segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

MEMÓRIA ORAL Nº 17
A dessa semana é um tanto ligth como condiz com esse negócio de final de ano. Espero que gostem. É muito pessoal e diz respeito às minhas amizades...
OS DOCES BÁRBAROS – O REENCONTRO
Último domingo do ano, Sivaldo Camargo, 44 anos, amigo do peito, convida-me para almoçar em sua casa. Aceito prontamente, pois me diz que o convite seria estendido para outro grande amigo, Duílio Duka, 55 anos e teríamos a oportunidade de rever Ocimar Camargo, o Peu, seu irmão quase gêmeo, hoje morando em Santa cruz do Rio Pardo.Todos somos amigos de longa data. Havia outro motivo, Sivaldo possui uma bem cuidada coleção de DVDs musicais, todos de artistas brasileiros, alguns raros e teríamos a oportunidade de assistir alguns deles. Salpicando isso tudo estava a bebericagem que, certamente ocorreria antes, durante e depois das sessões. Sem contar o almoço que, dizem, feito pela mãe deles, é de cair o queixo. E para lá fui, na última (ou seria a penúltima?) experiência etílico-gastronômica do ano de 2007.

Encontro com Duka na Feira do Rolo e por volta das 12h, vamos juntos para aquele sofrimento (sic) todo. A casa fica no bairro Redentor, logo na entrada, ao lado de uma arborizada pracinha. Estaciono diante do portão, com um sol de rachar mamona e dona Angelina, a mãe, sai no portão para me aconselhar: "Coloque na calçada, do outro lado da rua e fique na sombra". Claro sinal de que a visita não seria rápida. Após os rápidos cumprimentos, Sivaldo acomoda todos em seu quarto, um santuário, uma espécie de ilha do tesouro cultural, diante do imenso mar de mediocridades do mundo atual. Medindo aproximadamente 6x3m, somos acomodados ao lado de livros, CDs, DVDs, pôsteres e quadros variados. Sua cama num canto, ao lado de uma imensa TV e diante dela, uma confortável poltrona. No restante do espaço, as preciosidades todas.

Fomos rapidamente acomodados. Sivaldo em sua cama, Duka na poltrona (ninguém reclamou devido ser o mais idoso), eu numa cadeira e Peu num baquinho. Nem tivemos tempo de escolher o primeiro DVD, pois Sivaldo já gesticulava muito, tendo às mãos o dos Doces Bárbaros, numa reapresentação do quarteto de baianos, gravada em 2002, de um show nas areias de Copacabana. Coisa fina foi ir vendo os diálogos nos ensaios, feitos no estúdio da gravadora Biscoito Fino. Nisso fomos apresentados a algumas 'Skol's, todas trincando de geladas e logo a seguir, têm início o sofrimento do levantamento coletivo de copos, o único exercício que o quarteto reunido naquele quarto anda fazendo ultimamente.

O calor lá fora nem se fazia notar, pois um ventilador alcançava a todos. Siva, que já havia visto aquilo algumas outras vezes, não se cansava de indicar os pontos nevrálgicos, como uma brusca reação de Caetano Veloso quando perguntado sobre se entre eles existia uma briga de egos. A resposta foi seca e certeira: "Que isso. Não brigamos entre amigos. Amigo é amigo. Brigamos com quem nos provoca e pergunta esse tipo de coisa só para vender jornal". Olhamos um para o outro e entendemos que o negócio da amizade dita lá no vídeo, estava sendo confirmada com a nossa união naquele espaço e dia.
Peu, mais próximo da porta, não teve sossego. Ficou encarregado da reposição das geladas. Não reclamou, pois a filha de três anos entrava e saia da sala a todo instante, exigindo ser acarinhada pelo pai coruja. Sivaldo não se contentou com as cervejas e serviu a todos com um whisky dos bons. A partir daí, todos tivemos que cuidar de dois copos. Tarefa difícil, pois assistir show, sem gesticulação é algo para robô. O primeiro copo foi quebrado pelo Peu e o segundo por mim, ficando essa contenda empatada até o final do embate. Houveram outros que, seguraram o copo pelas pernas, mas escaparam do vexame.
O segundo DVD teve aprovação unânime de todos, era o do Chico Buarque, sobre o tema Futebol. Ver Chico cantando e contando causos ligados à bola foi inebriante. Todos ali, admiradores confessos de toda sua obra, encantados permaneceram com a simplicidade de Pagão e do cavalheirismo do Clodoaldo, o Corró, que num jogo, saiu da frente para Chico poder marcar o gol que, mesmo assim, foi perdido. O Hino do Politheana foi saudado por todos como emocionante, verdadeira raridade. Na seqüência, Sivaldo sacou do Acústico do Paulinho da Viola, recém lançado e todos permanecemos boquiabertos e consumindo muito líquido. Samba tocado e cantado com a maestria do famoso príncipe na sua especialidade. Tentávamos descobrir os nomes dos músicos e no coral de vozes, Cristina Buarque era o grande diferencial.
Quando Sivaldo levanta para tirar água do joelho, sua mãe aparece na porta e faz um pedido: "Faz tempo que o almoço está pronto. Se deixarem, o Sivaldo não come. Façam o favor de trazer ele para a mesa". O que só foi feito quando Paulinho encerrou seu musical. Na sala de jantar, a recepção foi feita com uma salada gelada de maionese, frutas e frios. Pedi a receita para dona Angelina, que ficou de pensar. Na evasiva, pedi um pouco para minha mãe. Arroz com uvas passas e um pernil já todo cortado em pedaços foram colocados na mesa. A recomendação vinda da cozinha era clara: "Só saiam da mesa quando o pernil terminar". Como ninguém estava propenso a desobedecer ordens superiores, o tal porco não resistiu por muito tempo.
Barrigas devidamente forradas, todos voltaram aos seus devidos lugares para o início do segundo tempo. Sivaldo queria mesmo provocar a todos. Veio com os dois últimos DVDs da Maria Bethânia e diante do primor da linda voz da baiana, me fez soltar uma preciosidade: "Taí uma que casava de olhos fechados". Foi lindo ver dona Canô cantando alguns sucessos do cancioneiro popular junto dos dois filhos famosos. O silêncio reinava no ambiente enquanto Bethânia abria sua boca. Respeitosamente só os copos se movimentavam. Duka bem que tentou, mas fez aquilo que todos já esperavam dele: dormiu. Uma soneca meio que inevitável. Acordava, ouvia alguns trechos, palpitava e caia novamente nos remanso suave de uma sesta. A vida daqueles quatro ali reunidos estava como no samba do Zeca: a vida levava a todos.
Tem aquele momento em que se faz necessário bater as asas e ir embora. Sivaldo ainda mostrou outras preciosidades, num senta-levanta onde ninguém queria sair dali. Vimos uns trechos do show Estampado, da Ana Carolina, justamente no dueto que fez com seu Jorge, no "Beat da Beata". Saio com dois DVDs emprestados, o do Chico e o do Paulinho, conseguidos após uma batalha judicial com promessas de rápida devolução. Na saída, dona Angelina me entrega uma embalagem lacrada: "É a salada para sua mãe. A receita você pega depois com o Sivaldo". Contentei-me com o mimo e sai todo pimpão, pois fui o único a recebê-lo. Os tais bárbaros ali reunidos ajustaram novo encontro, desde que realizado no mesmo local e com o mesmo serviço de atendimento. Alma lavada e um domingo muito bem aproveitado foi o rescaldo feito pelos sobreviventes de tão sofrido e desgastante imbróglio. Restou a todos curarem suas ressacas em outro lugar. Henrique Perazzi de Aquino, escrito em 31/12/2007.

domingo, 30 de dezembro de 2007

UMA ALFINETADA (14)


A última do ano já saiu lá n'O ALFINETE de ontem e hoje sai aqui. Reflexões sobre o ato de voar e do assopro.



VOAR É SAIR DO CHÃO PARA MUDAR TUDO



Até parece que as pessoas perderam a vontade de voar. E é muito triste ver essa imensidão de pessoas, com suas asas mais do que prontas, porém com mêdo de tirar os pés do chão. Algo as seguram, sentem-se imobilizadas, pois voar implica riscos e no mundo atual, ninguém está mais disposto a arriscar nada. Eu não consigo acreditar num Deus que me impede de fazer coisas novas, inusitadas, de me ver alçando vôo, sendo feliz e fazendo muito mais gente feliz. Jesus era um revolucionário no seu tempo, queria mudar tudo e o que nos é apresentado hoje, serve ao interesse somente dos que não querem que ninguém saia voando por aí. E voar é ser feliz. Voar significa abandonar as certezas.

Todos nós estamos enfiados em vidas mais do que chatas, monótonas e sem grandes novidades. Muitos seguem falas ditas por seres que nos querem ver como dócil manada, calados e servis. Nada deve ser mais triste do que o caminho do matadouro. Não foi para isso que viemos a esse mundo. Viemos para aproveitar e usufruir disso tudo à nossa disposição. E se não o fazemos, os culpados somos nós mesmos que, damos ouvidos a quem nos coloca verdadeiras mordaças na boca e amarrações nos pés.

