Marta Caputo publicou nas redes sociais: “Sou agnóstica e Padre Beto me representa! Não sou católica, mas o Padre Beto me representa, sim! Um homem generoso, cultíssimo, que não é hipócrita, é corajoso e expõe tudo o que pensa... e como pensa bem!!!”. Postei isso logo a seguir: “Tenho visto o padre defender alguns posicionamentos conservadores no microfone da Auri-Verde, algo que não posso coadunar, porém, nessa questão da censura que a igreja lhe impõe, expresso meu irrestrito apoio a ele. Isso que ocorre é prática usual da igreja (todas elas, viu!) e acho que num certo sentido é até muito bom para ele, pois pode servir para que busque se aproximar mais do lado verdadeiramente social. Ele poderia ser um ótimo agente transformador e talvez isso lhe abra os olhos, pois no programa fica dando vazão a gente que não quer transformar nada”.

Na seqüência e respondendo a outros questionamentos escrevi: “Vejo assim: A Igreja sempre teve uma estrutura conservadora e quem nela está ou adere, aceita e se aquieta ou vai tentando se manter dentro da estrutura sem causar choques irreparáveis. Ele deve ter lá suas convicções de semelhança, pois está lá há anos. Quando freqüento um clube e ele não me agrada, caio fora. A instituição igreja é secular nesses dogmas e querer continuar recebendo dela um soldo mensal, de um patrão do qual discorda e afronta é algo que não existe no mercado, dentro dos padrões do mundo capitalista, onde a igreja reina soberana. Patrão nenhum suporta empregado que prega contra os princípios de sua empresa, as regras criadas por ele para mantê-la atuando. Não comparo atuação de um Boff, por exemplo, com a de padre Beto, pois são ideologicamente muito distantes, mas existem também dentro da própria igreja alguns grupos que conseguem se manter mesmo na discordância. Vejo o frei Beto num desses e o grupo que ele representa não vêem a público reclamar do que faz e como faz. Padin, antigo bispo de Bauru não agiria dessa forma; dom Caetano, dentro do contexto atual age conforme o que rege os acima dele. A igreja é uma corrente, Beto faz parte dela. Isso me lembra as pessoas que querem exigir dos padres quando de seus casamentos, que a Igreja proceda da forma que querem para a cerimônia. O clube igreja tem regras e se você quer se casar lá, o mínimo é seguir as regras impostas. Quem não as aceita que não case lá. No caso do Beto a mesma coisa. Ele acredita em muita coisa das regras do clube, pois do contrário não estaria lá e tenta ao seu modo e jeito mudar as regras impostas pelos diretores do clube. Ou pede o boné, ou fica quieto ou vai comendo pelas beiradas, como vejo muitos fazendo. Que a instituição Igreja já foi melhor, não tenho dúvidas, pois já teve nomes como Arns, Câmara, Tito, Boff e hoje ainda vejo alguns,como Casaldaliga em São Félix do Araguaia, frei Beto em São Paulo e aqui pertinho de Bauru, o padre Severino, em Promissão, que põe a mão na massa junto aos sem terra. Mesmo sendo ovelhas meio que desgarradas,continuam seguindo as regras do clube, pois do contrário serão expulsos. Vá lá no Rotary e pregue o comunismo para ver se continua associado, vá lá na Associação Comercial e pregue divisão igualitária de lucro entre patrão e empregado, vá lá no PSDB e pregue contra o neoliberalismo, vá lá no PCB e pregue a favor do neoliberalismo. E por aí adiante...”.

Esse o apoio que posso dar a padre Beto e superando tudo isso, volto a dizer, talvez tudo isso mostre a ele um novo caminho, pois mesmo com toda sua liberalidade, não o vejo atacando as questões sociais, posicionando-se contundentemente ao lados dos miseráveis, dos menos favorecidos, dos trabalhadores e de suas causas e lutas. Adoraria o ver voltado a esses temas.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

BAURU POR AÍ (83)
TEMPLOS E NUM DELES ALGO TRANSFORMADOR, OUSADO E LÚDICO, CHEIO DE DEUSES 
Li por esses dias uma pequenina resenha de um livro que acaba de sair, o “OS ANJOS BONS DA NOSSA NATUREZA – POR QUE A VIOLÊNCIA DIMINUIU”, do canadense Steven Pinker (Cia das Letras, 2013), com uma tese pra lá de interessante. Julga ter provado que os tempos atuais são os menos violentos vividos pelos seres humanos em toda a história da humanidade. Demonstra com estatísticas, mapas, indicativos e quetais, tentando provar que a violência tem diminuído ao longo dos tempos na história da espécie. Para quem vive hoje e vê o mundo envolvido em sangrentos confrontos é difícil acreditar, mas ao se debruçar sobre o passado da humanidade, talvez um consolo, o mesmo do autor, cuja conclusão afirma que o momento atual deve-se a fatores evolutivos onde o ser humano desenvolveu ao longo dos séculos o autocontrole, a empatia, a moralidade e a razão.

Não sei se consigo referendar tudo assim de forma tão rápida, mas observando desde os primórdios, não existe como negar que um dos fatores de permanente violência e muito sangue são os conflitos religiosos. Eles frutificaram mundo afora em todos os tempos e os de hoje, igualmente perversos. Tentam nos fazer crer na existência de alguém superior, observador, pronto para repreender pelo exagero do que fazemos e incutindo medo pelo que podemos padecer quando deixarmos essa existência. Já freqüentei outros tipos de templos, muitos deles religiosos, hoje os deixei de lado, pois não vejo mais neles nenhuma possibilidade de amparo ao que tenho carregado junto de meu corpo físico. Mas, confesso, nunca deixei de freqüentar templos. Esses atuais geram menos conflitos, provocam menos confrontos, a ponto de confessar, ter encontrado uma paz interior muito grande quando neles. Ontem mesmo estive num maravilhoso e presenciei algo divinal, estupendo e daqueles cultos onde saio todo arrepiado, corpo em mutação, estado de pré-explosão plena de gozo. Êxtase total e absoluta.

