quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

UMA FRASE (27)

O MINISTRO RESSUSCITA A KOMBI
O presidente do STF – Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, o mandarim (ou seria coronel?) de Diamantino MT, fez e aconteceu esse ano. Acusou injustamente e sem provas o delegado chefe da ABIN – Agência Brasileira de Investigação de manter um supersistema de espionagem, o tal “estado policialesco”. Tudo caiu por terra, pois nada disso existia de fato. Foi mais um balão de ensaio, uma medição de forças. No caso dos dois habeas-corpus de soltura do Daniel Dantas, foi a grande vergonha para a justiça brasileira. Algo escabroso, que ainda deverá merecer (um dia,quem sabe) um melhor esclarecimento, pois um dos acusados chegou a afirmar categoricamente que seu chefe “não possui problemas no STF”. Chegou a insinuar um pito no presidente, como se seu telhado não fosse mais de vidro do que o do "sapo barbudo". Mendes é a arrogância em pessoa e no final do ano soltou uma frase para lacrar a tampa do caixão de vez. Ao ser questionado sobre críticas sofridas durante o ano, considerou que a maioria dos “protestadores” são pessoas de ficção”. “Essas pessoas não existem, são pessoas de ficção na maioria delas. Eu disse: esses protestantes, esses protestadores, não conseguem encher uma Kombi”. E assim, para começar o ano, deixo uma sugestão de uma procissão, uma romaria, uma passeata de Kombis, todas lotadas. Já imaginaram uma ilustração de uma Kombi com gente saindo pelo ladrão, com uma frase do tipo: EU SOU UM DOS “PROTESTANTES” DA KOMBI. Vai vender como água... Gilmar Mendes ganha com larga vantagem o Troféu PERSONA MAIS INDESEJÁVEL DO PAÍS, um canastrão que não faz falta nenhuma e mancha a Justiça Brasileira. Batam na madeira (toc toc toc).

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

CHARGES ESCOLHIDAS A DEDO (11)

OS IRMÃOS CARUSO
Esse manos gêmeos, dois mestres no ofício de desenhar são duas raridades no mundo do traço. Ambos possuidores de um traço inigualável, são dotados de uma criatividade divinal. Conheço a ambos só de bater os olhos e os acompanho desde os idos dos anos 80. Tenho alguns livros de ambos aqui no mafuá e publico a capa de dois aqui, os primeiros, só para mostrar o quanto admiro a dupla. Acompanho a ambos com muita atenção. Só para sentirem o talento e a competência de ambos, nesse momento, Paulo Caruso publica charges no Jornal do Brasil RJ e o mano Chico Caruso no jornal O Globo RJ. Ambos, lado a lado, na Cidade Maravilhosa, encantando e cantando. Isso mesmo, ambos além do traço, cantam. São versáteis a dar com pau. Olhem só para a capa dessas raridades que possuo. O "Não tenho palavras" é do Chico, Circo Editorial, ano de 1984 (a charge do Jânio é antológica e hoje mesmo, que tomei umas as mais, devo estar andando igualzinho o passo atravessado do político que gosta de tomar umas) e o "As mil e umas noites" é do Paulo, também da Circo Editorial, só que de 1985 (Nossa elite é assim, cruel e inútil, igualzinho ao quadrinho). Final de ano, cabeça a mil, nada melhor do que reviver o que esses dois desenharam vinte anos atrás. Havendo interesse em ver o trabalho atual, abro os sites do JB e do Globo. Já presenciei a ambos cantando (em separado, aqui mesmo na terrinha). No traço são inigualáveis. Livro não foi feito só para leitura. Uma leitura de um livro de desenhos me toma tanto tempo quanto a um com palavras mil impressas em suas páginas. Divagar e preciso, e necessário.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

CENA BAURUENSE (17)
NO ESPOUCAR DOS FOGOS: DUKA ENFORCOU-SE (DESSA VEZ, PARA SEMPRE, SEGUNDO SUAS PALAVRAS)

