sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

DIÁRIO DE CUBA (24)

ANA E JUDITH, DUAS PROFESSORAS E SEUS RELATOS
Terceiro relato do dia 14/03/2008, sexta, o 7º dia em Cuba, de um total de 19. Estamos, eu e Marcos, em Santa Clara, nossa primeira incursão pelo interior da ilha, após 5 dias na capital, Havana. Após o entusiasmo com os estudantes na praça, caminhamos para o lado oposto ao que estávamos. Subimos as escadas da antiga sede do Governo Provincial, absortos pela grandiosidade da construção e quando demos por si estávamos diante de Ana Delia Monteaqudo, diretora da Biblioteca Provincial Marti, 44 anos e 26 trabalhados naquele local.

Sua simpatia em nos receber foi envolvente e fui anotando algumas de suas frases no papo em sua sala: “A coisa mais importante em Cuba é o ser humano. (...) Santa Clara é a região de Cuba que mais possui bibliotecas. (...) Para o nino toda a atenção. Não existe um só nino sem estudar em Cuba. (...) Nesse país só não estuda quem realmente não quer. Até nossos detentos cursam universidades, tendo seu tempo ocupado com coisas boas. (...) O cubano que sai para trabalhar fora do país, como os médicos, voltam mais fortalecidos, pois vivenciam os problemas sociais do mundo, que aqui não existem. (...) Quando fui num curso no Chile, estive num lindo hospital, com tapetes lindos e só me atenderiam se tivesse dinheiro para pagar. Aqui nada pagamos pela saúde e educação. (...) Raul diz que teremos que trabalhar mais para continuar possibilitando isso. A superação é muito importante. Conduzir o processo é muito difícil. Não podemos permitir retrocessos, existe uma grande batalha contra isso. O caminho é sempre muito difícil, mas temos que seguir sempre caminhando”.

Seu relato de vida nos contagia. Começou trabalhando na limpeza do local, esfregando o piso, acreditou no que fazia, estudou muito e hoje é a diretora. Algo de seu relato, da mesma forma que nos impressionou, também a ela, quando ouviu de seu filho: “Ele tem 13 anos e me mostrou a necessidade do turista vir até aqui, consumir, gastar e trazer divisas para nosso país. Impedindo que o turista entre, deixamos de receber divisas. Gostei demais de suas conclusões. Esse é um dos nossos maiores problemas”. Somos apresentados a outras professoras, Marta, Norma, Judith e Cristina.

Judith Quesada Mirauda, 66 anos, foi mestra de todas as demais ali presentes, também nos fez um relato dos mais apaixonantes sobre o trabalho realizado por elas nas prisões, envolvendo literatura, debates, pintura, dança e o principal, um trabalho com a família. “Imaginem um trabalho em cima da Divina Comédia de Dante e o Pequeno Príncipe. Fazemos isso. Preparamos para o salto em suas vidas quando retornarem à liberdade. (...) Os EUA proclamam tanta igualdade, mas não a praticam. O discurso nosso não pode ser o dos outros. A tarefa primeira da revolução foi alfabetizar. Hoje a ilha inteira é uma grande universidade. O fenômeno de nossa cultura se dá de forma comunitária. (...) Quando adentramos uma nova área a ser conquistada, nada deve ser imposto violentamente, pois dessa forma tudo é mais difícil. Vamos explicando devagar, com calma, paciência, usando muito a razão. (...) A tarefa educacional é muito linda, mas muito dura. Aqui se fala, se conversa de tudo, isso com Fidel e continuando com Raul. (...) Estudo, trabalho e fuzil foi o meu lema durante muito tempo. Cada país tem sua realidade e não se pode copiar um do outro. Hábitos de um povo não se modificam de um tempo a outro. Trabalhar com a tradição de um lado e a medicina de outro. (...) Em uma guerra tem que haver disciplina. Um barco tem que ter um comandante”, conta a professora Judith, licenciada em Economia e morando numa casa construída em 1810.

