10º AO VIVO LADO B COM ‘AMANDA HELENA’ E A RESISTÊNCIA DAS QUEBRADAS DO MUNDARÉU** Continuo na vigília pelo lutador de todas as horas, "nas ruas e nas lutas", Roque Ferreira, hospitalizado há mais de uma semana e ao passamento do imortal músico das quebradas, seu Zé da Viola. A gente continua persistindo muito por causa de gente como eles.
“Quebradas do mundaréu” é o termo utilizado pelo escritor e teatrólogo Plínio Marcos para designar o seu mundo, onde gravitava, vivia e extraia suas histórias. Muitos falam e escrevem deles – eu um destes -, mas poucos mesmo sabem de fato o que vem a ser isso. Só mesmo os que ali se situam, podem contar com muita cátedra dessas coisas acontecendo neste mundo, muito falado, pouco conhecido e por muitos rejeitado, repudiado e odiado.
AMANDA HELENA GIMENO DE SOUZA, 41 anos, três filhos (o primeiro teve aos 19 anos e o segundo aos 22) viveu boa parte de sua vida no “FIO NA NAVALHA” e não se envergonha disto. Foi assim que conseguiu ser o que é hoje e se posicionar na vida com a altivez que só quem já passou poucas e boas sabe fazê-lo. Isso de “quebrada do mundaréu” é pouco para ela, vida de resistência, persistência e insistência. Ela não se gaba de nada, não conta vantagem, não alardeia os enfrentamentos e disputas vida afora e neste domingo, 30/08, às 10h, através de minha página no Facebook, durante uma hora discorrerá sobre sua vida e sobre as entranhas deste mundo, dito e visto por muitos como MARGINAL, mas com uma conotação inaudita e precisando mesmo de espaços para ser contado por quem de fato nele se situa. A proposta é exatamente essa, a de ir além de sua história pessoal e nos apresentar como se dá essas relações do povo das quebradas com o mundo à sua volta.
Uma conversa pra lá de inaudita, mostrando aspectos da vida cotidiana da periferia, subúrbio, seus personagens, ações e práticas. Em uma hora ela vai nos dizer quem é AMANDA HELENA, mas muito mais que isso. “Tudo o que faço é por ideologia e paixão. O que tinha vergonha antes, hoje não mais”, me disse quando a convidei para este “Lado B – A importância dos desimportantes”. Em princípio de disse tímida, mas sei irá se soltar, pois vai nos aproximar de algo que todos precisam ao menos tomar conhecimento, a linguagem dos tais “manos e minas”, tão próximos e tão distantes de todos nós. Quem gosta de ruar, como eu, quer e precisa mais do que nunca entender, nem que seja um bocadinho, da vivência e linguagem utilizada nas ruas, não só nos cantos iluminados, como os com pouca luz e destaque. As linguagens são várias e ela me diz, ter conhecido muita gente boa pela aí. É isso que queremos extrair dela, algo para que conheçamos isso tudo e com conhecimento de causa.
Amanda é DIARISTA, esse seu ganha pão, mesmo tendo conseguido à duras penas concluir o curso de Direito, na Faculdade Anhanguera. Criou seus filhos assim e neste começo de ano, estava indo embora de Bauru para cursar História numa universidade pública em Nova Andradina MS. Ia, como sempre fez na vida, com a cara e a coragem. Teve que voltar atrás, pois a pandemia pegou a todos de calças curtas. Recolhida num canto desta cidade, segue vivendo fazendo faxinas e nas horas vagas POETANDO, vagando pelos quatro cantos, tirando de letra esse negócio de sobrevivência. Na antologia “Cães Bélicos” (nome de um dos seus poemas), obra do grupo Expressão Poética, na sua apresentação, algo mais que singular: “Escrevo para conter minha perplexidade diante da vida. Busco intensidade em tudo o que faço e sou apreciadora dos perdedores e invisíveis”.
Eis um algo mais, escrito por mim e publicado no blog Mafuá do HPA, como APERITIVO para o que virá na conversa dominical:
- Em 16.06.2020 publiquei: “Parece uma piada, um homem que nunca vi com bandeira do Brasil no perfil pedindo solicitação de amizade. Primeiro que só pelo patriotismo tacanho de nossos tempos não aceitaria, segundo que não aceito desconhecidos ou pessoas que não tenham ideias relevantes, terceiro que não tô a fim de conhecer ninguém e se pudesse desconheceria um monte, quarto que na hora que preciso ser eu de verdade tenho meus dois amigos íntimos que converso no wats e um por sinal nem face tem. Vaza !!! Aqui é antissocial até os dentes...”, Amanda Helena.
