terça-feira, 30 de setembro de 2008

DICA DE LEITURA (26)

ALGO BEM MACHADIANO, NO CENTENÁRIO DE SUA MORTE
Não devemos ser repetitivos. Poderia tecer loas à Machado. Gosto muito dele e já li e reli muitos de seus livros. Prefiro-o contista, nos textos curtos. Questão de preferência. Só isso. Temos todos os interessados na boa leitura, lido muita coisa sobre esse centenário comemorado ontem, dia 29/09. Chover no molhado é algo irritante. Quero só enaltecer algo que gostei muito de ler nos últimos meses. O jornal Estado de SP publicou no último domingo de cada mês, depoimentos de meia página intitulados “Meu Machado de Assis”, com pessoas variadas. Foi muito saboroso ler alguns dos relatos. Particularidades de cada um com o grande autor. Não vi nada parecido na grande imprensa. Essa se destacou.

E para não dizer que não falei de Machado, lá vai algo sobre ele, carregado com uma pitadinha de sarcasmo, de desgosto e de desencanto. Tenho um amigo inquieto, daqueles desacomodados com o mundo atual. Recebo regularmente textos seus por email. Quer mudar o mundo, torná-lo mais justo e palatável. Sózinho, isolado, rema, rema e pouca coisa pode fazer, além dos textos que envia para alguns amigos diletos, os que confia e comungam com algumas de suas idéias. Tentou parodiar Machado e foi mal compreendido por alguns. Em outros causou espanto e somente nuns poucos, atingiu a intenção. O ocorrido foi o seguinte. Enviou um texto do próprio email, anunciando que havia morrido, “acometido de infarte fulminante (...) e porque constatava que sua luta era uma cópia de um passado perdido”. Encerra o texto inicial como se amigos próximos, assumindo o comando do seu email pessoal, prometiam continuar a luta: “ficamos com o compromisso de levar sua luta adiante e fazer valer as frases que sempre encerravam seus discursos”.

Teve gente que quase caiu da cadeira. Os que se assustaram foram ligando para os mais próximos até a conclusão: ele estava mais vivo do que nunca. Diante da movimentação dos amigos, envia novo email e esclarece as coisas: “Voltei, estou ressuscitado. (...) Na verdade foi um trocadilho em cima de um conto de Machado de Assis e uma forma crítica para mostrar como a atual estrutura procura matar com os idealistas... No conto do Machado de Assis que faço um paralelo, ele escreve sobre um compositor que apesar de ter um grande reconhecimento, frusta-se por não atingir o seu objetivo de ser um grande compositor erudito e o reconhecimento e compreensão das pessoas e isso lhe causava um imenso pesar”. Não vou reproduzir tudo o que enviou para os amigos. Ele demonstra, em primeiro lugar, também ter lido Machado. Só por isso, vale o registro, talvez o único envolvendo o escritor que possa citar no momento. E precisa de algo mais marcante para relembrarmos O Bruxo do Cosme Velho? Como estou fora da escola, tenho visto falar tão pouco de Machado (acho que nas escolas ainda se fala de Machado, não?). Tenho lido muito, mas escutado pouco. Na verdade, nas rodinhas por aí, quase não ouço falar dele. Na verdade, ligo o rádio e o que mais se propaga são coisas religiosas, muitas envolvendo grana, arrecadação, salvação... Será que esse pessoal conhece Machado? Será que já ouviram falar dele?

Eu, na qualidade de devorador de letrinhas, fujo o mais que posso desse negócio mercantilista que se transformou nossas religiões e leio cada vez mais. No momento, estou tentando descobrir o nome do conto, o que serviu de inspiração para meu amigo. É o quero ler de Machado de Assis nesses dias. E viva Machado!!!

