sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

UM AMIGO DO PEITO (46)

UM DESABAFO NO ÚLTIMO DIA DO ANO – UM QUE VAI E OUTRO QUE CHEGA
Último dia do ano e uma bagunça generalizada sobre a mesa do Mafuá. Dizem que se a bagunça atravessar o ano, ela persistirá pelo ano novo todo. Não sei por onde começar. Tem muita coisa a ser feita. Pessoas para dedicar minha atenção, tarefas a serem cumpridas e uma vontade de fazer muito pouco. Vou tentando, ao meu jeito, dar uma melhorada no visual, uma apresentação mais palatável para esse meu rico espaço de trabalho.

Antes do ano terminar, quero reverenciar alguns amigos (as) e pessoas mais próximas. Conheci Ana Bia em 28/12/2009 e juntos de uns poucos amigos comemoramos isso no mesmo lugar do encontro inicial, o bar Amadeus, no exato dia quando completamos um ano de convivência, de algo que já é muito mais do que um simples namoro. Estou mais feliz que pinto no lixo. Tenho um filho maravilhoso, 16 anos e uma cabeça pensante. Herdou de mim coisas muito boas e algumas ruins. Não imaginam o quanto gosto de debater com ele. Muitas das pessoas que conviveram comigo ao longo desses meus 50 anos estão ao meu lado e compartilho de amizade duradoura com elas. Meus pais, Heleno e Eni, que me acolhem em sua casa, numa convivência pacífica e profícua. Eles cuidam de mim e eu cuido deles, tocamos o barco dentro das possibilidades de cada um. A saúde é o grande problema e contornar isso é um exercício diário. Tenho amigos sinceros e com eles desabafo minhas agruras, incertezas e faço minhas consultas sobre os próximos passos. Revejo sempre que posso Duílio Duka, Sivaldo Camargo, Marcos Paulo, Daniel da Proença Design, Wellington Leite, Marisa, Ademir Elias, Vinagre, Orlando Alves, Elson Reis, Fátima e Antonio Carlos Pavanatto, Zequinha Kronka, Lázaro Carneiro, Arconsio, Adilson da Banca, Tristan, Eduardo da White, Lígia Juncal, Cristina Camargo, Carioca da Feira do Rolo, Tuim, Turco Suaiden, PH, Bola dos tapetes, Denise Amaral e Neto, Tito Pereira, Gaspar Moreira, Roxinha, João da Kombi, o pessoal do SESC, Fio, Roque Ferreira e Tatiana Calmon, Pavanello, Rose Barrenha, Gilson e Gilmar Dias, Rosio, João Alcará, Isaías Daibem, Camila, Ricardo Bagnato, Vitor Martinello, Vera Tamião, Lídia Possas, Laranjeira, Bordini, Arthur e Lilian, Bráulio, Ademar, Amilton e Márcia Nava, Marisa Basso e Kyn Jr, Fabíola, Adelino funileiro, Neli, Fausto Bergocce, o trio da Maria Fumaça (Alex, Jesus e Luís), Paulo Neves, Paulinho da Oficina Cultural, Fátima da Naturae Vitae, Reynaldo Grillo, Rafael Agostini, Madê e Regina do teatro, Rosa Tolon, Ralinho, Vicentinho, Silvio Selva, João da CUT, Lu Quinezzi, Lulinha, Elizete e Silvio, Neizinho, Zilda, Tito Madi, Yamashita, o trio Celso, Zé Maria e seu Toninho da Ave Maria do Terra Nossa, Fernando do Templo Bar, Gibi, Zé da Viola, Paulo Lima, Yuri, Tuba e Léa, Alaílton, Valtinho Ferreira, Zanello, Tuga, Carlos Latuff, maestro George Vidal e Célia, Markinhos e Rick, Inês Faneco, Cláudio da banca, Néia e Geraldão, Cássio Cururu e tantos outros que me fogem à memória. Convivo harmoniosamente com a Cleonice, Zezé, Maria Luisa e Giselle, todas seguindo suas vidas. Meus irmãos todos, meus primos queridos, Guto, Célia (idem pro João Albiero) e Beto, tia Edi e Carlão Grandini, mais o Rubão e tios Cido e Inês. Meus novos amigos cariocas, dona Darcy e Moacyr, Zé Pereira e Mara, Ana Letícia, Paulinho e Roseli, dona Lêda e Sueli. Meu povo lá do Gaspa, o Agrício, Cleide, d. Antonia, Edgar, Donizeti e Chico Cardoso. Puxa, já devo ter esquecido de um monte de gente. Todos esses e mais alguns conviveram comigo durante esse ano, alguns mais próximos, outros menos. Todos importantes. Vivo num país recheado de diferenças, mas nos últimos anos um trabalhador deu um rumo novo a ele, movido pela sua sensibilidade social e isso muito me alegrou, assim como ter feito sua sucessora, deixando o retrocesso para trás.

