BAURU PELA MANHÃ
ACORDADO PARA CONVERSA SOBRE OS RUMOS DA RÁDIO BAURUENSE E BRASILEIRA
Fui acordado hoje pelo som do celular tocando. Fui ver quem era e atendi. Era o amigo F., professor universitário e diferente de mim, ele ainda acordado às 6h da manhã, eu acordando. Conversamos de tudo um pouco e centralizamos o papo no assunto rádio. Tento reunir, ainda movido pelos olhos um tanto marejados, o que fui conseguindo me lembrar da inaudita conversa:"Eu ouço muito rádio, principalmente as AMs, mas hoje para abrir espaço para essas operadoras de celular, acabaram com as AMs e dane-se quem as ouvia lá do meio do mato, o caipira que a sintonizava pelo dial. Hoje quem não tem celular para sintonizar, ouve cada vez menos, pois só mesmo gente como eu, que montei uma parafernália aqui em casa ainda consigo continuar escutando pela forma antiga. (...) Aqui em Bauru, caro Henrique, já tivemos ótimas rádios, mas veja só que triste sina, desembocamos nesta merda de Jovem Pan. Quanta saudade, 710, Bandeirantes e Auri-Verde. Como foi possível Bauru aceitar essa situação da chegada desta rádio destruindo tudo à sua volta? A Jovem Pan aniquilou todas, impondo esse jeito da ultra-direita, dela impor a sua ideologia sobre tudo. Foi aniquilação, mandou todos profissionais embora, de forma sumária, sem dó e piedade em algo que precisaria ser resgatado, contado em detalhes. Eu me emputeci com a situação. Eles são de ultra-direita. (...) Ouço muito a CBN de Araraquara, eles são do Grupo Globo e são contra Bolsonaro e aqui a Jovem Pan, essa a favor de Bolsonaro e da destruição do país. Não que a Globo seja santa, longe disso, mas no quesito jornalismo são bem distintos, água é vinho. Ouço de tudo, minha vida está envolvida com o rádio, mas essa Jovem Pan não dá, inaudível. (...) temos que pensar numa forma de resgatar a Jovem Auri-Verde, nem que for pela internet, mas dar uma banana pra essa bestialidade hoje em curso, com esse jornalismo de quinta, um horror. Resgatar a 710 hoje acho impossível no cenário com Bolsonaro. Tudo tem que ser feito via internet. (...) Não me conformo como Bauru, com toda sua pujança possa ter engolido e aceito essa rádio. Com tantas no passado e nenhuma hoje com credibilidade. Como a cidade permite algo assim, tão perverso? A cidade reflete isso ou está muito enfraquecida e sem condições de reagir a contento? Ouço de tudo, mas não tenho nenhum simpatia por essa. Ela vai contra tudo o que aprendemos durante a vida toda. Ali não existe bom senso, só ódio, destilam ódio o tempo todo, não existe possibilidade de ideias diferentes das deles. São a cara do que nos governa hoje. A rádio em Bauru precisa ser resgatada dessas perversas mãos, antes de aniquilar também a mente do ouvinte. Tem que existir um jeito de resgatar o que já tivemos e rejeitar o que temos. Me diga como?".
A conversa rendeu até o momento em que ele foi deitar e eu me levantar. Como me disse, deve ter continuidade dia desses...
CENAS NO MEIO DA TARDE
01. Em 19.07.2020: "OCUPAÇÃO - A vida se impõe à urbanização. Nosso
construtor de asas encontrou o melhor lugar para implantar sua casa, um ninho
de amor, na quadra 9, rua Wenceslau Braz, Vila Souto, Bauru (SP). O poste é da
Prefeitura, portanto sua ocupação é permitida dentro de limites. Os cabos que
protegem a casa são privados. O que prevalecerá? O morador e sua moradia serão
despejados pela (in) Justiça. Ou devidamente respeitados por Bauru", assim
o jornalista Ricardo Santana descreve algo presenciado no alto de um poste lá
perto de sua casa.
