segunda-feira, 31 de agosto de 2020

DIÁRIO DE CUBA (203) e RELATOS PORTENHOS / LATINOS (82)


AS ÚLTIMAS DA RESISTÊNCIA DE ROQUE FERREIRA E A REPRODUÇÃO DO ÚLTIMO DEBATE DELE AQUI PELAS REDES SOCIAIS, POUCO ANTES DA INTERNAÇÃO HOSPITALAR - AULA DE COMO NÃO FAZER ACORDO COM A PARTE CONTRÁRIA 
Apresento aos amigos de plantão algo mais do amigo Roque Ferreira, ainda no estaleiro, mas segundo sua companheira de todas as horas, Tatiana Calmon, fazendo de tudo e mais um pouco para se recuperar: “Fico esperando a doutora ligar... Corro pro telefone e ouço as informações. O Roque passou de ontem pra hoje, sem febre, sem prejuízo das funções e a infecção diminuiu um pouco. Já já, o antibiótico passa a atuar plenamente, completará as 48 horas . Um passo de cada vez. Enfrente e em frente. O caso é difícil, mas, quando foi fácil? #jogueduro #vempracasa. (...) E vamos de Roque!!!! Tenho escrito algumas coisas sobre o meu bem, e cometi uma falha, e, vou me redimir. Termino textos, dizendo: volte pra casa. Tô errada na forma de dizer. Uma das coisas bacanas, que aprendi com ele, é sobre ir em frente . ‘Nunca estou voltando, Tatiana. Estou sempre indo . Indo pro trabalho, indo passear, indo a padaria. Info te namorar. Indo a luta’. Ir sempre, em frente, enfrente. Então não volte, venha pra casa. (...) Tô te esperando. Esperar o telefone tocar é angustiante. O tempo corre lento. Domingo comprido. Tocou e era a doutora informando que o Roque começou a evoluir na recuperação. Sem febre e com diminuição da infecção. Todas as funções funcionando... Melhorando... É isso meu bem. Em frente”.

Recuperando estes posts de Tatiana, junto a esses, creio eu, o último debate do Roque pelas redes sociais e num post feito por mim em 18.08.2020, com o título “QUEM É A FORÇA TRANSFORMADORA NUMA CIDADEZINHA DO INTERIOR?”. Todos os comentários ali feitos ocupariam muito espaço e podem ser lidos clicando a seguir: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/posts/3741866042510044.

Aqui me reservo à participação do Roque, sempre precisa, cirúrgica, debatendo comigo e com Ofélia Bravin. São mais que reveladores e comprovam algo muito simples, assim como dois e dois são quatro, o que a gente até pode mudar, mas Roque não muda. Acompanhem como foi o debate na reprodução feita por mim abaixo, algo mais que necessário, justamente neste momento, vésperas de eleição municipal, quando algumas forças progressistas propõe se juntar aos de sempre, os que estiveram não só com Bolsonaro, mas apostaram fichas contra a esquerda. Roque não doura a pílula – aliás, nunca dourou:

Roque Ferreira - Vou entrar nesta conversa. O conteúdo da frase do João deve ser compreendida como uma palavra de ordem de agitação. Coloca a de bem maniqueista: os bons contra os maus. Porém, cabe lembrar que o agronegócio foi altamente estimulado, apoiado e impulsionado nos governos do PT. Grandes corporações como a Cosan, JBS, etc se consolidaram nestes governos, que inclusive teve a ministra Katia Abreu. Importante lembrar também, o o agronegócio financia milhares de campanhas eleitorais, assim como outros setores econômicos. Se eles realizam estas operações e os partidos que se dizem de esquerda" aceitam participar da regra imposta pelos que controlam o sistema que explora a maioria eles estão colaborando para a manutenção do modo de vida existente. As grandes corporações utilizam desta prática, pois sabem que estas instituições "de esquerda institucionalizada" não apresentam risco nenhum para seus negócios. Minha amiga, Ofélia Bravin, estes termos progressistas, esquerda são muito amplos e sem conteúdo. Servem para mascarar e camuflar muitas posições. Os ditos progressistas o que incluiu setores que se dizem de esquerda são os defensores do sistema capitalista e seu estado burguês e suas instituições. Por isso difundem sempre em momentos de crise, que é necessário unir os progressistas para combater os retrógradas. Isso é o que lava aos governos de conciliação de classe e a todo tipo de alianças espúrias em período eleitoral. Dou um exemplo: recentemente levamos duros combates contra a reforma trabalhista, em defesa da previdência, denunciamos partidos como MDB e tantos outros, e depois eu volto no meu local de trabalho, no meu grupo de amigos, na igreja que frequento, no boteco, e digo as pessoas, que agora nós estamos todos juntos de novo para ganhar a eleição e fazer "uma cidade para todos. Uma cidade sem limites". Isso é o tão condenado criticismo que leva a maioria da população a acreditar que a política é uma chiqueiro e que nele chafurdam porcos de todas as cores. Sim a política partidária, a politicagem nas instituições como Congresso, Judiciário, Ministério Público, as relações podres entre o público e o privado que expressa na corrupção desbragada. Esta a política aos do povo, que partidos e organização ditas progressistas ajudam diariamente com suas práticas a consolidar.

Ofélia Bravin – Roque, concordo com sua posição. Não voto em ninguém que se diga apoiador da tal frente ampla. Os progressistas são exatamente isso que você falou. E dão esse nome de esquerda progressista, de frente ampla, mas, no fundo, são os de centro, de esquerda e de direita, neoliberais, que não querem ser confundidos com a direita reacionária. O programa é governar para os ricos e manter assistência social aos pobres.
Henrique Perazzi de Aquino – Cara Ofélia, cansamos de tanto ceder e fazer frente com quem de amplitude só quer nos enrabar.

Roque Ferreira - A dita esquerda progressista de Bauru, historicamente e até os dias de hoje é um grande obstáculo para a organização da classe trabalhadora.

Henrique Perazzi de Aquino - Difícil mesmo é a gente falar a linguagem do povo. Parece estarmos todos, progressistas e muitos progressistas um pouco com o pé no freio ou só se comunicando entre nós.

Ofélia Bravin – Henrique, como diz a Tatiana, a esquerda está de quarentena das lutas, do povo e das ruas. Infelizmente, os partidos só se mobilizam meses antes das campanhas, fora isso, cada um vai cuidar dos seus afazeres. Acabaram os núcleos de estudos com a participação popular e do trabalhador. Caro Roque, os progressistas se apossaram da esquerda bauruense e ficaram com os partidos na mão como moeda de troca nas eleições durante anos e anos.

Roque Ferreira - Não Henrique, existem militantes e organizações que estão pacientemente atuando junto com os trabalhadores. Não foi fácil a construção da greve da Renault em Curitiba, não esta sendo fácil a construção da greve dos correios. A resistência que vem sendo imposta aos despejos e ocupações, que estão ocorrendo em todo Brasil, e passando ao largo dos partidos da dita esquerda e suas direções. O termo progressista concentram as posições políticas reformistas e que não tem nada a oferecer a classe trabalhadora a não ser mais traição, mais traição,o que dificulta a nossa luta, a luta do proletariado contra o sistema. É preciso muito paciência e respeito para lidar com a classe trabalhadora que não é idiotizada e tão pouco vive em menoridade política. Estamos num momento para aprender a ouvir, mas a ouvir sem filtros o que as pessoas comuns que lutam diariamente para pagar seu aluguel, comprar o mínimo necessário para se alimentar, que busca viver com dignidade esta falando. As atenas devem sair dos ambientes onde as sempre se expressam as ideias de conspiração, de truques de toda ordem, que levam a situação que estamos enfrentando. As massas não estão paradas. Estão em movimento, um movimento que fazem mantendo distância das velhas organizações e direções traidoras l, e isso não é só no Brasil. Cara Ofélia, não só em Bauru. Conheço muito esta história e todos e todas que contribuíram para que o PT fosse um apêndice para outros interesses. Durante 35 anos militar de firma orgânica no PT combatendo pelas posições que acredita, que poderiam manter o partido fiel a seu princípios. Os militantes que sempre defenderam as posições originais do partido, sempre foram muito atacados em Bauru com uma série de práticas sórdidas. Mas foram estes militantes que mantiveram a dignidade do partido em seus piores momentos, enquanto muitos estavam cuidando de seus interesses pessoais. Os problemas foram determinados pela política, a política de sempre se sujeitar a ficar a reboque das elites da cidade, espetando algum santo imaculado para colocarem no andor. Na luta da classe trabalhadora não existe atalho. Ou enfrentamos de frente a burguesia e seus aliados, ou continuaremos a caminhar cada vez mais para a barbárie.

Henrique Perazzi de Aquino – Roque, enquanto uns se acharem mais donos que outros pouco conseguiremos. O fato é que mesmo com tudo isso escrito por ti, infelizmente, parece que a linguagem utilizada por todos não está sendo bem compreendida. Estamos todos falando mais para nós mesmos do que o que eles querem ouvir. Nosso espaço foi ocupado por aproveitadores e para recuperar de pouco adiantará discutirmos erros e acertos. Enquanto isso, avançam mais e nós aqui só teorizando.

Ofélia Bravin – Henrique, o problema está justamente nos ditos progressistas. O que, nós da esquerda, temos a apresentar aos trabalhadores, ao povo miserável, à periferia abandonada? Alianças com liberais e neoliberais, que se sujeitam à burguesia em troca de recebermos migalhas, não dá. 

