quinta-feira, 30 de abril de 2009

UM COMENTÁRIO QUALQUER (39)
O INQUISIDOR E SUA FOGUEIRA EM AÇÃO
Último dia de abril. Fiz planos de viajar, ampliar os negócios, melhorar as vendas. Era para ficar o dia inteiro fora. Ontem quando voltei do excelente show do trombonista Raul de Souza no SESC (o terceiro dele em Bauru, o terceiro no SESC e o terceiro que fui, dessa vez com as cubanas Hilda e sua neta Viviana, mais o amigo Marcos Paulo) fui procurar um livro aqui no mafuá, numa estante meio que escondida, cheia de caixas com coleção de revistas. Ao achar o livro me deparo com um trilho de cupins, os piores possíveis, aqueles que vêm da terra e fazem em caminho na parede. Não quis mexer naquele momento, estava com sono, mas não nego que sonhei com os bichinhos invadindo meus livros e passei uma noite meio que em claro. Casa velha, piso ainda de taco, mais o descuido habitual, eles proliferam que é uma beleza. Acordo e antes de viajar vou averiguar a extensão do problema. Quase cai de costas. Os ditos cupins tinham tomado conta de uma estante, subindo por detrás das laterais do suporte de metal. Só fui notar a presença deles agora (e depois dizem que não são inteligentes. Sobem na parte oculta da parede e não às claras). Era tarde. Foi uma das piores manhãs que passei nos últimos anos. Fiz uma fogueira defronte minha casa e bem no estilo da inquisição, queimei os irrecuperáveis. Livros e mais livros, colecionados ao longo de uma vida jogados ao fogo. Muitos eu salvei, mesmo com marcas dos bichos em suas páginas. Limpei, higienizei e volto a guardar, dessa vez num local mais seguro. Me sentia um verdadeiro inquisidor na beira das chamas queimando alguns do primeiros números da Caros Amigos, os dois volumes do Memória do Cárcere, do Graciliano, a coleção completa da revista Reportagem e muitos de quadrinhos, a Circo, Chiclete com Banana e os Piratas do Tietê. Vê-los ardendo no fogo doeu demais. Não fiz outra coisa a manhã toda. Esqueci o trabalho e iniciei um retiro, mergulhando fundo na recuperação de tudo que ainda tenho aqui, desde muitos outros livros, LPs, CDs, coleções completas do Pasquim, Pasquim 21, Bundas e tantas outras. Nesse momento cheiro a querosene e só arredo pé daqui quando tudo tiver uma outra cara. Tinha planos de vender alguma coisa hoje, levar o filho no cinema, talvez ver o Dusek à noite, mas nada é mais importante para mim do que dar uma cara nova para esse maltratado mafuá. Os cupins venceram uma batalha, mas não a guerra. E eu me demoro demais na arrumação, pois cada peça que pego, abro, leio um pouco e só depois dou uma destinação para ela. Por sorte amanhã é feriado. Dia de muito trabalho por aqui.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

DIÁRIO DE CUBA (28)
ADEUS CIENFUEGOS, CAMINHADAS INFINDÁVEIS E AS DORES NAS CANELAS
Acordo na manhã de 16/03/2008, um domingo e termino a leitura do livro que o Marcos havia comprado no Museu da Revolução, “Che y Fidel – Una amistad entrañade” (Editorial San Luis L Habana, Cuba, 2004, 84 pgs). Nos regalamos com um excelente café da manhã no hotel La Unión. Pouco depois das 9h estamos a decidir se seguimos em frente ou voltamos para Santa Clara. Chegamos a verificar vagas de hotéis em Trinidad e Camaguey pela internet. Uma surpresa ao sair do hotel, nossos relógios não batiam as horas. É que havia começado a zero hora o horário de verão cubano (até eles possuem o deles). Tínhamos um a hora a menos no hotel.