Desde que chegamos foi esse um dos momentos mais maravilhosos vividos em Cuba. Tivemos uma verdadeira aula, ou melhor, duas aulas, primeiro com Ana, depois com Judith. Voltamos para o hotel por volta das 19h15, levando para o quarto um tradicional refresco de limão (dois pesos) e na cabeça a confirmação de que o sonho da ilha é mais do que possível. Trata-se da mais pura realidade. Precisavam ver a cara de contentamento do Marcos. Ele não se continha. Dia cansativo e na programação para amanhã, uma visita a uma escola logo às 8h. Dormimos como anjos, coisa que decididamente nunca fomos.
DICA DE LEITURA (34)

FAUSTO BERGOCCE ME FALA DE ÉDOUARD BAILBY E O SAMAMBAIA
Cá estava em Itapuí na tarde de hoje, bem diante da Itabom, fotografando as ruínas de uma antiga estação da Cia Paulista de Estradas de Ferro, para um projeto férreo naquela cidade (falo disso mais adiante), quando toca o celular. Do outro lado FAUSTO BERGOCCE (esse macanudo aí da foto), amigo cartunista lá de Sampa a me pedir um favor delicioso. Ciente de que leio semanalmente Carta Capital, diz que acabara de receber uma ligação de Paris (que luxo!), de um amigo francês, que durante muitos anos residiu no Brasil, o tal do ÉDOUARD BAILBY. O havia revisto quando o visitou por lá no ano passado. O francês diz que deve ter saído por esses dias uma reportagem na revista brasileira sobre sua passagem pelo Brasil e o lançamento de um livro sobre o período, o SAMAMBAIA (saiu na edição 532, de 11/02 e a explicação dos motivos desse título são ótimas). Confirmo haver lido o texto e então ele me pede para escanear e lhe remeter pelo e-mail. Faço isso, mas reproduzo o mesmo aqui, pois ao lê-lo havia batido uma imensa vontade de ler também o tal livro e conhecer um pouco mais da vida e dos anos vividos em nosso país por esse francês de ótima cepa. Com o título de 'UMA DOCE REBELDIA", ocupando a seção Plural, escrita por GIANNI CARTA e com o subtítulo "Édouard Bailby narra aventuras pelo Brasil da tortura, do cangaço e da floresta". Li e e me deliciei. Grifei em amarelo uma frase deliciosa de quando Stroessner, o ditador paraguaio exilado no Brasil tenta o impressionar falando sobre flores. Bailby relata sobre o fato: "Como Franco e Pinochet, Stroessner ia à missa todo domingo". Publico as duas páginas da reportagem aqui (para ampliá-las basta clicar nelas, que elas ficarão imensas na tela) e acho que o amigo MINO CARTA não vai ficar bravo comigo por fazê-lo sem sua autorização, afinal a coisa que mais faço é divulgar a revista por aqui e nesse caso, também o livro, que têm a minha cara e a dos leitores da revista. Espero que gostem, como eu gostei. Dica do velho e bom FAUSTO, um caipira como nós, daqueles que não esquece de ligar constantemente só para dizer que dia desses aparecerá para um chopp. Desse jeito eu não "desembarrigo" nunca.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

UM COMENTÁRIO QUALQUER (34)

NEWTON CARLOS ME FEZ ENTENDER A AMÉRICA LATINA (naquele tempo, LATRINA)
A nota foi publicada da forma mais laconica possível: "FORA DO AR: A Bandeirantes não renovou o contrato com o jornalista Newton Carlos. Aos 81 anos, ele é o decano dos correspondentes internacionais brasileiros, especializado em América Latina. Uma das marcas louváveis na vida dele é a de ter sofrido discriminação profissional durante a ditadura militar e jamais ter reivindicado qualquer reparação". Tenho pouco a dizer dele, mas aprendi muito lendo seus textos, primeiro n'O Pasquim. Ali peguei gosto e comecei a me interessar mais pelos assuntos de nossa América Latina. Foi com grande prazer, que logo a seguir o vi no Jornal de Vanguarda, na TV Globo e depois em vários outros jornalísticos na TV Bandeirantes. O velhinho possui um texto primoroso e ouvi-lo na TV, dissecando algo sobre esses nossos eternos problemas são coisas que jamais me sairão da mente. Tenho aqui comigo no mafuá somente um livro seu, o "América Latina Dois Pontos", uma coletânea de crônicas políticas, todas publicadas n'O Pasquim (saiu pela Codecri, em 1978 - tinha 18 anos quando o comprei). Adorava também o desenhista que o acompanhava no semanário, o Calicut, que depois fiquei sabendo chamar-se Jorge Arbach. Também tenho um livro do Calicut aqui no mafuá, o "Penso, logo insisto", de 1985. Esse desenho da lagrima latina de sangue é dele. Fazia tempo que não via mais o Newton por aí e do Calicut, desde os áureos e inesquecíveis tempos do bom JB, perdi de vista. Newton foi alguém que me fez seguir uma trilha, a de enxergar em cada latino um irmão. Não sei se depois da saída da Band, continua por aí (gostaria de saber - se não me engano tem uma coluna no Bafafá, lá do Rio), mas de uma coisa tenho certeza, a nota lida me fez retirar o livro empoeirado da prateleira e ler aquilo tudo de novo.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