Roque Ferreira – Henrique, em minha prática política e vice conhece muito bem nunca procuramos nos apropriar de movimentos, não transformamos movimentos e instituições em correia de transmissão de qualquer outra organização. O que estou tentando lhe dizer é que você e tantos outros não tem muita alternativa se não romperem esta visão de ainda acreditar ser possível salvar o povo sem derrubar os muros que nos sacrificam. A intenção é boa, porém não pode se realizar em acordo com nossos algozes. Se esta ruptura não acontecer, este estado de angústia l, de prestação não passa, só aumenta. Você é alguns poucos que conheço em Bauru podem contribuir muito mais se tiverem dispostos a abandonar os grilhões da velha política. Já uma grande maioria não tem a oferecer a utopia coletiva de construir uma sociedade livre, justa, solidária, onde seja possível viver e desfrutar a vida em toda sua plenitude. Boa noite meu caro.

Ofélia Bravin - Aliás, penso que os partidos políticos não deveriam exigir dos seus diretórios municipais as mesmas alianças que fazem em nível nacional e estadual. Cada cidade tem sua peculiaridade e muitos partidos ficam nas mãos de líderes para trocas nas eleições. Essa autonomia deveria ser fundamental.
Henrique Perazzi de Aquino - Falávamos aqui Roque de algo perdido por todos nós, pois enquanto discutimos métodos, chegaram pro povo com um discursinho enganatório muito do mequetrefe e eles hoje, pelo visto, acreditaram muito mais neles no que em tudo o que foi tentado e deixado de fazer nesses anos. Eu não faço acordos com algozes, para mim isso não serve. Eu combato algozes, assim como te vejo fazer. Talvez tenhamos estratégias diferentes, ambas por sinal hoje derrotadas. Rever e reaver, eis a questão. Também vou dormir, amanhã continuamos. Boa noite para todos (as). Temos muito a fazer pela frente, mesmo que nossos corpos já se mostrem cansados.

Ofélia Bravin
- Boa noite! 

Henrique Perazzi de Aquino - Ofélia, a gente discute, em alguns momentos vc pode pensar que estamos quase nos altercando, mas nunca faria isso com o Roque. O fato é que perdemos parte da guerra, ela num todo e estamos tentando redescobrir ou até mesmo se realinhar para continuar a contenda. A gente não se verga, dá murro em ponta de faca, mas não abandona a cancha de luta. Abracitos e vamos juntos...

Ofélia Bravin – Henrique, eu acho a discussão importante e salutar. Não tive a impressão de nada ríspido. E é isso mesmo, a gente dá murro em ponta de faca, mas resiste. Esses dias ouvi o José de Abreu responder ao Felipe Neto do porquê não existe uma união total da esquerda. A resposta foi que não há essa unanimidade porque a esquerda pensa. Pode parecer arrogante ou pedante, mas é isso mesmo. Há divergência de ideias, posicionamentos, mas tentando alcançar o bem comum a todos.

Amanda Helena - Já falei pra você que o academicismo é militância falando com militância, luta de egos. Tem como falar sobre luta de classes de uma forma mais simples ao povo. Academicismo num tempo de fascismo é pura cirandagem, pavoagem.


VIZINHOS
01.) NO PARAGUAI O TRATO PARA COM A PANDEMIA É BEM DIFERENTE DO EM CURSO NO BRASIL
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/quarentena-radical/
Eu sou leitor da revista mensal Piauí desde seu primeiro número, hoje já no 167 - agosto/2020 e leio neste momento algo mais que auspicioso sobre o vizinho, parede-meia com o Brasil, o até então rejeitado, massacrado (vide Guerra do Paraguai) e constantemente gozado (pelo que ocorre na cidade fronteiriça, dita e vista por aqui como território livre do contrabando), o PARAGUAI. Ditadores, eles tiveram os seus, Stroessner o mais conhecido deles e nós, vários - cinco durante o nefasto período militar e perto de três mil colados no Bozo. Depois, não temos como negar e nos envergonhar, pelo que fizemos com eles e ao governo de Solano Lopes, um então altaneiro e soberano país - uma vergonha nos acompanhando vida afora. Atuamos juntos na Operação Condor e hoje, quando sabemos não ser lá um exemplo os atuais últimos governos paraguaios - vide o que conseguiram fazer com o Lugo -, mas no quesito PANDEMIA e trato dela para com a população ,estão nadando de braçada e dando exemplos ao Brasil. Só pelos impedimentos de livre circulação na fronteira, dão belos exemplos de como ir resolvendo a questão, sem essa de "liberou geral", algo muito em voga no desGoverno bolsonarista. Na Piauí deste mês um exemplo de como a coisa se dá no país vizinho e deixa brasileiros de boca aberta, pois a coisa dá certo e, onde se dizia tudo teria para dar errado, acertaram a mão e vivem outro momento diante da Covid-19. Tenho admiração incomensurável pelos países latinos e um grande sonho - que ainda pretendo realizar e ao lado de Ana Bia - é um dia aportar em Assunção, cidade que vários amigos que por lá estiveram me contam algo a instigar e provocar, enfim, colocar as rodinhas nos pés. Por enquanto me delicio com o trato dado para com o povo, retratado no texto aqui compartilhado. Viva para o Paraguai e ponto negativo para os NEGATIVISTAS brasileiros, ou seja, um dia chegaremos no patamar alcançados por estes, cruéis governantes neoliberais, porém não tão irracionais como o que temos no momento. Perdemos essa guerra para eles...

2.) EXTERTORES DO PLANETA - AINDA DÁ TEMPO, MAS...
https://www.pagina12.com.ar/288631-noam-chomsky-tenemos-poco-tiempo-para-decidir-si-la-vida-hum
Para os que, insistem em apregoar que abomino tudo advindo dos EUA, provo sempre o contrário e lá estive pela primeira vez este ano, entre 31/12/2019 e 25/01/2020, conhecendo in loco Nova York e Nova Orleans. Das pessoas que lá conheci, delas nunca mais me esquecerei e ali constatei, milhares, diria mesmo, milhões resistem, insistem e persistem contra os malversadores da vida. Eis aqui em deles, Noam Chomsky. Na edição de hoje do melhor jornal impresso do nosso mundo, o argentino Página 12, isso aqui dele: "El pensador norteamericano habla de una crisis climática, económica y humanitaria - Noam Chomsky: “Tenemos poco tiempo para decidir si la vida humana sobrevivirá". Uma cabeça mais que pensante, pulsante e dando a plena certeza de que, nem tudo está devidamente perdido. Estamos a perder feio esse jogo, mas ainda nos restam alguma chance - poucas, confesso -, pois se for dar ouvidos para bestiais seguidores de Trump e Bolsonaro, iremos irremediavelmente para o fundo do poço. Ler Chomsky é mais que um alento diante de tudo o mais à nossa volta. Eu me deleito, esbaldo e tento ir tateando vida adiante...

3.) TERMINADA A CONVENÇÃO DOS REPUBLICANOS, HOMOLOGANDO TRUMP E UMA CONSTATAÇÃO: SE MUDAR ELE POR BOLSONARO TUDO QUE SAI DE AMBAS AS BOCAS É A MESMA COISA - DESABAFO DE DOMINGO
Podem pegar todos os discursos proferidos na Convenção dos Republicanos homologando Trump à reeleição e coloquem aquele monte de baboseiras, asneiras e deslavadas mentiras na boca de Bolsonaro ou qualquer um dos seus e a triste constatação: o discurso é o mesmo, sem tirar nem por. Tudo à frente destes é esse tal de COMUNISMO, que deve ser mesmo da pá virada, pois amedronta esses borra-botas e os faz mentirem deslavadamente, pregando o medo coletivo como solução pra tudo o mais. Vivemos tempos do Império da Boçalidade, onde os subservientes abaixo da linha do Equador abanam os rabinhos e se dizem contentes só por apoiarem o perverso lá do Norte, mas não podem nem esboçar algo diferente para si e seus povos, pois a retaliação é imediata, como de fato já ocorreu nessa semana. Em primeiro lugar, Trump não quer saber de apoio ou ninguém ligado a Bolsonaro por lá nesses dias, pois isso ela sabe, lhe prejudicaria. Faz das suas e sozinho, aliás, dita normais e os de baixo cumprem, rabo abaixado. Cabe a gente como Bolsonaro fazer exatamente o que fez em Davos, num vídeo sendo mostrado ao mundo nessa semana, quando oferece para Al Gore e aos EUA a parceria para devastar toda a Amazônia. Enquanto Trump defende seu país, o nosso entrega o que ainda temos de bandeja e na bacia das almas. Perversidade pior só quando este abre a boca e continua, mesmo depois de toda humilhação, a se rebaixar e lamber as botas do que para ele é o "patrão", mentor de suas bestiais ideias. Não existe maior vergonha para um país ter à frente de seu desGoverno alguém como este Senhor Inominável, entreguista da pior espécie e fazendo um descarado serviço sujo de dilapidação do que ainda nos resta de nação. Até quando toleraremos essa gentalha no poder? Esse dejeto humano nos humilhando em cada abertura de boca. Até quando? O que falta mais fazer para abrir os olhos deste já tão humilhado e ultrajado povo brasileiro, para ir pras ruas e virar logo essa mesa? Somos mesmo um povinho sem fibra, garra e sangue nas veias, pois enquanto lá, com a morte de um negro o povo vai pras ruas e até o negócio do basquete, onde os jogadores assinam cláusulas que os impedem de fazerem greve, decidem parar tudo e aqui, mesmo diante de repetidas humilhações nada fazemos. Nos contentamos em comemorar gols num campeonato de futebol e lotar as praias no meio de uma incessante pandemia, como se isso fosse a quase normalidade. Perdemos o senso de nação, de defesa dessa pátria e se nem isso mais conseguimos fazer, o que virá pela frente, quando perdermos tudo, será não só o fim, como a destruição de uma nação, que um dia ousou fazer frente à imponência lá do Norte. Hoje estamos no lugar a nós designados, quintal dos Estados Unidos. Somos isso e nem um pio podemos mais esboçar. Triste nação, perdida, desgarrada e cada vez mais doente.