Desistimos de ir para essas cidades. A diária mais barata em Camaguey sairia por 58 pesos e a distância a ser percorrida de 350 km, passando por muitos vilarejos, chegando lá por volta da meia noite. Confabulamos à exaustão e a decisão foi a de voltarmos para Santa Clara no ônibus das 17h, novamente hospedados no Santa Clara Libre, por dois ou três dias. Lá iremos filmar as crianças nas escolas (os Pioneiros) com a famosa saudação ao Che pela manhã e depois entrevistar as professoras, nossas conhecidas, sobre a Educação e suas experiências dentro da Revolução.

Dessa forma, teríamos uma pequena parte da manhã livre, depois o fechamento da conta no hotel e outra parte livre até às 17h. Marcos prefere não sair mais pela manhã, eu saio só e vou fazer o que mais gosto, caminhar, tirar fotos, ver as pessoas e se possível, conversar. Fiz isso também à tarde, pois Marcos preferiu permanecer sentado na rodoviária. Eu gasto sola de sapato, melhor do único tênis que trouxe. Já na quadra de cima do terminal de ônibus está a Estação de Trens (Ferrocarril). Entro lá com toda a curiosidade do mundo. O saguão está vazio, apenas com uma TV ligada e a entrada para a plataforma aberta. Adentro e sigo em frente na direção de uma composição parada a uns 50 metros. Noto que me chamam da estação. O funcionário me diz das proibições, mas aceita caminhar comigo e me explica algo sobre o sistema ferroviário deles. Depois dei a volta e fui caminhar pelas ruas no entorno dos trilhos. Encontro até uma pequena oficina de reparos de trens. Dei uma volta completa na estação, uns 300 metros adiante e voltei pelo outro lado. Muitas edificações antigas. Minha máquina não parou de clicar um só instante.

Terminando a volta me deparo com um teatro entre a rodoviária e a estação, é a “Sala Teatro Guanaroca”. Um pequeno cartaz informava que ocorrem espetáculos infantis aos sábados e domingos, 11h. Havia perdido mais essa oportunidade, mas acabei conhecendo Yusiel, o rapaz que cuida da zeladoria do espaço. Ele me põe a mostrar todas as instalações. Tiro fotos no palco e as dele fico de enviar pelo email. De lá volto a caminhar e virando a direita, junto a uma igreja católica (funcionando normalmente), um prédio imenso de uns três pavimentos, todo oco, só a carcaça. Devia ter sido um convento ou escola religiosa. Deve ter sido fechada pela proibição de ensino pago, pois lá o ensino é público e totalmente gratuito. Volto para a rodoviária, tomo uma cerveja Bucanero e levo um refresco de limão para meu companheiro de viagem.

Marcos não quer caminhar, eu pelo contrário, não consigo permanecer ali sentado. Ele me faz uma observação: “Os cubanos viajam muito e para todos os lados”. Isso desmente o que dizem no Brasil, que eles mal podem sair de suas cidades. Podem sim, e só o deixam de fazer pelos mesmos motivos nossos, quando falta grana para a passagem. Volto a caminhar e começo a ter os primeiros problemas com dores nas canelas, que incham devido a essas andanças sem fim e a falta de costume. Vou andando assim mesmo, desço a rua da rodoviária até uma praça com motivos revolucionários, à esquerda um grande hospital e ao lado uma Escola de Artes. Fotografo tudo, inclusive uma ave morta, com uma fita vermelha atada ao pescoço. Deve ser coisa da Santeria. Num muro uma inscrição interessante sobre os irmãos Fidel e Raul. Pouco antes de embarcar conhecemos outra pessoa marcante, o representante da empresa Astro/Via Zul, Pedro Avellanes Espinosa, que nos leva para sua sala. Lá ficamos a conversar até o ônibus chegar, mas tenho que contar o que nos disse só no próximo relato.

