segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

UMACARTA (22)
PAULO NEVES E SUA REVOLUÇÃO TEATRAL
Todo final de ano as atividades culturais na cidade se encerram com as apresentações teatrais do Curso Livre de Teatro Paulo Neves e esse ano não poderia ser diferente. Só que a cada ano Paulo inova e apresenta novidades. A desse ano foi a quantidade de peças e de atores em cena. Algo grandioso, que Bauru ainda não deu a devida atenção. O que está acontecendo na VIII Mostra de Teatro, ocorrida no Teatro Municipal de Bauru, com 16 peças, encenadas de 10 a 19/12 é algo único e que precisa ser enaltecido a cada instante. Falar do Paulo é chover no molhado, pois está na luta (ou seria na chuva? ou seria em cartaz?) desde que me conheço por gente, seguindo os passos de sua mãe, Celina Alves Neves, outra incansável batalhadora do teatro na cidade. O posicionamento político do Paulo esteve sempre externado na forma como atua ministrando suas aulas de História, com a criticidade necessária, tornando seus alunos mais do que meros espectadores e sim, agentes de transformação. Esse papel ele leva adiante com a dignidade que lhe é peculiar. Para deixar marcado a importância desse trabalho, enviei para nossa imprensa escrita uma carta externando minha posição a respeito dele e do seu trabalho:

UMA REVOLUÇÃO EM CURSO NA CIDADE
Quem poderia ser verdadeiramente chamado de revolucionário hoje em Bauru? Revi um essa semana. Um corajoso como poucos, disposto a continuar expondo seu trabalho, com as armas que possui às mãos. Falo de Paulo Neves, um historiador como poucos, um diretor de teatro com a cara e a coragem e um batalhador por retratar nossa história e esse país, num controverso momento, em que valores estão em mutação. E a grande revolução, mais do que virtude, é manter o discurso, apesar de toda força contrária.

O fazer a revolução não é somente a pregação nesse sentido e sim, sua execução. Paulo prega e executa. Nessa segunda quinzena de dezembro está no Teatro Municipal de Bauru com a VIII Mostra de Teatro do curso que leva seu nome. É algo extraordinário, não só pela quantidade de peças encenadas (16 ao todo), mas pela reunião nada homogênea de atores, de todas as faixas etárias e níveis sociais, além de serem todos amadores e estarem diante de uma temática que é a própria cara do criador, a política. Fui assistir “Fragmentos 3x4” e “40 Anos Depois... EstamosVivos!” (esse um revival de 1968, de cair o queixo).

Tem quem não goste do Paulo, o ache carrancudo, estressado. Achar é uma coisa. Eu mesmo acho um monte de coisas e nem por isso, deixei de estar lá e nas duas peças que assisti (pretendo ir em mais umas quatro), constato que o seu trabalho é daqueles imprescindíveis. Isso porque ele faz, movimenta as pessoas, faz pensar, agita, te deixa inquieto, cheio de questionamentos. Sua peças pulsam Brasil. E ele chega nesse momento no seu quase limite, em ponto de bala e ebulição, prontinho para explodir. Pudera! Movimentar aquele aparato todo é para alguém com parafuso mais do que solto. Só ele mesmo para saber apertá-lo no momento certo.

Para todos aqueles preocupados com o destino de mais uma “Flora”televisiva, a recomendação é ir ao teatro até o dia 19. Esqueça a TV e venha espiar o Brasil ali da esquina, a preços mais do que módicos (R$ 5 reais o ingresso). Tem peças para todos os gostos e preferências. Se perder, depois não reclame que nada acontece culturalmente na cidade, pois se quando existe algo escolhemos a maneira burra de viver. Quer ver alguém empunhando uma arma de fogo e promovendo uma ação revolucionária? O Paulo é um dos poucos que insiste em nos mostrar a existência de uma saída

6 comentários:

Anônimo disse...

Caro Henrique:
Justíssima sua bela homenagem ao Paulo Neves. Gosto muito dele e devo muito a ele o que sou hoje (que não é grande coisa, mas a culpa não é dele). Há quase dez anos, escrevi esta pequena crônica dedicada a ele, na revista Nova Escola. Dê uma olhada.
abs
Maringoni

Gilberto Maringoni


Último livro de Maringoni: humor inteligente sobre o trânsito

Paulo Neves foi, para mim e para a minha geração de cursinho em Bauru, interior de São Paulo, o professor certo na época certa. A época era 1975. Lecionando História, suas aulas despertavam reações diversas entre os alunos. "Meio subversivo", "irresponsável" e "cara cabeça" (esquisito, mas se falava assim), eram alguns dos comentários algo desencontrados que se ouviam nos corredores da escola.