Conto aqui onde e como tudo se sucedeu. O templo no qual estive ontem chama-se TEATRO MUNICIPAL DE BAURU e na placa, reverencia uma grande dama, uma divinal pessoal, a mestra maior do nosso teatro, CELINA ALVES NEVES. Ali naquele sacrossanto lugar, onde acontecem verdadeiros milagres no palco, está a ocorrer durante toda essa semana, até o próximo domingo, algo bestial, pra lá de santificado, o III FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO BONECOS. O templo teatral tem bombado, gente a aplaudir em pé as manifestações lá presenciadas, gente a balançar as mãos, bater palmas e até os pés, em jubilo e contentamento por tudo o que de uma angelical forma acontece por lá. Não acreditava em milagres até assistir a alguns espetáculos de mestres bonequeiros, verdadeiros e originais santos no ofício que fazem. Pessoas especiais, dotadas de um dom supremo, algo que o transformam não mais em pessoas comuns, mas seres com um algo mais, uma especialidade além do normal, o manuseio com precisão cirúrgica de fiozinhos ocultos, fazendo com que bonecos ganhem milagrosamente vida e encantem a todos. Ver rostos petrificados de puro contentamento, observar expressões de incredulidade diante do vislumbrado é estar diante da supremacia do ser humano. Ali não existe ilusionismo, ali ninguém engana ninguém com palavras falsas, ali ninguém escamoteia, tudo é feito sem falsidades e os jogos de cana, os devolteios de bastidores, o cenário na penumbra faz parte de um encantamento. Eu acredito na beleza do ser humano, no que ele tem de melhor, quando vislumbro isso, tudo numa singeleza e sem o presenciado em outros tipos de templos. Quero cada vez mais estar em lugares assim, não somente uma vez por semana, mas quase todos os dias.
Pois bem, ontem, 23/04, assisti ao espetáculo da CIA NAVEGANTE, da distante Mariana, interior de Minas Gerais, com MUSICIRCUS. No palco, o bonequeiro CATIN MARQUES, manuseando mais de quinze bonecos proporcionou a todos os presentes momentos de paz, harmonia e contentamento. Com um holofote focando o centro do palco, ele foi trocando as peças e ali permaneceu por mais de uma hora, hipnotizando a todos. Conheçam um pouquinho disso que vi ontem no teatro acessando aqui: http://cianavegante.blogspot.com.br/ ou http://www.cianavegante.com.br/. Artistas, verdadeiros mensageiros da luz e da prosperidade, vindos de plagas distantes, como México, Colômbia, Argentina, Espanha, Peru e muitos daqui desse nosso Brasil. Felicíssima a decisão dos organizadores Kyn Jr e Mariza Basso de homenagear o palhaço PARAQUEDAS, com o troféu CARA DE BONECO. Ele uma sumidade maior do que a de qualquer pregador da boa nova, pois esse prega de um jeito diferente, com sua arte, essa sua ação transformadora e revolucionária. Bonequeiros são agentes transformadores. Nesses eu acredito, pois fazem e acontecem sem artimanhas. Vê-los atuando com os templos culturais transbordando de gente é para não perder a esperança de que algo ainda pode estar ocorrendo e nem tudo está definitivamente perdido. Com gente assim no palco de nossas vidas, aí sim a violência tenderá a diminuir cada vez mais. Esse é o bom uso da razão e da empatia, fator gerador da diminuição da violência no planeta. 
Obs.: Todas as fotos aqui postadas são minhas e tiradas dos bonecos (ACREDITO SEREM DEUSES) vistos ontem, os do Catin, lá de Mariana e no templo teatral bauruense. Beatificados todos... DESSA MANIPULAÇÃO EU ADORO, A DOS OUTROS TEMPLOS, DETESTO.

terça-feira, 23 de abril de 2013

PALANQUE – USE SEU MEGAFONE (39)
 
SOBRE OS inFELICIANOS DA VIDA – TRÊS MANIFESTAÇÕES
1.) Sou evangélica, nasci e fui criada na 1ª Igreja Presbiteriana Independente de SP, e nem por isso sou preconceituosa, racista, e coisas no gênero... Tenho e sempre tive amigos gays que sempre foram recebidos em minha casa, por mim e minha família, não discrimino negros de brancos, índios de japoneses, nem separo meus amigos por religião... Acho que religião é uma coisa que cada um deve ter a sua...Ser fiel naquilo que acredita e jamais deixei de acreditar que Deus é um só , tanto pra evangélicos, católicos, espíritas e qualquer religião que a pessoa tenha...  Acho que o problema não é a religião que a pessoa tenha e sim o caráter de cada um... A educação que teve em casa, dada por famílias que sempre aceitaram e compreenderam as minorias... Tenho uma irmã que é Síndrome de Down...e quando ela nasceu em 1961, isso era uma coisa que ninguém conhecia, nem sabia se era uma doença (depois descoberta q não é doença, e sim uma síndrome), se tinha cura ou não, e como tratá-la.... E ela foi educada e tratada como um ser igual aos outros....Esse ano ela completará 52 anos e é uma mulher muito sensível, mas ao mesmo tempo é ela que fica com minha mãe, que já está envelhecendo (fará 85 anos, nesse ano). Pra ser uma ideia de que é a educação que faz a diferença...  Por isso gostaria que me desculpasse, mas vou dizer claramente! Essas pessoas intolerantes são mal educadas, sem caráter e nenhum escrúpulo...  Gente educada tem moral e respeita as individualidades , sejam elas quais forem, e as diferenças... Muito obrigada, beijos MADÊ CORRÊA.