Em tempo: Sequência das ilustrações - caricatura de Spacca - caricatura de Baptistão - foto histórica de Marc Ferrez (Gilete Press da internet, com citação de fonte)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

CENA BAURUENSE (8)
OS IRMÃOS BOTTAN, DE LENÇÓIS PTA E A FERRLÉO, DE RIBEIRÃO PRETO
A princípio essas duas citações não possuem vínculo nenhum com Bauru, mas isso é só impressão. Ambos propiciaram uma alegria imensa aos bauruenses nesse último final de semana. É que eles, na qualidade de convidados abrilhantaram o I Encontro Histórico Ferroviário e de Ferromodelismo de Bauru, que rolou na Estação Central, lá na Praça Machado de Mello. Foram dois dias de muita agitação, num acontecimento que ficará para a história da cidade, pois mais de 5000 pessoas lá estiveram, respirando ferrovia. Tenho história incríveis lá presenciadas, que contarei em breve, num relato de Memória Oral e de outras formas.

Hoje, poderia escolher muitas outras histórias, mas fico com essa, de dois ilustres convidados. Dentro de tudo o que aconteceu no hall e na gare da estação, dentro do Museu Ferroviário e nas imediações, dou o pontapé inicial com a dos Bottan e a da FerrLéo. Numa extensão da plataforma central, foi montado duas extensões de trilhos, uma com 30 metros e a segunda com 60 metros de comprimentos. Ali o Encontro pulsou, com batidas aceleradas no coração dos presentes. E eles se entenderam muito bem.

Na primeira, a menor, um mineiro radicado em Ribeirão Preto, o José Leonel Damasceno, ou simplesmente Léo, montou um trilho com réplicas de locomotivas elétricas e vagões, numa escala que permitia as pessoas andarem naqueles naqueles carros. Fez a festa, ainda mais porque Léo é didático no que faz, explica, dá uma verdadeira aula. Encantou a todos e não parou um só minuto. Fez a alegria de todos e no final do segundo dia me confidenciou: "A cada vez que queria ir no banheiro, chegava mais gente. Fui segurando e o reservatório só aumentando. Quase explodi, mas ninguém ficou sem minha aulinha. A criançada foi quem mais se divertiu, tanto que um deles, ao dar entrevista para uma TV, demonstrando ter aprendido a aula, disse: "Isso aqui não é um brinquedo. Aprendi como funciona um trem de verdade aqui". Não havia como não gostar. Lé criou um site para divulgar seu trabalho: http://www.ferrleo.com/.

No segundo trilho, o maior, os irmãos Arnaldo e Pedro Bottan, de Lençóis Paulista, praticam uma modalidade chamada "Vapor Vivo", motivo da reportagem de capa da última edição da Revista Ferroviária (http://www.revistaferroviaria.com.br/), com réplicas perfeitas de locomotivas do século passado. Tão perfeitas, que demoram anos para serem concluídas. Uma delas passou de sete anos. Só para se se ter uma idéia, a locomotiva de caldeira, funciona movida a lenha. São minuciosos no que fazem. Ambos aposentados, dedicam-se com esmero no que fazem. Arnaldo sai de um evento como esse moído e diz no fim: "Isso que fazemos aqui é uma espécie de quebra-oços, tal a intensidade do trabalho. Não paramos um só minuto". Constatei isso, pois a curiosidade era geral e além da conversa com todos, muita gente andou de trem, sentado nuns banquinhos instalados num vagão adaptado ao tamanho de gente grande. Foi gostoso ouvir do Pedro, no fim do evento, após mais de 7 anos expondo seu trabalho Brasil afora: "Esse fou o melhor que participamos. O envolvimento com a ferrovia foi total".