MEMÓRIA ORAL (61)

FUGINDO DO CARNAVAL PARA O MATO
Tem quem goste do Carnaval e por nada nesse mundo arreda pé do que ele proporciona. Tem quem fuja dele e prefira descansar em casa. Outros, com mais recursos, viajam para bem longe. Os que necessitam ficar aqui por perto, ou estando com os recursos mais do que escassos e não agüentando o calor, o clima modorrento de Bauru por esses dias, procuram alternativas variadas para passar esses dias. Uma das saídas ainda são os rios espalhados pela região. Todos são muito procurados, principalmente nos finais de semana. Fui conhecer um desses locais, talvez um dos menos conhecidos e conto aqui o que presenciei.

Manhã de domingo de carnaval, acordo pouco depois das 10h, após uma noite bailando. Sol a pino lá fora, o telefone toca e uma amiga me convoca: “Venha conhecer a cachoeira do Babalim. Não vai se arrepender. É um recanto parasidiaco. Vou nesse momento”. Não me deu tempo para pensar. Fui. O caminho me é conhecido. Passo por ele todas as vezes que vou ao rancho de um ex-cunhado (ex-cunhado, para mim, continuará sendo sempre cunhado). Sigo pela estrada de Arealva até a entrada de Santa Izabel, um pequeno bairro rural dessa cidade. Ali, entro à direita. O asfalto termina na vila e são mais uns quinze quilômetros de terra. Chão batido, sem problemas. Passo por uma primeira cachoeira, lotada de barracas e fumaça subindo aos céus. Toco em frente.

Mais alguns quilômetros, uma placa com os dizeres, “Cachoeira Babalim”, indica que chegamos ao local. Difícil foi encontrar lugar para o carro na sombra. Veículo estacionado, uma outra placa indica uma das únicas regras a serem seguidas por ali, “Proibido trazer garrafas e copos de vidros para o rio”. Eles não cobram nem para estacionar, muito menos para freqüentar o local. Tudo de graça, mas o consumo de bebidas terá que ser feito no local. A comida eles até fazem vista grossa, pois só servem almoço se for feita reserva antecipada. O lucro dos proprietários está nesse consumo.

“Nosso negócio vai sempre bem quando o tempo está bom. Com tempo bom, todo o resto estará bom. Inauguramos o local como área de lazer e comércio há pouco mais de onze anos e vamos melhorar a cada dia”, diz Roberta Babalim, uma jovem de pouco mais de 20 anos, que administra o local com o marido, Ronaldo Babalim. Tempo bom para eles é um sol quente e forte como o instalado no céu naquele dia. A mãe dela, Lady Di, como gosta de ser chamada, supervisiona tudo, mas passou o bastão para o jovem casal. “O Vandir, meu marido, morreu e herdei dele o apelido Di, o nome Lady é meu mesmo e não tem nada a ver com o da rainha inglesa”, acaba me explicando o significado do seu nome.