Não era à toa. Num tempo em que, adolescentes, emergíamos de um túnel de desinformação, no qual o mote era o "Brasil grande" do regime militar, as aulas do Paulo eram assistidas com ansiedade e curiosidade. "Leiam Opinião, assistam Costa-Gavras, ouçam Chico Buarque" eram as lições de casa. Minha turma acabava achando mais interessantes que as atividades em classe os bate-papos na cantina com aquele professor ainda não chegado aos trinta anos e que, mais do que respostas, nos ensinava a fazer perguntas (esta característica do Paulo, aliás, acabou lhe custando alguns empregos pela vida afora).


Por todo o país, naquele ano, surgiam jornais alternativos, cineclubes, festivais de música e gente ávida por "fazer coisas" numa agitação cultural e política que esgarçava as frestas da propalada "distensão" da ditadura. Quando o jornalista Wladimir Herzog foi assassinado na cadeia, em novembro, o choque foi tamanho para aquela garotada que nos encontramos em silêncio na lanchonete. O Paulo, lendo nos jornais a versão de que havia sido suicídio, lamentava: "é o Brasil...
" Escrevia no jornal local e tinha — e continua tendo — uma obsessão: o teatro. Sua mãe, também professora, já havia iniciado gerações de garotos da região nas artes e ofícios dos palcos amadores. Não sei como, o Paulo conseguiu permissão e apoio da direção do cursinho para montar uma peça no final do ano, às vésperas do vestibular. Era uma colagem de textos que ia de Fernando Pessoa a Berthold Brecht, alinhavados por escritos seus. O título: "Errare Humanum Est"; mais anos 70, impossível! João Rosan/Arquivo pessoal



Gilberto Maringoni (acima) é arquiteto e publica quadrinhos em vários jornais, entre eles o Jornal do Brasil. Também escreveu um livro infantil: O Dia Em Que o Sol Não Nasceu. Ele e Paulo Neves (ao lado) são amigos até hoje

A turma que se formou em torno do Paulo — da qual saíram jornalistas, artistas, pesquisadores e profissionais de destaque em suas áreas — acabou se preocupando menos com os exames de dali a pouco e mais com a montagem do — enchíamos a boca para dizer isso — "espetáculo". E acabou sendo mesmo um acontecimento, numa cidade do interior pouco acostumada àquela horda de adolescentes que colava cartazes, ia às rádios, agitava os bares, tudo para anunciar a estréia. Que ocorreu com sala lotada, no palco de um cinema local.

Hoje, bem mais velho, Paulo Neves demonstra uma vitalidade invejável: continua com as aulas, programa uma nova montagem, disputa festivais pelo interior, promove debates e junta gente. Não sei se continua perdendo empregos, mas seu saudável inconformismo é o mesmo de vinte e tantos anos atrás.

No fim daquela história, o mais incrível aconteceu: todo mundo passou no vestibular. Menos alguns vagabundos como eu, que amargaram mais um ano de cursinho. Sem nenhum remorso.

Anônimo disse...

Olá Henrique,
Bom Dia!

Fiquei muito feliz quando hoje pela manhã li o "artigão" que vc escreveu.

Estamos vivendo um tempo onde há muitas críticas destrutivas de pessoas que apontam, mas não participam efetivamente.

Corajoso é quem consegue, com todos os monstros de obstáculos, agir, reagir e agir.

Realmente, Paulo Neves é um desses.

Obrigada por ressaltar esta força desbravada deste lutador.
Esse reconhecimento é o que faz com que as pessoas possam seguir seus caminhos com mais esforço, perseverança e fé.

Obrigda por sua sensibilidade.

bjs
regina ramos

"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina"
(William Shakespeare)

Anônimo disse...

Essa meninona aí da foto não é a Valéria, filha do Broncolino? Adoro ela. Sei que escreve muito bem. Canta, dança e faz teatro. Pelo jeito joga nas onze.
Só o Paulo mesmo para nos possibilitar algo desse nível.
Reinaldo F.

Anônimo disse...

Olá gostaria de saber mais sobre Paulo Neves e sua Escola de teatro.Sou atriz e acabo de mudar para Bauru.
Obrigada Bruna Moscatelli.

Anônimo disse...

brumosca@yahoo.com.br

me mande informações se possivel
obrigada.

Anônimo disse...

corrigindo:
brunamosca@yahoo.com.br
brumosca@hotmail.com

obrigada, aguardo informações.