OBS. FINAL: Uma observação ou RETALIAÇÃO: Eu escrevo e posto como tudo me vem à cabeça, com erros e tudo o mais. Depois, ao ir relendo, vou reescrevendo com mais calma, corrigindo os erros, acertando mais a escrita. É o que acabo de fazer com este e todos os demais por mim publicados. Não se avexem com meus errinhos, pois na releitura, procuro ir acertando os ponteiros. A ideia sempre continuará a mesma e creio, isso vale até muito mais do que não errar na escrita.

domingo, 30 de agosto de 2020

REGISTROS LADO B (10)


10º AO VIVO LADO B COM ‘AMANDA HELENA’ E A RESISTÊNCIA DAS QUEBRADAS DO MUNDARÉU*
* Continuo na vigília pelo lutador de todas as horas, "nas ruas e nas lutas", Roque Ferreira, hospitalizado há mais de uma semana e ao passamento do imortal músico das quebradas, seu Zé da Viola. A gente continua persistindo muito por causa de gente como eles.

“Quebradas do mundaréu” é o termo utilizado pelo escritor e teatrólogo Plínio Marcos para designar o seu mundo, onde gravitava, vivia e extraia suas histórias. Muitos falam e escrevem deles – eu um destes -, mas poucos mesmo sabem de fato o que vem a ser isso. Só mesmo os que ali se situam, podem contar com muita cátedra dessas coisas acontecendo neste mundo, muito falado, pouco conhecido e por muitos rejeitado, repudiado e odiado. 

AMANDA HELENA GIMENO DE SOUZA, 41 anos, três filhos (o primeiro teve aos 19 anos e o segundo aos 22) viveu boa parte de sua vida no “FIO NA NAVALHA” e não se envergonha disto. Foi assim que conseguiu ser o que é hoje e se posicionar na vida com a altivez que só quem já passou poucas e boas sabe fazê-lo. Isso de “quebrada do mundaréu” é pouco para ela, vida de resistência, persistência e insistência. Ela não se gaba de nada, não conta vantagem, não alardeia os enfrentamentos e disputas vida afora e neste domingo, 30/08, às 10h, através de minha página no Facebook, durante uma hora discorrerá sobre sua vida e sobre as entranhas deste mundo, dito e visto por muitos como MARGINAL, mas com uma conotação inaudita e precisando mesmo de espaços para ser contado por quem de fato nele se situa. A proposta é exatamente essa, a de ir além de sua história pessoal e nos apresentar como se dá essas relações do povo das quebradas com o mundo à sua volta.

Uma conversa pra lá de inaudita, mostrando aspectos da vida cotidiana da periferia, subúrbio, seus personagens, ações e práticas. Em uma hora ela vai nos dizer quem é AMANDA HELENA, mas muito mais que isso. “Tudo o que faço é por ideologia e paixão. O que tinha vergonha antes, hoje não mais”, me disse quando a convidei para este “Lado B – A importância dos desimportantes”. Em princípio de disse tímida, mas sei irá se soltar, pois vai nos aproximar de algo que todos precisam ao menos tomar conhecimento, a linguagem dos tais “manos e minas”, tão próximos e tão distantes de todos nós. Quem gosta de ruar, como eu, quer e precisa mais do que nunca entender, nem que seja um bocadinho, da vivência e linguagem utilizada nas ruas, não só nos cantos iluminados, como os com pouca luz e destaque. As linguagens são várias e ela me diz, ter conhecido muita gente boa pela aí. É isso que queremos extrair dela, algo para que conheçamos isso tudo e com conhecimento de causa. 

Amanda é DIARISTA, esse seu ganha pão, mesmo tendo conseguido à duras penas concluir o curso de Direito, na Faculdade Anhanguera. Criou seus filhos assim e neste começo de ano, estava indo embora de Bauru para cursar História numa universidade pública em Nova Andradina MS. Ia, como sempre fez na vida, com a cara e a coragem. Teve que voltar atrás, pois a pandemia pegou a todos de calças curtas. Recolhida num canto desta cidade, segue vivendo fazendo faxinas e nas horas vagas POETANDO, vagando pelos quatro cantos, tirando de letra esse negócio de sobrevivência. Na antologia “Cães Bélicos” (nome de um dos seus poemas), obra do grupo Expressão Poética, na sua apresentação, algo mais que singular: “Escrevo para conter minha perplexidade diante da vida. Busco intensidade em tudo o que faço e sou apreciadora dos perdedores e invisíveis”. 

Eis um algo mais, escrito por mim e publicado no blog Mafuá do HPA, como APERITIVO para o que virá na conversa dominical:

- Em 16.06.2020 publiquei: “Parece uma piada, um homem que nunca vi com bandeira do Brasil no perfil pedindo solicitação de amizade. Primeiro que só pelo patriotismo tacanho de nossos tempos não aceitaria, segundo que não aceito desconhecidos ou pessoas que não tenham ideias relevantes, terceiro que não tô a fim de conhecer ninguém e se pudesse desconheceria um monte, quarto que na hora que preciso ser eu de verdade tenho meus dois amigos íntimos que converso no wats e um por sinal nem face tem. Vaza !!! Aqui é antissocial até os dentes...”, Amanda Helena.

- Em 21.12.2019 publiquei: “A última história é do furdunço acontecido no Mafuá, encontro de final de ano do bloco Bauru Sem Tomate é Mixto. Empresto livros do acervo, marco quem levou e o nome da obra num caderno e o danado vai viajar por uns tempos, como deve mesmo acontecer com os livros. Desta feita quem levou um foi a Amanda Helena e o escolhido foi um com crônicas da Marilene Felinto, dos tempos quando atuava na Folha de SP como colunista, pouco antes de ser demitida por, segundo eles, esquerdizar demais da conta nos seus escritos. Ela se interessou justamente por aquele pelo simples fato de ir lendo as frases grifadas por mim. Fiquei todo orgulhoso quando a vi mostrando o livro pro advogado Laércio Donizete Gasparini e ambos, lendo as frases todas em voz alta. Levou por causa dos grifos, pois me disse não conhecer a jornalista”.

- Em 14.06.2019 quando escrevia sobre igreja neopentecostal onde um dia foi a Cervejaria dos Monges, ela escreveu: “Só não confunda neopentecostalismo com protestantismo reformado, um não tem nada a ver com outro.Sou cristã e faço questão de toda vez q vou a um ato denunciar os descalabros da religião e a manipulação de massas.Não pertenço a nenhuma igreja institucional, conheço gente séria e piedosa nesse meio SIM, mas muitas nesse pleito mostraram a que vieram. (...) Não curto igrejas famosas também, sou mais de uma reunião caseira com irmãos na fé.O único que deveria ser notado em um culto é Cristo...somente Ele. Falou q tem gospel famoso , congresso e toda parafernália de celebridade religiosa, nem passo na calçada, isso agride minha fé...”.

- Em 25.01.2019 quando escrevia sobre o descalabro bolsonarista em curso e a despedida de Jean Willys do país ela escreve: “Antes de aplaudir um parlamentar estar indo embora por conta de milícias é bom que os ignorantes saibam que ele elaborou e conseguiu aprovação de pls humanas visando favorecer os vulneráveis. E o "mito"??? É bom que o ignorante procure por si saber das pls que ele propôs durante 27 anos apenas pra favorecer milicos. Ignorante político é uma vergonha, vc pode até não gostar do Jean Willys, mas não seja um acéfalo. Se for mulher, não envergonhe o gênero....vai ler um pouquinho”, bacharel em Direito Amanda Helena.

- Em 06.12.2018 escrevi dela: “AMANDA FEZ UMA OPÇÃO DE VIDA, SOFRE, MAS NÃO SE VERGA - Essa história eu tomei conhecimento ontem, mesmo a conhecendo desde uns meses. Juntei as duas coisas e escrevo dela, ressaltando a força interior inerente a cada um em resistir a tudo o que nos acontece nos tempos atuais. Cada um reage de uma forma, a dela é salutar e merece o destaque. Primeiro conto de um pedido de socorro, algo feito por ela nos últimos dias da campanha eleitoral. Ela estudante de Direito na Anhanguera e vendo o ambiente dominado por bolsonaristas, clama ajuda para algo defronte a universidade. Uma turma vai até lá e junto dela, recebe os estudantes numa noite. Todos puderam conhecer um bocadinho do que se passa por lá e melhor que tudo, conhecemos melhor essa resistente lutadora.
AMANDA HELENA GIMENS DE SOUZA, divorciada, mora com o filho de 20 anos, numa casa de fundos, extenso corredor, defronte onde foi um dia o Cadeião da Baixada. Vive uma vida digna, porém dura. Inflexível em seus valores diz ter tomado uma decisão tempos atrás, a de não se vergar mais e ciente dos problemas advindos disso, paga o preço. Trabalha e ganha algum no que aparece, mas antes analisa se a pessoa não é um algoz, opressor e se for, desiste de imediato. Faz de tudo um pouco, desde trabalhos escolares, faxinas, bicos em eventos e esporádicos variados. Tem curso de Gestão em Segurança Pública, exerceu por anos a função de inspetora de alunos, mas ultrajada se exonerou e foi tentar viver a vida sem ninguém lhe diatando ordens. Conclui por esses dias o curso de Direito, junta tudo e segue acreditando ser possível. Criou os filhos, viveu intensamente a vida e após passar pelas mais diferentes e variadas experiências profissionais, deu uma guinada e um bicudo no que lhe oprimia. Tenta ao seu modo e jeito sobreviver sem se vergar, sem ser humilhada e ser obrigada a ser subserviente a tudo o que representa esse cruel e insano sistema político onde vivemos. Consegue seu intento há duras penas e assim segue altaneira, uma pessoa cheia de luz, muito gás próprio, resoluta e decidida. Pessoas fazendo das suas para seguir caminhando com o devido brio, olhos muito brilhantes são um encanto nesse mundo cão. Quando tantos (as) se vergam, se deixam levar, se vendem por tão pouco, tomar conhecimento da história dos que resistem é algo para recarregar as baterias dos ainda resistentes”.