Parei para ouvir uma velha senhora essa semana, muito triste, resmungando que não soube aproveitar sua vida, deixando de fazer isso e aquilo. Estava claramente arrependida pela vida reclusa que havia levado. Hoje, já velha, a ficha havia caído. A tristeza era que, com o pouco de tempo restante pela frente, não via mais condições de tirar o atraso. Um arrependimento a remoia por dentro. Levou uma vida cheia de regras, condicionamentos, no recato e dando ouvidos aos outros, deixando de voar. Nas reclamações atuais percebe-se que, se tivesse voado, teria tido menos urticária, artrite e o grande mal desse século, a depressão e o stress.

E esse viver não se resume às nossas vidas pessoais. Cada país precisa viver, encontrar e reencontrar seu próprio destino. E para isso gosto decitar o caso da Bolívia. Esse país sempre foi dominado por uma elite corrupta e centralizadora. Um índio, vindo das camadas mais pobres assume a presidência e cumpre exatamente o que havia prometido em campanha. Ele propõe o vôo, que o seu país saia da letargia, da submissão e se rebele, se faça ouvir. É evidente que, os interessados em que o país continue calado, quieto, conduzido como gado, se alevantam e querem que tudo volte a ser como dantes. A situação fica tensa e perigosa. O projeto anterior determina que nada mude. O novo quer refundar o país e criar uma nação de iguais, onde quem nunca tinha batido as asas, passe a fazê-lo. Em outros países latinos algo muito parecido está em curso, sem se esquecer de que os meios têm que estar de acordo com os fins.

Eu misturo tudo, vida pessoal, religião, política e quero com isso mostrar que ficando indiferente, deixando a vida te levar sem nada propor, aí é que nada irá acontecer mesmo. Eu sei muito bem o que quero e se ainda não alçei vôo é porque também tenho meus mêdos, afinal vivo aqui e recebo influências de todos os lados. Da necessidade de mudanças, disso não tenho dúvidas. E isso já é um ótimo começo. E o voar coletivo é muito mais prezeiroso do que o solitário. Voemos todos.

Henrique Perazzi de Aquino, 47 anos, desejando a todos um ótimo ano novo, sem o bolor das certezas absolutas ou dos textos doutrinários

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

CARTAS (1 e 2)
Duas cartas minhas foram recentemente publicadas por aí.

A primeira nos dois jornais de Bauru, o Jornal da Cidade, edição de 26/12, na Tribuna do Leitor e no Bom Dia, edição de 28/12, na seção Cartas, sobre a morte (sic) do seu Jorge, do Gasparini e a última na edição 476 da revista Carta Capital, de 26/12, seção Cartas Capitais:



SEU JORGE DO GASPARINI
Jorge Leme Filho era seu nome. Ou melhor, seu Jorge, como todos o chamavam no Gasparini, onde morava e dirigia a Escolinha de Futebol da SEMEL. Escrevo tudo no passado porque essa diferenciada figura humana foi forçado a nos deixar aos 60 anos, justamente na véspera do Natal. Isso mesmo, seu Jorge já não mais abrilhanta diariamente o Distrital do bairro, sempre rodeado dos meninos jogadores de bola e pelo amor que nutria pelo Juventude, o time da comunidade, no qual também dava seu quinhão de contribuição, doando seus conhecimentos e dedicação, ao lado do Donizeti, do Careca e de tantos outros.

Era uma pessoa das mais calmas, porém, elétrica. Se envolvia de corpo e alma no que fazia. E fazia um monte de coisas ao mesmo tempo. Quem consegue se esquecer de suas habilidades como mestre cuca nos vários almoços beneficientes lá na Associação de Moradores? Fazia uma feijoada como poucos. Trabalhou nos carros restaurantes da ferrovia, junto com um amigo que o reverenciou até o último momento, Claúdio Amantini (um patrão que nutre uma amizade eterna com o ex-funcionário só pode ser gente boa). Foi pelo trabalho na cozinha e corredores dos trens que, construiu sua vida, tanto que uma passagem ele fazia questão de contar pra todo mundo. Em 1992 fez uma ponta no filme "A Grande Arte", do Walter Salles (ao lado do Peter Coyote, Giulia Gam e Raul Cortez), como garçon, rodado parte na famosa Estação de Bauru e parte nos trilhos da Noroeste. Com muito orgulho ele falava que "Waltinho", como ele o chamava, gostava muito dele.

E como a vida se faz de muitas recordações, para lembrar seu Jorge, temos uma infinidade delas. Vê-lo circulando pelo bairro, com aquela sua calça de abrigo azul marinho era a certeza de uma paradinha para um papo alongado. Como pode uma pessoa tão doce nos deixar da forma como ocorreu seu passamento? Um bairro consternado, reverencia sua figura e clama calado: Por que? Quem o conhece está com um nó na garganta. A dor da esposa, filho(a)s é a dor de toda comunidade gaspariana.



AS BATATAS DO VENCEDOR
A matéria da capa da última edição deixa claro que os tucanos não estão preocupados com o Brasil, mas sim em vergar Lula e seus projetos. Tudo o que possa trazer dividendos para o presidente é boicotado e criticado, mesmo se for em benefício do país. Para isso, contam com uma imprensa servil, sempre pronta a fechar os olhos e a fazer o serviço sujo. Foi triste ver a campanha feita em quase toda a imprensa nativa contra a CPMF. Não foi só o governo Lula que foi prejudicado, mas o Brasil. Tanto o pirata-mor como o seu papagaio de pirata escreveram o nome na História como figuras de alta rapinagem.
RETRATOS DE BAURU (4)
ORIOVALDO JUSTINO E SEU VIOLINO




Conheço seu Justino do tempo em que andava pelas nossas ruas com uma lambreta e dotado de um capacete dos mais maneiros. Fazia serviços variados em residências, tipo as de encanador, eletrecista, sempre acompanhado do seu violino, objeto meio que inseparável. Com a idade chegando, os filhos o impediram de continuar se arriscando com a moto por aí, mas não conseguiram fazer com que aposentasse o violino. Sempre tocou em tudo quanto é lugar, desde batizado, festa de casamento, culto religioso, bodas de prata e os mais diversos locais onde é convidado. Se estiver com o instrumento do lado e o encontrar na rua, pedindo ele o tira da caixa e executa o serviço ali mesmo. Figuras das mais simpáticas e solicitas. Outro dia o encontrei voltando da casa de um enfermo e que havia ido lá para levar alegria com sua música. Justino é a alegria em pessoa.

Telefone de contato: 14.30163110 - 96214852
UMA MÚSICA (12)


A homenagem de hoje é para Benazir Bhuto, que foi barbaramente assassinada no seu país, o Paquistão, em plena campanha presidencial, numa morte atribuida à Al Quaeda, mas que respinga sobre o Gabinete Presidencial. Pelo que ela representou no passado, Chico César havia lhe prestado uma justa homenagem num dos seus primeiros discos (tenho aqui no meu mafuá). A letra é muito atual, pois assassinaram seu pai e hoje ela. Triste sina a do Paquistão.


BENAZIR - Chico César
não aponte o dedo
para benazir butho
seu puto
ela está de luto
pela morte do pai
não aponte o dedo
para benazir
esse dedo em riste
esse medo triste
é você
benazir resiste
o olho que existe
é o que vê

sábado, 22 de dezembro de 2007

UMA ALFINETADA (13)
Essa eu cabo de publicar hoje lá n'O ALFINETE e sai simultaneamente com o jornal impresso. É uma singela mensagem de felicidade que, poderia até ser usada como algo de muito bom nesses dias de Natal e Passagem de Ano.


UMA FELIZ HISTÓRIA, QUE BEM PODERIA SER NATALINA

O casal é de uma cidade aqui próxima das nossas. Ele, Francisco, 52 anos, desempregado, vivendo de bicos e alcóolatra inveterado. Já teve várias oportunidades na vida e hoje, só não cai numa sarjeta como um mendigo, graças à ex-esposa, Carolina, 52 anos, com quem ainda vive, como bons e eternos amigos. O casamento foi prolongado por causa dos filhos e do amor ao próximo que, ambos souberam cultivar ao longo dos anos. Quanto ao relacionamento a dois, tudo estava mais do que consumado e resolvido, mas juntos permanecem. Afinal, não havia mesmo como abandonar Francisco à própria sorte. O barco é tocado, com a vida levando a ambos, como na música de Zeca Pagodinho.

Ela, sempre muito ativa, viajava diariamente para uma cidade vizinha, maior que a sua, em busca do ganha pão. Por causa dessas viagens acaba conhecendo o caminhoneiro Armando, 49 anos, que diariamente sai daqui de Bauru por volta das 3h da manhã, com uma carga de jornais, cuja distribuição faz por um monte de cidades da região. Passando diariamente pela cidade onde ela mora, no exato horário em que ela está no ponto a esperar sua condução, o encontro era inevitável. Um dia ela perde essa condução e acaba aceitando a carona amiga de Armando, tendo início ali uma nova amizade, que logo desemboca numa mútua atração. Daí para assumirem algo foi um pulo. Pronto, estava nascendo um novo relacionamento.