2.) Você confiaria em um biólogo criacionista para dar aulas no colégio?? Ou num astrônomo devoto do paraíso?? Eu suspeitaria até de um médico religioso, pois com certeza não se faz muito consciente da ciência que aprendeu. Agora, no campo político, você realmente confiaria seu país, sua cidade, em políticos que acreditam conversar com seres invisíveis, no nascimento virginal, que acredita num livro da idade do bronze que claramente defende a escravidão, estupros, mortes, apedrejamento de crianças, racismo, um livro com fábulas ridículas e falsificações históricas, que acredita que um pão se torne um corpo, que homem caminha sobre as águas, que sai voando por aí feito um pássaro??? Por mais que um político assim diga que não mistura suas crenças com a política, dá para confiar num sujeito assim?? Você acha que em pleno século 21 alguém com um pensamento desse, uma crença, seja intelectualmente capaz de governar um estado?? Com certeza não - Marcos Paulo - Comunista em Ação.

3.) Querido Henrique, Espero que tudo esteja bem por aí, apesar do seu inconformismo com o fascismo religioso que grassa em nossa terra e também em outras latitudes... Envio-lhe dois pronunciamentos significativos que revelam que nem todos os chamados “evangélicos” são iguais. O primeiro do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) que reúne várias igrejas cristãs (incluindo a Igreja católica – veja o site) e o pronunciamento de minha igreja (Igreja Presbiteriana Unida do Brasil). Você pode publicar ambos nos jornais daí. 1) http://www.epj.org.br/principal/component/content/article/109-mocao-de-repudio-do-conselho-nacional-de-igrejas-cristas-do-brasil?format=pdf e 2) http://www.ipu.org.br/conselho-coordenador-da-ipu/pronunciamentosconselho/pronunciamento-cc-ipu-no-4  Grande abraço - Zwinglio Dias – Juiz de Fora MG.

Três opiniões contundentes e contrárias ao método inFeliciano de governar a CDHM. Espero que a leitura e após baterem tudo no liquidificador, algo de muito produtivo saia como sumo e dele possamos degustar algo muito saboroso. A proposta é sempre essa.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

ALGO DA INTERNET (71)

CONTINUEM FORTALECENDO GENTE COMO FELICIANO E VEREMOS ONDE ISSO NOS LEVARÁ – MOÇÃO DE REPÚDIO REJEITADA
Uma discussão toma conta da Câmara Municipal de Bauru no dia de hoje. O JC estampa em página inteira, “Moção contra Feliciano agita Câmara”. A CDHM – Comissão de Direitos Humanos e Minorias, aqui composta por Fabiano Mariano PDT, Markinho da Diversidade PMDB e Roque Ferreira PT propuseram um MOÇÃO DE REPÚDIO ao deputado federal Marco Feliciano, confessadamente homofóbico, racista, preconceituoso e intolerante com as minorias, pelo fato dele presidir a CDHM da Câmara dos Deputados. Virou, como no país todo, uma declarada guerra entre um grupo possuidor de um PROJETO DE PODER FUNDAMENTALISTA, colocando em risco a LAICIDADE do Estado e outro resistindo a isso, porém, num verdadeiro balaio de gatos. Evangélicos contra não evangélicos. Minha pergunta, feita a todo e qualquer evangélico é só uma: POR QUE TODO EVANGÉLICO POSSUI A NECESSIDADE DE APOIAR ALGUÉM COM UM CARÁTER ASSUMIDAMENTE RACISTA? POR QUE NÃO AGIR DIFERENTE DISSO? Eles não respondem isso, por um único motivo, o que está em curso é um evidente PROJETO DE PODER, colocando em risco, ameaçando ao Estado democrático de Direito. A intenção é uma só, justamente ao assumir a presidência negar tudo o que já foi feito, desmoralizá-la e anular o histórico da Comissão. Não seria motivo para brigas religiosas se as mentes fossem arejadas, mas não são e daqui para frente se acirrarão cada vez mais, isso é inevitável. Pessoas assim como esse Feliciano, com o poder nas mãos destruirão tudo o que ocorreu de avanço, conquistas duramente alcançadas serão jogadas na latrina.

A questão pega fogo país afora, tanto que é capa de duas revistas nessa semana e as exponho aqui para ampliar o debate. Na primeira, a mensal BRASILEIROS (abril 2013) traz como capa, “POR QUE EXISTEM OS FELICIANOS”. No Editorial, escrito pelo diretor Hélio Campos Mello, COM TODO DIREITO lá está: “Laicidade pode ser uma palavra com um som um pouco estranho, mas o seu significado é simples. Trata-se da qualidade do que é laico. Laico, por sua vez, significa não pertencer a nenhum tipo de religião. Portanto, não obedecer, não ser regido, não ser governado e, principalmente, ter o direito de se negar a ser influenciado por qualquer religião. O Brasil é um estado laico. (...) Diz-se que religião, futebol e política não se discute. Verdade? Não mais. As questões futebolísticas hoje, mais que discutidas, são guerreadas. As diferenças políticas, haja visto o que tucanos e petistas vivenciam a um bom tempo, são disputadas a tapa e impropérios nas páginas de revistas, internet e jornais. A religião não fica atrás. Tudo o que acontece em volta do deputado Marco Feliciano, principalmente o próprio, é, no mínimo, muito lamentável.”. No corpo da matéria, o BASTIÃO DO CONSERVADORISMO, escrita por Marcelo Pinheiro está: “Feliciano é a ponta de um iceberg que não pode ser ignorada. (...) Embora esteja mais do que claro que Feliciano não representa a ala progressista de nossa sociedade, o pastor é porta-voz de uma parcela expressiva do eleitorado do país, com cada vez mais força no cenário político, os fiéis seguidores das religiões evangélicas e pentecostais. O jornalista Pedro Markun, escreve o artigo FELICIANO TE REPRESENTA, aqui reproduzido: http://www.revistabrasileiros.com.br/2013/04/08/feliciano-te-representa/