EIS A SEGUIR A LINK PARA ASSISTIR O BATE PAPO POR INTEIRO:
OBS.: Desculpem nossa falha: lá pelos 30 minutos e durante uns oito a dez minutos alguns problemas, sanados depois. A segunda parte, depois dos percalços é a cereja deste bolo. Insistam e indo até o fim, o verdadeiro sabor deste bate papo. Encanto de conversa...


sábado, 29 de agosto de 2020

MÚSICA (189)


ZÉ DA VIOLA SE FOI E A DOR TOMA CONTA DE TUDO
Recebo a notícia como um soco no estômago. Não sei nem como digerir tantas perdas e outros tantos fazendo de tudo e mais um pouco para continuar vivos.
Estou prostrado e sem palavras.
Todas as fotos são deste mafuento HPA.


Abaixo algo do que já escrevi dele por essas páginas facebookianas e no blog Mafuá do HPA:

1.) ZÉ DA VIOLA NOS DEIXOU... - Publicado em 20.06.2018
Ontem ciurculando e pagando contas pelo centro velho da cidade, rua Gustavo entre Ezequiel e 1º Agosto sou abordado por um cidadão me chamando pelo nome. Abro um baita sorriso, desses de boca a boca. Era seu ZÉ DA VIOLA, um violeiro e sanfoneiro que já comandou na aldeia bauruense casas noturnas aos estilo arrasta pé da maior responsa. Foi meu número 1 dos relatos que faço regularmente aqui, o Personagens Sem Carimbo - O Lado B de Bauru. Era lindo vê-lo nos shows cidade afora com a disposição de quem é grandioso, mas adora observar o que os colegas aprontam pela aí. Certa vez um garoto de uma orquestra lhe disse ser maestro. Ele me disse: "Tive que rir, pois estudei música a vida inteira e não cheguei nem perto disso". Triste foi vê-lo tempos atrás vendendo picolé pelas ruas da cidade, mas o fazia com a devida galhardia e dignidade, algo que nunca dele estiveram distantes. Grande figura humana, um que abrigou em seus forrós n ada menos que Toninho Ferraguti, hoje um músico universal, mas sendo de Botucatu, começou sanfonando com ele na periferia bauruense.
Pois bem, Zé da viola estava sumido e já comentava comigo mesmo: Por onde andará o Zé? O via muito lá pelos lados do Pingueta, mas desaparaceu misteriosamente. Estaria doente? Hoje elucidei a charada. O velho bardo não está mais morando em Bauru e sim, no Guarujá (pertinho do tal apartamento que os malvados enfiaram como sendo do Lula só para tirá-lo do pleito já ganho). Foi abrigado por uma sobrinha generosa e no sorriso diz estar feliz da vida. Me passa o mapa e diz para passar a notícia adiante. Está localizado bem defronte o Hospital Santo Amaro, ali ao lado a Amanda Cosméticos, da sobrinha e também ali perto o restaurante Nino's (três na cidade), da irmã Cecília, onde almoça e janta todos os dias. Mora na rua Rivaldo Fernandes 368, 3º andar, apartamento 31, jardim Tejereba (nome de um peixe). Passo a notícia adiante, como me pediu, pois pedido de Zé da Viola é para mim uma ordem. Esse é um daqueles que adoro reencontrar pelas ruas, bate papo alvissareiro garantido. Gente da melhor estirpe.

2.) Publicado em 07.10.2017: BARES ANTOLÓGICOS – LA PINGUETA é um bar com decoração toda feita com caixas de mercado e algo inusitado para os frequentadores. Nos intervalos da música ali apresentada, todos podem se servir de uma coleção ode LPs, os velhos e sempre útil vinil, escolher o que lhe aprouver e por pra tocar. Conseguir se encontrar com seu Zé da Viola, sempre sentadinho ali na entrada é a consagração, sendo ele uma instituição na cidade, violeiro pé no chão.

3.) COISAS DESSA VIDA QUE NÃO TEM PREÇO - Publicado e, 23.10.2016:
Sair no sábado a noite para ouvir boa música no bar DONA PINGUETA, para ouvir dois belos músicos da terrinha, a cantora e tecladista Lu Bertoli e o baterista Paulo Saca, chegar lá ao lado de Ana Bia e se deparar, sentadinho na poltrona de entrada do lugar, como uma rara peça em exposição, um dos baluartes dessa cultura musical bauruense, o seu ZÉ DA VIOLA, é dessas coisas que dão alento à vida. Puxo o danado para nossa mesa e, além de ficarmos absortos com a musicalidade do lugar, tem o papo com esse lindo senhorzinho, algo que, deveríamos preservar em formol, para durar mais que uma vida inteira. São dessas pessoas a tornar uma cidade mais palatável, habitável e deglutível. Todos ao seu redor ganhamos com o bocadinho de proximidade ali conquistado. Seu Zé da Viola, para quem não sabe foi o primeiro a ser retratado, o nº 1, dos meus perfis aqui publicados, o "Personagens sem Carimbo - O Lado B de Bauru". Uma figura mais que lado B, ímpar por natureza.

4.) FIGURA DA MAIOR RESPONSA (ESCREVER DAS PESSOAS, MEU MAIOR PRAZER) - Publicado em 20.12.2014
Zé da Viola, o meu primeiro Lado B
Se me perguntam qual uma das figuras da maior responsa dessa cidade, assim sem pestanejar tenho uns nomes na ponta da língua e um deles é o do seu ZÉ DA VIOLA. Só para terem uma ideia de como gosto dele e de tudo o que possa representar, foi o meu Personagem Sem Carimbo - O Lado B de Bauru número 1 (UM). Tudo começou com ele. Hoje o reencontro por acaso lá no Restaurante do Rubon, na Castelo e ele aceita meu convite para almoçar junto ao grupo onde me encontrava. Adoro suas sacadas e prometi a ele registrá-las num documentário, que nem tenho ideia de como vou fazer para produzir, mas promessa é promessa e seu Zé merece ser registrado para a eternidade.
Veja a sapiência de sua tirada.
Um sujeito relativamente novo e ligado à área musical chegou perto dele e disse assim:
- Eu sou maestro.
Seu Zé olhou o gajo de cima embaixo e lascou assim na lata:
- Para ser um simples regente eu sei que o sujeito precisa estudar muito, conhecer muito de música e isso tudo demora no mínimo uns quinze anos. Olhando bem para ti, quero te dar os parabéns, pois vejo que você é um gênio, alguém fora do comum, superou todas as etapas e já é maestro. Parabéns.
Seu Zé é um encanto de pessoa e eu o adoro exatamente por causa dessa sinceridade a toda prova.

5.) CARTÃO DE BOAS FESTAS DO HPA - Publicado em 21.12.2011
CHEGA DE PAPAI NOEL, O NEGÓCIO É VOVÔ VIOLA

Nunca gostei desse negócio de Papai Noel. Esse barbudo, roupa vermelhada e calorenta não tem nada a ver com nosso tropical país. E além de tudo, sua figura denota compras e mais compras. Só isso. Fujo disso. Procuro vivenciar outra realidade nesses dias. E assim sendo tento ao meu jeito criar e dar vazão a um tipo bem bauruense para nos representar. No começo do mês encontrei o tipo ideal, o ZÉ DA VIOLA, um sujeito bonachão, de bem com a vida, cantante e tocador de viola, rico de saúde e pobre de bolso, roupas largas, folgadas pelo corpo e um vistoso rabo de cavalo nos cabelos, a denotar sua irreverência para tocar a vida, com galhardia e sapiência. Ele topou a brincadeira e aqui está o meu Papai Noel, ou seja, o VOVÔ VIOLA. Uma festa embalada por suas músicas e pelo seu astral é tudo o que peço para um final de ano auspicioso e cheio de alegria. ZÉ DA VIOLA representa o Brasil que gosto de viver, pois todos sabem da existência de vários Brasis, cada um com uma conotação. Eu quero mais é ser feliz “violando”.

6.) ZÉ DA VIOLA, EXCELENTE IDÉIA DE UM PAPAI NOEL ÀS AVESSAS - Publicado em 15.11.2011
José Domingues Mucheroni é músico da Velha Guarda bauruense, desses a empunhar um violão desde os áureos tempos dos famosos bailões pelos bairros da cidade. Comandou muitos palcos pela cidade, ficando conhecido pelo apelido, ZÉ DA VIOLA, que o acompanha desde então. E desde sempre tenta tocar a vida com o que ganha com a música, empreitada difícil e nem sempre prazerosa. Zé não desiste, deu muito murro em ponta de faca e mesmo nas adversidades nunca se separou do seu violão. Espírito aventureiro rodou o mundo, tocando por muitos lugares Brasil afora, mas quando o peso dos anos começou a dar sinais, voltou, retomou contatos e procura sempre estar em exposição, ou seja, tocando por aí. Sobrevive como pode e até sorvete nas ruas de Bauru já vendeu, mas o que gosta mesmo é descobrir novos lugares para tocar e dar suas aulas de violão, nunca abandonadas. Semana passada, domingo, 11/12, quando do show de um antigo pupilo no Jardim Botânico, Toninho Ferraguti foi agraciado com uma canja, uma inversão de papéis. No passado Ferragutti vinha tocar com ele em Bauru, hoje o consagrado músico reviveu o passado possibilitando que Zé estivesse ao seu lado no palco bauruense. Vê-lo sempre sorridente, de bem com a vida, camisa de manga, rabo de cavalo, malemolente pelas ruas da cidade é a certeza de que cumpriria um excelente papel nessas festas, como uma espécie de Papai Noel as avessas, ou seja, um com traje mais arejado, muito mais apropriado para os festejos calorentos de final de ano.