Em casa não ocorre problema algum, pois com Francisco tudo estava mais doque resolvido. Chato são os comentários inevitáveis em uma pequena cidade, passando a chamá-la de “Dona Flor e seus dois maridos”, pois Armando encerra seu relacionamento em Bauru, cai nos braços de Carolina e passam a morar juntos. A solução foi alugar uma pequena casa para instalar Francisco e um dos filhos. A comida ela continuou fazendo e levando para ambos. Ela passa a viajar diariamente com o novo amor, juntos na boléia, como ajudante e paixão de todas as horas.


Dias atrás, o pacato Francisco, por causa da bebida, acaba se envolvendo numa briga besta com um vizinho e leva um tiro. Precisando de cuidados, quem ao acolhe é Carolina. Faz os curativos todos, desativa a casa onde ele morava e o ampara novamente no antigo e aconchegante lar. Quando essa não pode vir até Bauru com seu Armando, quem o faz é Francisco, pois ambos são muito amigos. A vida segue mais tranquila do que nunca. O filho pensa em construir uma casa só para o pai, talvez ali ao lado, no que Armando apóia e diz, dará toda ajuda possível. Carolina está feliz, vive sua vida sem sobressaltos e sem dar ouvidos à comentários desairosos sobre suas vidas. Já superou essa fase. É o que basta. Diz não precisar de mais nada, pois tem tudo o que quer.


A verdadeira felicidade talvez resida nessas histórias simples do nosso dia-a-dia, pois delas o mundo está cheio. O que vale é sermos todos felizes, não importando muito a forma. E viva o Natal!


Henrique Perazzi de Aquino, 47 anos, lutando uma vida contra os falsos moralistas que, com suas regras pré-concebidas ficam tentando impedir que sejamos felizes. Feliz entradas e saídas para todos.
OBS.: a ilustração é do Erasmo, Jornal de Piracicaba e foi retirada do www.chargeonline.com.br

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

UMA FRASE / POESIA (9)



HINO NACIONAL
poema de CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE




Precisamos descobrir o Brasil
Escondido atrás das florestas,
Com a água dos rios no meio
O Brasil está dormindo, coitado.
Precisamos colonizar o Brasil
O que faremos importando francesas
Muitas louras de pele macia,
Alemãs gordas, russas nostálgicas para
Garçonetes de restaurantes noturnos.
E virão sírias fidelíssimas.
Não convém desprezar as japonesas
Precisamos educar o Brasil,
compraremos professoras e livros,
assimilaremos finas culturas,
abriremos dancings e subvencionaremos as elites
Cada brasileiro terá sua casa
Com fogão e aquecedor elétricos, piscina,
salão de conferências científicas.
E cuidaremos do estado técnico.
Precisamos louvar o Brasil
Não é só um país sem igual.
Nossas revoluções são bem maiores
Do que quaisquer outras; nossos erros também.
E nossas virtudes? A terra das Sublimes Paixões.
Os Amazonas inenarráveis... os incríveis João - Pessoas
Precisamos adorar o Brasil
Se bem que seja difícil compreender o que querem esses homens.
Por que motivos eles se juntaram e qual a razão do seus sofrimentos.
Precisamos, precisamos esquecer o Brasil
Tão majestoso, tão sem limites
Ele quer repousar de nossos terríveis carinhos
O Brasil não nos quer. Está farto de nós.
Nosso Brasil é noutro mundo.
Este não é o Brasil.
Nenhum Brasil existe.
E, acaso, existirão os brasileiros?


Todos gostam de enviar um poema, frases ou textos no Natal e eles me chegam aos montes. Uns bonitos e escolhidos a dedo, outros nem tanto. Uns eu guardo, outros leio e deleto sem ler. Drummond tem um lindo poema que fala do Ano Novo, lembrado sempre, todo final de ano. Esse, menos conhecido, é mais profundo e atualíssimo. Toda vez que me deparo com ele, paro e penso sobre esse nosso país. É o que todos precisamos fazer com uma certa urgência, repensando o Brasil, repensando algumas de nossas atitudes. Não só a dos outros, mas principalmente as nossas. E pensar, pensar muito e agir, não como repetidor de uma verdade absoluta, única, mas voltando a questionar e não acreditando tudo que nos é apresentado pronto e acabado.
BOAS ENTRADAS E SAÍDAS PARA TODOS QUE ME SUPORTARAM POR AQUI


HPA
UM COMENTÁRIO QUALQUER (6)

RODRIGO FOLHA SECA

Não tem como ir ao Rio e não visitar a livraria FOLHA SECA, logo ali na Ouvidor, quase esquina com a Antonio Carlos, num dos mais bonitos e tradicionais redutos da Cidade Maravilhosa. Por lá está esse belo espaço literário, propagador do que de mais bonito existe em divulgação cultural de uma cidade. O Rodrigo Folha Seca é uma figura singular, daqueles que faz aquilo que gosta e faz da melhor maneira possível. Esse seu espaço é uma daquelas coisas inexplicáveis da vida, tudo de bom, aliado a alguns botecos que, deixam aquele quarteirão um dos melhores locais para se ler, bebericar e jogar conversa fora do planeta.

Para quem tiver interesse em bater os olhos na Folha Seca, o site Alma do Rio em Vídeo fez um pequeno filme sobre ele, que deixo o endereço abaixo:



Gosto demais e faço questão de divulgar.

Em tempo: A foto do Rodrigo foi chupada, num Gilete Press lá do Buteco do Edu, um blog de quem já fiz citação por aqui.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

MEMÓRIA ORAL (16)
NO ESCURINHO DO CINEMA
Esse refrão é conhecido por todos, desde quando Rita Lee o eternizou numa de suas canções, caindo como uma luva toda vez que alguém quer produzir algo relacionado às salas de cinema brasileiras. A serventia é ainda mais valiosa quando o tema é o cinema erótico e as salas que, ainda resistem ao tempo e permanecem abertas com exibições diárias de filmes de sexo explícito e outros atrativos. É que naqueles espaços, no escurinho de suas salas acontece literalmente coisas imagináveis e outras um tantoinimagináveis. Aqui em Bauru, um deles resiste bravamente a toda a invasão proporcionada, primeiro pelos aparelhos domésticos de vídeo cassete e mais recentemente pelos de DVD.

O antigo cine Vila Rica, localizado na rua Gustavo Maciel, três quadras abaixo do Calçadão comercial é conhecido de todos, pois está aberto há mais de quarenta anos, sempre no mesmo local. Hoje, o nome foi mudado para Cine Shopping Atenas e está arrendado para um grupo de fora, sendo tocado exclusivamente com a temática erótica. Quem passa defronte a entrada só não se aventura a uma espiada nos cartazes e produtos expostos se já está habituado com aquilo tudo, pois do contrário, pelo menos uma viradinha de pescoço ocorre naturalmente. Muitos cartazes com mulheres nuas, colocadas de ambos os lados de uma porta que, permanecendo aberta 24h por dia, atraindo os interessados. Alguns minutos parados ali perto nota-se claramente como é o procedimento dos ainda clientes. Já na aproximação a preferência é por não ser visto, com olhadelas para os lados e ao se ver só, a entrada se faz de forma rápida e sorrasteira. Uma vez lá dentro, as opções são os filmes no telão ou cabines com um filme exclusivo, além dos produtos expostos para comercialização. Até as pedras do mundo mineral sabem que nesses locais rolam muito mais do que um mero filme de sexo. Rola exatamente o sexo. É isso que queria registrar.
Tentei conferir as preferências e hábitos dos frequentadores, mas fui rechaçado pelo funcionário no balcão de atendimento. Pelo visto os atuais proprietários são avessos a fotos e matérias em órgãos de imprensa ou qualquer outro tipo de divulgação, o que, convenhamos, é mais do que natural. Ao tentar lhe fazer algumas perguntas, tirar algumas dúvidas, a resposta foi essa: "Aqui você não pode fotografar, muito menos me entrevistar. Tenho que falar com os proprietários, deixe seu telefone que vou ver se eles aprovam. Falar com os frequentadores nem pensar, pois na sua maioria são compromissados e temos que preservar nossos clientes. Te ligo se eles toparem falar alguma coisa. Não me cause problemas, por favor".

