domingo, 31 de maio de 2015

CHARGE ESCOLHIDA A DEDO (96)


DE BAURU PARA O MUNDO: A MÍDIA TEM MUITA CULPA DESSA AVACALHAÇÃO DO FUTEBOL – ELES SEMPRE SOUBERAM DE TUDO, MAS NUNCA FAZEM NADA COM SEUS DILETOS AMIGOS
Prenderam os caras, não todos, alguns, mas prenderam. Os presos foram os tais da FIFA. Escrevo nesse final de domingo, com frio nos pés, garoa persistente lá fora e eu com umas caraminholas na cachola. Preciso desencaraminholar a cuca senão não durmo logo mais. Vamos aos fatos. Precisou o FBI prender os tais da FIFA. A polícia da Suíça, terra sede da FIFA nunca o faria sózinha, pois lá pelo que sei vale tudo em matéria de grana em contas bancárias. Eles até devolvem quando solicitado, mas se ninguém descobrir, pode tudo. Não será por causa disso que a FIFA está lá enfincada? Acredito que sim. Mas não é disso que quero escrever. Quero jogar a coisa aqui pro nosso Brasil. A fuga do presidente da CBF, o Del Nero, um dia antes do pleito da FIFA demonstra o que no Brasil chamamos de “quem tem __ tem medo”. Ele teve e escapuliu enquanto pode, pois tem a mais absoluta certeza de que aqui em solo pátrio não corre risco nenhum. Esse tipo de criminoso, junto com os do colarinho branco, ligados às instâncias do poder constituído, os tais donos do poder, por aqui não vão presos nunca. Daniel Dantas, da mesma laia ficou somente algumas horas detido. Sempre existe um comendador, desembargador, juiz da mais alta instância pronto para livrar a cara desses. Eles todos sabem estarem a salvo por essas plagas. Os tais “poderosos” estão sempre a salvo. Gente como Marin não seria nunca preso por aqui, nem Del Nero, nem esse outro, o J. Hawilla. São nossos santos do pau oco, beatos por osmose. Todos esses são muito paparicados pela mídia nativa.

Jogo essa conversa fiada para o que acontece em nossa Bauru e em todas cidades brasileiras, sem nenhuma exceção. Boa parte disso tudo que ocorre ao futebol brasileiro culpabilizo a mídia brasileira e em todas as suas instâncias, bauruense, estadual e nacional. Nos últimos 30 anos, tudo foi feito para que os grandes inimigos da pátria levassem o futebol brasileiro a caminho do precipício. Explico. Dou o exemplo aqui de Bauru. O time de nossa aldeia, o glorioso Esporte Clube Noroeste, centenário e resistente, viveu nos últimos tempos, primeiro nas mãos de um mecenas. Quando esse , ou os seus se encheram de cobranças por transparência, puxaram o carrão e deixaram o time mais pobre que antes. Depois dele, voltaram os que até então estavam na encolha, os tais donos do time, acoitados no Conselho Deliberativo. De lá para cá, mandam em tudo e não mandavam antes. Hoje são, guardadas as devidas proporções, uma espécie do que o STF representa para o país. Na falta de quem levante a voz, o STF judicializou o país e o Conselho Deliberativo do Noroeste judicializou o Noroeste. Eles fazem o querem, quando querem e como querem. Virou a casa da mãe joana e nem sempre foi assim. Mas onde entra a mídia nisso? Conto agora. É só ligar o rádio e ouço sempre alguém dizendo, “meu amigo tal”, em relação ao mandarim do time. Quer dizer, se o cara faz lambança ou não, sendo amigo de tudo e todos, não merecerá críticas, muito menos cobranças. Fazem vista grossa para tudo. E dessa forma tudo continua como dantes. Para mudar as relações intestinais do Noroeste, do Corinthians, do Flamengo e de todos os outros, pode acontecer o que for que os caras vão continuar, pois estamos no paraíso das amizades de alcova. Se a coisa não vier de fora, nunca algo mudará. A mídia de Bauru sabe de tudo, mas não vai mover uma palha para mudar nada. Estão todos entre amigos. É assim aqui, ali e acolá. O que a Globo faz com o futebol é do conhecimento até das pedras do reino mineral, mas eles detém o poder de fato e de direito. Alguém aí vai contestar?

O jeito é provocar eles em todos os instantes. Querem uma: dizem que o governador Alckmin não pode entrar na Suíça, pois denunciado pela Justiça de lá por causa do caso dos trens terá que se encontrar com Marin, onde quer que esse se encontre? Assim sendo, vamos comprar uma passagem de ida para ele, uai! Aqui venerado, lá indiciado. Sabe quando alguém de nossa imprensa perguntará isso para ele? Nunca. O banqueiro Daniel Dantas é outro. Tentem leva-lo aos EUA? Não vai nem a pau. O norte americano Kissinger não pisa mais em países europeus. Por que será, hem? Assim sendo só vejo uma solução, vou levar o caso da venda do goleiro Valter para o FBI analisar e de uma coisa terei certeza, esses caras nunca mais poderiam ir para a Disneylândia (eles tem cara de que adoram esse lugar) ou qualquer país europeu. Estariam confinados eternamente ao nosso rincão. Pelo menos isso. Eles e nossa mídia esportiva, a que possui muito amigos cheios de poder. E assim eles todos contribuem decisivamente para destruir a paixão nacional. Encerro esse desabafo propondo um hip-hip-urra para essa parcela de nossa imprensa e seus bons e fiéis amigos. Vale tudo.

E dessa bucólica forma encerro o mês de MAIO de 2015.

sábado, 30 de maio de 2015

MEMÓRIA ORAL (181)


O INCRA E OS LÍDERES DOS ASSENTAMENTOS – UM POUCO DE PRESSÃO NÃO FAZ MAL A NINGUÉM
A cidade de Bauru está rodeada de acampamentos e assentamentos de origem fundiária. A existência desses é tratada de forma diferenciada pela população. Alguns entendem perfeitamente da real necessidade do homem do campo estar assentado, produzindo e em terra de sua propriedade, algo de uma secular luta, a pela efetiva necessidade da reforma agrária no país. Porém, viceja hoje e até em ascensão os que, vendo essa movimentação toda, ocupações (ditas pela maioria da mídia como invasões), barreiras em estradas, caminhadas e predominância da cor vermelha em suas vestes e nos seus símbolos, enxerga tudo como “coisa de comunista” e pior ainda, como uma “cambada de desordeiros e desocupados”. Entender um bocadinho do que realmente se passa com a luta do homem do campo contra o latifúndio e buscando seu espaço é algo buscado por uma Audiência Pública ocorrida no último sábado, 29/05 na Câmara Municipal de Agudos, 14 km de Bauru.

A dita Câmara está localizada no centro daquela cidade, prédio novo, espaçoso e arejado, algo até grandioso demais para uma cidade com pouco menos de 30 mil habitantes. Na manhã do sábado estava tomada pelos tais acampados e assentados, todos para ali conduzidos com o intuito de presenciar mais uma rodada de negociação com o Incra, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, que para lá enviou seu representante maior no estado, o Superintendente Regional Wellington Diniz Monteiro, há alguns anos no cargo e muito inteirado e porque não, solidário com a causa ali discutida. O tema da audiência dizia tudo: “Reforma Agrária: Acampamentos e Assentamentos na região de Bauru” e com o slogan, “melhorias e avanços na execução de políticas públicas voltadas para a reforma agrária”. Sim, uma bela discussão, mas a casa não estava lotada para ver flanar e continuar somente presenciar um blábláblá. Queriam mais que isso, queriam ver o que o Incra fez de fato desde a última vez em que estiveram reunidos. Foi esse o ponto alto da discussão.

