domingo, 14 de setembro de 2008

DIÁRIO DE CUBA (10)
O PRIMEIRO DIA ÚTIL EM HAVANA - Segunda, 10/03
Escrever sobre Cuba me é gratificante. Escrevo com um sentimento de sermos todos irmãos, padecemos do mesmo mal (mesmo que muitos não entendam assim), aqui mais ao sul, um verdadeiro quintal dos EUA durante muito tempo e a pequena ilha, pela proximidade ao Grande Irmão do Norte, sendo um regime não aceitável pelo templo consumista. Dá-lhe paú, contínuo e generalizado. Sobra até para os que insistem em continuar tecendo loas à Cuba, sua resistência, Fidel, comunismo... É um debate que não têm fim. O faço com gosto, pois o faço com argumentos. Pena que, esse meu Diário tem dia certo para acabar, pois está restrito aos dias de minha passagem pela ilha. Mas o faço devagar, em detalhes, para durar mais. Hoje, retrato o terceiro dia na ilha, uma segunda-feira, cheia de agendamentos e contatos interessantes. Vamos a eles.

Acordamos às 6h15, plugado na rádio Relógio, com notícias ininterruptas e o aviso da hora certa, seguido da batida de um relógio. A cada mudança de notícia anunciam a hora. Marcos diz não suportar isso, mas fico a tentar entender o idioma, naquela fala apressada, que me embaralha a cabeça. Compramos mais vinte pesos para ligações internacionais e também nacionais. O primeiro contato do dia é com Omar Olazabal, dos Estudios Mundo Latino, que produzem os documentários insticionais do Governo cubano (produtora de TV do Partido Cubano, 21 anos de existência, 500 documentários já realizados). Um veículo passa nos buscar às 10h. Angela Mola, uma muito bem humorada cubana tira nossas dúvidas e ri muito de nosso desconhecimento de alguns procedimentos.

O encontro com Omar se dá no primeiro andar de um pequeno casarão, com a presença de outros funcionários. Abrimos o jogo: queríamos andar pelo país, gravar, fotografar e falar muito com as pessoas, entrar em escolas, clubes, tudo o que for possível. Ri de nossa preocupação e nos diz: "Não preciso ligar para ninguém autorizar nada. Por aqui vocês tem livre acesso a quase tudo. Sigam o roteiro estabelecido por vocês, levem meu cartão e em caso de algum problema, me comuniquem". Só no caso de filmagens em certos locais existe uma certa restrição. "Muitos aparecem aqui, filmam e fazem algo totalmente ao contrário do que foi proposto. Temos que ter nossos cuidados", diz. De lá, a nosso pedido, queríamos contato com algum instituto de povos latinos, Angela nos deixa diante do Instituto Cubano de Amistad com los Pueblos (Calle 17 301 e/H - Vedado) e quem nos recebe é um simpático Fábio Simeón González, diretor para América Latina e Caribe.

Somos recebidos sem maiores problemas e adoramos seu agradável discurso. Era o que queríamos ouvir e encontramos logo de cara. Discutimos de tudo, desde a homologação dos diplomas de médicos cubanos no Brasil a uma vinda dele ao Rio em alguns meses: "Coordeno congressos cubanos por vários países e não permitimos demonstrações de diferenças entre os grupos nesses locais. Não se pode utilizar um evento do governo de Cuba para discussão de temas pontuais. Vamos ao mundo divulgar nossa causa e não condiz com a unidade pretendida, a discussão de outros temas". Quando Marcos lhe diz que ainda possui problemas com a mãe que não aceita sua postura, Fábio lhe dá uma resposta certeira: "Diga para sua mãe que as trincheiras das idéias valem mais que as trincheiras da vida". Ganhamos de Fábio, o livro "El dulce abismo", com as cartas dos 5 cubanos detidos nos EUA, cujos cartazes estão espalhados por todo o país. Ante calorosos abraços nos despedimos no portão do instituto, reproduzindo uma fala de Antonio Maceo, um dos pioneiros cubanos na luta contra a dominação espanhola: "Quem tentar se apoderar de Cuba/ Encontrará a luta do povo de sua terra banhado em sangue/ Se não morrer em combate". Sinto isso enraizado no povo cubano, numa defesa contínua do que conquistou.

Ainda não estávamos na hora do almoço, diante de nossos olhos o famoso Museu da Revolução e uma tarde inteira para conhecer La Habana Vieja. Fica para a próxima vez...

5 comentários:

Anônimo disse...

Que fantástico, uma viagem diferente sem ser turistica, embasada na pesquisa social.
Nicolas

Anônimo disse...

Você demora demais para postar entre um texto e outro.
Não tem como postar com menos intervalo.
Maria

Anônimo disse...

Querido Henrique está muito legal seus relatos dessa sua viagem, só poderia ter escolhido um melhor acompanhante, certas amizades não valem a pena, ainda mais quando a amizade é ditadora, machista e ateísta e você é uma boa pessoa para se envolver com gente assim.
Beijos e continue escrevendo esses interessantes relatos.
RM

Mafuá do HPA disse...

caro RM
O Marcos pode ter um monte de defeitos, aliás, como todos nós temos, mas é amigo fiel. O machismo dele é uma questão a ser melhor discutida, pois conversando ele também recua em alguns posicionamentos. O ateísmo é algo bem pessoal, não vejo problemas. E o ditador, deixo a pergunta. E a ditadura que tentam nos impor de somente acreditarmos em uma linha de pensamento, em uma única via, a do neoliberalismo? Isso também é uma ditadura, talvez mais cruel do que a que ele prega...
Contineu lendo e opinando.
abrcitos do mafuá

Anônimo disse...

MENINOS
NÃO LIGUEM...
TEM GENTE QUE SÓ PENSA EM RELIGIÃO.
DIZ AMÉM PARA PADRES, PASTORES, BISPOS VARIADOS, MESMO QUE ESSES CONTINUEM EMRABANDO-OS SEM DÓ E PIEDADE.
FÉ TEM LIMITE.
CEGUEIRA FAZ UM MAL DANADO PARA NOSSAS MENTES.
SIGAM SEUS CAMINHOS, SEM DAR OUVIDOS PARA BABOSEIRA CAROLA.
JC.