Duílio Duka de Souza, o professor de História, o ativista político, com toda sua vida dedicada à questão sindical, social e da causa negra, com cinqüenta e tanto anos no lombo, quatro lindos filhos (Vinicius, Dudu, Felipe e Marília), quase sem cabelos no cocoruto (uma cicatriz de cacetete policial na testa. Lembram-se?), físico de faquir, resistência de ferro, meu melhor amigo, após anos e anos naquilo que muitos denominam de“concubinato”, resolve oficializar o compromisso. Ele, e sua inseparável (e insubstituível) Rosana Zanni acabaram por subir ao altar. Ela, de Botucatu, fez com que uma comitiva fosse montada, pois a festança ocorreu lá, distante 100km de Bauru. Lotamos uma van e partimos para o acontecimento social do final desse ano. Fomos conferir in loco a veracidade da informação. Era a mais absoluta verdade, Duka e Ro montaram altar e oficializaram o enlace no civil e no religioso, com direito a uma festança de dar gosto, no salão de festas do CPP – Centro do Professorado Paulista, ocorrido no último sábado, 27/12. Deixaram todos entrar e fecharam as portas, que só foram abertas (baita calor) quando tudo estava mais do que consumado. Foi lindo ver cada filho entrando como padrinhos, ex-esposa atuando como fotógrafa e ele na maior estica, incólume e resoluto. Um verdadeiro lorde do Gabão. Duka é uma das pessoas mais sinceras que conheço. Adoro ele e vendo-o feliz daquele jeito, bebi todas, comi muito, dancei como nunca e dormi como um anjo na viagem de volta, por volta das 3h da manhã. Até devo ter roncado, mas como todos estavam na mesma situação, o fato passou desapercebido. Duka, que já tinha aliança no dedo, agora tem o nome carimbado em um cartório botucatuense. Um problema a mais para ser resolvido em 2009. Batamos na madeira e aguardemos o ano novo chegar, cruzando os dedinhos e fazendo festa para o mais novo homem sério do pedaço. Agora vai...ou racha!

domingo, 28 de dezembro de 2008

COLUNA NO JORNAL BOM DIA (01)
Por intermédio do jornal BOM DIA, através do editor-chefe Gilmar Dias comecei a escrever um texto semanal, aos sábados, na coluna "Formador de Opinião", na página de editoriais. Publiquei o primeiro na edição de 27/12 e reproduzo aqui, como farei com todos os demais. A única restrição foi com o tamanho do texto, onde tenho que teclar no máximo 1400 toques. No mais, Gilmar foi incisivo: "Escreva sobre o que tiver vontade. O assunto que quiser, da forma que quiser e como quiser. Um polêmica de vez em quando faz bem". Vou seguir seu conselho. Vamos ao primeiro texto:

BORDINI
Finais de ano servem para reflexões. Planos e sonhos são colocados na mesa. Mesmo triste a causa nunca está perdida. Algo sempre serve de alento e renovação de esperanças.

Revejo alguém a me reanimar. Seu nome, José Ricardo Bordini, 65 anos. Foi uma espécie de guru, mentor, bruxo ou qualquer coisa que o valha, para toda uma geração de gente que faz política hoje em Bauru. Sempre na mesma linha de pensamento e ação. Dela não se afastou, nem quando a sereia lhe cantou encantamentos ao ouvido. Excelente articulador, sem ser sacana.

Milita na política desde que me conheço por gente. Fundador do PT (seu 1º presidente aqui) e atuou no núcleo administrativo da primeira gestão de Tuga. Problemas de saúde o afastaram de tudo e de todos. Deu a volta por cima e hoje circula todo pimpão pela cidade, ao lado de Rita, companheira de todas as horas.

Parei para conversar, trocar confidências, afagos mútuos. O alento vem do passado, conduta irretocável e da lucidez nunca perdida: "Somos os de baixo, os vencidos que estão a se levantar". Diz que voltará à ativa em 2009 na APM (Associação de Pais e Mestres) da escola onde as netas estudam. Se ele irá cuidar das suas netas, consequentemente, as nossas também estarão protegidas. Sempre me inspirou confiança, lealdade, integridade, perseverança, essas coisinhas tão em falta. Com gente assim recalçando as chuteiras eu acho que 2009 emplaca.
Em tempo: Na foto, Pallu, o cinegrafista, junto a Bordini, na última edição da Estação Arte.