Um dos princípios da luta é além de fazê-lo conhecer dos motivos de sua luta. Um pouco de história e de conhecimento de causa não faz mal a ninguém. É o que faz Francisco Lopes de Luca, Chefe da Divisão de Obtenção de Terras do Incra SP. Trouxe sete slides e falaria em cima das imagens expostas, mas diante de pequenas TVs distribuídas no salão, mais fala, pois a visibilidade estava prejudicada. “O Núcleo Colonial Monção, reivindicado por muitos daqui, tem uma longa história. Tudo começa nos idos de 1909, com uma fazenda envolvendo uma extensa área compreendendo onde hoje estão localizados os municípios de Agudos, Borebi, Iaras e Águas de Santa Bárbara. Naquela época o presidente era Nilo Peçanha e ele dá início ao que é hoje o Ministério da Agricultura. O tempo corre e essas áreas são adjudicadas, com sentenças, decisão passando pela União e desmembramentos. Muita terra pública não foi destinada, titulada e não tiveram nenhum documento definitivo. E tudo chega aos dias de hoje quando o Incra faz o estudo de documentação, a União define, formaliza e solicita a área. Só estamos hoje esperando as decisões favoráveis na Justiça para pedir a demarcação das terras e ver o fim disso tudo. Essa nossa estratégia, ganhando corpo e dando a tacada final”, diz no microfone.

Na sequência quem tem a palavra é o padre Severino Leite Diniz, lotado em Promissão e proveniente de um dos assentamentos mais antigos do estado de São Paulo, além de velho guerreiro das causas sociais e tendo sempre à cabeça, sem nenhum tipo de receio, um inseparável boné do MST. Sua fala é a primeira da manhã e feita de forma mais contundente contra os bonitos discursos com pífia ação. “As reivindicações feitas em cima das áreas privadas são centenas e o Incra precisa dar respostas. Nós elegemos um Governo não para explicar porque não fez. Para isso, a séculos a direita vem dando suas explicações. Queremos é que o Incra e o Governo Federal nos diga porque vai fazer a reforma agrária. A coisa não está andando porque não estamos indo para cima. Quando não fazemos nada a coisa não anda. Terras griladas e confiscadas só voltam para mão do povo quando formos para cima. Essa é a única maneira da coisa andar. É preciso que nós vençamos a nós mesmos e não fazermos nada de forma dividida. Temos que ir todo mundo nos atos, pois se tiver muita gente a polícia não dá conta. Com pouco não conseguimos nada”, diz inflamando a plateia.

Luiz Salles é o representante do Porcinos Quilombo, talvez o único no país onde todos seus membros estão dispersos, devido à última desapropriação ocorrida, quando todos foram desalojados. Daí por diante, a luta é para reconquistar parte da área pertencente a eles por direito, pedaço imenso de chão abrangendo cinco munícipios. Seu pleito pode ser resumido nesse trecho de sua fala: “Quero fazer uma proposta desse encontro passar a ser mensal. A gente não tem condição de ir ao Incra, mas eles tem de vir até nós. Além da dívida com todos aqui, o Estado tem uma dívida antiga com as comunidades tradicionais, os quilombos e essa dívida eles não tem como pagar. O começo da luta se faz aprendendo geografia. Antes das monções já tinha o Quilombo. O Governo sabe muito bem onde estão as terras para a reforma agrária. Hoje a gente consegue colocar 70% de comida na mesa do trabalhador e somos taxados de baderneiros e vagabundos. Nós não podemos ficar com o pé em duas canoas e o poder público também não. As prefeituras não podem ir dando terra em concessão para empresários, pois nós também queremos. Precisam ceder para plantação e colheita. Precisa parar com isso da gente por a demanda e vir sempre um entrave na sua execução. Temos uma equipe hoje peso e luta ao nosso lado, mas nunca os quilombos tiveram atuação voltada para seus interesses. Exigimos isso agora”.

Uma tomada de posição interessante de alguém representando o poder executivo, justamente o da maior cidade da região, Bauru, o atual Secretário da Agricultura do município, Chico Maia, quando no momento de sua fala deixa claro, de forma bastante corajosa e arrojada o posicionamento seu e diz que o mesmo é também o de sua cidade em relação aos movimentos sociais. “Trabalho para estreitar o relacionamento de Bauru com os assentamentos. Na cidade temos o Horto Aymorés e nossa equipe está pronta para auxiliar o Incra na viabilidade dos assentamentos de reforma agrária. Nós não temos medo de estar ao lado dos trabalhadores que lutam pela reforma agrária. Temos convênio com o Incra onde abrimos uma série de feiras da reforma agrária em Bauru. E por que? Muitas das pessoas conhecem os assentamento e acampamentos só por meio da imprensa. Nós estamos mostrando em Bauru serem eles viáveis. Há muita gente trabalhando neles e muitas outras precisam de auxílio. Somos solidários aos que estão na luta pela reforma agrária. Quero ver cada projeto para ver onde podemos ir ajudando”, disse e nem bem acabou de pronunciar essas palavras, recebeu uma efusiva salva de palmas de toda a plateia.

A partir daí todos os demais foram na mesma linha. Sem tirar nem por, elogiaram o Incra, mas cobraram soluções e de forma imediata. Paulo Rodrigues, um dos representantes do Assentamento Irmã Doroty, de Agudos pega um pouco mais pesado. “Se não assentar, nós o povo dos acampamentos viraremos oposição. Estamos cansados de ser marcados como gado. Sabemos de todas as dificuldades. O Incra possui somente oito peritos para o estado de São Paulo inteiro. Para não ver a nossa cara na TV como vândalos, vagabundos e bandidos, eu quero acreditar nesse Governo, o que eu votei, mas quero ver as coisas andando. Se o Governo não ouvir o nosso clamor, nós vamos ter que ir para cima”, acentua. As falas são todas dirigidas diretamente com os olhos voltados para o representante maior do Incra ali presente, nada feito de forma acintosa, mas dura, como devem ser as cobranças de algo sendo empurrado ao longo do tempo, sem algo de muito concreto ocorrendo.

O próximo a fazer uso da palavra e ser conduzido ao microfone é Japonês, um dos coordenadores do MST na região. “Sendo bonzinho nada conseguimos nessa região. Muita difamação já foi feita contra nós. Tudo o que conseguimos vem a partir da nossa luta. Nesses 30 anos de MST não se construíram covardes. Cada vez mais são possibilitadas as condições de diálogo com a organização, porém sabendo que cada assentamento possui sua autonomia. Não temos nenhum problema em ser taxados de vândalos se dessa forma algo for conseguido. Nada cai do céu, tudo até agora ocorreu por causa da pressão dos movimentos sociais. Para tudo sair creio que muita luta ainda vai ocorrer, pois as áreas só saem a partir da luta. No processo de enfrentamento muita história ainda vai ser contada e nós vamos continuar pressionando cada vez mais. Não estamos mais dispostos a só ouvir e depois voltarmos para casa e nada acontecer. A pressão vai continuar. Estamos dando dez passos e voltando vinte e isso é ruim. Nossa conversa aqui hoje deve ser pouca e já ouvimos muito. Basta de ouvir, queremos solução”, essa sua muito aplaudida fala.

Outros vieram e de vários outros acampamentos. No meio deles, o ex deputado Tito, sempre presente nesses atos, diz em poucas palavras algo mais ou menos assim, antes pedindo para todos os presentes manterem-se em alerta das coisas vindas da Assembleia Legislativa Paulista: “O deputado Telhada, o mesmo que estão colocando nos Direitos Humanos está montando uma CPI para criminalizar os movimentos sociais. Muita atenção e cuidados especiais”. A cada momento que o microfone ia ser entregue para Wellington responder o grande número de perguntas, outros surgiam na frente da plateia e pediam a palavra. Eram representantes de assentamentos diversos, como Ezaú de Votuporanga, Abel o líder dos trabalhadores rurais de Duartina, outro de Gália, depois outro de Cafelândia e mais alguns. Houve também agradecimentos por benefícios recebidos e outro tanto de pedidos de ajuda. Diante do adiantado da hora percebia-se que para alguns, já existia algum incomodo. O próprio vereador de Agudos, o Batata, presidente da Câmara, encarregado de coordenar e organizar o uso do microfone tinha estampado claramente em sua fisionomia o descontentamento pelo adiantado da hora. Nesses eventos isso sempre ocorre, quando num momento todos os presentes querem demarcar diante da autoridade o fato de ali estarem e também fazer uma prestação não de contas do já realizado, mas até para cobrarem do que não falta ser feito.