Para quem realizou o primeiro Encontro, nada de melhor poderia acontecer, o reconhecimento de quem é do ramo. Além disso, nesse caso, ganhei três novos amigos. Vou encher literalmente o saco de todos com minhas histórias ferroviárias esse semana, pois estou com elas engasgadas aqui na garganta, prontas para serem expelidas. Essa é a primeira delas.

sábado, 27 de setembro de 2008

UMA MÚSICA (33)
MARIA FUMAÇA - KLEINTON & KLEDIR
Meus caros, acabo de chegar em casa do primeiro dia no I Encontro Histórico Ferroviário e de Ferromodelismo de Bauru. Fiquei na Estação Central de Bauru, das 7h da manhã até 20h, ininterruptas, cheirando, respirando e transpirando trens (ontem, sexta, já havia ficado das 16 às 23h, nos preparativos). Volto cansado e revigorado, com histórias mil na cabeça. Querendo escrever muito sobre aquilo tudo vivenciado por lá, mas o corpão pedindo cama. Deixo algo sobre o evento para amanhã e tento me lembrar de uma música sobre trilhos. Muitas me vêem à mente. Várias canto inteiras, como essa do primeiro disco da dupla gaúcha de Pelotas, que leva o nome dos dois. Tendo pai e avô ferroviário, me dientifiquei de cara. Cantava tudo deles daquela época, aos meus 20 anos. O LP é de 1980 e está desde essa época aqui no mafuá. A letra é dos dois e acredito que todos gostem bastante dela. Para mim, ouvi-la antes de cair na cama e desmair, será um alívio. Amanhã tem mais Encontro e mais trens. Relembrando:

Essa Maria Fumaça é devagar quase parada/ Ô seu foguista, bota fogo na fogueira/Que essa chaleira tem que estar até sexta-feira/ Na estação de Pedro Osório, sim senhor/Se esse trem não chega a tempo vou perder meu casamento/ Atraca, atraca-lhe carvão nessa lareira/ Esse fogão é que acelera essa banheira/ O padre é louco o bota outro em meu lugar/ Se chego tarde não vou casar/ Eu perco a noiva e o jantar/ A moça não é nenhuma miss/ Mas é prendada e me faz feliz/ O pai é um próspero fazendeiro/ Não é que eu seja interesseiro/ Mas sempre bom e aconselhável/ Unir o útil ao agradável/ Esse trem não sai do chão/ Urinaram no carvão/ Entupiram a lotação/ E eu nem sou desse vagão/ Mas que baita confusão/ Tem crioulo e alemão/ Empregado com patrão/ Ôpa! me passaram a mão/ Ora vá lamber sabão !!!/ (Pangaré pangaré pangaré)/ Se por acaso eu não casar/ Alguém vai ter que indenizar/ Esse expresso vai a trote mais parece um pangaré/ Essa carroça é um jaboti com chaminé/ Eu tenho pena de quem segue prá Bagé/ Seu cobrador, cadê meu troco ? por favor/ Dá-lhe apito e manivela, passa sebo nas canelas/ Seu maquinista eu vou tirar meu pai da forca/ Por que não joga esse museu no ferro velho/ E compra logo um trem moderno japonês/ No dia alegre do meu noivado/ pedi a mão todo emocionado/ A mãe da moça me garantiu/ "É virgem, só que morou no Rio/ O pai falou "é carne de primeira/ mas se abre a boca só sai besteira"/ Eu disse: "Fico com essa guria/ Só quero mesmo é prá tirar cria"/ Esse trem não era o teu/ Esvaziaram o pneu/ Mas cadê esse guri?/ Tá na fila do xixi/ Tem chiclete com "tatoo"/ Foi alguém do Canguçu/ Me roubaram meu chapéu/ Chama o homem do quartel/Deu enjôo na mulher/ Fez "porquinho" no meu pé/ (Pangaré pangaré pangaré)/ Se por acaso eu não casar/ Alguém vai ter que indenizar/ É o presidente dessa tal/RFFSA.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

DIÁRIO DE CUBA (11)
UMA FEIRA, MUSEU DA REVOLUÇÃO E O MALECÓN
Ainda estamos na segunda-feira, terceiro dia na ilha. No último post havíamos saído de compromissos agendados com autoridades cubanas. Na parte da tarde, algo mais light. Andanças. Foi o que mais fizemos por lá. Na saída do Instituto Cubano de Amistad com los Pueblos, uma pequena feira algumas quadras à frente, numa esquina. Adentro o local cheio de curiosidade e descubro algo que me encanta. Um descascador de laranjas. Eles não descascam laranjas como nós, preferem o fazer com uma maquininha. Registro um senhor no ofício. Na sequência uma cubana pede para ser fotografada. Muito falante, não lhe nego o pedido. E deixo registrado mais esse rico momento da viagem. Gostaria tanto de ter trazido muitos registros dos cubanos, mas achei um tanto chato ir fotografando-os sem autorização. Essa permitiu.