Na semanal CARTA CAPITAL, lá está em sua capa, BANCADAS DE DEUS – ALÉM DO CONGRESSO, A FORÇA POLÍTICA DOS EVANGÉLICOS ALASTRA-SE PELO BRASIL. O texto interno, assinado por William Vieira e Rodrigo Martins, DE GRÃO EM GRÃO (http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/de-grao-em-grao/), extraio o seguinte: “Além de impedir avanços progressistas no Congresso, os evangélicos replicam, no varejo político local, os mesmos debates. E retrocessos. (...) Enquanto os holofotes da sociedade civil e da imprensa focam na CDHM, um processo mais silencioso se alastra pelo país, o número de bancadas evangélicas em assembleias legislativas e câmaras municipais, em capitais e cidades do interior, tem disparado. (...) O objetivo é instalar um braço da APEB – Associação de Parlamentares Evangélicos em cada cidade. (...) Daí emergiu a agenda estaégica nacional, que deverá pautar as ações de políticos evangélicos. Entre os pontos estão impedir os avanços nos códigos Penal e Civil, envolvendo o aborto, posse de maconha, criminalização da homofobia e casamento gay. (...) O que mais preocupa os laicos é a frente da ação voltada para projetos de cunho moral, em prol de um ideário conservador de nação, família e vida. (...) A regra é clara: sem maioria para aprovar seus projetos, os evangélicos formam alianças e usam a barganha política para impedir propostas progressistas. (...) É nas periferias desassistidas que essas igrejas acabam  servindo como fronteira moral, como fortaleza contra o tráfico de drogas e a violência. Ao servir de suporte comunitário, ganham espaço para implantar sua agenda moralizante. (...) Sempre que a discussão tem base moral, se envolve a vida, a família e os costumes, evangélicos e católicos se unem. (...) A esquerda, desde 2002, fez alianças fortes com os neopentecostais. (...) Esses parecem esquecer que a expansão do protestantismo só foi possível com a conquista do Estado laico”.

Quer queiramos ou não, a guerra está instalada e a referida Moção foi rejeitada, por 8 x 7, numa sessão onde até espasmos embutidos de racismo ocorreram (Roque teve que voltar à tribuna e jogar merda no ventilador - "que papo é esse de melhor amigo de infância negro"). Conchavos ocorreram e os que mesmo não sendo, ou se dizendo não preconceituosos, votaram ao lado desses (nosso trio da bancada de médicos, Paulo, Telma e Raul foi toda de Feliciano), pensando no futuro político ou não enxergando aonde esse crescimento desmedido da intolerância nos levará são uns bocós. Parecem não entender que os evangélicos só votam em alguns do lado de cá, enquanto não tiverem candidatos para todos os postos. Tendo, não mais precisarão votar em ninguém que não sejam iguais a eles, mas daí, os bocós abrirem os olhos já será tarde. A luta continua...

domingo, 21 de abril de 2013

FRASES DE UM LIVRO LIDO (68)

“PADRÕES DE MANIPULAÇÃO NA GRANDE IMPRENSA”, ENSAIO DE PERSEU ABRAMO
Publiquei um texto ontem, sábado, 20/04 no Bom Dia Bauru sobre as distorções que a mídia tenta impor ao resultado das eleições das urnas venezuelanas e cito esse livrinho, editado pela Editora Perseu Abramo (2009, 64 páginas) e ao ir às bancas hoje, vejo estampado na capa da revista semanal Época (Editora Globo), que o escritor peruano Mario Vargas Lhosa, assumido direitista, afirma que o Brasil não deveria reconhecer a eleição de Maduro e enumera imbecilidades só aceitas em histórias da carochinha. Uma vergonha para ele e para a imprensa que reproduz aquilo como algo sério. Daí, o livrinho escrito inicialmente ainda na era FHC, primeira edição de 2003, ser mais atual que nunca. Vejam algumas das frases selecionadas por mim:

- “A grande mídia brasileira é uma das mais competentes do planeta. (...) A mídia brasileira, tecnicamente, nunca fica a dever a qualquer grande jornal. (...) As campanhas publicitárias brasileiras são mundialmente famosas – e premiadas. (...) Azar o nosso. (...) A grande mídia constitui, hoje uma coluna de sustentação do poder. (...) Constrói consensos, educa percepções, produz realidades parciais apresentadas como a totalidade do mundo, mente, distorce os fatos, falsifica, mistifica – atua, enfim, como um partido que, proclamando-se porta-voz e espelho dos interesses gerais da sociedade civil, defende os interesses específicos de seus proprietários privados. (...) A revolução conservadora propiciada pela tecnologia introduziu pelo menos um novo padrão de manipulação, o que permite fabricar socialmente a amnésia, mediante a imposição da velocidade informativa (...), fazendo que rapidamente seja esquecido aquilo que havia pouco era considerado fundamental. A aceleração tecnológica do mundo prova-se um eficaz instrumento de dominação. (...) Nos ensinou a desmontar a notícia estampada nos jornais. Mostrou os artifícios que permitem aos jornais afirmar, em manchetes, o contrário do que realmente aconteceu. (...) É igualmente claro a determinação de manipular a notícia”. (...) ...se a grande mídia forma, hoje, uma espécie de Ministério da Verdade orwelliano, encarregado de manipular informações sobre a realidade, produzir amnésia e criar consensos, nós podemos, em contrapartida, confeccionar uma Grande Enciclopédia das Manipulações”, págs. 7 a 13, José Arbex Jr.