Aguardo mais de uma semana, ligo e a resposta é negativa, ninguém quer falar sobre o cinema pornô e qualquer coisa que tente fazer com gravador e máquina fotográfica é terminantemente probido. Insistir será pura perda de tempo. Por sorte encontrei vendo os letreiros, um velho conhecido, garçon de um restaurante da cidade que, meio sem graça topou me falar sobre o cinema: "Eu venho pouco, pois não tenho aparelho de vídeo em casa. Gosto de ver filme de mulher nua, mas vejo muitas outras coisas por lá. Acho até que a maioria vai para ver filmes de homem e de travesti. Já tentaram me apalpar lá dentro, mas quando disse não estar interessado, não fui mais molestado. O senta e levanta nas poltronas é muito grande. Fico na minha e só vou porque é barato e gosto muito dos filmes com mulheres brasileiras. Sou solteirão e tenho outros amigos da mesma idade (ele tem por volta de uns 50 anos) que também estão sempre por aqui. Estou desempregado e não tenho muitas opções".
Nada muito diferente do que acontece na grande maioria dos cinemas pornôs que ainda funcionam Brasil afora. Só os filmes já não atraem mais a clientela e a grande maioria vai também em busca de um algo a mais. Uma realidade bem diferente do passado glorioso do antigo e concorrido Cine Vila Rica. Sua construção data da década de 70 e ele nasceu como uma opção aos outros cinemas localizados na àrea mais central, como o Bauru, o São Paulo e o Capri, todos na rua Primeiro de Agosto. Mesmo assim recebia um público considerável e de todos os demais citados, foi o único que ainda resite em funcionamento. O Capri foi transformado em loja comercial e a alguns anos atrás pegou fogo, restando quase nada lá dentro que recorde ter sido um cinema. Já os demais foram todos demolidos.
Quem conhece muito bem essa história dos cinemas de Bauru é Odacir Donida, 71 anos, a maioria deles passados dentro de salas de cinema. Trabalhou em quase todos, vindo a se aposentar no Cine Bauru, quando esse já estava localizado no seu atual endereço, na rua Treze de Maio. Ouvi-lo é ter um testemunho vivo da história dos cinemas na cidade. Ele, mesmo aposentado, não pára um segundo e encontrá-lo para um bate-papo é algo para quem tem paciência: "A vida anda dura, meu filho, não se pode parar. Você também quer saber dos cinemas. Trabalhei sim no Vila Rica, mas foi por pouco tempo, já nos outros foi uma vida toda. Hoje sei que o cinema após passar um período sob direção de um grupo paulistano, o Roma, do segmento pornográfico, foi novamente arrendado para um grupo de Lins e eles tentam
manter as portas abertas". Mais não pergunto, pois ele não têm nenhum envolvimento com o Atenas.

Na ânsia de conseguir um depoimento de algum frequentador, abordo um que acabei vendo por lá nas minhas andanças pelas imediações. É um jovem, trabalha com artes, tem por volta de uns 25 anos, alto, loiro e não se intimida em responder umas perguntas a respeito. A única exigência é que não o identifique. Abaixo um resumo do que me relatou: "O que acontece lá dentro é o que sempre rolou em cinemas desse tipo. Rola sexo, não só oral. Rola de tudo. Eu vou para conhecer outras pessoas, curto aquele momento e depois vou embora. Na maioria das vezes não vejo a cara do outro, faço a abordagem sentando ao seu lado e o tocando. Faço tudo espontâneamente, sem envolvimento com grana. Durante o dia a frequência é maior, por causa do comércio aberto e a noite é mais nos finais de semana e na madrugada. Mulher mesmo não vai lá sózinho, as que vão, sempre chegam já acompanhadas. É um minoria que vai só para assistir filmes. Todo mundo sabe o que irá encontrar e se vai e para isso mesmo".
Quando lhe pergunto se tem alguma história interessante que já lhe aconteceu lá dentro, ele pensa um pouco e prefere não me contar nenhuma, mas deixa uma dica no ar: "O chato é quando ocorre a abordagem e o outro não topa, tem os mais ignorantes que até tentam até dar safanão. O melhor é sair de perto e procurar outro. Na insistência, já vi gente sendo posta pra correr". Não lhe pergunto mais nada, pois não se faz necessário detalhes. Queria traçar um perfil do que restou do antigo Vila Rica e do que é hoje, mais ou menos o que todos já sabiam, mas que permanece meio que oculto, velado. Tanto que, desde quando idealizei fazer esse texto, não notei a troca do cartaz do filme em exibição. Pelo visto continua o mesmo de um mês atrás, tudo levando a crer que o interesse não se faz por nenhum filme específico. Tudo é uma questão de verem realizadas algumas fantasias. Quem vai lá sabe o que vai encontrar e não deve se decepcionar. E se permanece funcionando é porque público existe, pois do contrário já estaria fechado. O Vila Rica, ou melhor, o Cine Shopping Atenas é como aroeira, resistindo bravamente. Quem se habilita?
Henrique Perazzi de Aquino, escrito em 19/12/2007
FRASES DE UM LIVRO QUE JÁ LI (6)

"Estrela Solitária - Um brasileiro chamado Garrincha", Ruy Castro, editôra Companhia das Letras SP, 1996.
Esse livro eu comprei e li a primeira vez em julho de 1996, dele extraí algumas poucas frases que repasso agora:
- "Em muitas ocasiões, a vida de um índio na jângal brasileira valeu pouco mais que uma paca. Pensando bem, foi um milagre que alguns deles ainda tivessem chegado vivos ao século XIX" página 9

- "Nos anos 40, em que o futebol era como uma segunda natureza para toda a nação, o kit de sobrevivência de qualquer menino brasileiro incluia uma bola" página 30

- "Você joga de quê, meu filho" -, ele teria respondido: "De chuteiras". página 54

- "A graça estava em driblar, apenas driblar. Estava no futebol em estado selvagem e lúdico, que era como os índios o jogariam, se soubessem" página 64

- "...Garrincha era à prova de instruções" página 88

- "Antes de o jogo começar, o lateral adversário, quase sempre de um time pequeno, aproximava-se dele e sussurrava: Mané, quebra o meu galho. Estou pra me casar e meu contrato está no fim. Vê se não judia muito de mim, senão eu fico mal" página 209

- "Não bebo porque sinto falta de futebol", ele dizia. "Aliás, nem sei porque bebo. Só sei que, ao tomar umas pingas, quero logo tomar quatro" página 461


A narrativa de Ruy Castro é daquelas que você começa e não quer mais parar. Li vários livros dele e em todos o mesmo estilo. Um dos mais perfeitos biógrafos desse país. Primoroso texto.

sábado, 15 de dezembro de 2007

UMA ALFINETADA (12)
Esse eu acabo de publicar na edição impressa d'O ALFINETE e como o tema é pertinente, o faço também aqui. Para os que não concordam tenho um caminhão de boas justificativas para referendar a continuidade do imposto.


O FIM DA CPMF
Acordo nessa quinta, 13/12 com a derrota da CPMF no Senado. Abro os jornais e algo alvissareiro está estampado nas manchetes dos mesmos: "País cresce acima de 5%.O consumo das famílias brasileiras aumentou em 6% e o comércio em 7,4%". Quer dizer, o país vai bem, tem um rumo e Lula mais acerta do que erra. Se comparado com governos anteriores, quando estávamos literalmente com o pires na mão, esse deu avanços significativos, provando que o inculto superou os governos de muitos cultos. Quem aposta no fracasso de Lula, aposta contra o país e isso é péssimo. Quero um Brasil melhor e esse imposto é mais do que necessário, quer queiramos ou não.

O caso da CPMF é sintomático e exemplifica bem isso. O imposto tem sua imoralidade, mas está mais do que justificado. Comprovado também ser um imposto onde o pobre e o rico são obrigados a contribuir, o rico mais do que o pobre, muito mais. Daí a campanha pelo seu fim. Afinal, onde já se viu rico ser obrigado a pagar impostos. Pau no imposto. Até o pobre, que paga pouco, muito pouco se viu induzido a criticar algo que vinha em seu auxílio com programas sociais, Bolsa Família, PAC, etc. É claro que o Governo sobrevive sem os 40 bilhões dessa arrecadação, mas terá que cortar gastos sociais nos programas destinados justamente aos mais pobres. Acho que a solução é uma virada de mesa, o que acho muito justo. Já que o rico incentivou tanto o fim da CPMF, que tal ele arcar com alguns outros impostos pagando a diferença? Quem lutou inclemente contra a CPMF que pague a conta, pois o país não pode parar e continuar privilegiando só uma casta, que tanto mal já nos causou.

Henrique Perazzi de Aquino, 47 anos, pagando (quase) sempre e observando que uns poucos sempre escapam ilesos, sendo ainda considerados salvadores da Pátria (caras de pau). Se Lula tivesse um pouco só de coragem, esse era o momento de propor que essa casta arcasse com o seu quinhão. É o que clama os que sempre pagaram seus impostos religiosamente em dia.
OBS.: a ilustração é do BIRA, que captou o ocorrido melhor do todos. Fiz questão de aplicar uma Gilete Press, com citação de fonte.
MEMÓRIA ORAL (15)
Fiz essa viagem em julho desse ano e no blog só publico agora, pois nessa semana quando fui falar de Rubem Alves me lembraram do seu refúgio, vizinho do de meus pais. Ainda tenho esperanças de encontrar o escritor por lá. Repassei o texto para ele e sua resposta foi muito carinhosa. Se a achar publico lá no Comentários.