Escrevo para O Bom Dia, Alfinete e a Revista do Caminhoneiro com regularidade. Carta Capital abriga meus textos sempre que estão à altura da publicação. O Jornal da Cidade publica minhas missivas, nem sempre suaves. Mantenho a HPA Chancelas, meu ganha pão com a ajuda do Manuel e da Marlene, meus amparadores profissionais. Minha irmã Helena está cada vez mais próxima de mim e sabe muito de mim e das coisas à minha volta. Ninguém é uma ilha e ando junto de todos esses. Amanhã recomeço minha falação e ouço por aí que quem fala muito incide em muitos erros. Assim sendo, erro aos borbotões, mas insisto num caminho do qual procuro não me desviar e se o faço, não me culpem, vivo adoravelmente na corda bamba, no fio da navalha e matando cachorro a grito. Sou feliz dessa forma.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

OS QUE SOBRARAM e OS QUE FAZEM FALTA (15)

DOIS EX-JOGADORES, UM DAQUI, OUTRO ARGENTINO - E A PARTIDA FINAL DE "REBUÁ"
No futebol, todos sabemos, os atletas nem sempre primam por serem pensantes, a viverem com livros embaixo dos braços e proferindo frases com começo, meio e fim. É um tal de "Se Deus quizer", "O professor (como se dirigem aos técnicos) mandou fazer desse jeito" e daí por diante . Os mais famosos vivem num luxo desmedido e com procuradores a responderem sobre suas vidas. Desse seleto grupo, conto nos dedos uns poucos a fazerem um discernimento bem construído do meio em que vivem. PELÉ até hoje, soube levar sua vida pessoal de uma forma exemplar, mas dá muito fora quando resolve abrir a boca. Da geração surgida quando comecei a me interessar por futebol lembro com saudade de AFONSINHO. E hoje, quem seriam os caras? Pera lá, tenho que pensar um pouco para responder. Nenhum concilia uma vida de voltada para um melhor entendimento das injustiças desse mundo com a dos gramados.

Mas eu tenho meus dois, aposentados do exercício da profissão. Ambos cracaços de bola. Primeiro falo do brasileiro. SÓCRATES, que encantou no Corínthias e no Flamengo. Fez medicina e comandou algo único dentro do esporte nacional, a "Democracia Corintiana", uma experiência que dificilmente irá se repetir dentro do cenário atual. Quando Sócrates parou de jogar começou a despontar com mais afinco o outro, o ser pensante e atuante, bem dentro do seu tempo. Ele, que sempre esteve posicionado ao lado das mais justas questões nacionais, escreve tão bem quanto continua atuando, tanto na medicina, como no jornalismo. Falar dele, para mim, é chover no molhado. Vou direto ao um escrito, publicado na edição de 11/12/2010 na coluna Pênalti da semanal Carta Capital:

"Quando garoto eu me apaixonei perdidamente pelos Beatles. Os caras eram o máximo para minha cabecinha infantil, mas plena de sonhos. Let it be, Help e muitos outros foram títulos musicais inesquecíveis. Ao lado do futebol, a música fez parte de minha formação sensitiva e intelectual, ainda que nunca tenha verdadeiramente me aproximado da língua inglesa que até hoje me leva a pensar mais nos americanos do norte e pouco aos ingleses. Uma pena, pois são muito diferentes, mesmo que em algum momento das suas histórias tenham sido, ou ainda são, imperialistas, no pior sentido da palavra. Mas isso não vem ao caso já que fomos (ou ainda somos) escravagistas. Nem por isso devemos nos penitenciar generalizando estes desvios de conduta ideológica. Se o futebol nunca me ofereceu um ídolo pleno, os Beatles sim. John Lennon me fez perceber que o mundo caminhava e ainda caminha para a destruição da humanidade por meio da perda ou esquecimento do humanismo. Quando a banda se dissolveu perdi um pouco o rumo, retomado logo depois com a melhor fase de John. Imaginemos alguém brigando pela paz em pleno coração de Nova York, absolutamente envolvida com a invasão do Vietnã? Grande ser destemido defendendo suas causas. Assistindo Paul McCartney no Morumbi, palco dos sonhos esportivos, em pleno domingo de festa e absolutamente lotado de emoções, pude finalmente juntar os cacos de quem sou hoje. Um êxtase extraordinário, imperdível e inesquecível, como um gol de título".