Fomos ver o rio e uma corredeira das mais agradáveis. O rio é estreito, não passando de uns cinco metros de largura e raso, com água batendo pela canela. Alguns poucos baciões aumentam sua profundidade. O diferencial do local são as pedras, propiciando uma corredeira, onde se pode desfrutar de posições inusitadas para o banho de rio. “Ali no meio das pedras é como se fosse uma cadeira de descanso, você senta no meio delas e a água escorre, pelos lados, ficando só com parte do ombro e a cabeça para fora”, me conta um freqüentador do local. Experimentei e não mais queria sair dali. Andar pelo leito do rio não oferece risco, mas alguns cuidados. Andando devagar, não ocorrerão surpresas. No todo o local é muito bom e nas margens do rio, um gramado fofo, como uma espécie de acolchoado, propicia o estender das tolhas e o desfrute do sol. Com moderação, como afirmam os médicos em relação aos raios solares. Observamos um banhista com as costas todas vermelhas e imaginamos o sofrimento que terá nos próximos dias.

Os freqüentadores, na sua grande maioria, são constituídos de pessoas simples, das camadas periféricas de várias cidades da região. Muitas famílias e algo que chama muito a atenção. Os homens, quase todos, usam bermudões e as mulheres, poucas se arriscam a usar biquínis. É estranho vê-las usando um short por cima da peça de baixo e até uma camiseta por cima do sutiã. Durante as quase três horas que por ali permanecemos, nenhuma briga, só diversão. “Aqui não acontece quase desentendimento, muito menos problemas. Na maioria são famílias e grupos pequenos de pessoas. Tanto que não recebo a cada venda feita. Abro uma espécie de conta, vou marcando e me pagam na hora de ir embora. São poucos os casos em que preciso ir correndo atrás de alguém na saída”, conta Ronaldo Babalim.

Num dia como aquele, acredito que estavam ali umas cem pessoas. Quase todos desfrutando das benesses das águas do Ribeirão Bonito, o nome do rio. Quero saber sobre a poluição das águas e quem me explica são os dois proprietários, de forma alternada: “Aqui não existe poluição. O rio nasce logo ali perto de Santa Izabel. Não passa por cidade nenhuma e nenhum esgoto é jogado nele”. Minha companheira na viagem, Gisele Pertinhes, freqüentadora habitual do local, me faz comer os pastéis, especialidade da cozinha caseira. “Aqui quando alguém quer almoçar, tem que avisar cedo. Fazemos uma galinhada, criada aqui mesmo, tudo caipira, com polenta”, conta Ronaldo.

Roberta cuida de detalhes mínimos do local. Defronte o balcão do “Bar Balim”, montou uma banca de flores do local, expostas em pequenos vasinhos e ao fundo, ocupando um outro barracão, algo que chama muito a atenção, um museu. Escrito com letras desiguais, um pequeno reservado está repleto de peças rurais, desde antigas rodas de carroções, a esporas, bules, chaleiras, cumbucas, panelas de ferro e até purungas. “Juntei tudo, mas ainda preciso melhorar o local. Falta uma identificação das peças, preparar melhor a apresentação”, relata Roberta. Ambos acreditam muito no futuro do local, tanto que participam regularmente de reuniões do SEBRAE sobre Turismo Rural. Trazem livros, apostilas e até uma cartilha impressa com atrações da região, onde o local merece destaque.

Antes de sairmos passamos no meio de um bando de marrecos e patos, todos muito juntos. Num viveiro algumas aves permitidas de permanecerem em cativeiro e um campo de bocha do outro lado do bar. Os atrativos são muitos e o maior deles, o rio, suas águas tranqüilas e diferenciadas. Visual bonito, recanto de muita paz e tranqüilidade, ótimo para recarregar energias. E assim, recarregados, nos despedimos dos novos amigos feitos por lá e voltamos para desfrutar dos resquícios carnavalescos. Voltar é algo que, com certeza, acontecerá mais cedo do que se espera.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

DICAS DE LEITURA (33)