Por volta das 12h30, finalmente o microfone é entregue para a maior autoridade ali presente, o que iria prestar conta e responder a todos os questionamentos. Deu para sentir aquela respirada fundo, uma última olhada sobre suas anotações e mesmo conhecendo a maioria dos líderes ali presentes, sabe ser cada vez mais complicado dar-lhes a resposta que todos querem ouvir. Começa falando dos quilombos e para esses é altamente positiva sua fala, pois determina uma espécie de prazo, uns três meses para o início de uma solução definitiva. Os demais queriam algo da mesma forma o que veio foi a seguinte fala, aqui resumida: “Avançamos bastantes, mas continuamos tendo muita injustiça no campo. De 15 anos para cá fomos nós, eu na equipe que pautamos a reforma agrária em São Paulo. São doze mil famílias assentadas. Pouco se levarmos em conta o muito ainda a ser feito, mas considerável quando se leva em conta a questão fundiária no estado e o quadro conservador predominante. Daí ela representa muito. Junto disso levem em consideração o conjunto de contas públicas para favorecer o pequeno produtor. Hoje não é só destinar terra, mas qualificar o processo. A sustentabilidade do acampamento depende também das parcerias feitas com as prefeituras e temos incentivado isso. Ainda ocorre muita desinformação no que a mídia passa para a frente, parecendo até que todos os acampamentos são uma bagunça. Essa é uma impressão muito errada. E muito mais estará sendo feito nos próximos meses”, conclui. 

De sua fala, prazos novos e a demonstração de que estar em curso uma estratégia, a de aguardar sair as deliberações na Justiça, para na somatória ganhar força e poder assim consolidar definitivamente a maioria possível de áreas baseado em decisões judiciais. Não era a melhor resposta que a imensa maioria queria ouvir, mas foi, segundo ele, o que se tem para o hoje. Por fim foi-lhe dado mais um voto de confiança, mas com muita pressão.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (62)


BAR AEROPORTO DO ESTIMADO ICO, RESISTE E INSISTE MANTENDO ESTILO DE ÁUREOS TEMPOS
Gosto muito de no meio dessas conversações todas, da controversa realidade política administrativa vivenciada na dita terrinha da “terra branca”, ou mesmo “sem limites”, dar aquele breque em tudo e escrevinhar de lúdicos lugares ainda aqui existentes. Nesses momentos dou aquela viajada, flano na prosa e divago, na maioria das vezes ao sabor de quitutes de botequim, regadas pela gelada cevada. São as poucas transgressões ainda possíveis. Conto uma delas aqui, um lugar dentro dessa ilha (ou arquipélogo, sei lá!) chamada Bauru, onde ainda é possível jogar uma boa conversa fora. Reconhecido lugar onde, mesmo encravado no coração da Zona Sul, reduto dos mais nobres (sic), consegue reunir a gentalha de toda cidade, dentre os quais me incluo. Falo e escrevo do BAR AEROPORTO, um dos que frequento com certa regularidade. Abro aqui meu resquícios de memória ainda ativos para lembrar algo desse lugar.

Nem sei como tudo começou, mas sei que bem lá atrás, idos de agosto de 2007, quando ainda nas hostes da Cultura municipal, fui agraciado com um texto de minha lavra na melhor revista semanal brasileira, a Carta Capital, o “Bauru DOCG”, versando sobre o tradicional sanduiche bauru (esse com minúscula mesmo). Dentre os locais onde se fazia o tradicional, respeitando a tradicional receita com uma certificação, eis o Bar Aeroporto na parada. No trecho reverenciado o lugar escrevi: “A certificação foi sendo amadurecida nos últimos anos, até ganhar forma. E virou uma jogada de marketing não só para estimular a venda do sanduíche, mas para promover a cidade do interior paulista. Os cinco primeiros estabelecimentos a receberem a Certificação são as três lojas do Ponto Chic, em São Paulo e os bauruenses, Skinão Bar, que há 34 anos preserva a receita e Bar Aeroporto, há 14 anos no Aeroclube. (...) Também certificado, Fernando Improta, diz que o lanche é o carro-chefe no Bar Aeroporto: "Por lá passam muitos aviadores que se assustam, pois o bauru não é o misto-quente que eles comem em outras cidades".

Se em 2007 eram 14 anos de existência, hoje já são 22, encravado dentro do Aeroclube de Bauru, onde também resiste em continuar existindo o original aeroporto, hoje não mais ativo para voos comerciais. O lugar é bucólico, os hangares construídos pelos ferroviários e tudo o mais com aquela carinha de saudosismo. Localizado no mais alto ponto da cidade, no verão um ótimo lugar, batendo aquele ventinho refrescante, porém, no frio, por ser um dos locais mais altos, o vento bate frio, doído demais da conta. Nesses momentos o melhor é permanecer dentro da redoma de vidro do bar e fugindo do ar livre. Quem conhece o bar sabe disso que vou dizer agora: ele é um belo reduto de boêmia ainda possível, um dos mais tradicionais locais de conversação, encontros e reencontros. Do famoso sanduíche só um algo mais, o local continua certificado e da guloseima, diz minha companheira de todas as horas, a professora Ana Bia, entendida de degustações múltiplas e variadas: “É o melhor bauru de Bauru”. O texto da revista pode ser lido clicando a seguir: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search…

Agora, como se estivesse lá sentadinho, bem acomodado, bebericando uma gelada, comendo o que mais gosto de degustar quando por lá, o saboroso carpaccio, escrevinho do bar em si. É um bar a moda antiga, sem rapapés desses modernosos, mas mantendo as melhores tradições dos antigos. Para começo de conversa, um baita de um cara do lado de lá do balcão, o ICO, sócio proprietário e nas noites mais controvertidas, dessas onde nenhum mortal escapa, cai como uma luva como conselheiro para todo tipo consulta e segredo (o cara é um túmulo segredativo). Um sujeito reservado, mas daqueles poucos onde se percebe uma sabedoria sobremaneira para tocar esse tipo de negócio. O bar em si possui aquela carinha característica de ser um local segmentado, pois tudo ali lembra a aviação. Num antigo balcão, com tampa de vidro, variadas lembranças com essa temática, desde camisetas, adesivos, chaveiros, bottons e afins. Nas paredes, além de várias reproduções de textos escritos sobre o jornal, muita coisa também sobre aviação e aviadores. Muitos desses, principalmente os aposentados adoram ali se reunir e passarem longas horas em mesas movimentadíssimas. Muitos ali estão a fugir de ficarem em casa e serem obrigado a assistirem as indefectíveis novelas televisivas.

Mesinhas internas com tampa de madeira e cadeiras com encosto de treliça são o must do local, mais acolhedor impossível. Tudo ali é um tanto antigo, mas é exatamente por causa disso que o lugar é dos mais atrativos e convidativos. Um ótimo lugar para bater papo. Do lado de fora, onde antes era o saguão do velho aeroporto da cidade e algo novo, coberto, porém aberto dos lados, mesas são dispostas e fervem ao final das tardes, principalmente aos sábados e domingos. Boa parte de gente animada e dos que fogem dos points da moda por lá comparecem. Muitos batem cartão, como a dupla Kyn e Mariza, empresários do teatro de bonecos, que costumam até fechar negócios em suas mesas e toda e qualquer visita chegando à cidade, fazem questão de levar até o local. É point turístico quase obrigatório. Outro que comparece sempre é Eraldo Bernardo, famoso músico. Na revista AZ desse mês de maio, publiquei um texto de minha lavra, tendo ele como tema e o bar como pano de fundo. Leiam clicando a seguir:http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search….

São tantas coisas desse lugar, que temo ao homenageá-los acabar me esquecendo de detalhes dos mais louváveis. Credito isso aos efeitos da cevada na minha rede sanguínea. Mesmo assim, tento seguir em frente com esse escrito. Não posso esquecer de citar um outro frequentador, talvez o mais assíduo, o Miguel Hernandez, sangue espanhol nas veias, cozinheiro de mão cheia, ex-Mar Marisco, com lugar cativo e proseador em voz alta, com mesa sempre rodeado de muitos a lhe dar ouvidos e sempre a postos para ouvir suas longas histórias (estórias também) dos tempos do Sbeghen. Trata-se de uma daquelas peças consideradas patrimônio tombado nesse tipo de estabelecimento. Falar do lugar sem falar de Miguel é praticamente impossível. Sabe tudo do lugar e naqueles dias quando os garçons estão ocupados, ele pode descrever o cardápio para o cliente em todos os seus detalhes. Além do sanduíche e do carpaccio, com certeza, ele indicaria o bolinho de bacalhau como um dos seus preferidos.