terça-feira, 28 de abril de 2009

TRÊS CARTAS (28)
"LÁGRIMAS DE MARQUETEIRA", "DILMA, O BISTURI E O MACHISMO" e "MODERNINHO, PERO NO MUCHO"
LÁGRIMAS DE MARQUETEIRA – Carta publicada na Tribuna do Leitor, Jornal Cidade - Bauru SP, 23/04 por leitor:
“Embora a um ano e meio das eleições de 2010, a TV Record, em seu noticiário, mostrou um exemplo do que vai ser a campanha presidencial, mostrando as lágrimas “comovidas” da ministra Dilma ao se lembrar da infância em Minas, coincidentemente segundo maior colégio eleitoral do país, onde seus resultados são pífios. Nesta situação se caracterizam uma série de mazelas da política brasileira: primeiro uma TV que é concessão pública utilizando seu noticiário para fazer campanha descarada em favor de uma candidata, que é apoiada pelo partido de seus controladores. Segundo, a ministra e o presidente Lula usando a máquina pública para fazer campanha em inaugurações e eventos oficiais, pouco se lixando para considerações éticas antes bandeira de seu partido PT. A ministra, com seu novo visual “Barbie dos Pampas”, recauchutada de acordo com a recomendação dos marqueteiros e agora usando o choro direcionado de acordo com as platéias, pouco considerando as ilegalidades e imoralidades da situação, pois além de estar em evento oficial e patrocinado pelos cofres públicos, ainda por lei são proibidas as campanhas anteriores à escolha dos partidos e desincompatibilização dos candidatos. Com exemplos como este fica difícil de prever a que tipo de manipulação o partido no poder utilizará para eleger a qualquer custo sua candidata e muita água vai rolar por esta ponta se a Justiça Eleitoral não demonstrar sua independência e imparcialidade, punindo essa prática”. MÁRCIO M. CARVALHO

DILMA, O BISTURI E O MACHISMO - Resposta de minha lavra, publicada hoje, 28/04, na mesma Tribuna do Leitor, do JC:
"Na TV vejo a ministra Dilma numa coletiva anunciando estar com câncer. Momento trágico, porém, com certeza, missivistas como sr Márcio M. Carvalho, que nesta Tribuna em 23/04, “Lágrimas de Marqueteiro”, destila algo sobre o aparecimento da ministra nos noticiários de uma de nossas TVs, poderão encontrar na doença uma encenação, com intuito de ganhar votos. Esbraveja contra abusos, favorecimentos. Márcio se diz revoltado com uso da máquina pública em inaugurações e eventos oficiais. Porém, enxerga tudo somente com um olho, mantendo o outro fechado, caolhamente. Aqui em São Paulo, nosso governador desfila por todo interior em inaugurações seguidas, muitas delas pífias, ainda mais agora quando tenta dar uma conotação de ministério ao seu secretariado. Nossas TVs reproduzem isso tudo a todo instante, com seguidas imagens de todos eles. Campanha na melhor acepção da palavra. Não seria o caso para o sr Márcio também esbravejar? Ainda no texto, algo preconceituoso, quando denomina a ministra de “Barbie dos Pampas e recauchutada”, por causa de uma plástica. Se bem entendi, mulher não pode fazer plástica, pior ainda se estiver na vida pública e militar num partido da dita esquerda. Sendo assim, o massacre está liberado. Caro Márcio, sinto muito se a ministra o incomoda. Sei ser ela a bola da vez, mas o que mais agride é o machismo residual a serviço da hipocrisia facciosa.Outro dia um jornalista deu a resposta ideal para gente que pensa dessa forma: “Que culpa terá ela se a seus adversários nem o milagre do bisturi endireita?”.