UM LUGAR QUE FLORESCE PORQUE FLORESCE
Pocinhos do Rio Verde é um pequeno distrito rural, pertencente à cidade de Caldas, distante 4 km do centro daquela cidade e 30 km de Poços de Caldas, ambas em Minas Gerais. O lugar é uma bucólica Estação de Águas, tendo ao centro um Balneário, com três fontes, a Rio Verde, Samaritana e a São José, todas de reconhecida qualidade para fins digestivos, atraindo durante boa parte do ano, muitos turistas, principalmente os da chamada terceira idade, que procuram a Estância e os seus banhos medicinais. A região é montanhosa e dentre os atrativos, algumas cachoeiras ajudam a movimentar o fluxo de pessoas no pacato lugar. A tranqüilidade é o diferencial e a produção basicamente agrícola, a fonte geradora de renda para a população, também incentivada com a fabricação, quase artesanal de doces, queijos e vinhos. Habitantes mesmo, são em média umas 500 pessoas, com muitos turistas mantendo casas de veraneio e sítios por ali. Ideal para quem gosta de muita paz e uma completa fuga da agitação de nossas grandes cidades.

Muitos descobriram aquele local há bastante tempo e deles não mais se afastam. É o caso do professor aposentado Heleno Cardoso de Aquino, de Bauru SP, 78 anos, que passou por lá sua lua de mel há mais de 50 anos e não mais abandonou o lugar. Comprou um terreno e foi aos poucos construindo sua casa, que hoje é um atrativo para todos de sua família, que também passaram a admirar e freqüentar Pocinhos. Conhecido por todos, Heleno é um entusiasta quando o assunto é a pequena vila:
- As águas me atraíram. Tinha um problema gástrico, que a cada passagem por aqui era contido. Peguei
amor e procuro voltar sempre que posso. Vinha pelo menos uma vez ao mês e hoje, por causa da idade, dependo dos filhos para os retornos. O meu orgulho foi haver incutido em todos o amor por isso aqui. Eu a esposa Eni somos apaixonados por Pocinhos e pelo nosso cantinho em particular, levantado após dez anos de muitas idas e vindas. De Bauru para cá são 350 km, rodados com muita alegria na vinda e certa tristeza no retorno. Isso aqui me rejuvenesce. O ar daqui é diferente, puro.
Pensamentos iguais a esse são fáceis de serem encontrados e um dos que mais repercutiu foi o proferido por Rubem Alves (pedagogo, poeta, filósofo, cronista do cotidiano, ensaísta e teólogo), que costuma fazer constantes referências a Pocinhos, demonstrando todo seu encantamento: "Contento-me com o meu pedaço de terra dentro da cratera do vulcão, Pocinhos do Rio Verde. Conselho de Nietzche para permanecermos jovens: 'Viva perigosamente. Construa sua casa ao pé do Vesúvio'. Fui mais radical. Construí minha casinha dentro da cratera do vulcão. De vez em quando, entrego-me à fantasia de que ele, repentinamente, depois de um sono de 500 milhões de anos, vai acordar. Que maneira fantástica de morrer! Por enquanto lá tudo é manso: as árvores, os riachos, os pássaros, as borboletas, as mariposas (fantásticas!). Pus lá uma placa com um poema de Alberto Caiero: "Sejamos simples e calmos como as árvores e os regatos, e Deus amar-nos-á, fazendo de nós belos como as árvores e os regatos e dar-nos-á um rio aonde ir quando acabemos" (extraído do livro A maçã e outros sabores, 2005).

Esse negócio de morar na boca de um vulcão é algo que passa longe da cabeça dos moradores. Eles nem atinam para isso, tocando suas vidas dentro da "ligeireza" bem característica do mineiro pacato e um tanto recatado. É o caso do seu Lazinho, que mora ao lado da Praça Central e passa boa parte do dia sentado num dos bancos, observando o movimento dos que chegam e partem. Do outro lado da rua está o local mais movimentado dali, o Supermercado do Pinduca, ponto de encontro e compras. Quase ao lado, o Bar e Mercearia da dona Maria, único com mesinhas na calçada e sempre o último a fechar às portas. Na frente, a Pousada Bom Jesus e o restaurante da dona Cida, que toca tudo praticamente sózinha, faz uma deliciosa comida caseira, com um cheiro que invade tudo logo cedo. Dois hotéis monopolizam o grande movimento de turistas, o Grande Hotel, logo na entrada e o Rio Verde, na praça. Tem também o Tambasco, mais isolado e já no meio da mata. Outros dois moradores que se sobressaem pela conversa agradável são o seu Tião Tomé, que circula com seu caminhão por tudo aquilo ali e seu Costa, que mantém uma disputada produção caseira de queijos.
O progresso desponta lentamente, sem pressa nenhuma. É difícil visualizar mudanças na paisagem da vila, tanto imobiliária, como comercial. Os hotéis são os mesmos, idem para o comércio. A única alteração foi com a abertura de um posto de combustível, logo na entrada do vilarejo. No inverno, a grande movimentação fica por conta da Festa do Biscoito, que agita quase todos os finais de semana do mês de julho. Tudo por lá é motivo de muita diversão, que tanto pode ocorrer com os passeios à cavalo, como as caminhadas pelas estradas e trilhas. A mais dificultosa é a subida até uma capela no alto de uma montanha, avistada por todos, mas feita por poucos. Dentre as novidades, a Vinícola Faria, no caminho da cascata, abriu um barzinho, bem defronte sua pousada, literalmente no meio da mata, atraindo muita gente para uma bebericagem de final de tarde. Logo ali perto, outro grande atrativo, a Cascata, um conjunto de pequenas cachoeiras, com águas frias, que no verão estão sempre lotadas. Tudo por ali é um verdadeiro mar de montanhas. Pocinhos possui uma localização privilegiada, protegida dos ventos, na cabeceira do vale do Rio Verde, a 1.070 metros de altitude e seu grande diferencial é outro mar, o da tranqüilidade.

O encontrado por ali é tudo aquilo que, Rubem Alves e tantos outros sempre procuraram durante suas vidas. Uma frase que o escritor reproduz contentemente em seus livros, tornando-se até um chavão entre seus leitores é o lema de que "tudo floresce porque floresce". A autoria é do místico medieval Angelus Silésius e reproduz com exatidão o bucolismo encontrado em Pocinhos do Rio Verde. Daí a vontade de encontrá-lo e tentar uma conversa sobre sua obra e tudo aquilo à volta. Nada como, conciliar uma ida até lá e um encontro com o escritor. A tentativa de encontrá-lo em seu refúgio, um pequeno e bem engendrado santuário ecológico, encravado no meio das montanhas foi infrutífera, pelo menos por enquanto. Ele, como muitos outros, deve se refugiar ali, fugindo do assédio, que se torna inevitável para todos aqueles que passaram a ler sua vasta obra. Não tem quem não queira conhecer o autor daqueles escritos, verdadeiro abridor de mentes. Perguntando aqui e ali, chego até Mário Cassuta, o caseiro do sítio, que me acompanha numas fotos, seguido muito de perto por dois enormes cães. Pergunto sobre a receptividade do escritor em receber pessoais ali e ele me diz que Rubem Alves é bastante tranqüilo e que me receberá bem.

Bom motivo para ir retornando constantemente a Pocinhos. Para quem quer entender melhor isso tudo, basta ler o que Rubem Alves escreveu sobre o lugar onde construiu uma de suas moradas, no livro 'Transparências da Eternidade': "Num pequeno lugar do sul de Minas, há um pico de pedra bruta, a Pedra Branca. Para se chegar ao alto, passa-se por um bosque com regatos e poços de água cristalina. Saindo do bosque, é a pedra bruta, trabalhada pelo vento e pela água, através de milênios. Triunfo da pedra? Em pedras não se plantam flores. A despeito disso a vida foi colocando matéria orgânica nas gretas e depressões. E o que se vê é um jardim: musgos, orquídeas, bromélias, avencas. Fosse a pedra só, e seria desolação, deserto. Mas a vida cresceu sobre a pedra – e vieram os pássaros, as borboletas, as abelhas, os pequenos animais. Coitada da pedra! É inútil reclamar. A vida e a beleza crescem sobre ela, a despeito de sua mesmice pétrea. As sementes – frágeis – são mais fortes que a pedra – dura".

Legenda das Fotos
A entrada de Pocinhos
A entrada do refúgio de Rubem Alves
A frase de Caiero e o autor do texto
A vista da casa de RA
A casa do escritor
Heleno e Lazinho na praça de Pocinhos
HPA e Heleno diante do Balneário.

