domingo, 21 de dezembro de 2008

DIÁRIO DE CUBA (18)

UM SALÃO DE BARBEIRO E MAIS ANDANÇAS
Começo o relato de um novo dia, 13/03/2008, quinta. Ligar para o Brasil é um pequeno problema. Não porque encontre dificuldades. Elas não existem. Escolhemos o meio para fazê-lo por intermédio do hotel, onde deixamos 20 pesos como depósito e com isso conseguimos no máximo umas três ligações para o Brasil e um outro tanto de locais. O cubano paga muito barato por suas ligações (pelos serviços de uma forma geral), mas o turista paga o justo preço. Afinal são divisas adentrando o caixa do Estado. Nem o meu celular, nem o do Marcão funcionaram por lá. Serviram como meros relógios.

Hoje deixaremos Havana rumo a cidade de Santa Clara. Grande expectativa. A diária vence às 12h e até lá devo continuar minha peregrinação. Adoro bater perna. Marcos decide não sair do hotel, prefere descansar. Eu não. Vou para rua e pela primeira vez sinto a necessidade de um boné. A careca arde pelos fortes efeitos solares cubanos e o nariz já está um tanto avermelhado. Trocamos câmbio na Cadeca, junto ao hotel Vedado. Convertemos todos os euros que tínhamos e ficamos com 700 pesos. Isso será tudo pelos restantes 14 dias. Nas contas, uma média de no máximo uns 50 pesos por dia. Uma boa média.

Na andança matinal sigo pela Calzada de Infanta e diante do nº 655 dou de cara com uma grande barbearia, bem ao estilo daquelas de antigamente, porém com tudo funcionando. Contei dez cadeiras e três barbeiros. Peço para tirar fotos e eles me fazem um sinal positivo. Sou chamado por um deles, Alberto Cusito, 35 anos, que me pergunta:

- Queres cortar?

Como já tinha intenção de fazê-lo, concordo. Espero na fila e combino preço de cabelo e barba por três pesos. A gerente pede para tirar fotos comigo, tiramos duas. Alberto vendo risco inferior de minha barba, pede para modificar. Consinto e fico a aguardar o resultado. Gostei do corte, bem rente, inclusive no que me resta de cabelo. Estilo caribenho (todas as navalhas para turistas são descartáveis). Tiro uma foto com a navalha na mão tendo um cubano sentado, quando digo que lhe faria um "estrago na jugular". Rimos todos. Pago cinco pesos e batemos um longo papo sobre nossos países. Transcrevo o que ouvi dele:

- A situação de Cuba é irreversível. Chegamos numa situação onde a sáude, educação e o social obtém ótimos resultados. Não vamos retroceder. Não vamos voltar, nem caminhar para trás. O que realmente precisamos é de um melhor salário em relação ao dólar e unificarmos nossas moedas, causadoras de muita confusão. De resto, vivemos muito bem, felizes.

Sigo prestando atenção em tudo. Sem perguntar para ninguém percebo como funciona o sitema de coleta de lixo na cidade. Vejo espalhado por toda a cidade, nas esquinas, receptores plásticos de lixo, onde a população vai depositando o seu lixo domiciliar. O caminhão de lixo não o retira de porta em porta. Ele retira só dos reservatórios. Não vejo lixo espalhado pelas portas das casas. Existem sim, pessoas que coletam materiais recicláveis, como as latinhas e as embalagens plásticas, pets. Se existem as embalagens, com certeza existe sua reciclagem e existe quem os recolha. Não vi lixo separado em vidros, embalagens plásticas, dejetos, etc.

Volto rindo pela rua lembrando de algo que ocorreu ontem, quando subíamos a avenida 23. Fomos abordados por uma senhora, por volta dos 60 anos e após saber estar diante de brasileiros, nos indaga: "Eu tenho a fórmula da cura da CIDA. Interessa a vocês?". Trocamos um olhar onde o riso foi inevitável., mas ela continuou: "Se vocês tiverem esse mal eu posso ajudar". Saímos pela tangente e depois rindo, Marcos comenta comigo: "Poderia ter sugerido a ela para oferecer tal descoberta ao seu comandante, para ajudar a amenizar os problemas financeiros da ilha". Já comentei aqui sobre o que acho dessas pessoas que ficam a abordar turistas com essas ofertas estapafúrdias. Tudo permitido pelo regime, que tolera, demonstrando ser mais democrático do que se imagina. São uma minoria, existente no mundo todo, inclusive num país comunista como Cuba.