MODERNINHO, PERO NO MUCHO - Esse também meu, após ler perfil da ministra Dilma na última edição da Revista Piauí (abril 2009). Enviada para redação da revista. Não sei se será publicada na edição de maio:
"Leio a revista Piauí desde que foi lançada. Tenho todas aqui no meu mafuá. Aprecio com moderação, pois sinto um certo ar de conservadorismo, favorecendo mais nossa elite política. Talvez por ser cria de uma família das mais tradicionais desse país. Na edição de abril, a revista traça um perfil da ministra Dilma, ressaltando seu lado guerrilheiro. Num país cheio de preconceitos, que não sabe nem valorizar a luta dos que enfrentaram a ditadura, tudo é feito para prejudicá-la. Por outro lado, a mesma revista nunca traçará um perfil do governador Serra, o provável adversário de Dilma, versando sobre a sua fuga do Chile, tão logo ocorre o golpe de estado em 1973. O lado fujão do Serra não interessa ser mostrado, mas o da Dilma fichada sim. É algo nesse sentido que consigo distinguir nos textos da revista. Tenho muitos exemplos, como um perfil meio que negativo do Marco Aurélio Garcia e texto do Conti, "Como Lula vê a imprensa". No mais, continuo lendo. E colecionando".
OBS.: A tira publicada é do Rep, tirada do Pagina 12, edição de hoje: Fujam do neoliberalismo, da mesma forma que da dengue e da gripe suína. Todos são altamente contagiosos. Risco de vida.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

UMA AMIGA DO PEITO (21)

ENI, A MÃE ANIVERSARIANDO E O REFLORESTAMENTO DO QUARTEIRÃO ONDE MORA
Essa é mesmo do peito. Sou seu filho, o segundo de quatro que pôs no mundo. Voltei a viver ao seu lado (e do pai, com 80 anos), desde que me separei. Reuni as tralhas todas, constituída mais de discos, livros e muitos papéis e ocupei meu espaço de solteiro. Curto demais o retorno. Acho que eles também. Ajudo no que posso, nos medicamentos, nos poucos passeios externos e nos bate-papos infindáveis. Voltei a ser o filhinho da mamãe, isso aos 48 anos. Uma típica descendente de italianos, leva tudo ao pé da letra, dura na queda e nos convencimentos. E me surpreendo a cada instante com os dois aqui ao meu lado. Hoje, 27/04, ela completa 72 anos (ela e minha tia Edi, irmãs gêmeas, ambas professoras – hip hip urra!!!). Esse touro (eu a chamo assim – é também taurina) bravio e indomável é uma referência para todos nós.

Nesse dia tenho algo em especial sobre minha mãe. Ela adora plantas. Nosso quintal é de difícil circulação, devido ao mato entrelaçado (esteve pior), um ramificando com o outro. Esse gostar ela transportou para a calçada defronte a casa. Aqui em frente um quarteirão vazio, ocupado de vez em quando por parques e circos. Na calçada que circunda o vazio não havia nenhuma árvore plantada. Hoje, o espaço é disputadíssimo pela sombra proveniente das muitas que ela plantou nos cem metros da quadra. Uma de cada tipo, uma diversidade bonita de ser vista (não me perguntem o nome de nenhuma, pois não sei). Os funcionários do CIPS chegam cedo para ocupar um lugar à sombra. Nem todas elas são muito propícias para calçadas, mas todas são de grande apreço por todos do pedaço. Tem época que até um vistoso girassol floresce no meio disso tudo. No momento ela prepara com todo cuidado uma árvore que eu trouxe da ilha de Cuba, uma que dá uma espécie de caixinha em formato de coração, muito procurada para artesanato. Lá ouvi falar ser nativa do Panamá. Por enquanto está num vaso, sendo regada diariamente, aguardando o momento oportuno para ser transportada para a fileira postada aqui na calçada. Enquanto batuco nas teclas aqui do computador, espio elas crescerem e minha mãe espantando uns moleques que rodeiam alguns precoces galhos. Nossa guardiã do quarteirão vigia seus filhos, todos eles, tanto esse aqui, meio imaturo, como os demais, saídos de seu ventre e os de criação, como às arvores que “florescem, porque florescem” (Rubem Alves). Cá do meu canto proclamo em alto e bom som: amo isso tudo.