- “...distorção e pretensão de algumas empresas jornalísticas de se organizar e tentar assumir o papel de partido político. (...) Situa o jornalismo praticado pelo mercado como um instrumento de controle político das elites, contrário aos interesses maiores do povo brasileiro. (...) A motivação real não é o lucro, mas está no campo político, na lógica do poder.(...) É a adesão da imprensa brasileira aos valores do neoliberalismo e à participação da mídia no exercício do poder formal das elites dominantes. (...) A diversidade e a pluralidade de informações e opiniões deixam de ter seu espaço na sociedade, ela se transforma em autoritarismo. (...) Não existe mais espaço para que os veículos destoassem do pensamento único. (...) Nada mais atual do que a ocultação total, parcial ou de aspectos da realidade. (...) Manipulação que distorce a realidade, consome os veículos de comunicação todos os dias de maneira sutil, contida, outras, de modo escancarado, grosseiro e agressivo”, págs. 15 a 22, Hamilton Octavio Souza.

- “A maior parte do material que a imprensa oferece ao público tem algum tipo de relação com a realidade. Mas essa relação é indireta. É uma referência indireta à realidade, mas que distorce a realidade. (...) A maior parte dos indivíduos, portanto, move-se num mundo que não existe, e que foi artificialmente criado para ele justamente a fim de que ele se mova nesse mundo irreal. A manipulação das informações se transforma, assim, em manipulação da realidade. (...) No padrão de ocultação não há a menor chance de que o leitor tome conhecimento de sua existência por meio da imprensa. O fato real foi eliminado da realidade, ele não existe. (...) O órgão de imprensa praticamente renuncia a observar e expor os fatos mais triviais do mundo natural e social e prefere apresentar as declarações, suas ou alheias, sobre esses fatos. Freqüentemente, sustenta as versões mesmo quando os fatos a contradizem. (...) Se o fato não corresponde à minha versão, deve haver algo errado com o fato. (...) O leitor é induzido a ver o mundo não como ele é, mas sim como querem que ele o veja. (...) Alguns assuntos jamais, ou quase nunca são tratados pela imprensa, enquanto outros aparecem quase todos os dias. Alguns segmentos sociais são vistos pela imprensa apenas sob alguns poucos ângulos, enquanto permanece na obscuridade toda a complexa riqueza de suas vidas e atividades. Alguns personagens jamais aparecem em muitos órgãos de comunicação, enquanto outros comparecem abusivamente. (...) O leitor/espectador é induzido a acreditar não só que seja assim, mas que assim será eternamente, sem possibilidade de mudança. (...) A realidade real foi substituída por outra realidade, artificial e irreal, anti-real, e é nesta que o cidadão tem que se mover e agir. De preferência, não agir! (...) A distorção da realidade pela manipulação da informação é deliberada, tem um significado e um propósito. (...) São os proprietários das empresas de comunicação os principais – embora não os únicos – responsáveis pela deliberada distorção da realidade, pela manipulação das informações. (...) Os grandes e modernos órgãos de comunicação, no Brasil, parecem-se efetivamente muito com os partidos políticos. (...) Recriando a realidade à sua maneira e de acordo com os seus interesses político-partidários, os órgãos de comunicação aprisionam os seus leitores nesse círculo de ferro da realidade irreal, e sobre ele exercem todo o seu poder. (...) As classes dominadas, portanto, tenderão a lutar pela transformação dos órgãos privados e estatais em órgãos públicos, sob formas de mecanismo que evidentemente ainda estão por ser engendrados e desenvolvidos. E finalmente, então, o jornalismo poderá se libertar do seu pior inimigo: a imprensa tal ela existe hoje”, págs. 23 a 51, Perseu Abramo.

- “Sem medo de exagerar, pode-se comprovar que técnicas jornalísticas e a experiência de profissionais regiamente pagos são utilizadas permanentemente para encobrir a realidade. (...) A manipulação é generalizada e constante, contando-se nos dedos os profissionais e veículos que têm procurado manter eqüidistância e interesses neutros. (...) Os editores esconem a verdade, isto é, os problemas, nas últimas quatro linhas – o que lhes permite fingir, que não estão deixando de noticiar nada, uma atitude hipócrita, pois eles sabem muitíssimo bem que a informação que impressiona o leitor é aquela estampada no título e no lide. (...) Diariamente, os jornais estão cheios desse truque de escondeção da verdade. (...) Nesses tempos de hipocrisia e cinismo, os de-fomadores de opinião encobrem até genocídios e depois, angelicalmente, escrevem ou fazem comentários indignados quando, em certa época do ano, aparecem os relatórios de organismos. Indignação, por que. São cúmplices do genocídio e de tudo o mais... (...) Sempre pareceu odioso os meios de comunicação ignorarem determinados fatos”, págs. 53 a 63, Aloysio Biondi.

sábado, 20 de abril de 2013

MEUS TEXTOS NO BOM DIA BAURU (223, 224 e 225)