A cozinha é algo peculiar. Tem detalhes hilários. Um deles é um senhor, agora conhecido da maioria dos frequentadores habituais, um que revende alho embalado e circula de bicicleta entre os restaurantes noturnos. Tornou-se figura popular e é com o produto fornecido por ele que a maioria dos comes ali servidos são preparados. Leiam dele aqui:http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search…. A cozinheira e pelo menos duas das garçonetes estão por ali fazem muito tempo e conhecem tudo como a palma de suas mãos. Um barato ver como servem os pratos para refeições. Nada é preparado antecipadamente e só servem algo muito parecido com o tradicional PF, arroz, feijão e duas misturas, além da salada e uma única cozinheira prepara tudo da forma mais artesanal desse mundo. Não tem como não gostar quando o prato chega com aquela fumacinha de coisa bem preparada.

Já escrevi muito de lá e para encerrar cito alguns desses escritos. A grande novidade dos últimos tempos foi a abertura de um espaço semanal, sempre nas quartas, para apresentação dos chorões. São músicos que encontraram no lugar um ponto ideal, fixo para se reunirem e ficarem tocando seus instrumentos. Saem maravilhas desses encontros, reunindo músicos maravilhosos. Leiam isso:http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search…. Um deleite para quem sai estressado das agruras de um atribulado dia a dia. Num texto meu de 2012, algo mais de alguns dos frequentadores do lugar, ponto de reunião e congraçamento, podendo ser lido clicando a seguir:http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search…. E por fim, como gosto muito de cutucar da irracionalidade de levarem o aeroporto de Bauru para a vizinha Arealva e por lá, poucos voos e muitos besouros invadindo o lugar, reproduzo um texto escrito ano passado sobre os voos particulares, autoridades variadas chegando e preferindo pousar nesse aeroporto e é claro, indo consumir aquele cafezinho no bar do local. Leiam clicando a seguir: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search….

Muitos fazem de tudo e mais um pouco para derrubar de vez o Aeroclube e levando consigo o famoso bar, mas ele resiste já tombado pelo patrimônio histórico municipal. A especulação imobiliária é louca pela total ocupação do lugar, dividindo-a totalmente em lotes comerciais, mas os amantes do bar, cervejando naquelas mesas não só torcem o nariz para a ideia, como jocosamente brincam sobre essa imensa área livre em pleno coração da cidade. Muitos desses especuladores até bebem por ali, olhando para todos os lados, sonhando com o que poderia ali ser feito, divagando sobre seus perdidos lucros. Lucro mesmo possuem os frequentadores do lugar, desfrutando de um dos lugares mais convidativos de Bauru. Se ainda não conhece não sabe o que está perdendo. Vá e traga um mimo de lembrança com motivos aeronáuticos. Essa a pedida do mês, um bar para chamar de SEU. Convido todos (as) a passarem por lá e conferir tudo, gastando bastante, daí talvez o ICO comece a pendurar minhas despesas. Ele é meu amigo, mas é duro na queda!

quinta-feira, 28 de maio de 2015

ALGO DA INTERNET (103)


PORTA DOS FUNDOS E O ZORRA TOTAL - OU COMO VERGAR OS PODEROSOS

Até os ‘todo poderosos’ se vergam em alguns instantes e se veem obrigados a recuar, ceder ou contemporizar. As condições impostas por esses são draconianas, mas quando a questão resvala no ponto mais sensível do negócio a tocar suas vidas, o dinheiro, daí algo pode ser mudado. Perdendo grana o capitalista faz qualquer negócio. É o caso do que ocorria com o ex ‘Zorra Total’ e hoje somente ‘Zorra’, na TV Globo. Programas apelativos como o Zorra Total já não emplacam como antes (ufa!), recheados de piadas prontas, quadros fixos de humor duvidoso e bordões muito batidos. “A tevê combina com uma coisa mais dinâmica. (...) Reformular para continuar entretendo. (...) A brincadeira precisa ser sutil. É uma comédia da vida real com personagens possíveis”, afirma o ator Luís Miranda, em entrevista publicada no Jornal da Segunda-Feira, encartado com o Jornal da Cidade de 25/05. Sim, o Zorra está com novíssima cara e identidade, mas nem tudo foi devidamente esclarecido ao telespectador.

O Zorra Total já não atraia mais publicidade como antes. Estagnação no horário fez com que a direção da emissora tentasse contratar o pessoal do irreverente ‘Porta dos Fundos’ (http://www.portadosfundos.com.br/), com inserções criativas postadas nas redes sociais, esses praticantes de um humor dentro de padrões modernos e nada apelativos. Sucesso absoluto na internet. Eles não toparam, por um simples e único motivo. Tudo o que a TV compra ela destrói, transforma e piora. O futebol é o exemplo clássico. Diante do quadro, o que a direção da emissora fez? Simples, o bolso fez com que capitulassem aceitando o pessoal do ‘Porta dos Fundos’ como idealizadores da mudança, mas com total isenção de atuação e sem serem contratados diretamente pela emissora. Aqui nesse caso um evidente exemplo de Terceirização às Avessas, ou seja, uma vez contratados estariam submetidos ao tacão dito ‘padrão de qualidade’ Globo. Mantendo a independência, a liberdade se faz presente. As mudanças são mais do que visíveis. Luís Miranda e o público em geral aprovaram o ocorrido, mas os bastidores ainda são pouco conhecidos. Foi exatamente dessa forma que o ‘Porta dos Fundos’ entrou pela porta da frente na maior televisão privada do país.

E para quem apregoa não ser possível alterar inquebrantáveis regras, eis um belo exemplo do contrário. Os caminhos não são únicos em nada e as possibilidades, mesmo dificultadas ainda são possíveis. A competência sempre vergou o detentor do capital, sem que muitos se deixem vergar quando inseridos no seu contexto. Nesse caso, o empregador TV Globo não deve ser confundido com o normal empregador e a carteira assinada. São essas algumas das relações e possibilidades desses tempos atuais, ainda confusos em nossas cabeças.


ALGO SOBRE OS SEBOS DE BAURU - ESTANTES E MEMÓRIAS - Um documentário de estudantes da Unesp Bauru, repassado a mim por Tiago Pátaro Pavini. Aos amantes de livros.
https://www.youtube.com/watch?t=123&v=ye1tNvjHPEQ

quarta-feira, 27 de maio de 2015

O PRIMEIRO A RIR DAS ÚLTIMAS (06) e DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (79)


A TAL DA CONTRAPARTIDA
Nada a ver com a partida do próximo sábado, 30/05 onde o Bauru Basquete deve tentar reverter o fato de ter sido triturado pelo Flamengo lá no Rio de Janeiro. A contrapartida aqui mencionada é bem outra. Grandiosas obras privadas impactando uma região necessitam sempre dessa modalidade de imposição coercitiva e reestabelecedora da normalidade. É uma forma de amenizar o benfazejo recebido, uma retribuição mais que necessária. Porém, nunca se deve pedir para o próprio beneficiado com algumas benesses viárias, o tal do empreendedor, para que ele produza o projeto e até o execute, pois é claro, vivendo onde vivemos, ele tudo fará para beneficiar o seu negócio. Foi o que aconteceu lá na tal rotatória da Getúlio, onde no mesmo lugar, em fase final de construção famosa rede de lanchonetes está prestes a ser inaugurada. Olhando para o que está sendo parido, percebe-se que o Drive Thru da rede Mcdonald's deve gerar filas externas na movimentada rotatória. Qual o jeito de amaina-las?. Execução da obra até com ilha no meio do oceano, dando o seu jeito para o imbróglio. Um mal jeito para a cidade.