E agora o argentino, que não poderia ser outro, MARADONA. Gosto demais desse sujeito, mesmo com toda sua empáfia e pedantismo. Faz parte de sua marca registrada. Jogou muito bola, comandando um dos maiores escretes portenhos. Naquela época o via como a maioria dos brasileiros, um rival, ou melhor, um inimigo a ser vencido sempre. Esse tempo, felizmente, já se foi. Hoje, revendo toda sua trajetória de vida, a repetição de alguns tropeços e os acertos em posicionamentos fortes e contundentes, tornei-me um "maradonista" de carteirinha. Primeiro, duas admirações recíprocas, Che Guevara e Fidel Castro. Ele se mostra um verdadeiro latino e entende como poucos os problemas desse imenso continente subjulgado pelo poder imperialista de um Grande Irmão a nos fazer sombra lá do Norte. E ele, com todo o poder que possui e a marca conquistada pelo seu nome, combate isso. Isso é mais do que adorável. Querem mais. Em todo e qualquer momento que algo de contundente acontece nessa nossa América, como na tentativa de golpe no Equador, na Bolívia, na Venezuela, em todas essas oportunidades, Maradona se fez presente e posicionando-se ao lado de Correa, Evo e Chávez. Que outro jogador faz isso hoje? Só ele e Sócrates. Esse ano o craque completou 50 anos (minha idade) e após um início vibrante na Copa, comandando o selecionado de seu país, sairam do torneio após uma derrota acachapante e triste, muito triste. Não consigo me alegrar com aquilo, como vejo muitos fazerem. Queria que a Argentina avançasse e talvez um enfrentamento com o Brasil na final. Esses meus dois craques. Cadê os de hoje a pensarem não só em suas coisas, em enricar e esbanjar o conseguido com as futilidades da vida? No mundo da bola de hoje quem se sobressai é a ESPN, comandada por outro da mesma cepa, JOSÉ TRAJANO.

NÃO POSSO DEIXAR DE FALAR DE REBUÁ, UM SER IRREVERENTE DAS RUAS QUE SE VAI
Abro os jornais de hoje e estampado no JC algo a me entristecer, Rebuá morreu de forma trágica, atropelado numa rodovia e sem socorro, com vários carros passando sob seu corpo. Gladston de Toledo Rebuá foi-se aos 61 anos e irreverente como poucos, um ser dos mais populares de nossas ruas. Não o conheci na fase áurea, mas a pouco tempo, coisa de uns seis anos. Já na rua, fazendo se passar pelo personagem criado por ele, o de um autêntico judeu, todo de preto, sempre falante e apregoando suas proximidades políticas. Falava que estava com reunião marcada com Franciscato, que Pedro Tobias junto com ele iriam estar em tal lugar, que Marcelo Borges lhe procurou, Caio Coube esteve com ele, o deputado Maluf ligou e assim por diante. Suas estórias sempre compridas, vinham recheadas de detalhes, todos inventados ao sabor do vento. Não gostava dessa sua reverência a gente de um poder nada popular, elitista demais pro meu gosto, mas dava corda, alongávamos o papo, pois mesmo ciente do seu estado, sempre rendia algo animado. Vê-lo degradando-se a cada dia era algo a doer, pois nos últimos tempos nem sua roupa estava mais em ordem. Estava num abandono de dar pena. A tragédia anunciada aconteceu e que não pegue ninguém de surpresa. Conheço outros tantos na mesma situação. Fiz um Retratos de Bauru com ele aqui no Mafuá em 30/01/2008, o de número 9 (tenho várias fotos dele pelas ruas) e ali os primeiros traços do abandono, que viria a ficar mais evidente com o passar do tempo.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

UM LUGAR POR AÍ (07)

DUAS VISITAS MARCANTES NO RIO DE JANEIRO - "ISLÃ" E "GUERRA E PAZ"
Uma ida ao Rio de Janeiro é sempre recheada de inusitadas visitas. Passeios mil pelos mais variados lugares, andanças revendo locais históricos e gente de uma cidade verdadeiramente maravilhosa. Eu, o filho Henrique, a namorada Ana Bia e a amiga Rose Barrenha gastamos muito sola de sapato entre 19 e 26/12. Eu e o filho, inveterados amantes dos sebos cariocas, nos esbaldamos até nossas parcas economias sucumbirem diante de tanta iguaria. Perdemos um evento a ser lamentado profundamente, na segunda, 20/12, foi preparada uma despedida ao presidente Lula com show gratuito à população de Zeca Pagodinho no Sambódromo e só ficamos sabendo no dia seguinte, pelos jornais. Foi para bater a cabeça na parede. Sim, estivemos também nas praias (não queiram ver minhas fotos na areia), mas isso é irrelevante diante de duas exposições visitadas, ambas divinais e com ENTRADA GRATUITA.