PAREI COM O CHOCOLATE – texto publicado edição 06.04.2013
Não via meu amigo Val há um bom tempo. Anteontem me aparece no portão de casa e a prosa estendeu-se por boa parte da manhã. Fico sabendo dos motivos de seu sumiço. Estava à trabalho pelo interior da Bahia, isso desde o começo do ano. Voltou cheio de histórias. Nem me lembro dos motivos de termos engatado no assunto da Páscoa. Num certo momento diz: “Não como mais ovos de Páscoa, aliás, mesmo gostando muito, decidi não consumir mais chocolate”. Levei um susto, pois também gosto muito da iguaria derivada do cacau. Sou praticamente obrigado a perguntar dos motivos. Ele me explica. “Trabalhei em várias cidades onde o cacau predomina na agricultura local e envolve uma elevada quantidade de trabalhadores. Todos há anos ali naquela continuada lida, colhendo-o de árvore em árvore e cada vez mais pobres, sem nenhuma esperança de melhorar de vida. Observei por dias a incessante e cansativa função e como é feita a sua remuneração”, começa seu relato. “Mas e daí, que isso tem a ver com não comprar mais chocolate, explica aí, Val?”, pergunto. Ele me diz tudo de uma só talagada: “Eu vi estampado na fisionomia deles a desesperança. Trabalham muito e ganham quase nada, enquanto uns poucos ganham os tubos, muito mesmo. Injustiça de doer a alma do cidadão. Gerações e gerações de trabalhadores sem nenhuma esperança. Em torno de R$ 2 reais dia por balaios e balaios de cacau, exaustivo trabalho para quase nada. Eu sofri ao lado deles”. Tudo começou a fazer sentido. “Como eu vou poder continuar comendo chocolate se a cada vez que pego um penso neles todos? O mais difícil foi convencer os de casa que o chocolate é fruto de muita exploração, a do homem pelo homem. Trocamos por outra coisa”, me disse. “Que outra coisa, Val, pois se for pensar por esse lado, não vai sobrar nada para colocar na sua mesa”, conclui. O cacau, sempre foi desde as revelações feitas pelos livros de Jorge Amado, só a ponta de um iceberg de muita ganância, insensibilidade, onde o ser humano nunca está em primeiro lugar. Esse o justo mundo que vivemos.

GRILLO, VALERIANO E EU NAS PARADAS – texto publicado edição 13.04.2013
Beppe Grillo fundou um agrupamento político na Itália, o Movimento 5 Estrelas (MS5E). Ele é um famoso comediante e agrupou em torno de um surreal fenômeno, o do grilismo. O perfil ideológico é conservador, tentando se declarar nem de direita nem de esquerda. O cara saiu vitorioso nas últimas eleições italianas, como o fiel da balança da governabilidade no país e se coloca acima dos partidos e contra estes. Pouco se sabe de suas reais intenções, mas o que se vê e muito é visto, porque tudo o que se passa nas entranhas do movimento circula pelas vias internéticas. O fato é que Grillo faz bem uso disso e nada de braçada diante dos que atuam distantes desses meios. Não sei avaliar se Grillo seria mais ou menos pernicioso para o processo em curso do que um Valeriano, por exemplo. O que sei é que ambos usam muito bem os instrumentos virtuais. Grillo pelo já exposto e Valeriano por divulgar a cada novo abrir de boca, seu pensamento, sua linha ideológica, sua forma como entende o diabalização da sociedade e na divulgação disso, muitos oponentes, porém muitos apoiadores. Ele amplia os descontentes e amplia pelo outro lado, os contentíssimos. São os dois lados da mesma moeda Eu tento fazer o mesmo com um blog bauruense, o Mafuá do HPA, gravitando à esquerda, porém com ação ainda restrita somente com os de minha aldeia. Não passo disso, pois não possuo o mesmo poder aglutinador de Grillo e de Valeriano, mas tento, insisto e resisto. Continuo indo em manifestações por onde elas ocorrem, sei da importância do povo continuar alerta, organizado e sempre a postos para fazer a grita no local dos fatos, mas sei também da importância de tudo hoje estar interligado com uma divulgação pela internet. De tudo, minha modesta conclusão. Será que ao batucarmos algo para os que estão do lado de lá dessa telinha mágica, estamos conseguindo fazer chegar a mensagem como a queríamos? O que falta para isso? Um amigão meu esteve aqui ontem, mudou-se para Botucatu e criou um blog para postar acusações contra os desmandos lá ocorridos. Fui olhar seu blog e não vi ali nada atrativo, nada sugestivo. Diante de tanta coisa vistosa, não pecamos pela falta de profissionalismo na apresentação? E por que não unir isso tudo? De bonito se vai ao longe, talvez mais rapidamente.

PADRÕES DE MANIPULAÇÃO – texto publicado edição de 29.04.2013
A eleição na Venezuela transcorreu dentro da normalidade até o momento em que Maduro, cuja votação esperava-se ser mais expressiva, ganhou com reduzida margem. Estranhamento? Poucos. Maduro não é Chávez, isso é ponto pacífico. O jogo lá sempre foi pesado e enraivecido, aliás, como aqui. Perder ninguém gosta, ainda mais por pequena margem. Daí algo ainda não muito bem esclarecido. Caprilles, o opositor, juntando na sua arca tudo o que seja contrário ao bolivarianismo, diz exigir a recontagem dos votos. Até aí, algo ainda natural. Nos bastidores essa naturalidade não existiu. O bloco direitista foi para as ruas, fez e aconteceu. Quis virar o país do avesso e com apoios externos conhecidos, EUA principalmente. Pessoas foram fuziladas em esquinas, carros e prédios incendiados por terem vinculação com o lado vencedor nas eleições. Estava mais do que claro estar em curso uma tentativa golpista. Felizmente abortada, mas os culpados ainda não devidamente identificados. A Venezuela tem lá sua divisão. Nela o lado bolivariano predomina. Algo mais ocorreu e ocorre não só lá, mas em vários lugares, inclusive no Brasil. Vivenciamos via informações retransmitidas pelos órgãos de comunicação uma total inversão da realidade lá ocorrida. Isso me fez lembrar-se de um livrinho lido anos atrás, o “Padrões de manipulação na grande imprensa”, ensaio do sociólogo Perseu Abramo. “Recriando a realidade à sua maneira e de acordo com os seus interesses político-partidários, os órgãos de comunicação aprisionam os seus leitores nesse círculo de ferro da realidade irreal, e sobre ele exercem todo o seu poder”, afirma. Vejo a maioria da mídia ressaltando exatamente o contrário do que aconteceu. O fato em si não importa mais, o que vale são as declarações, dela mídia, alheias a esses fatos. “Frequentemente, sustenta versões mesmo quando os fatos a contradizem”, conclui Abramo. A eleição foi limpa, sujo está sendo os que não respeitam o resultado das urnas e com ajuda da mídia, de lá e daqui, tentam mostrar que o que não ocorreu ocorreu.