02. Em 20.07.2020: O jornalista Ricardo Santana tem se mostrado, além do profissionalismo
com as letrinhas, ótimo registrador do cotidiano de nossas ruas e com suas
fotos sempre nos revela um algo mais, como nesta com a seguinte legenda:
"Rastros no asfalto da Sem Limites - Noite de sábado pra domingo. Movimento
pro$perou na rodovia Elias Miguel Maluf, Bauru (SP)".
03. Em 25.07.2020: Na foto enviada a mim por atento bauruense, outdoor
posicionado de caso pensado na avenida Nuno de Assis, ali na beiradinha da
entrada para o Recanto Fiu-Fiu, sentido bairro/centro, deixando transeuntes
pensativos e perplexos: Seria propaganda eleitoral antecipada ou trata-se de
mera publicidade pessoal visando uma melhora da imagem do insólito radialista?
04. Em 26.07.2020: Na divisa do Jardim Prudência com a Nova Esperança a coisa é
assim e pronto, o cavalo circula tranquilamente no meio da rua, o carro segue
atrás e sem dar um pio, esperando quando o animal sai para o lado, te olha com
aquela cara, "pressa do que, oh meu!" e vida que segue sem nenhum
percalço.
05. Em 27.07.2020: Na avenida Nações Unidas, entre a Presidente Kennedy e a
Marcondes Salgado, num prédio já utilizado tempos atrás pela Caixa, hoje o
segundo maior empregador da cidade, pronto para começo de atividades neste novo
local, a Paschoalotto, comandada pelo carioca Armínio Fraga, mais um dentre
tantos sendo, fazendo e acontecendo em tempos de pandemia: uns fecham, mas
outros, cada vez mais, abrem e abrem.
06. Em 30.07.2020: Marisa Fernandes circula de ônibus por Bauru, ida e volta
diariamente ao trabalho e posta ontem foto de aviso fixado no vidro ao lado do
motorista, réplica de tantos outros espalhados cidade afora, todos os pontos
comerciais, espécie de aviso prévio de lugares a serem evitados em tempos de
pandemia, porém inevitáveis para os trabalhadores necessitando ir e vir, porém
não respeitados pelos que quebram a quarentena sem plausíveis motivos e justificativas,
enfim, de que valem?
07. Em 31.07.2020: Lembrando do aniversário de Bauru, amanhã 124 anos, Tatiana
Calmon escreve de símbolos da cidade e aqui um esquecido, pouco falado:
"Na outra ponta da cidade, na Bauru oculta, aquela que os administradores
sabem existir, mas fingem que não, a cruz rasga o céu. A cruz do sacrifício, da
morte, da dor e da injustiça. Erguida no meio do Cristo Rei, cemitério
esquecido, largado, abandonado. Lotado de covas rasas, com tampas quebrados,
com o mato alto. Lugar sem muro, dando passagem aos cães, cavalos, gatos,
cabritos. O chorume dos corpos escorre pelo barranco e se junta ao esgoto a céu
aberto, que circunda a favela criada pelo prefeito. Assentamento primavera,
quase um bairro, segundo o mesmo. Quase um bairro. O Abandono do cemitério não
afeta apenas os assentados, mas, todos os moradores dos bairros próximos".
08. Em 03.08.2020: Fixados em alguns locais desta aldeia, posters, cartazes,
faixas e dois outdoors - como este em foto postada por Fabrício Bortoliero
Ventoice, na avenida Nações Unidas, com dizeres como "Nós,
bauruenses...", apregoam apoio ao Senhor Inominável, generalizando algo
não mais existente, pois após quase 80% de votos no insólito candidato, ampla
maioria já capitulou e hoje o renegam, engrossando o coro dos que o querem bem
longe do poder, enxergando nele e nos seus, motivos suficientes da atual
desgraça nacional.