O motivo desse escrito todo é para reverenciar ambas. Na primeira, a Exposição "ISLÃ", no Centro Cultural Banco do Brasil (ela foi encerrada em 26/12), com mais de 300 obras de museus da Síria e do Irã, que, em sua maioria, nunca saíram desses países. A exposição compreende 13 séculos de arte islâmica e tem peças de ourivesaria, mobiliário, tapeçaria, vestuário, armas, armaduras, utensílios, mosaicos, cerâmicas, objetos de vidro, iluminuras, pinturas, caligrafia e instrumentos científicos e musicais. Os objetos ficarão distribuídos em todo o espaço expositivo do primeiro andar, além da rotunda e dos foyers, no térreo. Os acervos que compõe a exposição são provenientes dos mais importantes museus da Síria e do Irã: Museu Nacional de Damasco, do Palácio Azem (Museu das Tradições Populares) e Museu da Cidade de Aleppo, na Síria; e Museu Nacional do Irã, Museu Reza Abassi e Museu dos Tapetes, de Teerã. Percorrer aquilo tudo foi um deslumbre para todos.

No dia 23/12, quinta, 20h (último horário naquele chuvoso dia), fomos todos na mostra dos murais de Portinari expostos no palco principal do Teatro Municipal, obra restaurada sob a supervisão da atual diretora do local, a também atriz e cineasta Carla Camurati. Ali dois momentos ricamente aproveitados, primeiro rever o teatro todo restaurado e uma visita andando pelo palco, fato que ainda não tinha tinha tido o prazer de fazê-lo. Viajei no tempo e no espaço diante de tudo o que já ocorreu naquele local. Ali no palco uma instalação com os dois famosos paínéis (14m X 10m aproximadamente), lado a lado, um representando a "Guerra" e outro a "Paz". Uma obra que foi pintada no Rio entre 1952 e 1956 e doado à ONU, foi instalado num dos saguões internos do prédio em Nova York. Uma retratação bem brasileira em pleno coração do Império. Os painéis serão restaurados no próximo ano aqui no Brasil e antes disso estão sendo expostos à visitação pública, em algo único, grandioso e num local dos mais nobres. Essa possibilidade do contato popular com uma das edificações mais importantes e nobres da antiga Capital Federal é sua utilização sendo feita não só para deleite de uns poucos, mas abrindo um leque de possibilidades. E a obra do comunista Portinari, o nosso mais famoso muralista é a possibilidade de conferir in loco a retratação fiel de um Brasil que muitos querem fazer questão de esconder. Paulista de Brodowski ele retrata as agruras do povo, principalmente o nordestino, diante de uma saga de fome e seca, além de outras violências que durante muitos anos atormentaram suas vidas. Comparar o passado e o presente, diante da sensibilidade de um Governo Federal com uma atenção mais voltada para seus problemas é daqueles momentos raros onde vislumbra-se mudanças maiores para o futuro. Viajei vendo aquilo tudo e entrando no clima do local. Um folder com muitas informações, um vídeo da diretora e cineasta e uma apresentação por um locutor completaram as informações que necessitávamos para entender melhor aquilo tudo.

Por fim, dentre tantos lugares, uma ida à Confeitaria Colombo e lá uma história entre o atual proprietário e a cidade de Pirajuí. Mas isso fica para o ano novo.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

UMA CARTA (58)

UM PENETRA RESISTINDO A 50 ANOS - BOAS ENTRADAS E SAÍDAS A TODOS EM 2011
Quem me conhece sabe muito bem que não envio mensagem específica de final ano, dessas desejando Bom Natal e Ano Novo. Prefiro algo para reflexão. E assim procedo novamente. O faço dessa vez para assumir publicamente ser um PENETRA nesse mundo. Isso mesmo. De passagem nesse mundo, quero extrair disso aqui o melhor suco possível. Espremo a vida da única forma que acredito viável, nem sempre a mais acertada, mas vivendo-a intensamente. Aos 50 anos, sei lá quanto tempo ainda tenho para desfrute (ou seria deleite?) e assim sendo, procedo como o amigo Latuff profetizou a mim quando de sua passagem por Bauru: “Henrique, perdemos a guerra. Eles, os capitalistas e agenciadores de negociatas venceram. Porém, continuamos vivos e enquanto viver serei uma pedra no sapato deles. Humilharei, cutucarei e mostrarei que estão todos nus, como na fábula do menino e o rei”. Desde que ouvi isso, sigo a risca suas proféticas palavras.