sábado, 27 de dezembro de 2008

BAURU POR AÍ (09)

BAR DO PORTUGUÊS E O VELEIRO "ANDANTE"
O Bar do Português, aqui de Bauru, encravado numa esquina atrás do JC, não exige explicações. Lota todos os dias. Ferve de emoções e serve aos fiéis consumidores o melhor Chopp Brahma do Brasil. Ir lá é a garantia de passar momentos dos mais agradáveis, papear de um jeito irreverente, rever pessoas e comer comidinha de boteco, além de tomar o tal do chopp. Os proprietários são duas pessoas mais do que especiais. Fernando Mendes, engenheiro agrônomo e Paula Lamberti, bailarina. Se conheceram tempos atrás e hoje formam um casal boa pinta, mantenedores (olha que palavra gostosa) de um dos locais mais atraentes da cidade. Dias desses ouvi Paula na rádio dar uma verdadeira lição na defesa do tal do colarinho no chopp, que muitos ainda insistem em pedir: "Quero o meu sem colarinho". Pra quê! Ela sobe nos tamancos e está sempre pronta a mostrar um verdadeiro "Tratado", com dezenas de itens, todos para justificar a espuminha que deixa branquinha minha barba e que depois tenho que ficar passando a língua para retirá-la. Falar do bar é chover no molhado, pois caiu nas graças de todos e não tem pra mais ninguém. Ou tem, porque é mundo foi feito para todos e ir a vários

O que me traz aqui é outro assunto. O Bar vai fechar. Isso mesmo, vai fechar, mas não se assustem, pois é só por uns dias. Fecha a partir dessa segunda e reabre dia 19/01, pois nesse período o casal estará numa empolgante viagem pelo mar. É que agora, o casal lança-se na sua primeira grande experiência náutica, trazendo a mais nova aquisição de peso da firma, o veleiro "Andante", de Salvador até Paraty. E não vão fazer essa viagem no anonimato. Levaram tudo para a internet, abriram um blog e todos poderão acompanhar a aventura. A tripulação é a seguinte: Fernando, Paula, Ricardo, Eric e Sabrina. Para quem acessar já, estão publicadas as primeiras informações da viagem. Nós, os beberrões de plantão, teremos que procurar outro porto para bebericar umas brejas, pois em janeiro, tanto o Bar do Português, como o Templo cerram suas portas e caem no mundo. Depois eu conto onde vou beber a próxima.

Ah, quase ia esquecendo, o endereço do blog: http://www.dobarpromar.blogspot.com/
Ah, ia me esquecendo: o barbudo das fotos junto aos reis do chopp é o João Albiero (casado com minha prima Célia), que estava na equipe que reformulou a casa e hoje, amarga um exílio em Palmas TO. Diz que por lá não existe nada igual. Morre de saudades. Fazer o que, né!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

UM COMENTÁRIO QUALQUER (29)

DOIS CENÁRIOS BEM COM A NOSSA CARA
1.Comércio noturno lotado, lojas e ruas congestionadas, uma permanece com pouquíssimo movimento. Passo de carro diante de sua iluminada fachada e como das vezes anteriores, não resisto, adentro aquele templo de conhecimento e saber. São momentos agradabilíssimos ali, em estado de êxtase. Circulo pelos corredores e prateleiras vasculhando aqueles ricos produtos. Literalmente, viajo. O local me transporta para vários outros. É claro, escrevo sobre uma livraria, uma das consideradas “Heroínas da Resistência” num país de pouca leitura. O “Sebo Espaço Literário”, ali na rua Antonio Alves, entre a Batista e a Rodrigues é um oásis dentro da loucura que se transformou o comércio nesses dias. Quem revejo por lá e isso me contenta muito é o Pradão filho, o da borracharia. Assim como eu, gosta de dar livros de presente. Levamos dois cada. Presencio um casal, ambos por volta de uns 60 anos. Entram e perguntam pelo “Pequeno Príncipe”. Não havia exemplar usado, só novo e diante do preço, viram às costas e nem sequer olham para os lados, mesmo diante de uma oferta infindável de livros pedindo para serem lidos. O comerciante, conhecedor do seu ramo complementa: “Na volta das aulas melhora. Brasileiro não está habituado a dar livro de presente”.