09. Em 04.08.2020: Amostragem
bem nítida, na visão de Angélica Carvalho Alves publicada ontem em sua página
nas redes sociais, de como age e pensa muitos dos que possuem o rei na barriga,
representando parte da linha de pensamento a vicejar em Bauru: “Estão vendo
essa Fonte? Passei por ela hoje e estão arrumando. É do viaduto da Pedro de
Toledo, caminho da minha casa. Moro na Vila Falcão desde que nasci. 58 anos! Eu
amo aqui, cês acreditam? Nunca tive nada mal resolvido por morar aqui. Pois
é... Está engasgado na minha garganta, já faz um tempo... Uma prima bem
bolsonarista, lógico, me xingou bastante... pra ela morar na Vila Falcão é
xingamento, como se fosse me ofender. Eles tem barulho que são
"elite", acho mega engraçado. Acha que só Miami é vida, no fundo tenho
dó. Bastante! (...) Falou um monte... nem vou entrar em detalhes, nem citar o
nome claro, ela, a família toda e os coniventes com o pensamento dela são
totalmente bloqueados nas minhas redes sociais. Um lixo de pessoa! Sempre deu
valor a status, sobrenome e a quem ela teria algum benefício. Muito
interesseira desde sempre. Ahhh me chamou também de maconheira, logo eu que não
suporto, tenho horror a drogas, até um simples baseado. Pavor! E se esqueceu
que era cheiradora de primeira com os riquinhos que ela dava valor. Peguei a
Fonte como ponte! Doendo minha garganta. O pior é que tem pessoas que amo que
mantém amizade com ela. Perdoo ou não? Dá print logo antes que eu delete”.
BAURU NO FINAL DE TARDE
DOUTOR CAPITULANDO, MAS NÃO ME ENGANA NEM UM POUCO...
Voltei ao médico. Não digo qual, mas como a imensa maioria hoje em dia pensa quase de forma idêntica, pouco faz se pensarem ser um ou outro. Volto neste regularmente, pois cuidou bem de mim e no que precisei fui bem atendido. Até por causa disto pouco discuto, mais ouço. Ele não vai mudar minha forma de pensar e sei, nem eu mudarei a dele. Estamos em trincheiras bem distintas. Desta última vez, semana passada o danado me surpreendeu:
- Tudo bem Henrique, como vai de pandemia?
Este foi o mote para ter início longa conversa. Era o último daquele dia, daí prolongamos pouco mais a contenda.
- Como pode o país ainda estar se deixando ser guiado por Bolsonaro, hem? Que coisa, como pode? - me diz e fico estupefato, pois até então o tinha como bolsonariano. Tenho boas lembranças dele antes da eleição, me dizendo em alto e bom som da desgraça onde o país estava metido e da mudança tão necessária, algo novo, renovador despontando no ar, ele cheio de esperança. O danado capitulou e estava, ou me testando, quendo me ouvir ou estava realmente mudando de lado.
- Em casa passo poucas e boas, pois a esposa é evangélica e bolsonarista. Tento aos poucos ir mostrando a ela de onde estamos metidos, mas ela insiste e não muda. Domingo queria que tirasse da Globonews e assistisse a Record. Fiz o gosto dela, mas em dez minutos passou algo da vida do Tiririca, quando olhamos um para o outro e disse se era aquilo o que queria ver. Voltamos para a Globonews. (...) Eu li que essa CNN é comandada por um ex-executivo da Record e tem investimentos da construtora, a MRV. Li isso na Piauí.
- O senhor passou a ler a Piauí? Compra ela nas bancas? - lhe perguntei.
- Não, não tenho tempo para ler tanta coisa. Achei esse artigo na internet e gostei, pois tomei conhecimento de onde vem a grana deles. Minha mulher quer assistir isso e eu não suporto. Meus amigos médicos todos pensam igual a ela, se não são bolsonaristas, são todos contra a esquerda. Todos preferem o Bolsonaro ao que tínhamos. Eu procuro textos diferentes do que lia antes e tenho gostado.