A parada seguinte foi no Museu da Revolução. Uma grande maravilha, que muito nos encantou. Foram mais de duas horas circulando por aquilo tudo. A praça defronte já é achado. Tem uma grande passarela, toda arborizada dos lados e um prédio monumental. Vivemos intensamente aqueles momentos. Nem me lembro quanto pagamos, mas sei que foi pouco, muito pouco. Que linda cúpula. Doeu o pescoço, mas permanecemos um bom tempo com a cabeça voltada para cima. Sei que esse meu relato é muito mais um álbum de figurinhas, pois ia registrando tudo. Marcos fica bem uns quinze minutos com uma recepcionista, Raysa Ramirez Marzo, 42 anos, hablando sobre as expectativas que iam sendo preenchidas com a visita. Numa das salas, a grande surpresa, um brasileiro retratado numa foto. Era Chico Buarque, ao lado de Pablo Milanés. Vamos e voltamos várias vezes, subimos e descemos as escadas.

Na saída, não resisto e tiro uma foto socando a cara do Bush, o presidente do império norte-americano, num grande mural denominado de "Rincon de los cretinos". Marcos preferiu outra, numa cena revolucionária, onde Che estava retratado em tamanho natural, num boneco muito parecido com sua fisionomia. Marcos não resiste e compra sete fitas gravadas, documentários cubanos. Nove pesos cada. Guarda-os como troféus. Intocáveis. Na verdade não queríamos mais ir embora. Ficamos de voltar antes do retorno, mas infelizmente não foi possível. Hoje, as fotos nos matam de saudade. Que bela tarde.

Na praça logo atrás, uma exposição de tanques de guerra. Mais fotos e Marcos tira fotos em posição de sentido. Seria um soldado da revolução? Ele se acha, eu vou clicando. Passamos defronte o Capitólio, a Assembléia Geral Cubana, um prédio muito imponente, numa região de grande movimentação. Um táxi triciclo, com lugar para duas pessoas para ao nosso lado. O condutor é de Santiago de Cuba, oferece seus serviços. Se apresenta em inglês. Eu nada falo em inglês, Marcos sim. Papeiam, mas não tivemos coragem suficiente para andar num meio de locomoção, tendo como tração a força humana. Deixamos passar. Fome, muita fome. Almoçamos no Hanoi. Três pesos e noventa cada, com duas gasosas. Devorei gostosamente uma bisteca de porco, com uma Bunanera, a cerveja cubana.

Caminhamos muito por toda aquela parte de Havana. Foi divinal esse primeiro contato com a parte mais antiga da cidade, uma boa parte ainda degradada, mas com tapumes por todos os lados. Deu para perceber que a cidade passa por transformações, principalmente no restauro de suas edificações. "La Habana Vieja" já é linda do jeito que a vimos, mas vai ficar deslumbrante daqui a alguns anos. Numa esquina um vagão restaurado e aberto a visitação, mais um museu plantado numa esquina no centro da cidade. Estava fechado e não conseguimos visitá-lo por dentro.