2.Calor em alta, final de ano quente e abafado na cidade. Circulo sem camisas em casa e ameaço ir na padaria dessa forma, umas dez quadras. Sou seguido até o portão e antes de entrar no carro, minha mãe, cheia de cuidados me diz: “Ponha a camisa, pois a polícia pode te prender”. Atendo seu pedido, mas a cada renovação de algo nesse sentido, sinto o quanto somos um povo rastaqüera. Essa cena não é exclusividade de minha mãe. Esse medo coletivo, resquício claro dos malefícios herdados da Ditadura Militar é uma espécie de herança maldita daqueles “anos de chumbo”. Restou para muitos a cultura do medo, a postura subserviente perante as autoridades, a impunidade dos torturadores e o estereótipo dos movimentos sociais como subversivos. Há décadas os militares e suas botinas tiveram que bater em retirada, mas muito do medo e do terror continuam instalados por aí, muitos sem que percebamos. Precisamos nos reconciliar conosco mesmo. Antes tarde do que nunca!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

ALGO DA INTERNET (12)

O PAPAI NOEL DE LÉVI STRAUSS
Papai Noel, todos sabemos, não tem nada a ver com as coisas da religião. Seu negócio, talvez o único, é o consumismo nessa época do ano. Hoje, dia de Natal, decido ficar o mínimo possível diante do computador. Sobre o Natal, nada a acrescentar, além da tristeza já mencionada (três pessoas vieram me questionar, quer dizer, leram o blog, todas mulheres, um luxo), mas para que a data não passe em branco, escrevo algo sobre um livro escrito nos anos 50 e publicado no Brasil só agora. "O Suplício do Papai Noel" (Cosacnaify, 56 páginas, R$ 25), obra do centenário (completado em 28/11) antropólogo Claude Lévi-Strauss (viveu no Brasil nos anos 30, contratado pela USP, que ajudou a formatar), faz uma espécie de olhar erudito sobre fatos desimportantes, aqueles que não damos a menor importância, mas que na visão de "iluminados" são perpetuados. É o tal do caminhar pelas ruas para ver a vida acontecer e relatar isso.

Ele discorre sobre um fato ocorrido num Natal, em 1951, na catedral de Dijon. Alí, católicos franceses malharam como Judas um boneco representando Papai Noel, diante de 250 crianças de um orfanato. Algo que poderia ser entendido dessa forma: Natal, nascimento de Jesus, não deveria existir espaço para o consumismo do gorducho Noel. Ele desviaria o foco da data, daí cairam de pau no "bom velhinho". Deve ter sido divertidíssimo acompanhar as discussões ocorridas, com católicos criticando o consumismo e comunistas defendendo o Noel. Depois, tanto lá na França, como cá, nos Trópicos, aceitamos e assimilamos muito bem a simbologia natalina e nos enchemos de luzes, árvores, chaminés e até neve. Me interessei pelo assunto e fui em busca de mais detalhes, começando pelo http://www.cosacnaify.com.br/, depois uma infinidade de outros. Tinha intenção de colocar ordem nesse desorganizado espaço, o mafuá. Strauss me fez seguir caminho oposto, diante de tema tão instigante. Fiquei a ler e a bagunça continua como dantes.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

UMA MÚSICA (38)
"NOEL E NATALINA" E "NATAL DIFERENTE"
Ontem fui a uma festa de confraternização no local de trabalho. Rolava uma música por lá. Boa, mas parada. Me pediram se não tinha nada no carro. Trouxe um samba, ao meu estilo, o que denomino de "samba com conteúdo", sem aquela babação de uns pagodeiros mela-cuecas. O ambiente sofreu alteração, logo tinha gente sambando, se movimentando e requebrando as cadeiras. Quer dizer, samba é a nossa cara. Adoro samba e escolho muito bem o que ouço. Nessa época de festas coloco na vitrolinha um velho CD (uma raridade), "UM NATAL DE SAMBA" (Universal/Velas, 1999). Poucos conhecem esse CD. Um timaço de primeira canta músicas com temas natalinos:João Nogueira, Ivone Lara, Fundo Quintal, Nei Lopes, Zeca, Luiz Carlos da Vila, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Emilio Santiago e outros. As letras também são de gente de muita responsa. Não gosto de música só com blá-blá-blá, ela tem que ter algo mais e essas são divinais. Escolho duas letras para abrilhantar a festa de todos.