Henrique Perazzi de Aquino, Bauru SP – 21/julho/2007.
RETRATOS DE BAURU (3)

DONA MADALENA, A LIVREIRA DA POUSADA DA ESPERANÇA

Essa senhora é de um fibra como poucos. Mora num bairro periférico, cujo nome leva o nome de esperança, sendo esse um dos lemas de sua vida. Toca sua vida ao lado da filha, que mora numa casa ao lado (em construção) e a sua abarrotou de livros, pois transformou sua pequena e modesta morada em biblioteca. MADALENA JULIO MARINHO, quando percebeu que as crianças de sua comunidade tinham dificuldade em emprestar livros nas bibliotecas das duas escolas próximas, abriu uma dentro de casa. Está tudo lá, misturado com seus móveis, com pouco espaço, mas prestando um relevante serviço para todos que gostam de leitura. Hoje, chegou a alugar uma outra casa, de madeira, bem próxima da sua e está transferindo tudo para lá, enquanto não realiza do sonho de sua vida, que é ver o terreno defronte sua casa transformado numa biblioteca. Para quem a conhece sabe que isso é questão de tempo, pois quando ela se propõe a fazer algo, fatalmente isso irá contecer. Quanto tempo irá levar para realizar o sonho, isso é outra questão. Dona Madalena é uma figura que precisa ser enaltecida. Vejam as fotos que tirei dela e de seu espaço.


quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

UMA FRASE (8)
Na verdade o que publico deixa de ser uma frase, pois é mais um daqueles textos cheios de muita vida e nos chamando para uma profunda reflexão sobre nosso modo de tocar nossas vidas. Aprendi a gostar de Rubem Alves esse ano, com minha amiga Gisele Pertinhes, quando me emprestou alguns livros dele. Foi o bastante para bater uma identificação imediata, tanto que se for contar acho que dos quase 50 livros lidos esse ano, mais de 20 foram dele. Quem quiser saber algo mais sobre essa grande figura, a internet está aqui exatamente para isso. Basta batucar o seu nome e surgirá uma imensidão de coisas a seu respeito. O texto abaixo me chegou pela internet, pela Gisele e expressa muito bem algo que passei ontem. Estávamos num grupo grande de pessoas, todas fazendo visitas a alguns museus paulistanos e uma delas não se contentava em ouvir as monitorias dadas. Interrompia a todo instante, querendo demonstrar um conhecimento que era mais do que desnecessário naquele momento. Foi constragedor suportar aquilo e compreender, mais uma vez, o quanto é importante saber ouvir e falar o mínimo possível. O texto abaixo caiu como uma luva para aquele e tantos outros momentos.


ESCUTATÓRIA

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória.Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que "não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma". Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: "Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma". Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos... Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio (os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, [...]. Abrindo silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais. São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades. Primeira: "Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado". Segunda: "Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou". Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: "Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou". E assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim, Deus é os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

UMA ALFINETADA (11)
Fiquei algumas semanas sem postar uma nova alfinetada e o faço agora reproduzindo uma antiga, do primeiro semestre de 2006, quando ainda tinha meus 46 anos (saudades!!!). O tema continua mais atual do que nunca, pois cada vez está ficando mais difícil nesse país se postar contrário ao pensamento único que nos domina. Para quem, como eu, nesse ato contínuo de remar contra a maré, vale muito e pena dar uma lida no que publiquei no ALFINETE na época. A ilustração é do excelente Adão Iturrusgarai e também tem o mesmo intuito, jogar lenha na fogueira e fazer os miolos funcionarem:


PENSE. PENSE MUITO NO QUE ESTÃO FAZENDO CONTIGO.


Meus escritos neste espaço fluem seguindo uma linha mais ou menos estabelecida. Quem me acompanha sabe muito bem como penso e se me lê, tem uma idéia bem clara do que irá encontrar por aqui. Eu me exponho e deixo bem claro o meu posicionamento. E essa linha de ação eu fui adquirindo com muitas leituras, construída com o passar dos anos. Sempre fui crítico, brigo muito, falo até o que não devo, mas nunca deixei de ser um eterno romântico. Escrevo com um intuito bem definido, não para que guardem meus escritos, mas para que pipoquem mil idéias na mente de cada leitor. Fazer pensar é o mais importante de tudo. Provoco quem está do outro lado, para que saia do estado de letargia para o da ação. E isso é realmente revolucionário e é o que tento fazer com todos vocês.


Eu penso diferente e só por isso me acham um tanto perigoso. Posso até ser confundido com uma espécie de bobo da corte, mas nunca de burro. Burro, para mim, é quem repete e acredita em tudo o que lê/ouve, sem nenhuma discussão. O burro é um elemento dos mais úteis hoje em dia, pois ele é um sujeito conformado, repetindo como um ventríloquo, tudo o que lhe cai às mãos. Pensa sempre os mesmos pensamentos e não quer nem saber de agir diferente, preferindo seguir no meio da manada, sem que ninguém consiga notar sua presença. O educador Rubem Alves me martela tudo isso a cada livro dele que releio e é profético quando diz que "casa arrumadinha emburrece, é mesmice, cada coisa em seu lugar, a gente fica sempre do mesmo jeito sempre. Casa boa é aquela cheia de surpresas". É isso mesmo e hoje entendo quando minha ex-esposa mudava tudo de lugar a cada semana. As novidades se apresentavam maravilhosamente. Eu seguia na onda dela e nunca consegui mesmo manter minhas coisas bem arrumadinhas, pois irrequieto, em constante estado de ebulição, não consigo viver dentro da ordem estabelecida.


Deve ser mesmo muito triste ter tudo sempre no mesmo lugar, acreditar em tudo e seguir cegamente um mesmo caminho. A coisa mais fácil é a repetição das rotinas, tudo dentro dos conformes, como a grande maioria faz. A rotina é algo horroroso, pois leva a letargia, a completa paralisia. E ninguém foi feito para tocar sua vida desse jeito estúpido. O jeito preguiçoso nos leva a acreditar que tudo o que estamos observando é o jeito certo, o único jeito de fazer as coisas e que nada necessita de mudança. Experimente fazer o contrário e estarás diante de um novo mundo, uma nova vida. Não aceite tudo o que lê, o que querem lhe impor nos púlpitos e tribunas, nos noticiários da TV. Mudar pode ser inconveniente, pois enxergando vou agir diferente. O velho e bom Sócrates (não o jogador) já dizia lá atrás: "A maior ignorância é a que não sabe e crê saber, pois dá origem a todos os erros que cometemos com nossa inteligência". Pense nisso.


Henrique Perazzi de Aquino, 46 anos, não permitindo ser consumido,engolido e digerido por esse modo de agir bovino, pois sabe, que mais dia menos dia, será também defecado por ele.

domingo, 9 de dezembro de 2007

UMA DICA SEM NUMERAÇÃO
Hoje é um domingo, quente como nunca e não deveria estar aqui diante da telinha do computador. Porém, algo novo aconteceu e precisa ser registrado. Venho ao computador hoje, exclusivamente para divulgar aos poucos que me aturam algo inebriante: ALDIR BLANC abriu seu próprio blog. Isso mesmo, o grande mestre das letrinhas, o maior letrista vivo da nossa desvalida MPB, após ser defenestrado pelo JB, voltou em carreira solo. Abriu seu próprio espaço e está batucando melhor do que nunca. Fiquei sabendo pelo Buteco do Edu e pelo de sua filha (http://www.cartadehades.blogspot.com/). Conferi e babei na fronha, melei a cueca. Coisa melhor não poderia acontecer para todos os que gostam de algo muito bem pensado e escrito.

Não só indico, como reverencio. Aldir é inigualável em tudo o que faz. Quero estar vivo para ainda assistir mais um show dele, dessa vez, se tudo der certo aqui na terrinha. Tive o prazer de uns dez anos atrás estar no Rio justamente quando realizaram uma grande festa no Canecão para os seus 50 Anos. Reuniram um time de bambas e a festa rolou até a uma da manhã (o duro foi voltar para o hotel de ônibus). Aprendi a gostar do Aldir no velho O Pasquim, tenho dois livros da Codecri com suas crônicas e o persigo por aí, além de comprar tudo o que sai gravado por ele. Se faço tietagem para alguém, decididamente é para Aldir. Poder ler seus textos num blog, com opiniões quase diárias, me fazem acessar a internet todo dia e batucar o endereço

http://www.palmeiradomangue.blogspot.com/

Viciei de cara. Espero que façam o mesmo...
UMA MÚSICA (11)


O PIB DA PIB (PROSTITUIR) - TOM ZÉ

Quem passou por Bauru semana passada, num daqueles shows imperdíveis foi o nosso grande mestre, Tom Zé, 72 anos e saracoteando como um moleque (e não é?). Fez o show de abertura do Encontro AntiManicomial e voltou à cidade após 10 anos de ausência. Quem esteve por lá fez questão de dizer: Melhor impossível. Tenho pouca coisa dele no meu mafuá e reproduzo aqui algo que cantou no show, "O PIB da PIB (Prostituir)", dele, do Sérgio Molina e do Alê Siqueira, que está no CD "Jogos de Armar - Faça você mesmo", da Trama. Vejam a letra:
Catorze, catorze anos, / Doze anos, doze anos
A Prostituição Infantil Barata /É a criança coitadinha do Nordeste /Colaborando com o Produto Interno Bruto /E esse produto enterra bruto.

Que dor, que dor / Que seja a bandeira /Oi, essa quebradeira /Osquindô - lalá

Catorze, catorze anos, /Doze anos, doze anos


Imagine um gringo daquele tamanho /Em cima da crinaça pobre nordestina, /Sufocada, magricela, seca, pequenina, /Ah, Nossa Senhora minha

O PIB da PIB que pimba no seco /Pimba no molhado /Pimba no seco saco seco /Peixe badesco na filha dos outros é refresco

Ô Senhora, Mãe Senhora,

Nessa hora olha pra tua menina, Senhora


O governo acha que se ela pega /Uma aidisinha não é nada, nada /Passa na vizinha, vai na rezadeira /Pede à benzedeira chá de aroeira /Que esse Produto Interno Bruto /Justifica tudo.