De ser PENETRA eu entendo um bocado, tenho know hall pelos anos de adquirida experiência. Sou como aquelas pessoas que ficam na porta de festas (meu nome dificilmente estaria em alguma lista de convidados vips) e não sendo convidadas, esperam algum ilustre convidado chegar sozinho, aproximam-se e desferem: “Querido, sabe o que é, estou sem convite e você se incomodaria se eu entrasse contigo?”. Nem sempre dá certo, mas tenho tido boas oportunidades de aprontamentos mil nesse meio século de vida. E quando entro, apronto, pois de nada valeria o esforço sem a compensação de provocar o escárnio nos aboletados de casaca (na maioria das vezes, alugada numa casa especializada).

Lá dentro, não peço para tirar fotos com celebridades, não enfio a mão em todas as bandejas, nem costumo misturar caipirinha com wisk, não falo com a boca cheia e nem dou risada muito alto. Sou notado, pois a roupa é rota, repetida em variados eventos, o perfume é o mesmo de sempre e venho não para ter minha foto estampada nas colunas sociais, mas para constatar como tudo é mesmo inócuo e supérfluo nesses ambientes. E sobreviver. É claro que não frequento essas festas. Tudo é sentido figurado, pois fujo delas, vivendo mesmo é minha vida "gambiarra".

Diversão de uma vida. Ir a palestras de engomados e empoados, fazer perguntas impertinentes, dar uma sapatada num mais aboletado, cutucar todos eles, mostrando o quanto são ridículos. Mas como continuar fazendo isso nos dias atuais? Simples, tive que fazer como o jornalista Mino Carta vaticinou décadas atrás: “Escrevendo o que escrevo, falando o que falo, atuando como atuo, da forma como faço, sem medidas e regras, não fugindo nunca da verdade factual dos fatos, tive que inventar meu próprio emprego, pois ninguém mais me daria um”. É o que porcamente tento fazer.

Portanto, quando me encontrarem por aí, permitindo a entrada junto a ti, fiquem cientes de que uma vez lá dentro, o mais aconselhado é manter certa distância. Posso causar aborrecimentos. Ser feliz, é só o que quero nesse injusto e cada vez mais inculto mundo. Um efusivo viva aos que conseguem resistir às tentações (as migalhas, as rebarbas, as sobras) que nos são servidas de bandeja. Tento resistir... “Se você quer me seguir, não é seguro. Você quer me trancar num quarto escuro. Vem cá, me deixa fugir. Vá ver se eu estou lá na esquina. Já deu minha hora e eu não posso ficar. A lua me chama e eu tenho que ir pra rua...”, disse Lenine (não o revolucionário de 1917, mas o poeta nordestino de hoje). Eu vivo mesmo é na rua.

Que em 2011 consigamos sobreviver ao baú de maldades que as tais das “forças vivas” despejam sobre nós. E que ao menos essa vida "gambiarra" ainda seja permitida.

São os votos do HPA, esse do mafuá.
OBS.: Essas fotos da gambiarra vida vivida por muitos me chegaram por e-mail, sem identificação de remetente. Entre o certo e o incerto, permanece de autoria desconhecida.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (17)

ALGO SOBRE UM E MEU CONTATO COM OUTRO DOS "GAROTINHOS"
Essa história e os documentos que publico aqui são lembranças que me ocorreram após a visita feita na casa de Tito Madi, em Copacabana, no Rio, na última quinta, 23/12. Falávamos do Garotinho, ex-governador carioca (que ambos deixamos de gostar há muito tempo) e logo a seguir do outro, o locutor da rádio Globo AM RJ. Tenho um história com eles e a conto aqui. Sempre gostei de ouvir rádio. Sempre ouvi as transmissões esportivas de duas rádios cariocas, a Tupi, primeiro com Doalcei Camargo (mariliense, por sinal, já falecido), depois com Luiz Penido. Na Globo, narração de José Carlos Araújo, mais conhecido como Garotinho, com um jeito gostoso de narrar uma partida de futebol. Quase na mesma época ouço pela primeira vez de um prefeito de uma cidade interiorana do Rio, Campos, também Garotinho. Falante e com uma conversa envolvente, me deixei levar, chegando a acreditar na sua ladainha. Certa vez apareceu até no programa "As dez mais", que nas terças à noite, Saroldi apresentava na hoje extinta JB AM. O cara me enganou, assim como quase todo o Rio de Janeiro.