"Noel e Natalina", de Nei Lopes, na voz do próprio Nei Lopes
Noel e Natalina era um casal maneiro/ Saiam no Salgueiro na ala dos lordes/ Noel com seu bigode branco cervejeiro/ Natá com seu tempero sempre às nossas ordens/ Ensaio, piquenique, angu do padroeiro/ Dava gosto de ver o gosto do casal/ Faziam um carnaval no meio do terreiro/ Sambavam de janeiro até chegar Natal./ Foi numa noite escura num canto do morro/ Alguém pediu socorro e eles foram ver/ Nela, o vestido branco avermelhou num jorro/ Ele, tirou o gorro e só fez se benzer./ Noel e Natalina sairam dos trilhos/ Perderam todo o brilho e todo o Carnaval/ Aquele anjinho morto, dedo no gatilho/ Era JESUS, seu filho e a noite era NATAL.

"Natal Diferente", de Arlindo Cruz & Sombrinha, na voz da dupla
O meu Natal não tem ceia/ Nem vinho, nem bacalhau/ Pra quem tem samba na veia/ Isso é normal./ E pode ser lua cheia/ Ou noite de temporal/ Que o pagode incendeia lá no quintal/ Meu Natal é regado a churrasco e cerva gelada/ Versos de improviso da rapaziada/ E o partido alto amanhece o dia/ Meu Natal não tem Noite Feliz/ Mas a noite é de luz/ Lembro a Velha Guarda de Oswaldo Cruz/ E o pagode inflama de tanta alegria/ Não precisa castanha, pernil, rabanada/ E cá entre nós, não precisa mais nada/ Pra quem é do samba tá tudo legal./ E se a carne acabar/ Não tem grilo/ Alguém da família/ Logo improvisa uma sopa de ervilha/ Pega mais cerveja e viva o Natal./ Canto samba de Candeia, Pagodinho e Marçal/ E o pagode incendeia lá no quintal/ Canto samba de terreiro, samba bom de carnaval/ E o pagode incendeia lá no quintal/ Canto samba da Mangueira e da Coroa Imperial/ E o pagode incendeia lá no quintal.
Em tempo: Coloquei para ilustrar um cartão recebido do amigo cartunista Fausto (esse é bamba) e a charge de hoje, lá do Página 12, do Rep (esse também é bamba). BOAS ENTRADAS E SAÍDAS PARA TODOS E TODAS...

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

UMA DICA E LEITURA (31)

A MENSAGEM DE FINAL DE ANO DO MAFUÁ DO HPA: TRISTEZAS E ESPERANÇAS
“Espero que vocês me desculpem, mas estou muito triste. O suficiente para não escapar desse sentimento nem quando devo ocupar este espaço. Mas quero deixar aqui um sopro de esperança de que dias melhores virão e tudo o que temo não passa de uma tempestade de verão. Para tanto aproveito palavras e reflexões de dois homens especiais, Chico Xavier e John Lennon. Cada um, ao seu tempo e jeito, muito nos fez pensar e acreditar no humanismo como única razão para existirmos. (...) Temos uma ideologia reinante que nos impele a acreditar que a vitória e o sucesso são o que devemos buscar. Mas isto é de extrema superficialidade, principalmente quando percebemos a que custo se buscam esses objetivos. Somos frágeis, somos poucos, somos só humanos”.

