Mafuá do HPA

DIÁRIO DE CUBA (17)

PRAÇA JOHN LENNON
Sim, já deu para perceber que esse Diário está sendo esticado. O motivo é um só: foram 19 dias vividos intensamente e cada ato, caminhada, visita ou nova descoberta merecem algumas palavras ou até um texto inteiro. E vou relatando cada detalhe. Hoje continuo no 5º dia vivido por lá, uma quarta, 12/03 e esse é a terceira postagem sobre esse dia. Fomos juntos, eu e Marcos, conhecer a famosa praça em homenagem à John Lennon. Ele, muito mais do que eu, nutre uma admiração mais do que especial ao poeta inglês e mais ainda pela homenagem ideológica de Cuba ao Lennon comunista, um lado que desde sua morte foi tratado de ser escondido pela mídia (abordei aqui nesse mafuá esse tema em 07/12/2007, exatamente um ano atrás e pode ser conferido por quem se interessar).

O fato que não pode ser negado é que John era uma grande ameaça aos EUA, porque levava a contra-cultura, o sentimentalismo revolucionário a uma geração. O documentário “US vs John Lennon” mostra a perseguição da CIA e do FBI e a preocupação que o governo americano tinha com ele em plena guerra fria. Por isso a homenagem em Cuba inaugurada pessoalmente por Fidel. E a caminhada até a praça é recheada de muitas paradas. Não resisto em tirar fotos consentidas, de pessoas da terceira-idade numa praça, diante de uma mesa de jogo. Recordações e comparações com aqui e lá. Ouvir o diálogo proveniente dessas mesas é algo muito próximo do que ouço no Brasil. A diferença é a luta declarada de toda uma nação pelas suas grandes causas. Por todos os lugares país afora, cartazes, outdoors, placas e grafites denunciam a situação irregular de cinco cubanos detinos nos EUA, acusados de espionagem. Campanha de igual teor à feita quando da retenção do garoto Elian, também nos EUA. O país discute essa questão abertamente, numa riqueza de conhecimento de dar gosto. E a justiça ainda não foi feita, pois os cinco continuam presos irregularmente. Mais uma grande vergonha patrocinada na dita “maior democracia do planeta” (sic).

Seguimos algumas indicações e finalmente localizamos a praça John Lennon, não muito afastada de Vedado, onde estávamos hospedados. Tudo é muito simples e singelo, mas marcado por forte emoção. Conhecemos logo de cara um senhor, simpático e de charuto nos lábios, uma espécie de guardião do local. Cuida com carinho da estátua e atende a todos com muita atenção. Responde a todo tipo de pergunta. Acaba contando um detalhe surrealista, o de ter que retirar e guardar consigo os óculos do monumento, pois os turistas insistem em levar a peça como souvenier. Procedimento idêntico ao ocorrido ao monumento ao poeta Drummond, em Copacabana. A diferença é que lá quem surrupia os óculos são os turistas estrangeiros.

A praça ocupa todo o quarteirão, com um grande coreto no centro e no seu canto direito, o banco com a estátua do artista. Naquele momento, final de tarde, além de nós dois, a presença de um casal de jovens cubanos. Eles nos fotografam e nós a eles. Marcos filma tudo. No final, como reconhecimento, fizemos questão de presentear o guardião da praça (e dos óculos do John) com alguns pesos. Sempre o fizemos de forma espontânea, em nenhum momento impositivo ou com a criação de situações constrangedoras. Fizemos questão de voltar por ruas desconhecidas até então, com muitas paradas e fotos mil. Não é difícil de se habituar em Havana, uma cidade muito fácil de ser percorrida. No dia seguinte deixariamos a cidade, não sem antes novas caminhadas e uma visita minha a um salão de barbeiro. É o que veremos a seguir.