Enganou tanto, que em 11/09/1994 enviei carta (sempre escrevi muito, enviei cartas aos borbotões e a maioria guardei) para o Garotinho da rádio Globo quando este se insurgiu contra o outro. Havia ouvido na rádio: "Garotinho só tem um e o verdadeiro não é candidato a nada". Havia entendido aquilo como uma briga entre o candidato e o radialista, que fazia a defesa do grupo Globo, contrário à candidatura do ex-prefeito de Campos. Garotinho, o candidato concorria ao governo pelo PDT brizolista, que sempre admirei (Brizola foi apunhalado por muitos, dentre eles, esse que vos falo e Cesar Maia). Casquei a moleira no Garotinho da rádio, tudo pelo lado nefasto que sempre visualizei nos noticiários produzidos pela TV do sr Roberto Marinho. Estava bem recente o caso Proconsult, quando a TV Globo tentou engambelar Brizola, sem sucesso.

Fui duro e a carta foi e voltou em 26/09/1994 com a resposta assinada pelo próprio José Carlos Araújo. Foi educado e cortês. Explicou que é Garotinho, com marca registrada no INPI e tudo muito antes do surgimento do outro, que inclusive havia sido seu estagiário na rádio Nacional. Fico sabendo que o Garotinho político estava movendo uma ação (infrutífera, por sinal) de tomar a marca, ou seja, a utilização do nome Garotinho de forma exclusiva. Essa confusão de fato ocorreu no início, com pessoas ligadas ao Garotinho da rádio associando o nome deste ao outro. Depois, ao longo do tempo isso foi dissipado. O que resta é que o Garotinho continua narrando na mesma rádio até hoje (ainda o ouço, quando posso - continuo ouvindo mais a Tupi) e o outro Garotinho foi governador do estado, depois elegeu sua mulher também governadora e hoje, ela é a prefeita de Campos e ele acaba de se eleger, com expressiva votação para Deputado Federal. Traiu Brizola, o PDT, o Rio, mas continua com expressiva votação entre os evangélicos. Como muitos sabem, morou aqui em Bauru na adolescência e hoje nutro asco por tudo o que já representou na política (seu blog na internet: http://www.blogdogarotinho.com.br/ ). O blog do radialista é http://colunas.radioglobo.globoradio.globo.com/platb/blogdogarotinho/

O registro feito aqui faz parte de meus velhos arquivos, que pouco a pouco quero ir publicando aqui no mafuá (essa a razão da existência desse blog). É uma forma de ir mostrando um pouco de onde estive desde que atuo nessa vida. "São tantas coisas", diria Roberto. Essa uma delas.
OBS.: Cliquem nos textos e os lerão ampliados.

domingo, 26 de dezembro de 2010

FRASES DE UM LIVRO LIDO (43)

"NEGÓCIO SEGUINTE:", DE LUIZ CARLOS MACIEL
Quem iniciou esse negócio de contracultura no Brasil foi esse jornalista, Luiz Carlos Maciel, com seus textos no extinto e saudoso O Pasquim, anos 70. Colecionei o semanário e comprei quase todos os livros da editora Codecri (a do rato que ruge), editados por eles. Guardo a maioria deles aqui no meu mafuá. Encontro hoje, ao retornar do Rio, velhas anotações, feitas quando da primeira leitura desse livro, no ano do seu lançamento, 1981. Quero ir reproduzindo aqui as frases dos livros lidos da Codecri e armazenados aqui numa estante no mafuá. Por hoje, fiquem com o pensamento sempre presente de alguém que encantou um parcela significativa de uma geração, uma que infelizmente foi-se com o vento:

- "O humor tinha essa característica de poder oferecer resistência em situações nas quais não parecia possível resistência alguma".
- "Na visão juvenil, o mundo que você vê enquanto jovem é o verdadeiro mundo. O outro, que você vê depois de velho, é um mundo distorcido pela sua fraqueza. A visão adulta não é necessariamente a mais sábia".
- "O sexo do homem de nossa sociedade ficou desequilibrado, doentio, em virtude da interferência do pensamento".
- "A televisão e os outros meios modernos de comunicação estão transformando o mundo numa grande tribo".
- "Acusar as sacanagens dos outros pode ser uma maneira de dissimular as próprias sacanagens".
- "No dia em que todos tiverem uma vida sexual saudável sem as doenças das fantasias sádicas, a pornografia não venderá mais".
- "Guru é uma palavra indiana que quer dizer professor".
- "Você pode acreditar na liberdade de opinião, é permitido a todo mundo acreditar na liberdade de opinião. Mas se você a exerce, você vai preso".
- "Cuidado com o que você põe na boca".
- "Política, naturalmente, é um teatro e deve ser vista como um teatro".
- "O instante vivido é sempre uma aventura imprevisível".
- "O simples é não pensar, não estar atrás de explicações. Perguntar é querer explicações, daí fica-se necessariamente complicado".