Conclusão rápida e rasteira: Nunca uma cidade pode ficar refém do pensamento do empresário em detrimento do de uma cidade. É o mesmo que deixar o lobo cuidar das pobres e inofensivas ovelhinhas. A contrapartida tem que existir obrigatoriamente, mas quem a pensa e executa deverá ser sempre o poder público. Não foi nem erro de projeto, nem de planejamento, pois para quem o fez era um primor, resolveria os seus problemas. Lhufas para a cidade. Vergonhoso foi saber que a obra foi executada e nenhum órgão público sabia ou tinha conhecimento de detalhes do projeto, os tais impactos no local (não o dos veículos, viu!). Mais uma para o anedotário bauruense. E depois querem que o Broncolino não continue do seu sepulcro “rindo das últimas”. Como diante de seguidas pataquadas?
obs.: Foto aqui publicada é do Douglas Reis, do JC e a ilustração foi sumariamente gileteada do google.
HPA, ilegalmente, placidamente e sorrateiramente dando uma de Broncolino.



J. HAWILLA, JOSE MARIA MARIN, MARCO POLO DEL NERO, FIFA, CBF, TV GLOBO, MARINHOs, TV TEM
e guardadas as devidas proporções, as informações que nos são repassadas de forma a que continuemos sendo mal informados. Fiquei vendo como o mocinho do Esporte lia a notícia e com aquele olhar fixo, meio que forçado, constrangedor, falou e citou a afliada TV Tem, depois o seu empregador. Lembrou o Cid Moreira lendo a Nota da Justiça, forçado pela decisão da Justiça no caso com Brizola. Me veio a mente também o caso do doleiro Youssef, passando por Bauru mais de dez vezes, aqui vindo buscar grana viva na Bauruense, uma empreiteira que tem ramificação com Furnas, Aécio, MG. Disso a TV nada nos informa, mas nos encheu de preocupações com a suposta casinha de Bastos envolvendo um tal de Vaccari. Como deve doer ter que informar algo sobre si mesmo. Acho que vou mudar de canal e ver o que as outras TVs dizem disso. Um que adoraria ouvir agora é o José Tajano ou o Juca Kfouri. De tudo, uma conclusão tão entristecedora quando cruel: Só mesmo a Justiça de outros países para enjaular e enquadrar alguns dos nossos. Por aqui os rapapés e os tapetes vermelhos continuam sendo mais do que estendidos a todos esses. Não sei porque, mas a gente se sente meio com alma lavada quando se depara com algo assim no meio do noticiário. Isso aumentou meu apetite. O Marin parece que vai ser transferido para os EUA. Seria Guantanamo?
http://esportes.estadao.com.br/…/futebol,j-hawilla-faz-acor…

OS VÍDEOS QUE FAZEM A CABEÇA DO HPA - DULCE LAGRECA EM "A CASA DE BERNARDA ALBA" NO PROTÓTIPOS

Lorca em Bauru, um luxo só. Ontem, domingo 14/05, abdiquei, eu e Ana Bia Andrade de irmos no Vitória Régia assistir ao show do Marcelo D2 na Virada Cultural, tudo por causa de uma última apresentação no Espaço Protótipo Tópico, lá na Monsenhor Claro. Tratava-se de nada menos que 'A CASA DE BERNARDA ALBA', obra do espanhol Federico Garcia Lorca, direção de Andressa Francelino, que já havia sido apresentada esse ano na Semana de Teatro Paulo Neves Neves, mas não pude assistir naquela oportunidade. As meninas insistiram em continuar apresentando a peça e mais quatro datas foram marcadas. Perdi as três primeiras e na última, ontem, 20h, não podia deixar de cumprir promessa feita junto a incomensurável Dulce Lagreca. Momentos antes havia saído lá do Teatro Municipal, no fechamento do V Festival Internacional de Bonecos e falando sobre minha intenção com Thiago Neves ele me diz: "Vá correndo, falta pouco mais de meia hora e veja com muito carinho a Dulce Lagreca cantando em espanhol". Fomos e gostamos demais do que vimos. Moças dedicadas, querendo acertar, apostando muitas fichas no que fazem e no caminho mais do que certo, ou seja, fazendo o que gostam. Erros existem em todos os lugares, mas a vontade de acertar em todas supera muita coisa. Já do que gravei, Dulce cantando naquele momento em que, fazendo o papel de irmã da Bernarda, escapa do seu quarto e solta a voz na sala. Não ia gravar, tanto que perdi o começo, mas não me aguentei. Saquei de minha maquineta e registrei o momento mais do que belo. Dulce é tudo de bom, uma entrega total e absoluta em tudo o que faz. Nem preciso dizer que gostei demais dessa jovem senhora soltando o gogó e já estou me candidatando para a empresariar em algumas de suas próximas apresentações musicais cidade afora. Já penso numa noite de gala noTemploBar Bauru. Que acha Fernando? Vamos lotar sua casa tudo para paparicar a Dulce. Pode ir ensaiando desde já cara cantora. Quem vai comigo nessa? Cliquem a seguir para assistir:
https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/1073953689301306/?pnref=story

UMA CASA ABANDONADA E EM "ANDRAJOS", NELA UMA PICHAÇÃO NO QUE RESTA DE UM DOS MUROS
Eis a cena fotografada por mim semana passada ali no Bela Vista, imediações da rua Horácio Alves Cunha, perto do Fórum. Uma cena pouco usual. Uma casa em andrajos, ou seja, meio demolida, meio em pé, mato tomando conta do quintal e calçada. Lixo ocupando tudo. No que restou do muro essa inscrição denotando ter sido o imóvel desapropriado e um grosseiros insulto para o alcaide municipal. Seria isso mesmo? Conheço um só imóvel desparopriado em situação quase similar a esse, o da denominada Casa dos Pioneiros, ali na quadra 6 da rua Araújo Leite, o último resquício do mais antigo imóvel dessa cidade ainda em pé (quase). Cada caso é um caso, mas que caso é esse? Alguém aí saberia de algo a respeito?

terça-feira, 26 de maio de 2015

ALFINETADA (133)


SEIS TEXTOS DESSE HPA PARA O ALFINETE ENTRE OUTUBRO/NOVEMBRO 2002
De pouco em pouco, mês após mês vou reproduzir aqui os meus textos para O ALFINETE, o "Pica mas não Fere", época do tamanho pequenino e direção do intrépido Marcelo Pavanato. Estávamos no ano em que Lula foi eleito presidente e aqui em SP, o tucanato completava oito anos de (des)Governo e hoje já são mais de vinte. Ler aquilo tudo e depois refletir com a mente voltada para os dias de hoje é um ótimo exercício de malabarismo político. Vamos aos seis desse mês:

Nº 188 - A imaginação no poder - 05/10/2002
Nº 189 - Rescaldo eleitoral e o segundo turno - 12/10/2002
Nº 190 - Ou um ou outro - 19/10/2002
Nº 191 - Oito anos de tucanato provocaram... - 26/10/2002
Nº 192 - Alea jacta est (A sorte está lançada) - 02/11/2002
Nº 193 - A indústria das multas - 09/11/2002

segunda-feira, 25 de maio de 2015

UMA MÚSICA (123)


GENTE É O QUE ME INTERESSA

Meu negócio é escrever de gente, de preferência esses que suas histórias não saem em lugar nenhum. Esses que, ao passar pelas ruas, na maioria das vezes, passa-se como se nada estivesse por ali, mas na verdade, estão e cheios de histórias, prontinhas para serem relatadas e passadas adiante. É disso que gosto, de ficar ouvindo história e passando elas adiante. Se pudesse passaria meus dias nisso. Nesse domingo tenho mais uma história para contar, de um CD que comprei na banca do Carioca, lá na Feira do Rolo e por meros R$ 5 reais trouxe para casa o “Linguagens”, obra do jornalista Nelson Gonçalves e com nome artístico de Nelson Itaberá. Já fui num show dele lá no SESC, já ouvi algumas de suas canções pelas ondas do rádio, já até ganhei um CD num programa que o Paçoca tinha na FM87 e que, por mero esquecimento acabei não indo buscar. O programa acabou e o CD perdeu-se pela aí. Achei esse lá na banca mais democrática dessa cidade, ainda com plástico, sem rompimento, virgem e casto de ouvidagens. Trouxe no meu embornal e só hoje o ouvi no aparelhinho do carro. O Nelson a gente lê diariamente na Entrelinhas do JC, tendo dias que concordamos e outros não. Tenho assistido o programa dele, onde grava entrevistas com gente dessa terra lá na TV Câmara e aí vejo belos registros. Tenho com seus escritos uma relação de amor e ódio, algo mais do que natural em quem se mete nesse negócio de escrevinhações. Queria achar por esses dias uma música que falasse desse meu assunto, GENTE e ao abrir a camisinha que envolvia o tal CD, logo na faixa 1, o título mais do que sugestivo:

GENTE

Gosto de gente que faz pirraça
Gosto de quem faz graça, de graça!
Gosto de gente que não planeja tudo
Gosto de quem não se acha o dono do mundo
Gosto de quem tem piada para contar
Gosto de gente que erra sem medo de errar

Gosto de gente que é gente, gente boa
De gente fina, inteira, de boa, na boa

Gosto de quem não põe o dedo em riste
Gosto de quem sorri por fora mesmo triste
Gosto de quem olha no olho
Gosto de quem não rasteja, não se faz de caolho
Gosto de quem sai na rua de pijama
Gosto de quem não julga, apenas ama, ama, ama.

Essa a letra, bem a minha cara. Comento. Muitos me veem aqui escrevendo e me acham intolerante, mas sou exatamente o contrário. Sei que não devemos e nem podemos nos achar isso e aquilo por causa de uns escritinhos cheios de erros, como os meus. Não me empolgo, mas insisto, só isso. Despretensiosamente, sem querer afrontar ninguém, sem colocar o dedo em riste, sem planejar quase nada, sem se achar dono de nada e sem eira nem beira, cutuco sim, mas o faço contra esses que hoje se apresentam como santos, mas o sendo somente do pau oco, merecem mesmo umas sonoras bordoadas. Não sou exemplo para nada, nem peço que me sigam, pois os caminhos que trilho alguns podem desgostar e, certamente quando souberem por onde ando, serei objeto de muitas admoestações. E nem por isso paro, ou ameaço mudar de estrada e de insistir em continuar dando murro em ponta de faca. De uma coisa tenham certeza, não rastejo, dificilmente me vergo e como tenho comigo que essa vida aqui é única, procuro ir fazendo coisas e mais coisas, criando um caso aqui e outro ali, jogando um bocadinho de areia e sabão no caminho desses que hoje acham que tudo deve ser seguido por um único caminho e quem sai dos trilhos é louco. Sim, sempre fui meio louco. Fui ler a letra do Gonçalves, ou mesmo Itaberá e vejo que muito do que escreve faz sentido para mim. Umas coisas mais outras menos. Ele diz que gosta dos que não julgam, mas é difícil escrever sem julgar, pois não consigo permanecer indiferente a tantas injustiças como agora, tanta pieguice, hipocrisia e caolhice. Daí afirmo que julgo, assim como me julgam. Eu sempre tive um lado e todos os que não ficam em cima do muro devem se acostumar a levar bordoadas, serem julgados, execrados e até gente fazendo novena contra sua saúde. Convivo com tudo isso e assim toco minha vida. Apesar de tudo isso e muito mais, afirmo uma só coisa: eu gosto de GENTE.

Em tempo: O Nelson sabe que a gente deve ser muito sincero nas coisas que faz e por causa disso não o julgo, mas escrevo o que achei do que acabo de ouvir (duas vezes seus CD pelo rádio andando pela cidade): Gostei mais, muito mais de suas músicas do que dos seus escritos. Essa GENTE mesmo é muito boa e outra, a “Contracultura” são minhas preferidas. Julguei? Sei lá. Saiu assim numa segunda, intervalo de leituras mil, trabalheira mental danada de dolorida. E daí a gente divaga um bocado...

domingo, 24 de maio de 2015

CARTAS (142)


DA MALDIÇÃO DO VIADUTO (IN)ACABADO NINGUÉM ESCAPA*

*Carta enviada de forma inédita e exclusiva para a Tribuna do Leitor, do Jornal da Cidade – Bauru SP em 20/05 e como não publicada pelo jornal, sai aqui nesse exato momento:


A manchete de primeira página, domingo, 12/04 não deixava dúvidas: "Já podem chamar de viaduto acabado". Todas as fontes deviam ser mais do que confiáveis, mas o JC não contava com o Inconcebível Futebol Clube, a fatídica "maldição", uma que impede o tal de ser inaugurado e colocado à disposição da população, mesmo estando prontinho da silva.

O JC foi na onda, assim como toda a cidade já havia ido em outras tantas oportunidades. Muita promessa entregue ao léu nesses 22 anos de espera. Daria certamente um belo enredo para uma divinal novela, cheia de mirabolantes capítulos. Imaginem o que poderia surgir nas mãos de um carnavalesco e o viaduto adentrando o Sambódromo? Agora, passados quase 40 dias da manchete e os sinais de inauguração vão de dissipando no ar. Esse viaduto é aroeira pura. Não cai, nem se cogita de ser implodido, mas derruba muitos. A sua dívida contínua em pé, onerando em muitos os combalidos cofres municipais. Derrubou sim, algumas reputações, como astrólogos e renomados analistas, todos com prognósticos de validade mais que vencida.

Mas se o jornal tinha tanta certeza da inauguração, acreditando nas promessas e juras do outro lado, algo novo deve ter ocorrido nesse intrincado percurso, impossibilitando e adiando mais uma vez a inauguração. O que seria dessa vez? Os interceptores da Nuno? O aterro sanitário? A força dos contrários? A crise do governo Dilma? A dengue campeã mundial do Alckmin? Ou nenhuma das hipóteses? Ou todas juntas? As respostas estão sugeridas pelo próprio JC. E não adianta forçar a barra para antecipar a inauguração, pois isso sempre, no caso do viaduto, deu em algo de pior monta (ou até cheiro).

Em dois momentos algo sobre as incertezas todas perturbando a estabilidade (sic) do malfadado viaduto, ou seja, os problemas não ocorrem agora só com o dito cujo, mas no seu entorno. Na manchete de 14/05 lá estava: “Transtornos provocados por obras na Nuno de Assis vão até setembro”. E a pergunta que não quer calar: Como inaugurar o acabado viaduto se a pista que vai recebê-lo está em petição de convulsão esburacatória? A coisa é mais séria se formos levar em consideração o que escreveu o engenheiro Archimedes Raia Jr, no Opinião de 12/05, “Problemas do viaduto que não acaba”(http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=238752).

Sabe quem faria uma festa danada com tudo isso? Respondo. Broncolino, o "primeiro a rir das últimas", esse seu slogan. Diante de um cenário tão cheio de bons motivos para mil hilariedades, com personagens mirabolantes e rocambolescos, o velho jornalista, se vivo, nadaria de braçada nos escritos em sua coluna. Ninguém possui hoje por aqui a verve aguçada, a coragem e a perspicácia expelida por eles com seus textos. Motivos existem aos borbotões para a eternização de bordões, chavões, provocações e até admoestações. E muitos a merecem.

Quando vejo a "pernada" que a maldição do viaduto, agora acabado, mas não inaugurado, passa no JC, vejo que, se nem vocês escaparam, com aquela edificante e majestosa obra seguindo altaneira sua saga de rebeldia, muito além do folclore, o que mais pode ser feito? Aquilo é muito mais do que um cavalo xucro. Pode ser que até um dia ele venha a ser inaugurado (toc toc toc), mas depois de tudo o que já ocorreu ao longo do tempo e agora também no seu entorno, só passo lá por cima com o meu quatro rodas quando todos os que tiveram seus nomes inscritos no anedotário pertinente ao drama forem utilizados como cobaias e cumprido o percurso a contento. Sugiro um cortejo com esses todos na frente, muita pompa e garbo. O povo do lado de fora só olhando e de dedos cruzados. Do contrário, não me arrisco. E você, caro leitor?

Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de Hsitória (www.mafuadohpa.blogspot.com).

OBS FINAL: Depois de passados alguns dias mais uma constatação de que a Maldição do Viaduto Inacabado pega a tudo e todos, sorrateiramente, de soslaio, de frente e por trás (ui!). Na Coluna ENTRELINHAS do JC de ontem, 23/05, três notas sobre a continuidade e comprovação de que a Maldição existe e dela não escapa ninguém. Leiam:

•Só duas
O término do aterro do viaduto Falcão Bela Vista, perto do Fórum, vai esperar até quarta-feira. Isso porque a equipe da Secretaria de Obras que estará no local vai concluir duas quadras de terra no Jardim Pagani que ficariam fora do cronograma original de pavimentação do bairro. “Era complicado deixar só duas quadras”, cita o secretário Sidnei Rodrigues.

•Detalhes
À coluna, Sidnei admitiu que o viaduto pode ser liberado ao tráfego em junho, antes mesmo de uma inauguração oficial. Isso porque a parte estrutural do elevado está pronta desde abril e, na prática, apenas duas coisas impedem a liberação: a ligação com a Nuno de Assis, que deve ser concluída em dez dias, e o laudo estrutural, exigência do Ministério Público, cujo teste prático está previsto para esta semana.

•E a luz?
A iluminação do viaduto segue emperrada, pois a empresa contratada para fazer o serviço está com dificuldades na importação dos produtos. Isso significa, segundo o secretário, que a obra pode ser liberada sem a iluminação, que seria instalada assim que possível. Este serviço vai ser custeado pela prefeitura (R$ 805 mil). Da verba que vem do governo federal (R$ 5,9 milhões), o município ainda espera parte do valor.



OBS. FINAL DAS FINAIS: Hoje, domingo, 24/05, todos na região da Nuno de Assis fomos acordados com uma desmedida barulheira pelos lados da avenida e cabeceira do tal viaduto. Obras aceleradas, trabalho nunca visto aos domingos por essas bandas, uma loucura, motorzinho nos pés de uns e outros. Estão querendo encurtar o tempo e passando por cima da tal Maldição, tudo para inaugurar o inaugurável. Estão mexendo com fogo e acredito, vão acabar todos mijados. A MALDIÇÃO não perdoa os que insistem em quebrar seus desígnios.

sábado, 23 de maio de 2015

O PRIMEIRO A RIR DAS ÚLTIMAS (05)*


*Sempre em homenagem ao Broncolino que não deixaria passar mais essas sem seu pitaco.

O EFICIENTE LUTZ NÃO MERECE NOME NO VIADUTO MAIS MOROSO DA HISTÓRIA – 22 ANOS PARA SER INAUGURADO (O BIP BIP SENDO LEMBRADO NO LUGAR DO SONECA)

Abro o JC de ontem e lá na Coluna do Rufino a divulgação da ideia de alguns em homenagear o antigo diretor da Rede Ferroviária Federal, engenheiro AMÉRICO MARINHO LUTZ, dando-lhe o nome para o viaduto (in)acabado ali sob os trilhos. O nome dele ser lembrado, ótimo. Já da homenagem, levem isso em consideração, por favor. De imediato me vêm na lembrança algo da história de Bauru e do incêndio lá no campo do Noroeste atrás de onde hoje é o SESI. Aquele estádio, tempos antes do incêndio foi levantado sob suas ordens, em tempo recorde, tudo para que o Noroeste pudesse disputar a 1ª Divisão do Paulista de Futebol. Resumindo, o Noroeste ganhou o acesso no campo e a FPF dificultou as coisas e impôs um campo praticamente novo e num curto espaço de tempo. Usando de seus poderes de mando, Lutz colocou a Noroeste favorecendo o Noroeste. Pelo sim pelo não, certo ou errado, o homem foi o mais eficiente que temos como exemplo na história bauruense. Em coisa de 10 (DEZ, recorde total e absoluto) dias tudo pronto e inaugurado. E agora, querem lhe homenagear com o viaduto que demorou 22 anos para ser concluído e ainda se arrastará mais um tempo para ser inaugurado (a Nuno está em petição de miséria)? Tudo isso me passou à mente ao botar os olhos no jornal, mas a sacada não é só minha. Tenho que dar crédito a quem o possui. Paulo Sérgio Simonetti hoje pela manhã no Informa Som da 94FM relembra o fato e cita seu livro noroestino como fonte de consulta para saberem da história e de quem foi o Lutz. A César o que é de César. Mas, saliento e reafirmo, pitacos como esse eram bem o estilo do Broncolino. Ele poderia encerrar isso tudo assim: 'Mas o nome do viaduto já não está dado, sacramentado e oficializado no imaginário popular? Por que mudar o que não vai pegar? Foi o mesmo que dar um nome lá para o trevo da Eny, sendo que ad eternum será chamado por todos com o nome de nossa mais famosa cafetina. Lutz deve estar se revirando no caixão'. E deve mesmo.
OBS.: A foto do Lutz foi feita em cima de uma publicada no livro noroestino do Simonetti.

PAU QUE DÁ EM CHICO DÁ EM FRANCISCO – A FARRA DOS IMÓVEIS ALUGADOS SEM LICITAÇÃO

“DISPENSA DE LICITAÇÃO Face aos elementos constantes no PG 07.38.005 e com fulcro no art. 24, inc. X, da Lei 8.666/93, a Diretoria Plena AUTORIZA a locação do imóvel situado à Rua Manoel Bento da Cruz, 20/53 – Vila Santa Lúcia – Bauru/SP, para funcionamento do Núcleo Regional de Bauru, por um período de 36 meses, bem como a despesa no valor total de R$ 162.000,00 (incluindo IPTU), a favor da usufrutuária, Carmem Therezinha Franzé Fornetti, representada pela Imobiliária Busch Imóveis Ltda”.

Sabem o que vem a ser esse texto entre aspas aí em cima? Simples. Existe em Bauru os que vão para a tribuna da Câmara Municipal de Bauru e criticam com toda a força do seu pulmão os imóveis alugados com altos valores e sem licitação, por exemplo, pela Prefeitura MUnicipal e tudo ao bel prazer dos interesses dos contratantes. Quando vejo isso acontecer penso logo: quando alguém de uma tal oposição critica, o faz não olhando para o próprio rabo. Provo aqui como se dá a coisa.

E o que seria esse Núcleo Regional Bauru???? É a sede do CDHU em Bauru. Para ver que as informações são verdadeiras procure na internet DISPENSA DE LICITAÇÃO CDHU BAURU.  Agora o valor do aluguel é um absurdo pela localização, só se for uma mansão, R$ 4.500,00 mês (divididos em 3 anos de contrato). Não foi um valor quase idêntico o motivo da ojeriza quando um secretário municipal alugou um imóvel para sair de dentro da Prefeitura? Se para ele é caro e gritaram isso em alto e bom som, para esse deveria ocorrer o mesmo. O endereço é na rua Rua Manoel Bento da Cruz, 20-53 (consulte aqui o endereço: http://www.cdhu.sp.gov.br/atendimento/postos-cdhu.asp). Isso aqui é só para exemplificar que não existem santos e os que ainda assim se apregoam, o são, mas do PAU OCO. Aquele que critica, nesse caso o pessoal tucano, pelo visto cometem o mesmo erro e deslize.
HPA

sexta-feira, 22 de maio de 2015

MEMÓRIA ORAL (180)


36 ANOS DE LABUTA E OS VIEIRA DEIXAM DE VENDER LIVROS – O SEBO DO VIERA, O MAIS VELHO EM FUNCIONAMENTO NA CIDADE ESTÁ FECHANDO SUAS PORTAS
Após 36 anos de plena atividade na cidade de Bauru, sempre no ramo de sebos literários, a família Vieira encerra em breve as atividades. JOÃO VIEIRA, nascido em 1937 e falecido três anos atrás, aos 75 anos, fez de tudo um pouco na sua vida, mas fixou-se a maior parte do tempo em algo pelo qual nutria não só gosto pessoal, mas entendia do riscado. Possuiu na cidade uma infinidade de bancas de revistas e sebos, sendo o atual Sebo do Vieira, talvez o mais antigo em funcionamento. A história desse e de todos os demais com sua chancela pessoal fazem parte de algo que não pode ser esquecido, muito menos menosprezado. Esse última, em vias de cerrar definitivamente suas portas, localizado ali na rua Ezequiel Ramos, coração financeiro da cidade, região da localização da maioria das agências bancárias, bem defronte a agência do Bradesco, resistiu até atingir um limite. Ou melhor, até quando teve forças MARIA ANGÉLICA VIEIRA, a filha mais velha desse senhor, com sua vida toda emaranhada com livros e revistas, tendo passado algo disso para ela.