RICK STONES, 53 ANOS HOJE E EM PLENA RECUPERAÇÃO – texto publicado ontem no meu facebook e que até o momento já teve 57 compartilhamentos: Tropeços na vida quem não os dá? Todos e durante vários momentos em nossas vidas. Alguns, dizem, são inevitáveis. Pisadas em falso, degringoladas, descaminhos, enfim, é realmente muito difícil caminhar na linha nesse mundo atual. Dizem que se assim o fizéssemos o trem nos pegaria. Por aqui, trem tem pouco (já teve muito), mas problemas pessoais os temos em demasia. Cada um administra o seu ao seu modo e maneira. Quando descobrimos que alguém querido está conseguindo dar a volta por cima e não se perder totalmente, uma alegria nos acomete de imediato e queremos logo abraça-lo de contentamento. LUIZ HENRIQUE FRANCO CARLONI é o nosso querido e conhecido RICK STONE, popular roqueiro bauruense, que tanto sucesso fez por aqui e em outra plagas décadas atrás. Ontem me foi lembrado de uma apresentação sua em pé, em cima de uma mesa do extinto Rock Drinks. Ele fez muito disso e sua fama corria estradas. Hoje está completando 53 anos e a alegria dos próximos dele é imensa, pois está conseguindo superar, com a ajuda de um intenso tratamento ambulatorial e apoio familiar aos tantos problemas vividos por ele nos últimos tempos. Está saindo do caos e já vislumbrando imensa luz no fim do túnel. Ontem, relacionou para sua sobrinha, Anna Julia (a foto dele é dela), as bandas onde se lembra de já ter tocado: Sexy Machine, Tuning Blues, Grupo Épiko (com Renato Sbeghen), Stone Blue, Rádio Comando (em 86, com Andrés Gassner) e as duplas com Carlão, Cálido Delírio e Pedra Azul. Tudo deve estar sendo revivido na memória de quem fez e aconteceu. Rick é merecedor de todo nosso apoio e consideração, pois foi grande, ilustre e inesquecível personagem dessa Bauru que resiste. A torcida, com certeza é para que, Rick complete esse ciclo em sua vida e volte a nos alegrar, sem excessos, exageros, mas sempre irreverente, mordaz, diferente e ousado.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

MEMÓRIA ORAL (140)

UMA VIDA ENTRE GATOS – A SAGA DE LUZIA EM PIRATININGA

Imaginem uma casa com mais de trinta gatos. Elas existem por aí e uma delas em Piratininga, 15 km de Bauru, num cenário mais do que trágico, surreal, pois eles vivem no quadrilátero da residência de Luzia Aparecida João, 72 anos, viúva e residindo sozinha no Condomínio Pontal, local fechado, monitorado por seguranças, com belas residências, aparente tranquilidade e a sua destoando das demais. A diferença são os gatos e o resultado dessa quantidade elevada de felinos, espalhados por tudo quanto é lugar dentro e fora da casa. A sua história começa lá atrás, exatos 11 anos, quando foi ali residir. “Sempre gostei de animais e acabei herdando gatos dos vizinhos que moram aqui perto. Mas tudo cresceu demais. Nem sei mais como chegam. Acho que batem tambor um para os outros, trombeta, passam fax, e-mails, sinal de fumaça, só sei que vã chegando. As pessoas passam na rua veem gatos aqui e no dia seguinte deixam outros”, começa seu relato.

A casa transpira e respira gatos, pois eles são os verdadeiros donos da casa, circulando livremente por todos os cômodos da casa, em perfeita harmonia com um único cachorro. “Desempato um, aparece outro. Pouco tempo surgiram sete, assim do nada. Já cansei de escrever meus relatos para muitos lugares e quanto mais o faço, mais surgem gatos. Minha vida hoje é toda em função deles, não posso mais comprar móveis enquanto persistir essa situação. Outro dia um mordeu o fio da televisão e fiquei dias sem ver TV. Gato dorme em qualquer lugar, até na cama comigo, eles não escolhem lugar”, continua descrevendo sua situação, enquanto procuro um lugar para sentar, procurando entender como está buscando uma solução para a situação.


“O réu maior, primário nesse meu caso é a Prefeitura Municipal de Piratininga, que está sendo intimada a recolher os gatos e eu a entrega-los. Não me recuso a fazer isso. Quero ficar com uns dois, mas não tenho mais condições de ficar com todos. A cidade não tem canil, nem gatil, mas o problema hoje está na esfera do Judiciário, não é mais nem pública. O que não quero e o sei que não pode ocorrer é matarem os gatos. Onde os gatos irão não sei, nem o prefeito sabe, mas aqui não podem mais ficar. Veja a situação que me encontro”, diz. O condomínio tem aproximadamente 80 casas e após duas reclamações de vizinhos um inquérito foi instaurado.