Esse texto não é meu, mas o reproduzo aqui como mensagem de Ano Novo, como faço todos os anos. Escolho algo bonito que li por aí e repasso para os diletos amigos e mais próximos. O desse ano é do Sócrates. Não, não é do grego, e sim, do jogador de futebol, o grande idealizador da “Democracia Corintiana”, que tanta falta faz ao esporte bretão. Esse Sócrates também pensa muito e demonstra, com sua postura e prática, como nosso futebol seria mais interessante se além de chutar uma pelota, nossos craques também usassem a cabeça pensante. Isso serve para todo nosso povo. A tristeza emanada no texto é a minha e a de toda uma massa, cansada, mas não resignada. Resistir continua sendo a melhor opção para nossas vidas. E me utilizo do texto do jogador, publicado na edição 525 (10/12/2008) da revista Carta Capital. As frases abaixo são dele, com trechos de pensamentos dos dois homens especiais citados lá no alto:- Que eu não perca o otimismo, mesmo sabendo que o futuro que nos espera pode não ser tão alegre...
- Que eu não perca a vontade de viver, mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos, dolorosa...
- Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas...
- Que eu não perca a vontade de ajudar as pessoas, mesmo sabendo que muitas delas são incapazes de ver, reconhecer e retribuir, essa ajuda...
- Que eu não perca o equilíbrio, mesmo sabendo que inúmeras forças querem que eu caia...
- Que eu não perca a vontade de amar, mesmo sabendo que a pessoa que eu mais amo pode não ter o mesmo sentimento por mim...
- Que eu não perca a luz e o brilho do olhar, mesmo sabendo que muitas coisas que verei no mundo escurecerão meus olhos...
- Que eu não perca a garra, mesmo sabendo que a derrota e a perda são dois adversários extremamente perigosos...
- Que eu não perca a razão, mesmo sabendo que as tentações da vida são inúmeras e deliciosas...
- Que eu não perca o sentimento de justiça, mesmo sabendo que o prejudicado possa ser eu...
- Que eu não perca a vontade de doar esse enorme amor que existe em meu coração, mesmo sabendo que muitas vezes ele será submetido e até rejeitado...
- Que eu não perca a vontade de ser grande, mesmo sabendo que o mundo é pequeno...
- E acima de tudo, que eu jamais me esqueça que um pequeno grão de alegria e esperança dentro de cada um é capaz de mudar e transformar qualquer coisa, como um sorriso e o amor do meu guri. A vida é construída nos sonhos e concretizada no amor!

Em tempo: A imagem da calculadora recebi da Lumem, uma agência curitibana e as tiras são do argentino Rep, um que leio diriamente no site do Página 12.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

RETRATOS DE BAURU (46)

BORDINI, UM MAGO (OU SERIA BRUXO?) DA POLÍTICA
Esse senhor, hoje com 65 anos, é uma espécie de guru para toda uma geração de pessoas ligadas à esquerda na cidade de Bauru. Esteve durante décadas ligado aos mais importantes movimentos sociais e reivindicatórios existentes na cidade, sendo fundador do PT e o primeiro presidente do Diretório local. Toda essa geração política, que hoje está em atividade e atuou num campo mais voltado aos interesses populares conhece muito bem Bordini, seu modo de agir e de pensar, e principalmente sua coerência. Viveu bons momentos e os péssimos estão quase todos relacionados à sua saúde, debilitada nos últimos anos. Deu à volta por cima, muito por causa da companheira de todas as horas, Rosa, que não o larga um só segundo. Quando se imaginava uma parada na atuação política, ressurge das cinzas, como agora, quando afirma que no próximo ano irá participar de uma APM, tudo para acompanhar os desdobramentos da atuação da escola pública que abrigará os seus netos.Tem quem não se esqueça nunca de um dos seus ensinamentos preferidos, repassados com a estória do vermezinho que caiu na merda, quando nos ensina que nem todos que te cagam (lambem) são seus amigos. Outra dele, provando o quanto devemos continuar resistindo: “Nós somos os de baixo, os vencidos que estão se levantando”. Não tem como não gostar de José Ricardo Bordini e de sua eterna resistência. Segue em frente, mais vivo do que nunca.

domingo, 21 de dezembro de 2008

DIÁRIO DE CUBA (18)

UM SALÃO DE BARBEIRO E MAIS ANDANÇAS
Começo o relato de um novo dia, 13/03/2008, quinta. Ligar para o Brasil é um pequeno problema. Não porque encontre dificuldades. Elas não existem. Escolhemos o meio para fazê-lo por intermédio do hotel, onde deixamos 20 pesos como depósito e com isso conseguimos no máximo umas três ligações para o Brasil e um outro tanto de locais. O cubano paga muito barato por suas ligações (pelos serviços de uma forma geral), mas o turista paga o justo preço. Afinal são divisas adentrando o caixa do Estado. Nem o meu celular, nem o do Marcão funcionaram por lá. Serviram como meros relógios.