A grana da Europa que bate na porta /Doutor pouco se importa se ela seja porca /Vêm o godo, o visigodo, o germano, o bretão /Eita, globarbarização


O diabo zela a politipanela /Quando acende a vela /Reza Ave-Maria todo o dia /Esse capeta pelo rabo /Soque esse diabo

Que dor, que dor / Que suja a bandeira / Oi, essa quebradeira /Oisquindô - lalá.

sábado, 8 de dezembro de 2007

UM COMENTÁRIO QUALQUER (5)

John Lennon, um comunista

Recebi esse texto abaixo do meu grande amigo Marcos Paulo sobre os 27 anos da morte do músico inglês. Ele, na qualidade de grande admirador, fez uma ampla pesquisa que vale a pena ser publicada. Abaixo reproduzo o texto enviado por ele. Avaliem se o que diz tem ou não razão:


Neste dia 8 de dezembro completa 27 anos da morte de John Lennon. John para mim sempre foi e será, não só um grande músico como também um grande líder revolucionário.

John não só ajudou na revolução musical como também chamou as pessoas a mudarem os padrões da vida capitalista, ele foi o despertar de uma geração e continua até hoje.

Durante um bom tempo nas minhas pesquisas como um grande fã de Lennon, tentei buscar várias mostras na vida de John para confirmar ás pessoas de que ele era um comunista.

John nunca declarou abertamente, mas a sombra marxista que rondava o beatle foi o principal motivo da CIA persegui-lo. John nutria grande amizade com o comunista e escritor Tariq Ali, incluse mandou dinheiro várias vezes para Tariq poder fazer seus livros e outros projetos comunistas.

Hoje a CIA desconversa sobre o assunto, pois com John morto não vai querer atrapalhar a vida dos capitalistas de hoje que ganham rios de dinheiro com a imagem de John. Dinheiro que nunca esteve em primeiro lugar em sua carreira, e sim a música e as pessoas.

Quero mostrar o John, o verdadeiro John que a mídia tratou de esconder, o John revolucionário e não esse que vendem para os fãs de merda de hoje em dia, jovens que escutam sua música sem saber do real legado que ele nos deixou, muitos talvez até deixem de admirá-lo se souberem disso, claro, devido a classe á que pertencem.

Passo um resumo de pontos importantes de John, o beatle vermelho, pontos que a grande mídia prefere deixar longe. Em 1971, após a separação dos Beatles e em meio ao clima de radicalização da esquerda, John Lennon e Yoko Ono concederam uma histórica entrevista a Robin Blackburn e Tariq Ali, publicada em Red Mole (Toupeira Vermelha), aliás tive que remover céu e terra para conseguir o Red Mole e ainda traduzí-lo. A entrevista é memorável por registrar como Lennon elabora em uma mesma narrativa a sua origem de classe, a emancipação dos traumas de uma infância de abandono através da análise, a superação dos anos de droga e busca de culturas místicas, o encontro com Yoko que lhe abriu a perspectiva feminista, a inspiração em Marx e a imaginação socialista e revolucionária. A seguir, registro alguns trechos marcantes da entrevista:


“Eles me criticaram por cantar 'Poder para o Povo', dizendo que nenhuma facção pode deter o poder. Bobagem. O povo não é uma facção. Povo significa todas as pessoas. Penso que cada um deveria possuir tudo de forma igualitária e que o povo deveria ser também proprietário das fábricas e ter participação na escolha de quem as dirige e o que deve ser produzido. Estudantes deveriam ter o direito de escolher seus professores.”

“A canção Imagine, que diz, 'Imagine que não há mais religião, não mais países, não mais política...' é virtualmente o Manifesto Comunista... Hoje Imagine é um grande sucesso em quase todo lugar – uma canção anti-religiosa, anti-convencional, anti-capitalista, mas porque ela é suave é aceita.”

“Eu gosto disso (que os grevistas cantem 'Todos nós vivemos com pão e margarina' no ritmo da canção Yellow Submarine). E gostava quando torcidas de futebol nos estádios cantavam All Together now (Todos juntos agora). Sinto muita alegria quando o movimento na América canta Give peace a chance (Dê uma chance para a paz) porque compus esta canção pensando nisso. A minha expectativa é que ao invés de cantar We shall overcome (Nós conquistaremos), do século XIX, tivéssemos algo mais contemporâneo. Senti uma obrigação de compor uma canção que pudesse ser cantada nos bares ou em manifestações. Por isso gosto de compor atualmente canções para a revolução”.

“Quando comecei, rock and roll em si mesmo era uma revolução para pessoas da minha situação e idade. Precisávamos alguma coisa alta e clara para quebrar toda a insensibilidade e repressão que nos acompanharam desde quando éramos crianças. Tínhamos consciência de que começamos imitando a música dos americanos. Mas pesquisamos e descobrimos que ela era metade branca e ocidental e metade blues e ritmos negros. Muitas das canções vieram da Europa e da África e agora estavam voltando para nós. Algumas das melhores canções de Bob Dylan vieram da Escócia, Irlanda ou Inglaterra. Embora deva dizer que as canções mais interessantes para mim eram as dos negros porque elas eram mais simples. Elas falavam diretamente em mexer o seu traseiro ou o seu pau, o que era realmente uma novidade. E haviam também canções rurais que expressavam o sofrimento que eles viviam. Não podiam se expressar de forma intelectual e tiveram que cantar em poucas palavras o que estava ocorrendo com eles. E tinham os blues das cidades, muitos deles sobre sexo e luta. Muitos eram uma forma de auto-expressão mas apenas nos últimos anos eles se expressaram plenamente com o Black Power, como Edwin Star e seus discos de luta. Antes disso muitos cantores negros estavam ainda envolvidos com a problemática de Deus; com muita freqüência cantavam 'Deus vai nos salvar'. Mas os negros estavam cantando direta e imediatamente sobre seu sofrimento e também sobre sexo. Era o que eu mais gostava.”



“Parece que todas as revoluções terminam com o culto à personalidade – mesmo os chineses parecem precisar de um grande-pai. Penso que isto ocorre em Cuba também, com Che e Fidel... ”



“Após a revolução, você tem o desafio de manter as coisas em movimento, selecionando entre diferentes visões. É bastante natural que os revolucionários tenham diferentes soluções, que eles se dividam em diferentes grupos, é a dialética, não é – mas ao mesmo tempo eles precisam estar unidos contra o inimigo, para solidificar uma nova ordem. Não sei qual a resposta; obviamente Mao tem consciência deste problema e mantém as coisas em movimento.”
“E as mulheres também são muito importantes, não podemos ter uma revolução que não envolva e emancipe as mulheres. É sutil como se fala da superioridade masculina. Levou algum tempo para que eu compreendesse que o meu machismo estava cerceando certas áreas para Yoko. Ela é uma socialista radicalmente libertária ('red hot liberationist') e logo me fez notar como eu estava errado, mesmo quando parecia para mim agir naturalmente. Estou sempre interessado em saber como pessoas que se dizem radicais tratam as mulheres.”
“(Para destruir o capitalismo na Inglaterra), penso que o único caminho é tornar os operários conscientes da sua sofrida posição a que estão submetidos, dos sonhos que os cercam. Pensam que estão em um maravilhoso país da liberdade expressão. Compram carros e televisões e acham que não há nada mais na vida. Estão condicionados a deixarem os patrões mandarem, a verem seus filhos massacrados nas escolas. Estão sonhando o sonho de outros, não é um sonho autêntico deles. Devem compreender que os irlandeses e os negros estão sendo reprimidos e que eles serão os próximos. Tão logo eles tomem consciência de tudo isso, podemos começar a fazer algo. Os trabalhadores têm de começar a assumir. Como Marx disse: 'Para cada um segundo sua necessidade'. Penso que isto seria muito adequado aqui. Mas teríamos que infiltrar nas Forças Armadas porque eles estão bem treinados para nos matar a todos. Temos de começar tudo isso a partir de onde nós próprios estamos sendo oprimidos. A idéia não é confortar as pessoas, não fazer elas se sentirem melhor mas conscientes do péssimo estado em que estão, constantemente fazer com que encarem as degradações e humilhações a que estão submetidos para ter o que chamam de um salário capaz de cobrir o custo de vida.”

Em tempo: A foto da estátua do John Lennon está localizada em Havana, Cuba. Por que Fidel faria uma homenagem para esse músico se não tivesse certeza de que ele era de fato comunista? Faz grande sentido...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

MEMÓRIA ORAL (14)

UMA UNIÃO QUE VIROU UMA LINDA EXPOSIÇÃO
Artistas e artesãos, uma união que deu a maior liga, tanto que acabou virando uma exposição no Museu Histórico Municipal de Bauru, inaugurada no último dia 30/11, sexta. A história dessa junção aconteceu meio que por acaso. A idéia de final de ano era fazer uma exposição reunindo alguns presépios da cidade, logo descartada, pois se constatou que, muitas paróquias católicas ainda estariam montando os seus na cidade e não haveria como o museu fazer concorrência nesse campo. A opção sugerida para preencher o espaço vago no final do ano, foi logo comprada pelos dois chefes dos museus municipais, Paulo Folcatto e Valter Ferreira Júnior, quando lhes lancei a pergunta: "Por que não fazer algo envolvendo os artesões e artistas da cidade, mostrando que também são fazedores de história?" Não precisou muito e todos estavam à campo, em busca dos tais personagens que adentrariam o espaço público com suas obras. Folcatto entrou em férias e foi substituído por Jaime Luzia na tarefa de ir contatando e coletando material.