No retorno para o hotel, por volta das 19h, estávamos voltando pelo Malecón, na ave de Maceo, num começo de noite morna. Um jovem chama a atenção. Possui tatuado no braço o Che. Logo a seguir somos abordados por Orti, um sorridente negro. Me chama com inistência. Vou, um tanto relutante. Identifico-me como brasileiro. Queria que trocássemos nossas camisetas. Falou muito do ser latino: "Somos todos irmãos, latinos, padecemos dos mesmos males. Sou ter irmãos cubano, teu irmãos latino. O venezuelano, o colombiano, o argentino, o mexicano, todos latinos, irmãos, no viver e no sofrer". Vou refletindo sobre aquilo e depois muito me arrependo de não ter trocado a camiseta. Anotei seu endereço, mas não pudemos passar por sua casa. Orti, 48 anos, engenheiro, foi pessoa marcante na viagem. Queria papear, trocar idéias e guardo daquele abraço uma forte recordação. Um povo carinhoso com o visitante, caloroso, terno.
Semana que vem tem mais...

Queria ficar postando fotos e mais fotos aqui e não gosto quando tenho que deixar algumas para trás. Fazer o que...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

UMA CARTA (17)

ESQUECERAM DO NOROESTE - publicada no Jornal da Cidade, Tribuna do leitor, 23/09
"Não deu para entender. O Noroeste vinha de cinco vitórias consecutivas na Copa Federação e no jogo desse domingo, poderia obter a classificação com duas rodadas de antecedência. Uma recuparação de causar espanto. Aliado a isso, o time recebe jogadores que atuaram na 3ª Divisão do Brasileiro. Quase classificado, dia de chuva, 11h, vou conferir e de radinho em punho, como sempre faço. Foi difícil achar uma rádio para ouvir o jogo. Vivemos um ótimo momento no quesito equipes esportivas em nossas rádios. São três em atividade. Todas falam muito do Noroeste, diariamente, até a exaustão. Cumprem seu papel, cutucam, elogiam e destrincham o Noroeste. Já no campo, no lugar do espetáculo, a decepção. Nenhuma das três transmite o jogo. Justo no dia em que o time garante vaga para a próxima fase com um 3x1 contra o Osvaldo Cruz.

Já ouvi futebol em todas nossas rádios, faço isso há mais de 40 anos e para mim não é uma novidade o ocorrido. Vez ou outra elas abandonam o Noroeste. Lembro-me bem de uma vez, décadas atrás, fase final do Paulistão, Noroeste sem chances, jogava contra a Portuguesa no Canindé e nossas rádios estavam todas no Morumbi, transmitindo um clássico, pois decidia classificação. A situação se repete hoje, em situações diferentes. Duas transmitiram futebol amador e outra música sertaneja. Como torcedor, mesmo que venham tentar me convencer de que isso é coisa de patrocínio, interesses, adversidades, não me convence. Considero o Noroeste nossa causa maior. O restante são detalhes. Critiquem à vontade, mas transmitam os jogos, afinal podemos chegar até na Copa do Brasil disputando esse torneio. E aí, todas vão querer estar lá. Ou não?

Em tempo. O surreal aconteceu. Uma rádio FM, a Tupi, descobre a pólvora e entra em cadeia com a rádio Clube, de Osvaldo Cruz e o bauruense pode ouvir o jogo. Sacaram? Jogo em Bauru, ouço a partida numa FM, em cadeia com uma rádio da cidade visitante. Achei divinal. Não falta mais nada. Gosto de todas, tenho conhecidos em todas daqui, curto os programas, mas não faltava mais nada. Ou ainda vêm mais por aí?

HPA, torcedor do Noroeste, depois e só depois, do Corinthians, do Botafogo, do Atlético PR..."