- Em 21.12.2019 publiquei: “A última história é do furdunço acontecido no Mafuá, encontro de final de ano do bloco Bauru Sem Tomate é Mixto. Empresto livros do acervo, marco quem levou e o nome da obra num caderno e o danado vai viajar por uns tempos, como deve mesmo acontecer com os livros. Desta feita quem levou um foi a Amanda Helena e o escolhido foi um com crônicas da Marilene Felinto, dos tempos quando atuava na Folha de SP como colunista, pouco antes de ser demitida por, segundo eles, esquerdizar demais da conta nos seus escritos. Ela se interessou justamente por aquele pelo simples fato de ir lendo as frases grifadas por mim. Fiquei todo orgulhoso quando a vi mostrando o livro pro advogado Laércio Donizete Gasparini e ambos, lendo as frases todas em voz alta. Levou por causa dos grifos, pois me disse não conhecer a jornalista”.
- Em 14.06.2019 quando escrevia sobre igreja neopentecostal onde um dia foi a Cervejaria dos Monges, ela escreveu: “Só não confunda neopentecostalismo com protestantismo reformado, um não tem nada a ver com outro.Sou cristã e faço questão de toda vez q vou a um ato denunciar os descalabros da religião e a manipulação de massas.Não pertenço a nenhuma igreja institucional, conheço gente séria e piedosa nesse meio SIM, mas muitas nesse pleito mostraram a que vieram. (...) Não curto igrejas famosas também, sou mais de uma reunião caseira com irmãos na fé.O único que deveria ser notado em um culto é Cristo...somente Ele. Falou q tem gospel famoso , congresso e toda parafernália de celebridade religiosa, nem passo na calçada, isso agride minha fé...”.
- Em 25.01.2019 quando escrevia sobre o descalabro bolsonarista em curso e a despedida de Jean Willys do país ela escreve: “Antes de aplaudir um parlamentar estar indo embora por conta de milícias é bom que os ignorantes saibam que ele elaborou e conseguiu aprovação de pls humanas visando favorecer os vulneráveis. E o "mito"??? É bom que o ignorante procure por si saber das pls que ele propôs durante 27 anos apenas pra favorecer milicos. Ignorante político é uma vergonha, vc pode até não gostar do Jean Willys, mas não seja um acéfalo. Se for mulher, não envergonhe o gênero....vai ler um pouquinho”, bacharel em Direito Amanda Helena.
- Em 06.12.2018 escrevi dela: “AMANDA FEZ UMA OPÇÃO DE VIDA, SOFRE, MAS NÃO SE VERGA - Essa história eu tomei conhecimento ontem, mesmo a conhecendo desde uns meses. Juntei as duas coisas e escrevo dela, ressaltando a força interior inerente a cada um em resistir a tudo o que nos acontece nos tempos atuais. Cada um reage de uma forma, a dela é salutar e merece o destaque. Primeiro conto de um pedido de socorro, algo feito por ela nos últimos dias da campanha eleitoral. Ela estudante de Direito na Anhanguera e vendo o ambiente dominado por bolsonaristas, clama ajuda para algo defronte a universidade. Uma turma vai até lá e junto dela, recebe os estudantes numa noite. Todos puderam conhecer um bocadinho do que se passa por lá e melhor que tudo, conhecemos melhor essa resistente lutadora. AMANDA HELENA GIMENS DE SOUZA, divorciada, mora com o filho de 20 anos, numa casa de fundos, extenso corredor, defronte onde foi um dia o Cadeião da Baixada. Vive uma vida digna, porém dura. Inflexível em seus valores diz ter tomado uma decisão tempos atrás, a de não se vergar mais e ciente dos problemas advindos disso, paga o preço. Trabalha e ganha algum no que aparece, mas antes analisa se a pessoa não é um algoz, opressor e se for, desiste de imediato. Faz de tudo um pouco, desde trabalhos escolares, faxinas, bicos em eventos e esporádicos variados. Tem curso de Gestão em Segurança Pública, exerceu por anos a função de inspetora de alunos, mas ultrajada se exonerou e foi tentar viver a vida sem ninguém lhe diatando ordens. Conclui por esses dias o curso de Direito, junta tudo e segue acreditando ser possível. Criou os filhos, viveu intensamente a vida e após passar pelas mais diferentes e variadas experiências profissionais, deu uma guinada e um bicudo no que lhe oprimia. Tenta ao seu modo e jeito sobreviver sem se vergar, sem ser humilhada e ser obrigada a ser subserviente a tudo o que representa esse cruel e insano sistema político onde vivemos. Consegue seu intento há duras penas e assim segue altaneira, uma pessoa cheia de luz, muito gás próprio, resoluta e decidida. Pessoas fazendo das suas para seguir caminhando com o devido brio, olhos muito brilhantes são um encanto nesse mundo cão. Quando tantos (as) se vergam, se deixam levar, se vendem por tão pouco, tomar conhecimento da história dos que resistem é algo para recarregar as baterias dos ainda resistentes”.
EIS A SEGUIR A LINK PARA ASSISTIR O BATE PAPO POR INTEIRO:
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