07.) Publicado em 29.06.2011 - Ontem ouço algo sobre esse blog a deixar esse mafuento escrevinhador todo orgulhoso. No retorno de uma ida ao Jardim Redentor dou carona para seu Zé da Viola, um músico desses completos, retratado aqui num recente Memória Oral, quando contei parte de sua vida. Viemos papeando até a cidade e ele me conta que o texto postado na internet foi por onde lhe encontraram, sendo repassadas duas notícias, uma triste e uma boa. Seu irmão, mais novo que ele, um excêntrico a viver solteiro e sozinho, meio que isolado do mundo, residente em São José dos Campos havia falecido e ninguém sabia do paradeiro do herdeiro (no caso ele, o Zé). Descobriram por lá o nome dele, mas não sabiam como encontrá-lo e numa pesquisa na internet deram de cara com o meu texto “Zé da Viola, um violeiro ao sabor do vento”, publicado em 28/02/2011 e lá num comentário os telefones para contato. Ligaram, deram a triste notícia e também que ele terá que ir rapidamente para aquela cidade, tudo para tomar conhecimento do que o irmão deixou para ele. Heranças que chegarão em muito boa hora, pois nosso Zé continua camelando a vender seus picolés de iogurte pelas ruas dos Altos da Cidade. Possibilidades blogueiras e os meus votos são para que seu Zé volte de lá com algo de concreto, com uma rechonchuda conta bancária, possibilitando uma vida menos atribulada.

08.) ZÉ DA VIOLA, UM VIOLEIRO AO SABOR DO VENTO - Publicado em 28.02.2011
Existe na cidade de Bauru, interior de São Paulo alguns baluartes quando o assunto é a música, ainda mais quando se fala de algo mais específico, como o bem tocar um violão de sete cordas, uma viola caipira ou um cavaco. Adentrando essa seara é impossível não tocar no nome de José Domingos Mucheroni, 72 anos, professor autodidata e uma excelência com o instrumento nas mãos. Zé da Viola, como prefere ser chamado, está em atividade há décadas e sua história é dessas a merecer ser passada adiante, pois além da singularidade, das idas e vindas, dos erros e acertos, demonstra mesmo na adversidade ser uma pessoa de bem com a vida, acreditando ser possível reverter tudo na próxima curva ali na esquina.

A excelência musical é fruto de um início enfronhado no meio musical. O pai, Ernestinho Mucheroni foi dos precursores da viola na cidade e o menino pegou gosto pela coisa logo cedo. “Meu pai era catireiro. Naquela época as festas nos sítios eram com fartura, não existia o dinheiro, mas muita comida e bebida, principalmente a cachaça e um pouco de vinho. O frango era feito com farofa e servido numa bacia, com a catira comendo solta a noite inteira. Os velhos ficavam ouvindo aquelas demoradas modas de viola, com até 25 versos, tudo com princípio, meio e fim, histórias contadas no ponto da viola. A catira era formada de 12 pares, 24 homens batendo os pés e mãos entre aquelas histórias. Vivi isso desde muito cedo na minha vida”, conta um alegre e despojado contador de histórias.

Nesse tempo já fazia suas estripulias, nunca abandonadas. “Eu pegava o violão de meu pai escondido e acabava quebrando as cordas. O velho ia pegar o instrumento na hora de ir tocar, guardado num saco tipo de farinha e via o estrago. Percebia meu interesse. Dava um trabalhão para ele, pois as cordas eram envolvidas em carretéis. Era sofrível. A viola desafinava, precisava tirar o craveiro de madeira, raspar numa pedra rústica para tocar. Fui aprendendo e depois vim a consertar violas. Ele até gostava, pois ao invés de estar na rua, seguia seu gosto”, continua. Sua lembrança vai mais longe e começa a lembrar dos melhores violeiros de Bauru. “Entre 1945 e 1950, por aí, o campeão era o Zico Martelinho, um vendedor de doce, vivia disso, depois vinham outros como o Zé Carvoeiro, que vendia carvão, o cabo Antoninho, da Força Pública, o Zé Oréfice, tio dos famosos Falsetis e meu pai, que era pedreiro e nas horas de folga violeiro.

Lembra também nunca ter freqüentado uma escola musical. “O único a me ensinar algo foi Carmelo Grillo, hoje com 94 anos e ainda dando aulas de violão. O resto aprendi tudo na convivência. Aos 14 anos meu pai comprou o meu primeiro violão, um Gianinni e comecei a tocar em casa, festinha de aniversário. Minha primeira dupla foi com minha irmã, a Aparecida. Nesse tempo fui para a capital e lá meu primeiro emprego, na SP Light, por volta dos 16 anos. Conheci amigos nas rádios, lembro bem do Grêmio Juvenil Tupi. Voltei para Bauru com 32 anos, casado e já com filho. Daí revi a turma que tocava por aqui, o Lali, Zé Vieira, Tiãozinho, Mário Carvalho e o Edivardo Viotto, mais conhecido como maestro Badê”, continua seu relato.

Zé da Viola é um inveterado contador de histórias, algumas muito engraçadas envolvendo os muitos personagens, todos musicais que atravessaram sua trajetória. “Uma vez fui tocar em Campo Grande, viagem longa, chegamos quase na hora e fui procurar o endereço, rua Cândido Mariano. Nada, um sufoco e momentos antes do baile começar conseguimos chegar e fui falar que havia perguntado por tudo quanto é lugar a rua, foi quando me disseram que estava nela fazia tempo, tava lá Marechal Rondon. Fomos a piada da noite. E outra, essa um causo, de um sujeito que ensaiou durante anos uma atração circense com um porco e um galo como violinista e cantor. Ofereceu em vários lugares e nada. Passado um tempo, situação difícil, quando um dono de circo foi comprar o número, foi obrigado a dizer que não podia mais, pois não tinha mais os dois, sendo obrigado a comer a atração, primeiro o cantor depois o violinista”, conta entre risos. Uma das melhores é a vivida com o maestro Brasil Loureiro, que contratou ele e um amigo para um conserto chique, onde teriam que ler as partituras e nem ele, nem o amigo sabiam: “Tocamos da nossa forma e no final, ele nos chamou, pagou R$ 70 para cada músico e para mim e o colega R$ 100 cada, mas disse que fomos diferentes, colocamos arranjos que não estavam previstos, afirmou ter gostado muito, percebeu tudo e nos mandou pra ‘pqp’, pediu para aprendermos música, pois não sabíamos nada da coisa escrita. E nunca aprendi. Não tenho mais jeito”, conclui.

Das pessoas que já tocou, lembra com saudade de Nelson Gonçalves, que acompanhou em várias apresentações. Mais recentemente o acordeonista Toninho Ferragutti é outro, personagem de histórias variadas. “Por volta dos anos 80, o Toninho, que era de Botucatu tinha uma namorada aqui e quando vinha vê-la arrumávamos bailes para ele tocar conosco. A gente pegava uma sanfona de 80 baixos e dava pra ele, grandão, acostumado a uma de 120, a mão escapava, voltava pra cima, mas sempre muito habilidoso, não fugia do pau. Doutra feita fui com ele num estúdio e Toninho deixou todos de boca aberta, pois improvisou o Panela Velha só de olhar a partitura, com os pés nas costas. Três sanfoneiros não tinham conseguido e ele matou a pau. Pudera, treinava o dia inteiro. Ele é vegetariano e uma vez fomos almoçar na avenida Paulista, comemos e quando foi embora, entrei numa padaria e pedi um churrasquinho. É desses que ouve uma música um única vez e já sabe tudo o que tem que ser feito. Aqui em Bauru, o Sebastião Lima, chefe jurídico do Expresso de Prata, um colecionador de acordeons é seu seguidor maior, sabe de todos os festivais de sanfona e por onde o Toninho está no momento”, relata sobre Ferragutti, com quem esteve por duas vezes ano passado, a primeira no Templo Bar e depois no SESC Bauru.

Se deixar, ele fica a dedilhar o vilão durante o tempo todo e a relembrar histórias. “Caburé é o pai do Eraldo Bernardes, um outro que seguiu o viés artístico familiar. Ele chegava para o violinista e pedia, ajeita aí um tom para mim e aprontávamos com ele. No fim ele falava que agitamos mal, que tom era aquele e eu lhe dizia, nada disso, esse é o famoso Tom & Jerry. Tenho uma outra história, essa com o velho Carmelo e meu pai, pedreiro, que enrolou durante um bom tempo de fazer uma obra na casa dele. Certo dia o Carmelo o pegou de jeito e arrumou um ajudante ali mesmo, que ficou fazendo um buraco na rua, enquanto ele foi comprar o material. Nisso passou um bravo fiscal de Prefeitura e queria multar. Quem mandou fazer isso? O ajudante meio sem graça disse que tinha sido o seu Ernesto. O fiscal abaixou a crista e saiu de fininho. Carmelo conta essa até hoje, é que na época o prefeito da cidade era o Ernesto Monte e o tal fiscal achou que a ordem era do prefeito e não do seu Ernesto, meu pai”.

Diz ter muita saudade dos velhos tempos e dos amigos que se foram e também que “a vida do músico é cheia de percalços, uma correria de um lugar para outro, quando em ascensão não se tem qualidade de vida, é duro manter todos os compromissos de forma muito séria". Dos tropeços nem gosta de falar, preferindo sim, tocar em alguns dos outros. “Estudei comportamentos musicais e a deusa grega dos teclados é Euterpe e a dita cuja mexe com a cabeça de alguns músicos, deixando eles muito loucos. Os meio bestas, que tem um comportamento meio estranho nós falamos que são Namorados de Euterpe, a Feiticeira. Hoje o João Gilberto, o Yamandu Costa e o velho Hermeto são todos Namorados de Euterpe”, diz sorrindo. “Mas eu também aprontei algumas, veja o caso do Bagaço que gostava de algo diferente e cantava pra ele um verso modificado de Cartola, o “volto ao jardim/ na certeza que devo cheirar” e até um “até quem é de cheirar, cheirou...”, continua todo entusiasmado.