Esse livro cai como uma luva para esses escritos, dias após ouvir muitos comentários sobre dois livrinhos de auto-ajuda, o "Meu pai fala cada merda", de Justin Halpern (editora Record) e "Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor", de Alan e Barbara Pease (editora Sextante). Ambos devem ter alguma utilidade, que não descobri qual, preferindo muito mais o velho e bom texto do Maciel.

sábado, 25 de dezembro de 2010

MEUS TEXTOS NO BOM DIA (105)

MANJEDOURA DEBAIXO DA LAJE - texto publicado edição de hoje do diário bauruense BOM DIA, 25.12.2010
Eles escolheram uma laje aqui pertinho de minha casa como abrigo seguro para as noites de intempéries. Praticamente vivem por ali. Vejo-os todos os dias à noite e principalmente nas manhãs, quando saio para comprar pão e levar o filho na escola.

É um grupo de umas doze pessoas, na sua maioria homens. Dormem todos juntos e suas roupas são escuras, encardidas. A pele nota-se, queimada pelo sol, judiados a extremo. Paro para observá-los. Conversam animadamente, sempre com muita gesticulação. Devem estar a discutir como será o novo dia a despontar no horizonte.

Algumas latas estão espalhadas ao redor e sob tijolos um improvisado fogão. Um cenário triste e desolador. Quase todos a passarem por esse corredor comercial não dão nenhuma atenção à cena. Os que os vêem de longe, desviam do caminho, atravessam a rua, mudam de calçada. Acredito, querendo evitar problemas.

E eles seguem ali. Chegaram a pouco vindos de outra laje qualquer. Expulsos de uma, migram para outras e assim tocam suas vidas. Quando saírem daqui algo me perturbará: o que terá sido feito deles? Para onde terão ido?

A cidade está iluminada, a grande maioria prepara-se para sua ceia natalina, que com pouca ou muita coisa estará se realizando. E eles? O Natal representaria algo diferente ou novo para eles? Tem quem torça para que sumam de uma vez por todas de suas vistas, pois dessa forma, “página virada, descartada do meu folhetim”, não os vendo mais, nem se lembrarão mais deles. Esperam esse dia para jogarem creolina no local. Como permanecer indiferente a tudo isso? Vivendo no meio de situações como essa, não consigo ter dias de ostentação e desperdício. Esse é, portanto, apenas mais um dia e assim passo meu Natal.
OBS.: Essa é minha modesta contribuição nataliana para todos que me lêem por aqui. Volto amanhã para Bauru e uma semana longe dos assuntos de minha terra, aqui no Rio de Janeiro, tenho ainda cinco dias nesse ano para tecer comentários sobre fatos acontecidos aqui e outros daí. Até amanhã.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

PALANQUE - USE SEU MEGAFONE(01)*
* Crio mais esse espaço, o "Palanque", abrigando diletos amigos (as), em textos que recebo e faço questão de reproduzir para ampliação do debate sobre temas atuais. Concordar ou não é outra coisa. O importante é uma reflexão ampliada sobre o pensamento segundo a ótica de quem o escreve. Começo com meu amigo Marcos Paulo, um inquieto comunista (muito mais latino, "argentino", do que bauruense, onde isolado, resiste ao seu modo e com suas armas), duro, inflexível em suas opiniões e forma de agir. Em alguns momento o chamo de "O último dos Moicanos", tal a dificuldade em obter parceiros com a mesma linha de pensamento e ação. Isso mesmo, ele não só prega, como age da mesma forma. Pregar é uma coisa, exercer aquilo, o mais difícil. Ele não abre mão disso e me dá toques diários de onde estamos nos deixando conduzir e, em muitas ocasiões, nos tornando iguaizinhos aos que combatemos. Seus textos provocam verdadeiro soco no estomago dos despreparados. Começa aqui o meu palanque pessoal, onde o uso do megafone é necessário. Na foto ao lado, eu e Marcão em Santiago de Cuba, 2008, uma inesquecível viagem.

