sexta-feira, 10 de abril de 2009

FRASES DE UM LIVRO LIDO (24)

"O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?", FERNANDO GABEIRA
Gabeira foi um ícone para mim. O descobri pelas páginas d'O Pasquim. Seus livros iam saindo e devorei a todos. O primeiro em especial. Vivíamos a fase do final da ditadura (ditabrava, viu!) e queríamos contestar. Conhecer como Gabeira havia participado da resistência era inebriante. Ele contestava até na forma como voltou do exílio, se expondo com uma tanga de crochê nas praias. Seu livro (depois o filme) marcou época. Achei aqui no mafuá um velho caderno com anotações das frases, após a primeira leitura, feita em janeiro de 1980 (tinha 19 anos). É ótimo ir revendo essas coisas e hoje, uma triste constatação: Gabeira já não é o mesmo, "endireitou-se", como dizem. Uma pena, mas as frases do passado continuam valendo muito. Eis meu registro:

- "O golpe no Brasil poderia dividir o país em dois, e o lado deles seria, imediatamente, recolhido pelos EUA. Quem viria em nosso socorro?".
- "Eu mesmo achei a morte do Getúlio um barato só porque nos deram um dia livre na escola".
- "Goulart parecia sair da história para entrar na vida: ia cuidar dos seus rebanhos no Uruguai".
- "As vezes voce discute, mas é para se convencer".
- "Antigamente as famílias ricas mandavam suas filhas para a Europa quando queriam que se esquecessem de um grande amor. Minhas esperanças ao partir para a Europa, no fim de 66, era também as de esquecer o pântano em que tínhamos nos metido e a asfixia geral que a ditadura militar tinha imposto ao país".
- "A guerrilha começou a ser pensada no Brasil quando já estava em decadência em outras partes da América".
- "O país estava se tornando uma vítima quase que cotidiana de transgressões das próprias leis que os militares impunham".
- "O máximo que o Governo poderia fazer era renunciar, retirando-se assim de cena e reconhecendo que era um grande obstáculo à felicidade".
- "O pior tranquilizante do mundo é quando as pessoas dizem: Calma, não está acontecendo nada".
- "O poder quando entra em conflito, de um modo geral, parte para a repressão".
- "Entrei no mundo dos presos, um mundo, conforme dizia a inscrição que vi em várias celas militares e civis: Onde o filho chora e a mãe não ouve".
- "As marcas do machismo sul-americano são fortes, mas tantos anos passados talvez já as tenham dissipado em mim".
- "Minha reação diante dos primeiros choques foi uma reação de um homem civilizado, creio fiquei perplexo em ver que aquilo existia e que haviam pessoas que o empregavam... Como que isto era possível em gente daquela idade?".
- "Possivelmente, o estudo da tortura não começou em 64. Ela existiu muito antes como uma técnica de guerra. Mas é, na realidade, uma arma desesperadora dequem está correndo contra o tempo".
- "Não é a polícia brasileira que é violenta. Nós somos violentos. Há uma parte nossa que espera lugar no Museu de Horrores da Humanidade".

Um comentário:

Anônimo disse...

O NOVO GABEIRA
Foi marcante o depoimento do deputado Fernando Gabeira, dado ao Globo News,no sábado 4, sobre a morte do jornalista Márcio Moreira Alves. Ele só se referiu à ditadura como "governo militar". Nesse ritmo, não será surpresa se Gabeira passar a chamar o golpe de 64 de revolução.

Essa foi a nota publicada hoje por Maurício Dias numa revista de circulação nacional. Gabeira bandeou-se para o lado de lá. Não está mais entre nós, foi-se. Deve até renegar tudo o que fez no passado.

Geraldo