Ao chegar ao hotel, Marcos solta gargalhadas irritantes e diz que nem pode olhar direito para mim. Será que estou tão diferente assim? Acho que ele exagerou um pouco...

8 comentários:

Anônimo disse...

Ué tem lixeiro em Cuba? Cade o país onde todos estudam, tem oportunidades e são bem tratados? Vcs foram pra cuba mesmo ou ela só existe nos sonhos de vcs?
Até agora esse diário só mostrou o contrário, a realidade dos fiascos que são povos sem liberdade.
Prof. Celso

Anônimo disse...

Celso tenho um sobrinho adolescente que tá nessa fase tresloucada de ficar falando cuba, cuba. Vou mostrar esses diarios para o menino que ele vai acordar na hora para a vida. Huahuahuahua

Anônimo disse...

Não sei quem poderia ser uma pessoa que se denomina de professor (no caso daqui, Celso), que acha que qualquer país pode viver sem um lixeiro. É muita mediocridade para uma pobre cabecinha. Tenho dó dos seus alunos. Se nada entende de ideologia, se confunde o certo com o errado,como poderá explicar algo para seus alunos. Esse tal de Celso deve ser daqueles a pegar ônibus errado que é uma facilidade.
Marisa

Anônimo disse...

Imaginem as coisas lindas que esse professor prega para seus alunos. Povo sem liberdade é povo sem estudo, cultura, que não consegue discernir sobre o certo ou errado, ou o aliado do algoz. O cubano sabe e, dentro da sua pobreza, vive melhor do que todos os demais países latinos. Isso é constatação, não é retórica.
Paulo Lima

Anônimo disse...

Professores psicóticos como o sr Celso infelizmente tem aos montes, estudei com vários assim que só ensinavam os alunos a ideologia de reacionários nos bancos das escolas privadas.
Esse Celso é uma dessas figurinhas dessas escolas e sem coragem para debater, até porque só se apresenta como prof Celso.

Marcos Paulo Guerrillero

Anônimo disse...

Qualquer pessoa que ainda não tenha perdido a dignidade, que ainda não foi corrompida pela constante lavagem cerebral da mídia pró-imperialismo, só pode concluir que Cuba é vitoriosa, apesar do bloqueio e de todas as manobras criminosas perpetradas por um inimigo poderoso e cruel.
Mas meninos não esquentem a cabeça com essa turma de professores,Cuba será sempre tema de polemica.
E Henrique precisamos sentar vc, o Marcos e eu para um chopinho com um papo com muita cultura que só mentes revolucionarias são capazes.

Com amizade,
Nicolas

Anônimo disse...

Nunca escrevi aqui, apesar de ter sido apresentado a esse blogo por um amigo em comum, faz um certo tempo. Volto pelo menos uma vez por semana. Não sou comunista, nem gosto do regime capitalista. Luto por mais igualdades. Vejo defeitos mil em Cuba, mas observo que as virtudes superam tudo. Eles resistem e isso tem que ser valorizado. Só isso já é uma vitória incontentável.

O motivo de minha escrita é outra. É sobre o lixo em Cuba. Tenho minha fé. O tal do profe Celso deve ter a dele. O Marcos, mesmo sem acreditar, com certeza acredita em algo e luta por isso. Bom, queria dizer que mesmo lá no paraíso, no que os católicos chamam de céu, onde tudo se diz é perfeito, no seu devido lugar, deve existir alguém a recolher o lixo, o excedente. Então, por que Cuba Cuba com todas suas deficiências não o teria? O professor foi infeliz e reconhecer isso também é bom. Eu faço autocrítica de todos meus atos, meus erros e acertos. Aconselho, nesse caso, que o professor tenha a coragem de reconhecer aqui, diante de todos, que está cutucando meio que sem sentido.
Um abraço a todos e boas festas
LHJ

Anônimo disse...

Não vai escrever nada sobre os 50 Anos da Revolução Cubana? O niver está se aproximando.
Roger