A verve de humor o persegue e até os cabelos compridos, amarrados num laço, marca registrada dos últimos tempos é motivo para piadas. “Num baile, um senhor meio cego, chegou perto e veio com graça, me chamando de senhorita e pedindo para dançar com ele. Num outro momento, esse mais recente, eu vendendo meus iogurtes pela rua, sou chamado de longe, por um ô dona, dona, nem olhei, pois percebi que estavam me confundindo com uma mulher”, diz. Esse negócio da venda de iogurtes em saquinho pelas ruas é algo do seu atual momento, difícil, mas uma simples questão de sobrevivência tirada de letra quando perguntado sobre o assunto. “Muitos me vêem pelas ruas e se espantam. Vejo por outro lado, ganho meus R$ 40 a R$ 50 reais todo dia, uns mil por mês e digo que tudo foi recomendação do meu médico, que pediu para fazer longas caminhadas todo dia. É isso que faço, rodo uns 15 km por dia, das 10 às 18h ou das 14 às 20h, a empresa é boa, me dá até carro para trabalhar, esse de duas rodas que empurro pelas ruas. A caminhada 0800 é a gratuita, gastando sola de sapato e não ganhando nada, na minha ganho meus trocos. Prefiro levar tudo na brincadeira e digo que isso aqui não é um emprego, é um pesadelo”, conta com certo humor.

Essa sua vida atual, tentando continuar com suas aulas de violão e viola, que acredita terão reinício após o Carnaval, em dois endereços, ministradas em qualquer local e horário é o grande motivador de tudo. Não desiste e diz estar entrosado com alguns da nova geração, tendo já tocado com Binha, Sargento Pedro, Sebastião José Tomás, Marli da Escaleta, Guilherme e outros. “Minhas últimas apresentações foram no chorinho do Bar Aeroporto e na Praça Luiz Zuiani, no Projeto do JC. O que eu ganhei, gastei, foi assim a vida inteira. Se correr atrás ainda dá para viver de música, tanto que continuo compondo. Lembro de uma que fiz para o centenário de Bauru, o “Há gosto pra tudo”, juntando o mês do aniversário da cidade com a planta cujo chá serve para quase tudo. Quer ouvir? Os tempos são outros, mas eu resisto e se convidarem toco a noite toda”, continua um relato que, pela entonação de voz e animação, pode prosseguir também por tempo indeterminado. Zé da Viola é um resistente, procura rir de tudo e assim vai virando as páginas de uma atribulada e conturbada forma de tocar a vida.
Para finalizar ouçam essa, com Caburé e Zé da Viola: http://il.youtube.com/watch?v=qq-xJj-PW3w

TEM MAIS, MUITO MAIS, MAS NÃO CONSIGO FAZER MAIS NADA E VOU CHORAR SÓZINHO NUM CANTO... TCHAU!

No dia de hoje envio missiva de minha lavra e responsabilidade com solicitação de publicação na edição do Jornal da Cidade, Tribuna do Leitor. Veremos...

FALEMOS DE ZÉ DA VIOLA

Escrevo para o JC, especificamente para a Tribuna do Leitor, com solicitação para atendimento também no Caderno Cultura, que neste domingo, 30/08 bem que podia ostentar em sua capa, até com chamada na primeira página, algo sobre o grandioso músico ZÉ DA VIOLA, seu José Domingos Mucheroni, que do alto dos seus 82 dedicados à causa musical, resolveu nos deixar e tendo por detrás de si algo bem profundo e consistente sobre como se dá de fato as relações musicais nesta cidade. 

Esse velho aroeira das artes locais teve uma vida inteira dedicada à música, dela viveu uns tempos, mas quando o tempo foi chegando, idade avançando não mais conseguiu tirar o sustento de seu violão e cantoria. Vendeu até picolés na rua, com uma maestria igual a coroa que ostentava junto aos cabelos compridos, um laço mantendo-os todos juntos. Zé é a prova da resistência dos de baixo, os que denomino de Lado B, os que labutam uma vida inteira e não se afastam de seus ideais, mesmo que isso lhe tragam enorme peso a ser carregado pro resto da vida. Zé da Viola persistiu, insistiu e resistiu até quando pode. Tempos atrás, já cansado de dar murro em ponta de faca aceitou convite de parentes próximos e foi viver no litoral paulista, cuidado por estes e assim, amparado seguiu até este triste momento, o de seu passamento.

Representa na sua magnitude os tantos músicos que tentam sobreviver de sua arte. Alguns o conseguem bem, mas a maioria mal e porcamente, pois não é mesmo tarefa das mais prazerosas sobreviver fazendo o que gosta e ao bel prazer. Esse Zé tinha estilo, garbo e maestria. Inesquecível o dia em que tempos atrás, me disse pessoalmente ter ouvido de um jovem, que se apresentava como maestro, esse ainda nos cueiros. Não se segurou e lhe disse na lata: "Para ser um simples regente eu sei que o sujeito precisa estudar muito, conhecer muito de música e isso tudo demora no mínimo uns quinze anos. Olhando bem para ti, quero te dar os parabéns, pois vejo que você é um gênio, alguém fora do comum, superou todas as etapas e já é maestro. Parabéns".

Ele tocava debaixo do viaduto da Duque, ali onde funcionou por décadas um famoso arrasta-pé, também conhecido como "risca faca", negócio administrado pelo seu jeito de tocar a vida, meio na flauta, quase sério, lugar de boa música, poucas desavenças e felicidade entre os frequentadores. Toninho Ferraguti ali começou e hoje encanta o universo. Sua trajetória sempre foi pelas rebarbas, mas admirado por todos. Sivaldo Carmargo, o nosso homem da dança me disse dele algo singular, dos tempos quando morava lá pelos lados do Redentor. "Ele não tinha aparelho de som em sua casa e vez ou outra batia palmas no meu portão. Sempre o mesmo motivo, me pedia se tinha tempo e podia por na vitrola algo que ele sabia eu tinha entre minha coleção de música, algo do Toninho. Tomávamos café juntos se deliciando com o som do Ferraguti. Depois, como chegou saia e creio, isso lhe recarregava", me contou.

Pergunte para todos os bons músicos desta aldeia bauruense quem foi esse Zé. Pode ligar para muitos deles e se possível, montem um textão lindo, desses que a gente faz questão de emoldurar e colocar na parede, pois com ele se vai um bocado de nossa história musical. Não tem como deixar de ficar prostrado, triste demais com essa perda, mais uma nesses pérfidos tempos. É que esse Zé não pode passar batido. As pessoas não podem continuar suas vidas sem ao menos saber um bocadinho do que esse senhor influenciou e fez pela música bauruense. Eu não me canso de repetir termos muita sorte, pois Bauru é privilegiada, com um cabedal musical pouco encontrado pela aí. Pode circular pelo estado todo e compare o que se vê por aí com o encontrado aqui. O cenário musical musical desta terra muito da "sem limites" é quase único e este Zé é espécie de hours concurs dentro deste universo.

Por todos os murros em ponta de faca que ele deu e outros tantos dão pra continuar fazendo o que gosta e sabem, creio que a capa do Cultura é mais que uma homenagem, não só pro Zé, mas pra tantos outros, com vivência parecida, mambembes e  bom vivants. Zé da Viola ria até das adversidades, que não eram poucas e assim construiu seu nome no panteão dos que realmente valiam a pena a gente conhecer nestas plagas. Quem não o conheceu, não sabe o que perdeu, pois representa muito mais do que tantos empoados que vejo ditando regra pelos nossos quatro cantos. Viva seu Zé da Viola, imortal e por mim reverenciado de joelhos. Neste eu botava fé.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História.

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

INTERVENÇÕES DO SUPER-HERÓI BAURUENSE (136)


ENQUANTO OS NOMES DOS MAMADORES NÃO FORAM ANUNCIADOS E PUNIDOS DÁ A ENTENDER POUCO CASO COM A SOLUÇÃO DO PROBLEMA NA COHAB
O escândalo, ou melhor, os vários e continuados escândalos da COHAB Bauru parecem mesmo não ter fim. A imagem que não sai da memória de tudo, todas e todos é a do saco de dinheiro encontrado na residência do então presidente, Edison Bastos Gasparini Junior. Ele não foi nem encarcerado, encontrando-se em prisão domiciliar e da mamação perdurando por décadas, até o presente momento nada. Guardião, o super-herói bauruense, diante da morosidade das apurações e da proximidade com as eleições municipais, resolve botar mais lenha na fogueira: "Até quando vai perdurar essa espera? A cidade clama pela divulgação dos nomes dos envolvidos, pois pela proximidade com as eleições municipais, quando muito de viu de entra e sai naquela sala de espera do então presidente, todos querem saber o que existe de relação comprometedora destes com o derrame de dinheiro público irregular? Quantos estariam a concorrer a novos cargos públicos? São dúvidas que não podem perpassar a este pleito, pelo bem da coisa pública, pois o que mais temos hoje na cidade são santos, impolutos, a maioria do pau oco".

O assunto é pertinente e merece uma atenção a mais do GAECO, o órgão investido, poder de perícia e que dará um dos veredictos na questão. "A princípio muito se esperava de uma CEI, comissão de inquérito da Câmara dos Vereadores, mas seu resultado foi pífio, nada conclusivo, deixando tudo no ar e jogando a bola para a frente. Dizem as más línguas que, isso predominando nas instituições brasileiras, poucos são os que sangram a si próprias e ainda mais em praça pública. Daí, lembremos todos que deu até um pau feio lá no dia da divulgação dos resultados, ainda mal explicado, sobre formas, meios e o que seria de fato o resultado e divulgado da mesma. Entre prós e contras, prevaleceu o resultado insipido, inodoro e insosso. E nada mais? A eleição foi adiada, ocorrerá agora em novembro, mas a cidade precisa saber destes nomes que supostamente mamaram naquelas fartas tetas. Mamaram ou não?", continua seus questionamentos.