O QUE FAÇO (E LEIO) DURANTE O CARNAVAL
Pular e continuar procurando onde encontrar um carnaval cada vez mais em extinção é o que faço nesses dias. Fujo de ritmos outros que não as marchinhas e sambas enredo nesse período. Acho uma verdadeira aberração um caminhão de som patrocinado por um órgão público tocar lambada, axé, pagode ou sertanejo durante o carnaval. Se um baile num determinado local toca isso, até aceito, só que minha reação é nem passar perto. Fujo para bem longe. Procuro carnaval de verdade e fui ao encontro dele. Encontrei no baile de sexta (Paulo Keller cantando), na Luso e ontem na avenida Nações Unidas, com a abertura dos desfiles de rua, junto aos blocos “Peruas e Malandros” e o que estava presente, o “Amigos da Folia”. Levamos um CD só com marchinhas e o emprestamos para o pessoal do caminhão de som. Foi nossa salvação, pois do contrário, teríamos que descer ao ritmo de um axé daqueles "bravos". Seria o caos. Mas deu tudo certo. Ano passado sete mil pessoas estiveram nas ruas na reativação do carnaval de rua em Bauru e nesse ano falam em mais de dez mil pessoas. Uma evolução que sai incendiar essa cidade no ano que vem.

No fim do desfile, um papo longo com o Beto Grandini, meu primo e um dos remanescentes dos nossos antológicos carnavais de rua. Veio conferir in loco essa reunião de escolas, numa espécie de blocão. Olhando para a avenida fui perguntar se havia possibilidade dele voltar a participar. Sua resposta foi clara: “Com esse pessoal que está aí nas escolas, nem pensar. Se não mudar tudo, muitos não voltam nunca mais”. Não é preciso entrar em detalhes. A festa tem tudo para emplacar, mas como fazer isso, com as mesmas estruturas que a deterioraram. É um beco sem saída. Ou melhor, de difícil saída. Porém, ela existe. Como em tudo na vida, para mudanças é necessário coragem e determinação naquilo que se quer.

Saio da festa e passo a maior parte do tempo aqui dentro do mafuá. Dias de paradeira, escapuli uma tarde para uma cachoeira, fui duas vezes ao cinema com o filho (Operação Valquiria e A Pantera Cor-de-Rosa 2) e no mais permaneci enfurnado aqui dentro desse pequeno espaço. Computador plugado em alguma rádio distante, papéis espalhados por tudo quanto é canto e ventilador ligado quase que ininterruptamente. Mas, o que ler? Qual a prioridade? Fui acumulando revistas, jornais e livros em cima das mesas e até da cama, todos iniciados e o período é mais do que propício para tentar colocar a leitura em dia. As três últimas edições da revista semanal Carta Capital, duas das mensais Brasileiros (uma beleza de reportagens) e Piauí (cada vez mais defendendo o neoliberalismo), além de textos recortados dos jornais estão à minha espera. Faço de tudo um pouco, uma entrevista com Muricy e Silvio Luiz na Brasileiros, um perfil da Laurita Mourão e uma Carta de Gaza na Piauí e as últimas do caso Battisti e do Brasil, segundo Darwin, na Carta Capital. Um livro a ser terminado até quarta, “Processos-Crime: Escravidão e violência em Botucatu” e um outro a ser iniciado, sobre as “Mulheres que foram à luta armada”. Fora isso, comprei até agora, os seis fascículos da coleção da Caros Amigos (serão dezesseis no total), “Os Negros”, todos maravilhosos e não li nenhum. Estão na fila. Deleito-me com tudo isso. Pena ter sono e não dar conta.

Deixo de ir num baile em Santa Cruz do Rio Pardo na segunda, lá no Icaiçara, onde fui convidado e passo boa parte da noite com o som da TV ligado, a me lembrar que o carnaval não terminou. A bagunça por aqui continua como dantes. Afinal, como colocar ordem em algo, se existe muita coisa a ser lida antes? Priorizo a leitura e não páro de escutar os velhos bolachões de MPB. Os jornais acumulados aguardam um repasse, onde recorto alguns textos antes do descarte. Meu filho me deixou dois filmes aqui e quer debater algo sobre eles comigo. Terei de assisti-los nos intervalos. Preparo também uns textos antecipados para o blog e uns projetos para minha atividade profissional (tenho que viajar para Duartina, Guaiçara e Dourados nessa semana). Tenho também contatos marcados para esses dias, com o pessoal do SOS Cerrado, dos Amigos dos Museus e da reativação do CODEPAC. Sem contar que não abro mão de uma leitura rápida diária nos sites do Página 12 argentino (que jornal porreta), do Carta Maior e uns blogs de gente que prezo. Sai hoje cedo para comprar mais um jornal e trouxe a última Caros Amigos, mais gordinha, com uma chamada sobre os 50 Anos da Revolução Cubana. Não resisti. Começo um aqui, logo paro para ler outro e assim esses dias de feriado vão se esmilinguindo. Quando me der conta, sei que terá chegado ao fim. E se esse texto saiu comprido demais, deve-se também ao maior tempo ocioso que estou tendo nesses dias. Paro por aqui e me enfurno na rotina nada estabelecida a que me propus nesses dias. Quatro dias e meio passam muito rapidamente. E deles quero tirar o maior proveito.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