domingo, 26 de abril de 2009

DROPS – HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (06)

1. UMA REALIDADE CRUEL COM O SETOR DAS VÍDEOS-LOCADORAS
Tenho um grande amigo de infância dono de vídeo-locadora. Montou esse ramo de negócio, onde toda família trabalhava unida até bem pouco tempo. Durante anos o via sempre alegre junto aos seus, com o negócio andando normalmente. De uns tempos para cá tudo mudou. As locadoras vivem um verdadeiro inferno astral. As bancas de piratas vendem 3 lançamentos por R$ 10 reais. Na locadora o preço de um lançamento não sai por menos de R$ 200 reais e eles locam por R$ 5 a R$ 8 a diária. Não existe como competir com a pirataria. O movimento caiu drasticamente. Ele, na faixa dos 50 anos, está num beco sem saída. Seu estabelecimento é no centro da cidade e por mais promoções que faça vive às moscas. Não sabe o que fazer com seu negócio. Vender é praticamente impossível, passar para a frente também. Continua por lá, mais por não ter outra coisa para fazer. E a cada dia o rombo cresce. Não só o rombo. Com a falta de grana, o relacionamento do casal já não é o mesmo de antes. Começaram os primeiros desentendimentos. A esposa insiste para que ele tentasse outras coisas. Ele não consegue se desgrudar dali, pois nem imagina o que poderia fazer, sem qualificações. Já pensam até em separação. Os filhos sofrem juntos. O vejo constantemente parado na porta de sua loja, com um ar desolador, olhando para o infinito e sofro junto dele. Dias desses me disse: “Vão se arrepender lá na frente quando quiserem assistir um clássico. Esses piratas só vendem lançamentos e as locadoras não mais existirão”. Não vejo bem assim, pois infelizmente, filmes e músicas serão todos baixados via computador, algo frio e mecânico. E cada vez mais dou razão para Otto em sua música: “Acabo de comprar uma TV a cabo/ Acabo de entrar na solidão a cabo”.

2. FUI REVER A “FORTUNA” NO MUSICAL “NA CASA DE RUTH” NO SESC
Em 1987 comprei na Discoteca de Bauru o LP “Só”, da cantora Fortuna, que na época despontava ao lado de Itamar Assumpção, Vânia Bastos, Arrigo Barnabé, Suzana Salles e outros. Cantavam num local dos mais instigadores, o Lira Paulistana, lá na capital. Assisti um show dela em Lençóis Paulista, num local alternativo que marcou época por lá. Tudo o que saia daquela turma eu trazia para casa. Juntei tudo e não consigo me desfazer de nada. Ficam aqui no mafuá, juntando poeira e me dando um trabalhão, pois os cupins estão sempre a nos rodear. Ela veio cantar hoje em Bauru dentro do musical “Na Casa de Ruth”, um espetáculo infantil com os textos da escritora Ruth Rocha e direção do Naum Alves de Souza. Convidei meu filho de 15 anos. Ao saber ser peça infantil, inventou uma desculpa. Fui só. Lá a primeira pessoa que vejo é a amiga Neli Viotto, com o mesmo problema. A filha de 14 anos não veio e lhe falou: “A senhora não quer que eu pague esse mico, né mãe?”. Veio só. Éramos dois e juntos ficamos. A peça foi linda e o destaque (para mim) foi rever a voz da Fortuna, linda e suave. Viajei. Esperei toda a criançada pegar o autógrafo dela no CD do show, depois fui lhe mostrar o LP e um CD, o “Cantigas”, esse de 1994, com música judaica. Ela fez cara de espanto, nisso juntaram mais duas que a conheciam por outros trabalhos. Ficamos a matar saudade. Foi lindo. Na saída vim pensando em como o artista irá autografar algo tirado da internet. Terá que fazê-lo num MP3? Dei um beijo nas minhas peças de museu e voltei cantarolando para casa.