Hoje deixaremos Havana rumo a cidade de Santa Clara. Grande expectativa. A diária vence às 12h e até lá devo continuar minha peregrinação. Adoro bater perna. Marcos decide não sair do hotel, prefere descansar. Eu não. Vou para rua e pela primeira vez sinto a necessidade de um boné. A careca arde pelos fortes efeitos solares cubanos e o nariz já está um tanto avermelhado. Trocamos câmbio na Cadeca, junto ao hotel Vedado. Convertemos todos os euros que tínhamos e ficamos com 700 pesos. Isso será tudo pelos restantes 14 dias. Nas contas, uma média de no máximo uns 50 pesos por dia. Uma boa média.

Na andança matinal sigo pela Calzada de Infanta e diante do nº 655 dou de cara com uma grande barbearia, bem ao estilo daquelas de antigamente, porém com tudo funcionando. Contei dez cadeiras e três barbeiros. Peço para tirar fotos e eles me fazem um sinal positivo. Sou chamado por um deles, Alberto Cusito, 35 anos, que me pergunta:

- Queres cortar?

Como já tinha intenção de fazê-lo, concordo. Espero na fila e combino preço de cabelo e barba por três pesos. A gerente pede para tirar fotos comigo, tiramos duas. Alberto vendo risco inferior de minha barba, pede para modificar. Consinto e fico a aguardar o resultado. Gostei do corte, bem rente, inclusive no que me resta de cabelo. Estilo caribenho (todas as navalhas para turistas são descartáveis). Tiro uma foto com a navalha na mão tendo um cubano sentado, quando digo que lhe faria um "estrago na jugular". Rimos todos. Pago cinco pesos e batemos um longo papo sobre nossos países. Transcrevo o que ouvi dele:

- A situação de Cuba é irreversível. Chegamos numa situação onde a sáude, educação e o social obtém ótimos resultados. Não vamos retroceder. Não vamos voltar, nem caminhar para trás. O que realmente precisamos é de um melhor salário em relação ao dólar e unificarmos nossas moedas, causadoras de muita confusão. De resto, vivemos muito bem, felizes.

Sigo prestando atenção em tudo. Sem perguntar para ninguém percebo como funciona o sitema de coleta de lixo na cidade. Vejo espalhado por toda a cidade, nas esquinas, receptores plásticos de lixo, onde a população vai depositando o seu lixo domiciliar. O caminhão de lixo não o retira de porta em porta. Ele retira só dos reservatórios. Não vejo lixo espalhado pelas portas das casas. Existem sim, pessoas que coletam materiais recicláveis, como as latinhas e as embalagens plásticas, pets. Se existem as embalagens, com certeza existe sua reciclagem e existe quem os recolha. Não vi lixo separado em vidros, embalagens plásticas, dejetos, etc.

Volto rindo pela rua lembrando de algo que ocorreu ontem, quando subíamos a avenida 23. Fomos abordados por uma senhora, por volta dos 60 anos e após saber estar diante de brasileiros, nos indaga: "Eu tenho a fórmula da cura da CIDA. Interessa a vocês?". Trocamos um olhar onde o riso foi inevitável., mas ela continuou: "Se vocês tiverem esse mal eu posso ajudar". Saímos pela tangente e depois rindo, Marcos comenta comigo: "Poderia ter sugerido a ela para oferecer tal descoberta ao seu comandante, para ajudar a amenizar os problemas financeiros da ilha". Já comentei aqui sobre o que acho dessas pessoas que ficam a abordar turistas com essas ofertas estapafúrdias. Tudo permitido pelo regime, que tolera, demonstrando ser mais democrático do que se imagina. São uma minoria, existente no mundo todo, inclusive num país comunista como Cuba.

Ao chegar ao hotel, Marcos solta gargalhadas irritantes e diz que nem pode olhar direito para mim. Será que estou tão diferente assim? Acho que ele exagerou um pouco...