COLUNA DO JORNAL BOM DIA (09) E UMA ALFINETADA (49)

RÁDIOS COMUNITÁRIAS - Esse saiu publicado no Bom Dia de 21/02
Participo há mais de dois anos das discussões sobre Rádios Comunitárias dentro do FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação), seção Bauru. Ele é dos mais discutidos, polêmico por natureza. Só aqui em Bauru já funcionaram mais de vinte. Somente uma está funcionando sem aparentes problemas. Muitas aguardam a legalização.

Dias atrás o presidente Lula, que agia com lentidão diante do tema, fez um belo pronunciamento e enviou um projeto de lei ao Congresso propondo a sua descriminalização. É a sensatez que todos os interessados esperavam de um presidente que já havia assumido ajudar o setor. Quem estava em compasso de espera, acordou.

Pelo projeto, operar rádio sem licença deixa de ser crime e os responsáveis responderão apenas a um processo administrativo. Isso gera um conflito de interesses com a politicagem do Congresso, mas chega em muito boa hora. Hoje, mais de 20 mil pedidos de outorgas dormitam na lenta burocracia do Ministério das Comunicações. O mérito é o fim das punições na esfera criminal. Seu funcionamento deixa de ser crime, mesmo ela estando em desacordo com a lei.

O FNDC precisa mais do que nunca voltar a se reunir, agrupar os interessados, separar o joio do trigo, prestar esclarecimentos e ampliar a discussão sobre a real possibilidade da disseminação livre de cultura, informações e entretenimento sem fins lucrativos. Ganhamos todos com isso.

COOPERATIVAS - Esse saiu n'O ALFINETE, junto com o das Rádios, na edição de 21/02
Estive em São Paulo na quarta, 18/02, participando de uma Audiência Pública na Assembléia Legislativa com o tema, “Cooperativas X Poder Público”. Um tema dos mais interessantes. O Brasil ainda não dá a devida importância para o sistema de cooperativas, ainda não entende direito que quem manda numa cooperativa é o seu cooperado e que com ela existe uma imensa possibilidade dele emplacar seu negócio de uma forma mais digna.

A experiência do setor é de aproximadamente 150 anos e precisa ser respeitada. O Governo do Estado de São Paulo age na contramão e estão numa fase de marginalizar algumas com as quais mantêm relação. Autoritarismo puro e não participando do diálogo, jogam contra, mostrando bem suas intenções para o setor. O trabalhador precisa procurar alternativas para continuar atuando de forma organizada, para melhor exigir e também cobrar. Tem quem tenha muito medo de ver trabalhador organizado.

O Projeto Guri é um ótimo exemplo do que falo. Sempre funcionou a contento, com gente dedicada e eficiente. O governador Serra alegando uma necessidade de seletizar os instrutores, faz um novo Concurso, exclui gente atuante e impõe novas listas. Não está nem aí para a real qualificação do setor e muito menos com as demissões ocorridas. No mínimo teriam que beneficiar as pessoas que já atuavam no setor. Errou e feio. Pior que isso, não aceita nem discutir. É um retorno aos anos obscuros, sem diálogo.