OBS.: A carta está reproduzida no espaço acima. Aqui, faço mais alguns comentários. Uma rádio ainda ironiza os torcedores. Diz que é difícil narrar jogos nesse torneio, quando pouco mais de 150 torcedores foram ao campo, jogos ruins, condições adversas. Mas continuam falando diariamento do clube. Brincam no ar quando afirmam: "Só recebemos dois emails de protestos pela não transmissão". Isso é falta de respeito aos abnegados noroestinos (posto algumas fotos desses, um deles até com uma tatuagem do clube nas costas). Tenho absoluta certeza de que teriam um público cativo com o radinho colado no ouvido e estão menosprezando isso. Estão querendo jogar a administração do clube contra os torcedores, quando o que acontece é outra coisa: parece existir uma briga de bastidores porque o clube não patrocina anúncios em nenhuma delas. Sentado ao meu lado, um senhor de uns 60 anos sacou tudo e fiquei surpreso com a sua conclusão: "Sabe por que a rádio fala mal da Prefeitura, do Lula e do Noroeste? É simples, nenhum desses anúncia nela. Anunciando muda tudo". Fico por aqui.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

MEMÓRIA ORAL (48)
SEU VERO, A VEROLÂNDIA E A MAQUETE DA ESTAÇÃO
Veraldo Rosetti, 78 anos (05/11/1929), ferroviário aposentado há mais de vinte anos é uma pessoa, que gosta muito de minúcias e delas extrai verdadeiras maravilhas. Foi desenhista técnico da extinta RFSSA - Rede Ferroviária Federal S/A, pela qual trabalhou por mais de 30 anos. Teve uma vida quase toda dedicada à ferrovia, sempre no Departamento de Patrimônio, o prédio mais velho da administração da Estrada de Ferro, bem ao lado do Museu Ferroviário de Bauru. Essa vida ao lado dos trilhos, o faz afirmar, com certa pitada saudosista: "Trabalhei ali a minha vida inteira. Conheço cada cantinho daquilo tudo". Com uma vida toda construída em função da ferrovia, quando se viu longe d atividade diária, pensou logo em como poderia levar um pouco daquilo tudo para dentro de sua casa.

Foi quando começou a se interessar por miniaturas de trens, começando com as peças de ferromodelismo. Comprou as primeiras e pegou gosto pela coisa. A cada dia aparecia com uma novidade; trilhos, engates e sinalizações, montando e desmontando tudo em locais variados dentro de sua casa. Paralelo, outra coleção, de miniaturas de carros. Em ambas, possui verdadeiras preciosidades. No lar, a esposa não interferia no gosto refinado do marido e a filha única, Cibele, incentivava, pois no seu canto, sempre manteve coleções de coisas miúdas, como animais de louça, tendo predileção por gatos. O negócio foi ganhando cada vez mais corpo, ocupando mais espaço dentro da casa e tomando cada vez mais tempo de toda a família.

Dizem que esse negócio de ferrovia quando se infiltra numa pessoa, não o abandona nunca mais. Com seu Vero, como é carinhosamente chamado por todos, visitá-lo em sua casa é a comprovação da veracidade desse conceito. O homem transpira ferrovia por todos os poros, mas não somente isso. Ele sempre foi uma pessoa das mais versáteis, ativo como nunca e curioso por natureza. Artista nato e autodidata, pinta e borda em outros segmentos. Tem telas espalhadas por toda a casa e para os que não acreditam muito que são suas, mostra velhos álbuns, com convites, fotos de exposições e recortes de jornais, todos muito organizados e comprovando cada fase de sua incessante atividade.

Aliás, sua casa é sui generis, pois, mesmo não sendo muito grande, possui uma perfeita divisão, onde tudo está muito bem exposto. Ao lado da sala, está situado um escritório de trabalho, que muitos poderiam chamar de atelier, ou até como oficina de reparos. Tudo é feito ali, desde as pinturas, até a montagem de uma maravilha fixada junto ao teto. Quando faltou espaço na casa, veio a idéia de fazer o percurso do ferromodelismo no alto, dando uma volta pelo quarto. Ver a composição férrea dando voltas dentro do seu quarto é algo indescritível. É claro, que junto a tudo isso, não poderia faltar a estação, para a parada dessa composição, cujo nome veio bem a calhar,Verolândia. Quando lhe pergunto o motivo desse nome, a resposta só poderia ser uma: "Todos na ferrovia, os amigos e parentes me chamavam de Vero e como tudo está montado aqui no meu cantinho, ficouVerolândia mesmo".