Tudo bem que, a gente sabe, apuração é coisa séria, não pode ser levantado falsos testemunhos, o tempo em vigência do desfalque foi grande, abrangência de alguns mandatos de prefeito e continuando neste chove não molha, permanecerá no ar esse clima de pizza. Seguindo essa linha de raciocínio, Guardião dá mais uma cutucada: "Tudo o que a cidade não quer é mais uma pizza neste momento. Quando da apuração do escândalo do mensalão bauruense, o da AHB - Associação Hospitalar de Bauru, os nomes dos capos até o presente momento não foram aventados e desta feita, algo ao contrário, quem foi pego e com sacos de dinheiro em casa foi o capo, o presidente da Cohab, mas ele fazia tudo sozinho? Nem as pedras do reino mineral acreditam nisto. Para perdurar por tanto tempo, aquele algo mais deve ter ocorrido, algo garantidor de tão longa permanência e é isso o que precisa ser divulgado. Uma nova direção está lá atuando, mas dela, também nem um podrinho novo foi divulgado, como se tudo por lá estivesse às mil maravilhas, sem nada que mereça as tratativas investigativas.

O intrépido Guardião não deixa a coisa esfriar e nem passar em branco, sem que nada ocorra e pede urgência urgentíssima nessas apurações. "O que mais circula cidade afora são suposições - e não supositórios, viu! - sobre a participação deste ou daquele impoluto e inolvidável cidadão, com piadas circulando de boca a boca, fotos da ante-sala, a de espera do gabinete do presidente, muita gente conhecida por ali marcando presença, diria graúda, mas nada de concreto. Enfim, para que finalidade a grana desviada era utilizada? Foi Caixa-Dois para campanhas eleitorais? Beneficiou políticos para o tal do cala-boca? Engordou a conta bancária de quantos? E a pergunta que não quer calar: Alguns destes concorrem no próximo pleito como se nada tivesse ocorrido? Só mesmo a divulgação das investigações do GAECO para sanar tanta dúvida e responder a questionamentos tão diletantes. Ninguém quer sangue jorrando em praça pública e sim, somente que acabe de uma vez por todas essa impunidade, quando pegando um, ele paga por tudo e o restante continua isento, manguinhas de fora e segue o jogo, ou seja, a mamata que acabou aqui, pode até ser iniciada ali, numa outra vantajosa oportunidade. Estes não podem continuar em ação", conclui Guardião.
OBS.: Guardião é obra, cria da verve do artista Gonçalez Leandro, com pitacos escrevinhativos do mafuento HPA.

E SE A FLEXIBILIZAÇÃO DO CERRADO SUGERIDA PELAS "FORÇAS VIVAS" FOSSE PARA ATENDER DEMANDA DE CASAS POPULARES E TERRA PARA AGRICULTURA FAMILIAR?
https://www.jcnet.com.br/noticias/politica/2020/08/733872-lei-do-cerrado--industria-pede-revisao.html
Existem perguntas que não querem calar. Dias atrás reproduzi aqui algo sobre o prefeito ir para a capital paulista discutir com "autoridades" sobre uma flexibilização da Lei do Cerrado, uma que preserva área ambiental no município. Escrevi sobre a forte pressão da especulação imobiliária e hoje, desdobramento da questão. Na edição de hoje do Jornal da Cidade, nova matéria, escrita pelo competente jornalista Thiago Navarro. Ele, a pedido do jornal e de seu público vai atrás da opinião de alguns dignos representantes das tais "forças vivas" (termo criado tempos atrás pelo próprio jornal, verve de Renato Zaiden) sobre o que seria essa flexibilização. São ouvidos o diretor regional do Ciesp Gino Paulucci Jr, o diretor do Departamento de Ações Regionais da Fiesp Zeca Simonelli, o gerente de Relações Institucionais da Tilibra Ricardo Carrijo e a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico Aline Fogolin, todos muito bem afinados nas justificativas. Tudo para propiciar o "progresso" (sic) destas plagas. Escamoteiam a tal da influência da especulação imobiliária e da utilização também dos espaços liberados servirem para ampliação dos condomínios fechados, somente para classe abastada da cidade, uma que gosta muito de edificar seus sonhos junto à natureza.

Encerro a questiúncula com pergunta que não quer calar, de minha lavra e responsabilidade: "Imaginem os senhores, se essa liberação tivesse como pano de fundo a criação de espaços, terra para servir de ampliação de distribuição para atendimento de demanda dos clamores dos movimentos sociais, área para estes residirem, plantarem e assim tentar também resolver parte dos problemas dos sem habitação. O interesse seria o mesmo? Teríamos tanta repercussão? Prefeito, deputados, secretários e empresários estariam também envolvidos?".
As respostas podem ser dadas na forma de comentários neste post. Boa sexta para tudo, todas e todos são os votos do mafuento HPA

questões da ultradireita
TRAGÉDIA IDEOLÓGICA: O bolsolavismo foi o hospedeiro perfeito para as tendências totalitárias de uma geração, por MARTIM VASQUES DA CUNHA
Este artigo saiu publicado na última edição da Piauí, agosto 2020 e traça um interessante perfil de quem é a direita e a ultra-direita no país, o nome de todos, com os influenciadores. Foi difícil digerir o que li e ao terminar não me segurei e envio carta para a revista, que não sei se sairá ou não na edição de setembro, mas o registro fica desde já aqui registrado. HPA

'O texto mais impactante da edição impressa de Agosto foi o "Tragédia Ideológica", do surreal Martim Vasques da Cunha, cuja própria revista já tascou lá no alto um inquestionável "Questões de Ultradireita", até para livrar sua cara. Ou o cara é mago, supra-sumo ou se acha a última cereja do bolo. De tudo o que deu pra sacar, citações infindáveis, pérfida relação de quem é, quem está aderindo, os próceres de antanho e os futuros apaniguados, enfim, a novíssima "thurma" dos que se dizem de direita, mas estão pulando do navio do bolsolavismo. Além do pedantismo do autor, que induz a achar ser ele a nova luz a ser seguida, o textão serve como bom guia de todos os envolvidos e com culpa no cartório pela atual situação do país, pois apoiaram o Senhor Inominável. Agora conheço a todos, inclusive gente como o Pondé, que até então se encontrava em cima do muro, mas tem suas vestes desnudadas em praça pública e, fico agora sabendo, por quem lhe indicou livros para seus escritos - muito pra minha cabeça. Mais ou menos direitistas, coloco-os todos no mesmo balaio, o do retrocesso. Prefiro continuar "reduzindo as condições humanas a questões políticas e ideológicas" e a julgar que a "vida não tem sentido fora da ordem social, reduzindo a explicação metafísica da existência", do que ter sido hospedeiro do Ovo de Serpente a devorar este país. Minhas leituras e influências são bem outras e gostaria de vê-las em outros textos na revista, em algo bem consistente e a combater esse avanço do "endireitamento" do país, algo pernóstico, nefasto e tresloucado. De minha desprotegida trincheira estarei sempre pronto para combater esses que se dizem encantados por vírus ainda sem vacina e a contagiar as novas gerações.
Henrique Perazzi de Aquino - Bauru SP"

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

FRASES DE LIVRO LIDO (156)


EU COMPRAVA O "JORNAL DO BRASIL" NA BANCA DA PRAÇA MACHADO DE MELLO - MINHAS LEITURAS CHEGAVAM DE TREM
Sempre gostei demais da conta de ler os jornalões brasileiros, mas hoje procuro me manter afastado de todos eles. Quantas vezes não ia pra Sampa ou o Rio de Janeiro e fazia questão de trazer os de longe. Já assinei a Folha de SP, colecionei o Folhetim, me maravilhei com o Caderno 2 do Estadão, lançado pela fértil cabeça do Luiz Fernando Emediato e equipe (crônicas do Caio Fernando Abreu e tiras do Gilberto Maringoni), assim como adorava o formato do Zero Hora. Todos estes me trazem boas recordações, mas nenhum igual a que mantive por quase uma década aqui em Bauru com o Jornal do Brasil, então tido por mim como o jornalão mais vistoso e com conteúdo mais apreciado por este escrevinhador de inutilidades.

Conto algo desta aproximação. Aqui na minha lembrança, atualmente bem reavivada com essa reclusão, pois tudo volta a passar na minha cabeça como um filme velho e sendo revivido. Ainda dos meus tempos deixando a molequice descobri O Pasquim e logo depois, Movimento, Folhetim, Coojornal e tantos outros. Até o dia em que descobri um tesouro - ou o caminho dele. Existia uma banca, que até hoje funciona na cidade, hoje mais como loja dessas de tem tudo, mas ainda vendendo jornais e revistas, ali na praça Machado de Mello. Ele recebi os jornalões de longe e me encantei com o Jornal do Brasil. Nem sei se ainda vinham de trem, mas seu horário de chegada na cidade era sempre lá pelas 15h30 e 16h. Corria para buscar o jornalão carioca e aos domingos colecionava, tendo muitos recortes até hoje guardados de matérias lá publicadas. A Revista de Domingo era um deleite para meus olhos, boca e coração. E o que dizer do Caderno Ideias? Por ele circulava a verdadeira e original Cultura deste país. Foi naquelas páginas que descobrir Carlinhos Oliveira, com sua coluna e jeito de escrever a me encantar. Colecionava os tijolões com os artigos semanais do Brizola, que apreciava por demais da conta.

O papel e impressão do JB era diferente dos demais, cheirava jornal de fato, tinha outro visual, aparência mais antiga, algo me ligando com aquilo e a pegada, confesso, arrebatadora. Sinto muito falta dessas leituras hoje e para matar saudade comprei outro dia pela Estante Virtual - e ainda não li -, o livro da Belisa Ribeiro, "Jornal do Brasil - História e Memória: Os Bastidores das edições mais marcantes de um veículo inesquecível" (Record, 2015). É o jeito encontrado por mim para matar saudade de tudo aquilo. Eu nas idas ao Rio, chegando quase sempre de ônibus, viajava na maionese só de imaginar o que se passava ali naquele predião da Av. Brasil 500, bem ao lado do terminal. Eu que lia o jornalão lá de Bauru, quando diante do lugar onde era feito, me arrepiava todo. 