sábado, 25 de abril de 2009

CENA BAURUENSE (28)

A LINHA FÉRREA AQUI PERTINHO, DUZENTOS METROS DE MINHA CASA
No começo da semana passada recebo do professor Muricy algo significativo. Em forma de e-mail, o texto vinha com uma mensagem de dor e lamento: "REPASSANDO "VERGONHA".... Fotos eloqüentes! Como se diz, dispensam palavras... Lembrança do apito do trem... A Ferrovia em Bauru... Glória do Passado... Vergonha do Presente... Para pensar!". Tudo que envolve o tema ferrovia me chama muito a atenção, essa em especial, pois as fotos foram tiradas aqui pertinho de minha casa, nas imediações do cruzamento férreo junto à rua Antonio Alves. Pouco mais de 200m. Passo por ali diariamente, de três a cinco vezes ao dia. Pedi autorização para o Muricy, pois queria publicar as fotos aqui. Ele me disse não serem dele e me passou um email. Escrevi e outra resposta: "Recebi de uma outra pessoa, escreva para ela". Escrevi e a resposta foi positiva, poderia publicar as fotos, porém a surpresa, vinham sem a identificação de quem as teriam produzido. "Faça o que quiser com elas, pode publicar - O PENSADOR!". Fiquei meio que sem entender, pois também defendo Bauru com unhas e dentes, mas não o faço anonimamente. Posto textos e fotos aqui diariamente e assino embaixo. Essa é a forma como escolhi para defender minha cidade, colocando a cara para bater. Dias atrás escrevi sobre problemas na Secretaria de Cultura e assinei. Vieram respostas de todos os lados, iguaizinhas as que ouço diariamente nas ruas, porém nenhuma assinada, todas anônimas. Uma pauleira, mas ninguém com coragem de assinar o nome embaixo. Alguns eu até entendo, pois estão sob o tacão do algoz, mas os artistas, os que repetem os desmandos pelas esquinas, nenhum colocou seu nome ali. Desse jeito mudamos pouca coisa. A coragem deve fazer parte de nossa forma de denunciar e de tentar mudar o estado de coisas que não concordamos. Quiz misturar esses dois temas, o das fotos da ferrovia (muito boas, por sinal) com a forma como procuramos mudar e denunciar nossas mazelas. O PENSADOR deve ser uma pessoa bem conhecida, pois cita nomes de amigos. Vejo que a sua luta é também a minha e a de todos citados no seu e-mail de resposta. O motivo de suas fotos é em cima de algo muito grave, o abandono a que foram relegadas nossas ferrovias. Tudo começou nos anos de Governo FHC, do PSDB, quando da privatização das ferrovias. Esse o grande crime contra os trilhos. O problema encontrado aqui em Bauru é igualzinho ao do resto do país. A situação existente aqui é idêntica a de todos os lugares, sem tirar nem por. O que fazer? Essa pergunta eu me faço, "O Pensador" a faz e tantos outros. E a resposta? Nossos trilhos nunca mais voltarão a ser o que foram no passado, mas vejo que o transporte de passageiros via trilhos terá que voltar, se não por livre e espontânea vontade, talvez pela força. Será totalmente impraticável ir para São Paulo ou Rio de carro daqui a poucos anos. Qual a solução mais barata? O trem. Terão que chegar nessa conclusão e a partir daí, tudo terá que ser recuperado. Vivo dentro desse cenário degradante desde os anos 90, acompanhei a degradação e quero ter idade para ver sua recuperação. Instigo um retorno mais rápido, eu, Muricy, "O Pensador" e uma legião de gente que ama isso tudo e entende passar pelos trilhos a solução de nosso transporte urbano.
Obs.: Cliquem nas fotos e elas ficaram imensas na tela do seu computador. Experimente...