sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

UM COMENTÁRIO QUALQUER (26)

1. ESSA É PARA QUEM TEM FILHO ADOLESCENTE
Meu único filho, também Henrique, tem 14 anos e está terminando o que ainda chamo de ginasial. Conclui a 8ª série, estudos todos realizados em escola pública (até agora). É meu grande orgulho. Vibro com ele, meu melhor amigo e grande parceiro. Ontem fomos ao cinema assistir o ótimo filme do Bruno Barreto, “Última parada 174”. Na saída encontro um amigo, que já havia assistido e eles travam diálogos que me surpreendem. Sou o pai mais pimpão desse mundo. Ele me instiga a cada dia ir buscá-lo para programas variados. Eu embarco em quase todos. Deixo de lado minha vida pessoal, meus amores e meu tempo livre. Estar ao lado dele é uma das coisas mais inebriantes. Ainda ontem me convidou para estar com ele num rancho, no final de semana, junto com três amigos da escola. Quando um filho nessa idade quer o pai junto dele num final de semana num rancho? Largo tudo e embarco nessa. Tomara que isso dure uma vida inteira.

Uma das coisas que mais me gratifica é seu gosto pela leitura. Como lê o danado. Estava com dois livrões de umas 500 páginas (ambos emprestados da Biblioteca Municipal) e devorou a ambos em pouco mais de uma semana. Seu computador deu um pane e ficará uns dias desplugado das coisas virtuais.“Pai, se quer saber, não estou sentindo falta. Tô lendo mais”, foi sua resposta. Vibrei por dentro e por fora. Adora mangás e dentro de minha ignorância (e também desinteresse), ouço atentamente tudo o que vai me dizendo sobre a cultura japonesa. Estou ficando expert, mesmo sem nada ter lido sobre o assunto. Tudo por osmose. As trilhas dos filmes ele grava num MP3 (de tela avariada – como quebram essas coisinhas!) e me põe o fone no ouvido para escutar junto com ele. São orquestras e isso me faz recorrer ao um pequeno acervo musical no mafuá. Vou repassando a ele o som de orquestras. E ele diz gostar. Ouvimos juntos no som do carro.

Semana passada fez o primeiro vestibular de sua vida. É para ingresso no Curso Técnico do Colégio Técnico da UNESP, para Informática. Pai e mãe o incentivaram. Sentia que estava preocupado, até um pouco tenso. “Mas pai e se não for aprovado, vocês não vão ficar decepcionados comigo?”, me disse. Conversamos muito. O curso é para área técnica e ele tem bem mais um perfil de Humanas. Vamos ver o que dá. Viajei no dia e não estava aqui. Na volta, me disse das dificuldades em matemática. De dez, acertou três. Porém, em Português acertou as dez e História e Geografia, acertou nove cada. O resultado ainda não saiu, mas nem estamos nos importando com isso, pois ele está traçando seu próprio rumo, já dando sinais dos caminhos futuros. E é isso que importa.

Ainda ontem me contou uma história travada com uma professora, acho que de Ciências. Era sobre um momento do filme brasileiro “Linha de Passe”. Um garotão da periferia paulistana, um dos tantos invisíveis de hoje, estava assaltando um sujeito, dono de um carrão importado. Num local afastado, pede para o engravatado olhar para ele, queria que o visse e esse assustado não o quer fazer, com medo de ser eliminado após isso. Diz que aprofessora, não entende o motivo da cena ter marcado tanto. Para mim, explica tudo numa riqueza de detalhes, que me faz lhe dar um forte abraço, num local público, cheio de gente. Afinal, o que poderia querer um velho barbado abraçando um moleque no meio de tanta gente? Desculpem por falar dele aqui, mas é minha única cria. E como gosto dele.
(Obs.: as fotos aqui publicadas são da festa de 15 anos de sua prima, Núbia)

2.: Fico sabendo hoje do fechamento (dizem que temporário) do jornal TRIBUNA DA IMPRENSA (http://www.tribunadaimprensa.com.br/), do jornalista HÉLIO FERNANDES. Hélio é uma das últimas metralhadoras giratórias da imprensa nacional. Ler seus imensos editoriais, sempre fáceis de serem degustados, era algo inebriante. O jornal estava situado lá na rua Lavradio, no Rio e tenho guardado vários deles, muitos antológicos. Posso até não gostar de tudo o que o Hélio vociferava, mas possui uma verve única. Sinto mesmo, pelas dificuldades da Tribuna, que são as nossas, nesses bicudos tempos. Que, pelo menos, consiga manter um espaço na internet, com seus textos, os do Carlos Chagas, do Sebastião Nery, Argemiro Trindade... Para um devorador de jornais como eu, vou sentir muita falta desse jornal, impresso de uma maneira rudimentar e com opinião própria.

3 comentários:

Mafuá do HPA disse...

Tomei a liberdade de publicar aqui o que acabo de achar no Blog do Mino sobre o fechamento da Tribuna. Gostei tanto, que publico aqui, citando a fonte:

Respondo a quem pede que me manifeste a respeito do fechamento da Tribuna da Imprensa. Sinto muito, mesmo. Helio Fernandes é honrado jornalista e cidadão, autor da notável transformação de um jornal fundado para sustentar a direita, suas prepotências e mazelas. Não foi por acaso que a Tribuna veio a sofrer um gravíssimo atentado em 1980, antes ainda das bombas do Riocentro, mais ou menos no mesmo momento do atentado similar contra a sede da OAB no Rio de Janeiro. Helio Fernandes é um cavalheiro valente e arguto, e foi opositor destemido da ditadura. Quando eu ainda dirigia a redação de Veja, escreveu algo a meu respeito não de todo lisonjeiro, digamos assim. Enviei-lhe uma carta em que o comparava com meu avô Luigi, também ele jornalista, perseguido pelo fascismo. Helio ficou tocado pela descrição que fiz do avô espadachim, ele desafiava os desafetos para duelos com florete, e tinha uma cicatriz a lhe atravessar o pescoço, recordação indelével de uma refrega perdida. Na edição que amanhã vai às bancas, CartaCapital falará do fim da Tribuna.
MINO CARTA, RETIRADO DO SEU BLOG

Anônimo disse...

HENRICÃO
Seu filho é lindo em todos os aspectos. E você cara, como anda? Daqui de longe tô com saudades de Bauru. Quando vem para cá?
Daniel - SBC

Anônimo disse...

amigos
Não tenho como esconder isso. Estou mais pimpão do que antes. Esse aí do texto, meu filhão, passou no primeiro vestibilinho de sua vida, após estudar até agora somente em escola pública. Estou que não me aguento e precisava contar isso para alguém. Dessa forma, conto para todos...
Henrique, o pai, direto do mafuá