Mesmo aposentado, por mais um tempo continuou fazendo uns bicos como desenhista técnico de arquitetura e pintando sob encomenda. E tudo o que entrava, ia sendo empregado no hobbie. Até que pintou uma idéia inusitada no começo dos anos 90: "Até aquele momento ninguém tinha se proposto a fazer uma maquete da nossa Estação Central. Decidi fazer, seguindo as escalas que conhecia, mas sem nunca ter feito algo parecido antes". Foram uns três meses de pura dedicação. O resultado impressionou tanto, que num primeiro momento não queria se desfazer da peça.A maquete da estação foi totalmente feita em papelão e pintada com tinta acrílica. Possui 1,61 metros e chama muito a atenção pela riqueza de detalhes. A incrível semelhança do relógio na frente do prédio, feito em algarismos romanos e na parte coberta, a chamada gare, com bancos internos e a entrada do túnel, que dá acesso ao outro lado da plataforma. Cada janela, minuciosamente montada, deixa claro como deve ter sido trabalhoso a sua execução. Trabalho de um minucioso artífice.

Passado algum tempo, por incentivo de ferroviários e de funcionáriosdo Museu, fez a doação e a peça foi logo a seguir exposta. Dessa época, seu Vero guarda muitos recortes de matérias nos jornais: "Montei um álbum, onde fui colando fotos de meus trabalhos, matérias de jornais e documentos recolhidos". Em 01/01/2002, o Jornal da Cidade dava a primeira manchete sobre a maquete, com o título "Aposentado homageia ferrovia". Passado algum tempo a peça foi recolhida para a reserva técnica do museu, pois caiu no chão ao ser removida de um local para outro. Ficou guardada por mais de um ano. No começo de 2005, quando o Museu Ferroviário reuniu peças para a exposição "Ferrovia em Miniatura", a maquete foi reativada. Por iniciativa de Darci Bueno, então presidente do Conselho do Museu, seu Vero foi procurado e se prontificou a restaurar a parte danificada: "Eu sabia onde ele morava, fui lá e ele veio restaurar a peça no próprio local em que seria exposta". Nem é necessário afirmar, que mesmo com um trenzinho em miniatura funcionando lá dentro, a maquete voltou a chamar a atenção. Novas reportagens foram feitas e seu Vero voltou a ser notícia.

De lá para cá, a maquete nunca mais deixou de ser exposta. Ficou um tempo no Museu Ferroviário e depois, junto a um pequeno acervo ferroviário no Museu Histórico de Bauru. Quando o Chefe do Museu Histórico, Valter Tomás Ferreira idealizou uma exposição para a unidade local do Poupatempo, denominada "Passageiros", com uma retrospectiva sob a visão das pessoas, que embarcavam e desembarcavam nas várias plataformas ferroviárias da cidade, nada melhor do que ter a maquete como o primeiro objeto a ser visto, logo na entrada do prédio, como um chamarisco para as outras peças dispostas lá dentro: "Ela é nossa mais bonita e imponente estação e essa maquete, pela forma como foi feita, representa muito, pois tem a dedicação integral de um ferroviário na sua execução". A exposição aconteceu no Poupatempo e a maquete do seu Vero, "da nossa maior e mais bonita estação", abrilhanta tudo. Depois voltou para o Museu Ferroviário, onde permanece até hoje.
A lamentar só o fato do seu construtor não estar lá com a saúde muito perfeita, pois como ele mesmo nos disse, "ando com o rim meio atrapalhado". Até para ir rever sua obra, depende da ajuda de outros, principalmente das horas de folga da filha, pois "não gosto de deixar a casa vazia, sem ninguém. Se ela fica aqui, alguém me leva até lá". Porém, nem a saúde o impede de continuar fazendo o que gosta. Sua mesa de trabalho está sempre cheia de papéis e seus trenzinhos continuam funcionando regularmente nos trilhos no alto do seu escritório. O mesmo pode-se dizer das pinturas, pois volta e meia se atreve a expor algumas delas por aí. Na estação de Verolândia os trens não pararam de funcionar esses anos todos, dando um ótimo exemplo de como deveriam ser as coisas com os trilhos de verdade. Com a estação a mesma coisa, pois a do seu Vero foi erguida para ser exposta, vista, como se funcionando estivesse: "Quem me dera isso também fosse possível na verdadeira".
OBS.: Esse texto foi escrito em agosto de 2007 e ainda não havia sido publicado aqui. O faço agora, com pequenas correções, devido ao I Encontro Histórico Ferroviário e de Ferromodelismo de Bauru, a realizar-se na Estação Central de Bauru, nos dias 27 e 28/09/2008.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