Conto algo também sobre essa saudosa banca, de seu proprietário, cuja imagem e semblante não me saem da memória, mas seu nome já me escapou. Quem ali trabalhou por muito tempo foi o Toninho, esse que hoje é presidente do Conselho Deliberativo do Noroeste, foi também da Alto Astral. Eu molecote, ele um pouco mais velho, lembro muito deles dois me atendendo. Era ali que buscava o meu Pasquim e ia buscar o JB. Ficava na maior frustração quando, por algum problema de percurso, o danado não chegava. Nunca tive o mesmo apreço pelo Globo, que não teve a mesma regularidade na cidade e naqueles tempos, nem a mesma importância. Eram tipo água e vinho, bem diferentes, sem comparação.

Conto mais deste amor pelo JB. Quando os jornais não mais vinham para cá, acabei descobrindo onde era a distribuidora dele em SP capital, ali perto de onde ficava a sede da Record, lá pelos lados do Aeroporto de Congonhas e um funcionário de lá guardava as edições dominicais para mim. Em cada ida, passava lá e trazia de baciada, volumes imensos que, voltando de ônibus, eram devorados ali mesmo na viagem - como dormir com aquilo tudo ali ao lado?. Esse funcionário me acompanhou por outros dois endereços. Devia me achar muito louco em juntar as edições dominicais velhas. O fazia com uma sofreguidão quase perdida nos dias de hoje. Talvez resista em duas publicações, a Carta Capital e a Piauí, nada mais.

O tempo vai passando e muita coisa vai sendo apagada de nossa memória, que guarda somente alguns detalhes, não todos - por sorte não perco todos. No meu caso, impossível não associar esse amor com os jornais com essa banca da estação férrea, naqueles tempos o local de maior movimentação da cidade, antes até da inauguração do terminal rodoviário. O dono já me conhecendo, me passou seu telefone e ligava antes só para saber se o jornal havia chegado no dia e não perder viagem. E com ele em mãos, esquecia até dos jogos dominicais de futebol na TV. Quantas vezes não passei lá, comprei o jornal e o levei num embornal para o campo do Noroeste, pois ia e voltava de ônibus ver os jogos do meu time. Essas lembranças todas me voltam à mente, neste momento, quando a Folha de SP dá mais uma pisada na bola e desta forma, me afasto cada vez mais dos jornalões. 

Sei não, mas creio ser inevitável não só a decadência, como o fim do ciclo deles, pois pararam no tempo e no espaço, perderam muito da credibilidade e sobrevivem pelo que um dia representaram para legião de ávidos leitores, como este que vos escreve cheio de saudade. Algo eu faço questão de afirmar por aqui: igual ao JB, creio que no Brasil, nem a Folha SP nos seus melhores dias chegou perto. O jornalão da condessa e do Nascimento Brito era phoda!!! E banca tão versátil como a da praça Machado de Mello, tô pra conhecer outra igual.

FRASES DE UM LIVRO PRA LÁ DE INSTIGANTE - "DE PERNAS PRO AR - A ESCOLA DO MUNDO AO AVESSO", EDUARDO GALEANO
Tem livros que só de bater os olhos já dá para se ter ideia de que é pra lá de instigante, provocante e altamente cheio de boas sugestões pra não sairmos da lida e irmos logo pra luta, confronto, pois do contrário nada acontecerá de bom pro nosso lado, o dos interesses populares. Eduardo Galeno, o escritor uruguaio que sempre fez a minha cabeça e a colocou pra funcionar, escreveu este livro  em 1999 e ele sai publicado no Brasil pela gaúcha L&PM. Escolho algumas frases pra levantar o astral dos ainda dispostos a ir à luta:

- "As possibilidades de que um banqueiro que depena um banco desfrute em paz o produto de seus golpes são diretamente proporcionais às possibilidades de que um ladrão que rouba um banco vá para a prisão ou cemitério".
- "A economia mundial é a mais eficiente expressão do crime organizado. Os organismos internacionais que controlam a moeda, o comércio e o crédito praticam o terrorismo contra os países pobres e contra os pobres de todos os países, com uma frieza profissional e uma impunidade que humilham o melhor dos lança-bombas".
- "Os assaltantes que, à espreita nas esquinas, atacam a matonaços, são a versão artesanal dos golpes dados pelos grandes especuladores, que lesam multidões pelo computador. Os violadores que mais ferozmente violam a natureza e os direitos humanos jamais são presos. Eles têm as chaves das prisões".
- "A classe média continua vivendo num estado de impostura, fingindo que cumpre as leis e acredita nelas e simulando ter mais do que tem, mas nunca lhes foi tão difícil cumprir esta abnegada tradição. Está asfixiada pelas dívidas e paralisada pelo pânico, e no pânico cria seus filhos. Pânico de viver, pânico de empobrecer, pânico de perder o emprego, o carro, a casa, as coisas, pânico de não chegar a ter o que se deve ter para chegar a ser".
- O poder, que pratica a injustiça e vive dela, transpira violência por todos os poros. (...) O pecado está na derrota, não na injustiça. (...) A liberdade de trocar de país é um privilégio do dinheiro".
- "O direito do patrão de despedir o trabalhador sem indenização nem explicação se chama flexibilização do mercado de trabalho. (...) o saque dos fundos públicos pelos políticos corruptos atende ao nome de enriquecimento ilícito".
- "A América Latina continua doente de racismo: de norte a sul, continua cega de si mesma. Nós, os latino-americanos da minha geração, fomos educados por Hollywood. (...) Em nossas sociedades, alienadas, adestradas durante séculos para cuspir no espelho, não é fácil aceitar que as religiões originárias da América e as que vieram da África nos navios negreiros mereçam tanto respeito quanto as religiões cristãs dominantes".
- "A maioria dos intelectuais das Américas tinha certeza de que as raças inferiores bloqueavam o caminho do progresso. (...) Nas Américas, a chamada democracia racial é uma pirâmide social. E a cúspide rica é branca ou pensa que é branca. (...) O racismo e o machismo bebem nas mesmas fontes e cospem palavras parecidas". 
- "Pobres contra pobres, como de costume: a pobreza é um cobertor muito curto e cada qual puxa para um lado. (...) A lei é como uma teia de aranha, feita para aprisionar moscas e outros insetos pequeninos e não os bichos grandes. (...) Os delinquentes ricos escrevem o roteiro e dirigem os atores. (...) Os numerosos ninguéns, os fora de lugar, são economicamente inviáveis".
- "Nunca falta uma guerra ou guerrinha para levar à boca dos telespectadores famintos de notícias. (...) Boa parte da opinião pública norte-americana padece de uma assombrosa ignorância a respeito de tudo o que ocorre fora de seu país, e teme ou despreza o que ignora".
- "Não é preciso ser um expert em politicologia para perceber que, em regra, os discursos só alcançam seu verdadeiro sentido quando entendidos ao contrário. (...) Obediente às ordens do mercado, o Estado privatiza. Não seria o caso de desprivatizá-lo, estando o Estado como está, nas mãos dos banqueiros internacionais e dos políticos nacionais que o desprestigiam para depois vendê-lo, impunemente, a preço de banana?".
- "O direito ao trabalho já de reduz ao direito de trabalhar pelo que querem te pagar e nas condições que querem te impor. (...) Encontrar trabalho, ou conservá-lo, ainda que sem férias, sem aposentadoria, sem nada, e ainda que seja em troca de um salário de merda, é algo para celebrar a um milagre. (...) Os países tremem ante a possibilidade de que o dinheiro não venha, ou de que o dinheiro fuja".
- "A salvação do meio ambiente está se tornando o mais brilhante negócio das mesmas empresas que o aniquilam. (...) Em nome da estabilidade democrática e da reconciliação nacional, promulgaram-se leis de impunidade que desterraram a justiça, enterraram o passado e elogiaram a amnésia. (...) Em nome da liberdade de empresa, da liberdade de circulação e da liberdade de consumo, torna-se irrespirável o ar do mundo".
- "Nesta civilização onde as coisas importam cada vez mais e as pessoas cada vez menos, os fins foram sequestrados pelos meios; as coisas te compram, o automóvel te governa, o computador te programa, a TV te vê. (...) Até algum tempo atrás, o homem que não devia nada a ninguém era um virtuoso exemplo de honestidade e vida laboriosa. Hoje, é um extraterrestre. Quem não deve, não é. Devo, logo existo. Quem não é digno de crédito, não merece nome ou rosto: o cartão de crédito prova o direito à existência".
- "A maioria, que se endivida para ter coisas, termina não tendo outra coisa senão dívidas para pagar dívidas que geram novas dívidas, e acaba consumindo fantasias que só pode materializar delinquindo. (...) A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena tudo ao desuso imediato. Tudo munda no ritmo vertiginoso da moda, posta a serviço da necessidade de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos e são substituídas por outras de vidas não menos fugaz".
- "Por mais que cada cidadão compre, sempre será pouco em relação ao muito que é preciso vender. (...) Se todos consumíssemos como consomem os espremedores do mundo, ficaríamos sem mundo. (...) São muitos os cidadão que perdem a opinião por falta de uso".
- "A história oficial, memória mutilada, é um longa cerimônia de autoelogio dos mandachuvas do mundo".

Eu cada vez me guio mais somente por leituras dessa natureza, pois quero cada vez mais permanecer em estado de revolta contra tudo o que sei fazem contra nós. Galeano é um dos que leio e faço questão de divulgar, levar a mensagem adiante. DÓI DEMAIS A GENTE SABER DAS COISAS TODAS...