- Perceber até percebem, mas não querem dar o braço a torcer. Eu fico sem com quem conversar. Tem coisas que não posso mais comentar com eles, pois não aceitam. (...) Você é professor, né? (confirmo). Pois bem, como pode o país continuar desse jeito? Esse pessoal do meu lado parece não perceber que vamos todos para o buraco se esse maluco continuar nos governando.
- Meu caro, ele não é maluco. Ele sempre pensou e agiu assim. Ninguém foi enganado. Bolsonaro não surgiu do nada, tem 30 anos de parlamento e nada fez, essa história de terem sido enganados não cola - lhe disse.
Falamos mais um pouco, mas não o provoquei, pois preciso voltar ali outras vezes. Falou mais e de tudo, creio ser conveniente ele fazer força em sua casa para modificar o posicionamento da esposa e ir dando um jeito de fazer os seus amigos enxergarem o beco sem saída logo na nossa frente. Saio de lá convencido de que, muitos como ele, estão capitulando, prontos para fazê-lo, querendo ouvir algo mais de nós, os que sempre estivemos contra no que eles votaram. Percebo que o caldo pode estar engrossando pros lados do Senhor Inominável, sendo minando aos poucos e já que, sem condições de irmos todos pras ruas e apressar a sua deposição, só de ir vendo como muitos já não o querem mais, cresce algo novo para sacá-lo de vez. Porém, não me enganam, se Bolsonaro cair, quererão em seu lugar algo de igual teor, talvez só menos direitoso, menos agressivo, mas da mesma forma neoliberal. Com estes não quero nem sentar numa mesa para tratar de acordos e alianças, pois sei terei sérias decepções. Sigo com os meus, mas ciente de que para derrubar Bolsonaro pelos meios ditos e vistos como legais, talvez precisaremos destes e eles de nós. Depois cada um volta para suas vidas e lutas. Nunca esperava ouvir dele o que ouvi naquela tarde.
Um comentário:
COMENTÁRIOS FACEBOOK RUMOS RÁDIO:
Zé da Barca - Saudades das saudosas Rádios Am éramos felizes e sabia s o tinha fera trabalhando abçs aos amigos.
Henrique Perazzi de Aquino - Estou reunindo dados para contar com mais detalhes a história destes tantos demitidos sumariamente de forma vil pelo cara que chegou para por fim a Auri-Verde e implantar o sistema dessa boçal Jovem Pan, que só consigo chamar de velha Klan. São muitas histórias e em breve as contarei por aqui com riqueza de detalhes.
Roberto Alves - Eu particularmente sou fã da equipe de esporte do Rafael Antonio e dos Js. agora sobre as am quantas saudades de varias radios de Bauru.que teve fim.
Henrique Perazzi de Aquino - Quem gosta de futebol não consegue ouví-lo pela Pan. Não é só inexperiência, mas também inabilidade. Já com Rafael Antonio Lisboa Mainini e o Jornada Esportiva, o de melhor temos e uma equipe reunindo todos os bons no assunto. Precisamos todos reforçar essa equipe dando-lhes melhores condições e isso pode ser conseguindo numa união de ouvintes e fãs.
Roberto Alves - Moro em Bauru desde 1961 quando comecei a companhar o nosso querido Noroeste e quantos narradores e reportes nós conhecemos nesse tempo todos de qualidades e noroestinos de coração.hoje nós não temos qualidade em ativa.e sim alguém querendo emitar muito mal.osnarradores famosos.e se torna ridículo vamos torcer para Bauru voltar ter as AMS c os craques da casa.
Dino Magnoni - Ora esse foi e e ainda é o projeto, usar a radiodifusão para mentir e alienar! A ditadura militar usou e abusou, a redemocratização não alterou nada, tanto que a globo e as demais rádios e televisões ajudar a eleger Collor, eleger e reeleger FHC. Lula e o PT poderiam ter enfrentado os oligopólios, mas contemporizaram e receberam em troca o golpe contra a Dilma, o lavajatismo, a prisão de Lula e a destruição de muitas lideranças do PT. Agora monstronaro et caterva, ou moro como sucessor...
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