O referido processo é um Mandato de Citação, de nº 458/2012, construída pela Associação dos Proprietários e Moradores do Residencial Parque Pontal. No início lá está: “Fere o direito de vizinhança e caracteriza o uso nocivo da propriedade e manutenção de inúmeros animais em precárias condições de higiene e cuidados, que causem aos vizinhos perturbações de toda ordem, especialmente em razão da sujeira, do mau cheiro e das invasões da propriedade alheia”. Luzia se defende da seguinte forma: “Que posso fazer se os gatos são aqui depositados. Cada gato aqui tem uma história e meu caso aqui é uma espécie de Adoção Forçada. Eu não sei de onde vieram esses gatos, mas não quero vê-los morrer na rua. Busco uma solução, mas enquanto ela não vem, aqui eles tem abrigo e recebo ajuda. Para castrar, a Sociedade Amigos dos Animais de Piratininga, hoje ADAP pagam. Os alimentos recebo de umas três pessoas e uma firma. Eu sou assistida, tem ainda muita gente que gosta de animais”, conta, me mostrando um dos quartos da casa, com uma estante com algumas embalagens de alimentos para gato.

No citado processo o advogado bauruense Hermann Schroeder, que defende Luzia, estipula uma provável multa pelo descumprimento da Prefeitura, de R$ 1 mil reais dia. Isso, claro, ainda está no campo das hipóteses, pois o que se busca é uma solução definitiva para o impasse. “A Prefeitura deverá ser a fiel depositária dos animais. Dona Luzia faz hoje um trabalho que caberia a Prefeitura e não tem mais condições de abrigar quantidade tão grande de animais. Os animais não podem ser mortos, pois o Estado é o guardião deles, isso respeitando Decreto federal 24645 de 1934, que diz: ‘Todos os animais existentes no país são tutelados pelo Estado’. Ela resgata, salva da morte os animais, mas o salvamento mesmo precisa ser dado pela Prefeitura e quando um prefeito descumpre a lei ele pode até ser cassado por causa disso”, ressalta o advogado por telefone.

A história de Luzia sempre possuiu algo no trato com animais. Viúva duas vezes, a primeira na Espanha, quando morou em Mallorca por 9 anos. “Que diferença é o tratamento para os animais, crianças e adultos. Lá na Espanha, antes de deixar o país construí um gatil e deixei ele funcionando. Sempre gostei de gatos, mas não tantos assim. Minha vida deixou de ser normal por causa disso. Aqui no condomínio tinha um grande amigo, o Brizolinha (Marco Aurélio Brizolla, famoso político bauruense), ele morava aqui na esquina e me ajudava a pagar a veterinária. Ele quebrava meus galhos e hoje fiquei só. Vivo de um baixo salário e se não fosse a ajuda do meu filho, não pagaria minhas contas”, resume e finaliza sua história.

Para quem não está acostumado é difícil conviver alguns poucos minutos dentro da residência de Luzia, por causa dos espaços todos tomados pelos gatos e do cheiro proporcionado pela presença deles em todos os lugares. Sua história comove, pois demonstra algo incomum, o amor desmedido pelos animais. Esses, com certeza, transformaram sua vida, pois sua casa reflete essa desmedida opção de não abandonar os já abandonados. Comove, instiga, quem permanece ali por alguns instantes, além de tudo saí dali como se tivesse levado um murro abaixo da linha da cintura. Na despedida ainda me diz: “Outro dia uma senhora me apareceu com um casal e me disse que achou na porta dela e que deveria ser meu. Deixou aqui. Inventam de tudo e tudo acaba sendo deixado no meu portão”.

Ao abrir minha caixa de e-mails, alguns repassados por ela, versando sobre sua saga, epopeia ou seja lá o que for aquilo que tem vivido: “AMIGA, NÃO TÃO AMIGA AQUI DO CONDOMINIO! - Ainda ontem estava falando dos seus gatos e gatinhos para minha veterinária, onde levamos 4 gatinhas abandonadas aqui em minha casa para castrar, e para doação posterior caso for, ou para entregar para a PREFEITURA, para os devidos fins, devido ao processo em andamento, eu pergunto, porque me desovaste a noitinha caladamente seus 2 gatinhos em uma caixa de papelão de fraldas pamper, que se acha emqualquer lugar, posto e saído a mil de minha casa. Te pergunto: PORQUE????? NÃO TENS RESPONSABILIDADE OU CONDIÇÕES DE CASTRAR SUAS GATAS???? SEI QUE TENS. Então não jogue o problema nas costas dos outros, e não foi a primeira vez, e voce sabe do que estou falando, pois você está no meu face, e me chateia muito, se não tens grana para castrar procure nossa ONG e daremos um jeito, vaquinha e tudo o mais, mas POR CARIDADE, não me crucifique mais, estou como aquele filme MULHER A BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS. Estou postando para todos e você vai ler eu sei, então tenha vergonha na cara e a dê para bater, mas eu te perdoo, cada um dá o que tem, e pelo visto não tens nada para dar. TENHO DITO”. Num outro foi também enfática: “Li recentemente um livro, cujo DVD já havia adorado. É a historia de um garoto, filho de comandante no campo de AUSCHWUTZ, que ele na sua ignorância infantil, chamava HAJAVISTA, onde seu papai recebia a visita de HITLER, que ele chamava de FÚRIA, sua consideração pelo campo de muros altos e cercados de arame farpado, o livro é O GAROTO DE PIJAMA LISTRADO, que aconselho, pois emprestei na Biblioteca Pública da cidade, digo isso, porque andando hoje pelo condomínio, vendo os muros altos, com arames farpados, me veio a mente um programa de TV, onde assim que cheguei da Europa, onde residi por mais de 9 anos, uma entrevista da impagável DERCY GONÇALVES, e lhe perguntaram: ‘Dercy qual o maior palavrão que você conhece’, e ela sem pestanejar gritou: ‘C O N D O M Í N I O’, na ÉPOCA NÃO ENTENDI, HOJE ME SENTI A GAROTA DE PIJAMA LISTRADO, CERCADA DE FÚRIAS..... Tenho dito”. E com essas mesmas palavras encerro esse texto, Tenho Dito.