Conhecendo a fundo sua doutrina chego à conclusão de que ela é perfeita para a sobrevivência do nosso país, um modelo dos mais válidos e legítimo de trabalho. Para entender melhor isso tudo acessem o site da Cooperativa Cultural Brasileira: http://www.coopcultural.org.br/

HPA, 48 anos, daqueles que não se importam com a cor dos seus olhos, desde que vejam algo além dos jogos de futebol e revistas de mulher pelada. OBS.: As fotos são minhas. Numa delas, parte de alguns bauruenses lá presentes. A mesa foi composta por depª Célia Leão PSDB, Carlinhos de Almeida PT, Rui Falcão PT, Pedro Tobias PSDB (ficou pouquíssimo tempo), Marília Lima (presª CCB), Carlos Zimber (pres. Coop. Músicos), Inácio Moares (pres. Sind.Cooperados) e Fábio Nogueira (Secretário Cultura de Presidente Prudente).

domingo, 22 de fevereiro de 2009

UMAS MÚSICAS (41)

EDUARDO DUSEK E SUA POLITIZADA IRREVERÊNCIA
Desde que escutei as primeiras letras do Dusek (hoje prefere o Dussek, com dois "ss"), gostei e passei a comprar seus discos. Tenho 5 LPs e 1 CD dele. A primeira fase de sua carreira, com as letras irônicas e cheias de muita malícia, além de jogar na nossa cara o problema social do Brasil são todas ótimas. Todas elas nos davam um toque, meio que sem querer, mas que sempre me chegou bem lá no fundo. Cantei várias delas. Depois, decaiu um pouco e seu último CD, o "Adeus Batucada - sings Carmem Miranda", junto com Beto Cazes e Chico Costa, de 2000, está magistral. Toca muito na minha vitrolinha aqui no mafuá. Quem não se lembra do Dusek num festival da Globo, quando ia cantar uma música selecionada para o evento e saca um sucesso seu. Era tudo ao vivo e a Globo engoliu aquilo em seco. Depois foi perdoado e cantou outras poucas vezes por lá. O fato é que Dusek está de volta em Bauru, tocando no Carnaval do Alameda (um luxo). Aqui em Bauru o assisti no SESC em maio de 2004, depois voltou duas vezes, ambas no Alameda (estive em ambos) e agora, em pleno Carnaval.

Relembro aqui alguns trechos das letras que fizeram minha cabeça:
INJURIADO: "Fui à macumba/ pedi baixa no emprego/ me internaram numa clínica/ eu depois fui viajar/ quando voltei/ foi então que pude/ constatar/ que não adianta fazer nada/ pressa coisa melhorar/ então melhorei".
CANTANDO NO BANHEIRO: "Cantando no banheiro/.../ Papai bate na porta/ A maçaneta entorta/ E eu não abro,/ Mas eu não abro./ Não adianta ninguém da família/ pedir para entrar/ pois não pretendo nenhum dos meus hábitos modificar...".
O PROBLEMA DO NORDESTE: "O problema do Nordeste, menina/ É não ter piscina/.../ Dona Florinda vê porque/ Que os políticos não.../ Azulejam logo nosso sertão/ Pois com um pouquinho mais de bom gosto/ um pouquinho mais de know-how/ Não seria esse desgosto/ Esse tosco visual".
ROCK DA CACHORRA: "Troque seu cachorro por uma criança pobre/ Sem parentes, sem carinho, sem rango e sem cobre/ Deixe na história de sua vida uma notícia nobre".
BREGA-CHIQUE: "Doméstica, ela era doméstica/ Sem carteira assinada/ Só caia em cilada/ Era empregada doméstica".
MALDITO DINHEIRO: "...Maldita segunda-feira, em que eu tive que aprender/ Maldito dinheiro! Dele todos dependem/ Maldita segunda-feira, em que eu tive que aprender/ Que nem todos no mundo são como gostariam de ser".
AMIZADE: "Enquanto o mundo e a humanidade balançarem/ E a natureza castigada perdoar quem só procura pelo mal/ Enquanto irmão quiser a morte de outro irmão/ Dilacerando corações na terra/ provocando a dor, a guerra e a destruição".
Isso é só o começo, Dusek falou de tudo em suas músicas. O tenho como uma peça importante na nossa MPB. Fez história e continua em plena atividade. Bato cartão quando por aqui aparece.