Não demorou muito e tínhamos em mão uma vasta relação com nomes e mais nomes. O espanto foi geral e logo na primeira reunião coletiva, nomes tiveram que ser descartados, pois o espaço oferecido não era dos maiores. Valter bateu o martelo com os nomes do artesão Chico Cardoso, da fotógrafa Francineide e do desenhista Marivaldo. Jaime Luzia contatou a Fundação Ciro Simão, de Duartina e do artesão Nelson Justino. Acabei trazendo o nome do seu Perseguim, que já tinha uma peça exposta no museu, uma réplica da antiga Praça Rui Barbosa, tão logo vi seu trabalho exposto num projeto da Dalva Aleixo. O time estava completo.

A próxima etapa foi contatar a todos, batendo fotos e fazendo uma pequena entrevista, do qual algumas frases seriam colocadas em cartazes dentro do museu. Começa a via-sacra, de casa em casa. Dalva me leva até a casa do seu Ulisses Perseguim, 72 anos, aposentado da UNESP e criador de raridades em sucata de metal. Dele extraio algumas falas: "Aos 14 anos era torneiro mecânico, ajudando meu pai e surgiu daí esse negócio de manusear sucata e dela extrair peças valiosas. Trabalhei a vida toda na UNESP e certa feita fiz um peso de papéis diferenciado. Um professor achou lindo e ficou com a peça. Daí surgiram outras e mais outras. Não parei mais e os pedidos também. Montei o setor de Áudio-Visual da Universidade e lá tive possibilidade de praticar bastante. Hoje, tenho algumas peças em estantes famosas espalhadas por aí. Me orgulho muito do que faço e essa da antiga Praça Rui Barbosa, a original e mais bonita, é algo que toda vez que revejo fico emocionado".

Na entrevista seguinte vou só até a modesta casa do artesão em madeira, Nelson Justino, 57 anos, no Parque Vista Alegre. Trago as peças que relembram a cidade, como um ônibus urbano, uma ambulância e uma Maria Fumaça. Enquanto o fotografo, vai contando sua história: "Sempre fui pintor de automóveis, mas quando a firma fechou, parei e estou até hoje acertando minha aposentadoria. O artesanato é para me manter. Sou de Bauru e desde pequeno fui fuçado nessas coisas de artesanato em madeira. Fiz meu próprio maquinário, reaproveitando peças de carros e de tanquinhos. Na hora do apuro, eu mesmo faço tudo de improviso, como uma máquina de costura que acabou virando uma serra tico-tico e uma furadeira toda montada com peças de carro jogadas no ferro-velho. Gosto muito de fazer carros, ônibus e um que chamou muito a atenção foi feito com um sapato de mulher. Foi um dos que mais vendi".

De lá, segui direto para a casa do Chico Cardoso, 53 anos, no jardim Gasparini. Esse é nosso velho conhecido, pois expõe suas Marias Fumaças feitas em madeira no Museu Ferroviário. Quando chego, ele está terminando uma que pagaram para ele fazer de uma que circula em Paraguaçu Paulista. Fui registrando tudo, debaixo de um pé de acelora: "Sou aposentado da Noroeste do Brasil desde 1997 e em 2001 descobri, meio que por acaso esse negócio de artesanato. Meu pai havia sido carroceiro e vi diante de casa uma carroça linda, cismei e fiz uma igual. Aposentei muito cedo, aos 42 anos e tinha que dar um novo sentido à minha vida. Acabei descobrindo ser detalhista, gosto de peças assim, com portas abrindo, motor funcionando. Fiz a primeira Maria Fumaça de uma foto que tirei daquela lá no Bosque da Comunidade. Hoje, muitos me reconhecem como um artesão ligado à causa ferroviária, mas quem me conhece mesmo sabe que diversifico bastante. Não paro nunca".

Jaime me passou o telefone da Rima Móveis, lá de Duartina e pelo telefone entrevistei a secretária e o dono, Eduardo Simão Junior que, foi me explicando o sentido de haver juntado aquela meninada toda de sua cidade, para fazer trabalhos artesanais de madeira: "A Fundação é uma homenagem prestada a meu pai, fundador da Rima Moveis. Ele possibilitou isso tudo que somos hoje. A idéia da Fundação foi retribuirmos com algo de caráter social, para nossa cidade. Em dois anos, hoje temos aproximadamente 70 crianças, divididas em várias turmas, de ambos os sexos, algumas de instituições como a APAE, envolvidas em trabalhos manuais, ligados à mercenária. Nosso objetivo é retirar os menores das ruas, propiciando uma ocupação para eles, um incentivo para serem alguém na vida. O material é todo fornecido pela Rima e eles recebem um acompanhamento técnico e educacional. Temos formado verdadeiros artistas".
Francineide de Almeida, 35 anos, passou pelo Museu, tiramos as fotos ao lado das suas fotos feitas nos pátios ferroviários da cidade, quando contou um pouco de sua trajetória: "A fotografia eu descobri muito cedo em minha vida. Fotografava tudo em casa. Ingressei na faculdade em 1994, ampliando meus conhecimentos em pintura, aquarela, desenho, gravura, escultura, modelagem, fotografia, dentre outras. Fiz de tudo um pouco no campo artístico, porém, inclinei-me para o ramo da fotografia, buscando participar de cursos específicos. Meu objetivo é mostrar imagens diversas das pessoas, locais e objetos".

Na casa do desenhista, um verdadeiro artista de rua, o Marivaldo Pinheiro de Oliveira, 36 anos, enquanto empilha um monte de obras feitas em grafite e mostra muitos recortes de jornais, vai contando sua vida: "Comecei muito pequeno lá na Barra Bonita. Cheguei a fazer por lá uma exposição com mil peças minhas dentro do Ginásio de Esportes. Não fui valorizado e há quatro anos estou em Bauru, pintando pelas ruas. Meu primeiro trabalho aqui foi o dos prédios comerciais, feito em grafite. Fiz 45 telas e vendi a metade. Vivo da minha arte, sendo a caricatura e o retrato pessoal o que mais tem saída. O pessoal me conhece como desenhista, mas me considero um verdadeiro artista. Hoje, estou terminando 15 telas em ocre, todas retratando a ferrovia em momentos diferentes. Paro na rua, instalo o cavalete e junto ao povo, com muita gente ao meu lado, faço minha arte".

Ufa! Os depoimentos estavam todos gravados, faltando o texto introdutório de apresentação da Exposição, que acabou sendo feito a toque de caixa, quase no mesmo momento em que o material estava sendo levado para a gráfica. O nome também saiu com sugestões vindo de todos os lados e acabou ficando: "Artesãos e Artistas: História e Arte". Já o texto ficou dessa forma: "Nada melhor do que a união de artistas e artesãos de uma cidade. Afinal, qual a linha que diferencia o trabalho de um e de outro? A artesão não deixa de ser um artista e vice-versa. Dentro dessa linha limítrofe, todos produzem arte, cada um a seu modo e dentro de cada especificidade particular. Além disso, todos estão inseridos no dia-a-dia de sua aldeia e, dessa forma, também produzem história. O trabalho de cada um tem muito da história do local onde vivem. Essa exposição resgata um pouco disso: a arte de cada um e o envolvimento com a história de sua cidade. Isso pode ser conferido na visão de seis artistas e artesãos, numa miscelânea bem particular e que só faz sentido se formos tentar interligar a arte de cada um, com a visão que cada um tem da sua e da história à sua volta. Para entender como cada um vê essa cidade, só mesmo visitando essa exposição. Vale a pena conferir isso tudo!".

E tudo pode ser conferido com uma bela abertura, onde todos eles lá estiveram, conversaram entre si, se deixaram fotografar e receberam a justa homenagem. Estampado na fisionomia de todos os envolvidos com essa realização, algo bem peculiar de que, nas pequenas coisas pode-se extrair essências maravilhosas. Essa foi uma delas e diante da casa cheia, com uns 100 alunos da EE Madureira circulando por todos os lados, deu para sentir o quanto é importante retratar e oferecer espaço para todo tipo de arte. Tanto que, já se fala na continuidade dessa exposição, com outros nomes, alguns deles até já sugeridos.

LEGENDA DAS FOTOS:
O cartaz da abertura da exposição.
Francineide e seu Perseguim nos corredores da mostra.
Jaime Luzia e a estante da Fundação Ciro Simão.
Nelson Justino conferindo sua peça exposta.
O autor dessas linhas e Chico Cardoso num bate-papo.
Marivaldo posando para uma foto.
Todos eles junto do secretário Vinagre.
OMuseu cheio de alunos da EE Madureira.
Obs.: as fotos são todas do Jaime Luzia.

Henrique Perazzi de Aquino – escrito em 03/12/2007