CENA BAURUENSE (07)
LANÇAMENTO LIVRO "CÂNDIDO DEODATO", DO FAUSTO BERGOCCEData: dia 23/09 (21h) - Local: rua Benjamin Constant, 1-34 (Templo Bar) Tel.: 3223-3493

"Fausto Bergocce é cartunista profissional desde 1974. Nasceu em Reginópolis, SP, no dia 18 de novembro de 1952. Estudou desenho mecânico e ajustagem mecânica no Senai, mas por uma questão de "ajustagem", trocou a lima e a morsa pelo pincel e a prancheta e foi trabalhar na imprensa diária. Seu grande barato é participar do dia-a-dia das redações; adora o contato com os colegas, o bom papo com os amigos, a agitação, o barulho e o silêncio dos computadores.

Com sua arte, Fausto já ilustrou para o Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo; Ultima Hora (SP), Pasquim (SP), Diário do Grande ABC, Popular da Tarde, Diário Popular, Diário de S. Paulo entre outros. Paralelamente ao jornalismo diário, passou pelo departamento de cenografia e arte da TV Cultura e produziu charges animadas para os programas Vídeo Esporte e Jornal 60 Minutos, ambos da mesma emissora. Ilustrou para a imprensa sindical e para revistas da Editora Três. Participou das primeiras Mostras do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Em 1998 do Salão Internacional de Saint-Just-Le-Martel (França) e em 2001 do Salão Internacional de Desenho para Imprensa (Porto Alegre).
É autor dos livros "Sem Perder a Linha" (prêmio HQ-Mix versão 1999), "Esqueçam o Que Ele Desenhou" e "Traço Extra". Em 2000 desenhou o painel comemorativo "200 Anos do Jardim da Luz"(São Paulo). Atualmente é chargista do Jornal Olho Vivo e ilustrador free-lancer".
Maiores informações: http://www.faustocartoon.com.br/

Isso tudo aí em cima é sobre meu grande amigo FAUSTO, um cartunista que aprendi a gostar quando publicava suas charges no Folhetim, anos 80, na Folha SP. Quem diria, anos depois, o cara é meu amigo e estará aqui amanhã, no Templo Bar, lançando um livro que é a cara dessa eleição, pois trata do dia-a-dia de um candidato, o "Cândido Deodato". São tiras que ele publicou no Diário Popular nos idos de 1988 e que, hoje, continuam mais atualizadas e oportunas do que antes. Rir disso tudo serve também para uma bela reflexão. Junto Fausto trouxe um livro infantil, o "A nuvenzinha exibida", que também estará lançando por lá. Nada melhor do que o bar do Fernando, para fazermos tudo ao mesmo tempo: comprar o livro do Fausto, papear sobre o contexto, bebericar uma gelada, ouvir uma boa música e conhecer uma grande figura humana, o Fausto. Esse é de fibra, de resistência, e não é de hoje. Nos encontramos lá, tá bom?
OBS.: As fotos foram tiradas por mim no mês passado, quando ele passou voando por aqui. Dessa vez veio com mais tempo. Quem quer rir um pouco dos bastidores de uma eleição, precisa estar lá amanhã.