"FELIZ MASTURBAÇÃO PARA VOCÊ"
O capitalismo é a eterna sensação de que está sendo a todo instante masturbado.

A masturbação é o prazer imaginário, o estado burguês vive a nos manter na excitação imaginária. E agora com mais um ano terminando atingimos o climax desta merda consumista.

A histeria natalina tomando conta de todos, todo mundo masturbando-se no shoppings atrás das liquidações de final de ano, o imaginário mundo do consumo sempre travestido de solidariedade não é??? Nesta época aumenta o papo da tal solidariedade, os ricos jogando seu lixo aos mais pobres, esse é o melhor marketing que o capitalismo pode ter, se fazer passar de solidário, campanhas e mais campanhas, ano após ano, e o que muda?? Apenas o aumento do lucro dos que se beneficiam disso e mantém o povo a imaginar um suposto prazer que nunca terá.

E o que falar dos pais que acabam sendo obrigados a levarem seus filhos ao shopping para sentar no colo de algum ridículo vestido de papai noel??? E aí ele pede aquele caríssimo brinquedo da moda que passou o ano todo sendo masturbado com aquilo nos comerciais e para não decepcioná-lo com a merda criada pelo sistema, você estoura o crédito do cartão ou vai se ferrar para pagar a porra do brinquedo em 12 prestações do carnezinho da loja, tudo para se comportar bem, como um bom ocidental cristão que é, e que depois no culto de natal ou na missa do galo vai se masturbar com orações imaginando que um deus vai te safar dos juros exorbitantes do carnê.

E assim entraremos em mais um novo ano, com as velhas falácias do sistema, onde o estado com seus homens das leis do capital te masturbam o tempo todo, as religiões masturbando nos bancos de madeira o tempo todo, aquela propaganda do carro do ano na TV, horário eleitoral, reality show, palestra de algum economista babaca, o tempo todo é o prazer imaginário, masturbação.

Sei que muitos de vocês não estão nem aí para estas loucas palavras e nesta noite que tanto gostam, estarão comendo e bebendo muito, imaginando um ano melhor, que curtam bastante. Eu estarei aqui no meu canto provavelmente fazendo a mesma coisa que você, a diferença é que quando eu terminar a minha real masturbação eu terei uma real coisinha branca pra mostrar, o resto é tudo ilusão desta hipocrisia capitalista.

Uma boa noite e felicidade a todos!!!

São os votos ácidos e sujos do Camarada Insurgente MARCOS PAULO

Havana eu voltarei!!!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

UMAS FRASES (61)

FRASES DE BOTEQUINEIROS
Desculpem pelo improviso. Ele é total e acredito, temporário. Aqui pelo Rio de Janeiro, o tempo urge e o fico pouquíssimo diante de um computador, o que é aliás, muito bom. Imagine eu aqui e permanecendo tempo infindável diante disso aqui. Seria mesmo o caos. Pois bem, tenho relatos interessantes sobre dois filmes assistidos, o do Godard, "Film Socialisme" e do Robert Rodriguez, o "Machete". Depois duas belas exposições, raras e divinais, primeiro a "Islã", com peças de museus do Irã e da Síria, no Centro Cultural Banco do Brasil e depois a "Guerra e Paz", o famoso mural de Portinari, que veio direto do prédio da ONU, em Nova York, para ser restaurado no Brasil e está no palco do Teatro Municipal. Farei belos relatos, como a ida a alguns bares, entre eles o do famoso Luiz, na rua da Carioca, palco de mais de um século de história botequineira carioca. Tudo fica para depois.

Para não dizer que deixo de comparecer diariamente aqui, eis algumas frases coletadas por aqui e repassadas com louvor:
- "Cachaça tem mais poder que Jesus: Ele dá juízo e a cachaça tira", Carlos Antônio, dono do bar Mossarela.
- "Um homem sem barriga é um homem sem história", Kátia Lopes do bar Aconchego. (bela justificativa para minha aflitiva situação, sinto-me consolado...)

Essas duas foram proferidas na festa de lançamento do Rio Botequim 2011, que infelizmente não fomos. Só esses dois registros, tirados de uma festa a reunir donos de botequins dá bem para sentir o espírito a predominar nos ambientes que gosto de frequentar.

Ninguém ainda recebeu minha mensagem de final de ano, que só ocorrerá após o Natal, quando do retorno à Bauru, a partir da segunda próxima. Por enquanto, peço paciência. Encho linguiça até lá.