Desde a morte do pai, por decisão pessoal, Angélica manteve as portas do sebo abertas, mas não comprou mais nada, só vai se desfazendo do estoque. “Estou no limite, há três meses tentando fechar. Preciso fazer isso. Estou aguardando alguém que possa ficar com esses livros. O proprietário do imóvel já até arrumou quem venha buscar, tudo para me ver longe daqui. Arrumou até quem vá alugar o ponto. Mas queria mesmo que tudo ficasse com alguém que entendesse desse comércio e que não abandonasse os livros por aí. Talvez um lugar que pegue e fique com eles para colocar junto do seu negócio”, conta essa senhora, cumprindo hoje um duplo horário de trabalho, pela manhã como servente na Escola Municipal Santa Maria e a tarde, das 13 às 17h com o sebo aberto. “Continuo aqui por não conseguir fazer outra coisa. Vou sentir falta, claro, provavelmente sim, mas não é mais coerente manter o sebo. É inconsequente eu continuar gastando, colocando dinheiro aqui. Isso hoje para mim não é mais um comércio. Existem aqui milhões de motivos para sair dinheiro e pouquíssimos para entrar”, desabafa.

A defasagem entre comprar algo novo e ir só abaixando o estoque, resulta no estado atual do negócio. “Não posso aceitar nem mais doação. Muitos passam aqui para doar e não posso pegar mais, pois o ciclo já se encerrou. Na maior parte do tempo, como pode ver, as pessoas entram aqui mais para comprar Zona Azul e é impossível sobreviver com isso”, diz. Nisso entra um senhor de terno procurando por livros com a temática messiânica. Ela não tem nenhum, mas inicia uma conversa com o provável cliente, por um simples motivo, o de ser também dessa religião, mesmo “afastada dos cultos”, como enfatiza. Foi o único atrás de livros e todos os outros em busca da tal folhinha do estacionamento e outro pedindo um trocado para comer. “Você viu, dei a ele um valor pequeno, mas com certeza, não havia tido de lucro aquilo ainda hoje”, explica. A loja reflete a decisão de sua proprietária, pois mesmo com todos os livros nas prateleiras, revistas catalogadas e separadas por títulos, DVDs e VHSs também devidamente separados, mas empoeirados, pois desde quando a decisão foi tomada, os cuidados com o acervo passaram a ser outros.

Nem sempre foi assim. Ela acompanhou boa parte da história de vida de seu pai e antes de me falar dos pontos comerciais onde ele atuou, conta algo de sua história pessoal. “Meu pai tem uma história de vida marcante. Foi abandonado pela mãe quando tinha três anos e resgatado pelo pai embaixo de uma árvore e todo cheio de formigas. Viveu com o pai até dos doze anos, dai esse o deixou com uma tia. Era seu único parente. A mãe morreu de tuberculose quando ele tinha dez anos e a última vez que teve notícias do pai foi dos tempos em que ainda namorava minha mãe. Não chegou a conhecer nenhum neto. Seu pai se chamava Pacífico Vieira e a mãe Carolina David Vieira. Criado pela tia fugiu certa feita também aos doze e por dois anos perambulou pela capital paulista. Acharam ele por lá e o trouxeram de volta. Por sorte existia aqui um pessoal que gostava muito dele e ele recebeu muita ajuda”, conta. A história dá um pequeno salto, mas continua em ritmo alucinante: “Ele se formou em contabilidade e seus primeiros empregos, pelo que sei, foram nessa área. Sei que por muito tempo morou sozinho em pensão e num hotel aqui no centro da cidade, em quartinhos apertados. Meu pai era bugre, filho de um índia de um vilarejo aqui perto, acho que em Avaí”, relata.

Pergunto sobre o interesse pelos sebos e daí tem início outra história, também empolgante. “São exatos 36 anos entre bancas de revistas e os sebos. Tudo começou com algumas bancas. Vou te enumerar assim de cabeça. A primeira na Agenor, em frente ao Hotel Cidade de Bauru, uma que existe até hoje. Depois uma na Rio Branco, esquina onde hoje tem o HSBC. Outra na Joaquim da Silva Martha e depois os sebos. Meu pai montava algo, a coisa crescia, daí ele saia para outra com mais espaço. Quando aumentava o estoque ele tinha que arrumar outro espaço maior e esse foi o ritmo de sua vida. Teve um sebo na Rodrigues Alves, vivia com bom movimento, mas teve que fechar por causa do caro aluguel. Depois foi para a Araújo, ali onde está a PM e o Paschoalotto. De lá montou um na Cussy Jr e outro na Quinze de Novembro, naquela famosa esquina que revendo fogos de artificio. Teve um bem pequeno na rua Presidente Kennedy, quase junto da feira, na beirada de um estacionamento de carros. Ali fica tudo entulhado. E depois aqui na Ezequiel. Só eu já fazem seis anos que estou aqui. SomandO tudo isso dá os tais 36 anos”, diz.

Em alguns momentos variou de comércio. “Teve também três bares. Um deles muito famoso e bem na frente do Fórum. Ali fazia churrasco para os advogados, depois mais um na rua São Lourenço esquina com Santa Rita e mais um algumas ruas acima. Foi pouco tempo, mas gostava mesmo era dos livros. Ele fuçava muito. Veja isso, quando meu pai casou ele fazia brilhantina para vender. Fazia e saia revendendo como mascate. Não conseguia ficar parado. Fazia as fórmulas e vendia, óleo de dendê, essas coisas”, me diz folheando um dos livros que não vende, pois era a fonte de consulta do pai, um livrão de capa verde, o Formulário Industrial. Segundo ela, após procurarmos a data da publicação me diz assim de bate pronto: “Tenha certeza, tem mais idade que eu”. Continua me contando as histórias do pai: “Ele começou a estudar essas coisas sozinho, tinha que se virar, pois a família crescia e eram muitas bocas para sustentar”.

Daí fala um pouco de sua família. A mãe, Leda Grossi Vieira faleceu fazem sete meses. São cinco os filhos, ela a mais velha, depois a Mara Lúcia que teve o final trágico que Bauru inteiro conhece, a Vera, outra irmã também falecida quando a mãe bateu com a barriga num ônibus e os dois irmãos, ambos vivos, o Júlio e o Zé Carlos. Conta um algo mais do pai e do seu amor pelos livros: “El não somente adquiria livros, mas lia eles todos. As pessoas vinham e ficavam horas conversando com ele. Qualquer assunto que a pessoa desenvolvia com ele seguia adiante, pois encontrava nele um bom diálogo. Nos seus negócios só mexia com livros e revistas, nada mais. Eu é que inventei de começar a querer vender também CD, DVD, essas coisas. Eu que fui pegar de trabalhar com isso. Já nesse ponto e trabalhando na escola inventei de comprar uma máquina de coco. Dizia a ele que não sabia movimentar o sebo do jeito dele e queria incrementar. O resultado não veio, não deu certo e a máquina está aqui até hoje, parada. Ele doente eu fui levando como podia”, continua seu relato.

Com a morte do pai e mais os três anos de persistência, Angélica vê que já passou da hora de fechar as portas. Está decidida e repete sempre algo nesse sentido: “Agora já ultrapassou os meus limites”. Isso é perceptível, mesmo sendo ela uma pessoa calma, tranquila e de bem com a vida. Em momento diz querer dar todo o estoque, noutro ainda espera algo novo, alguém que arremate tudo, mas sabe que não pode esperar mais. Seus dias por ali estão mais do que contados. Talvez mais alguns dias, talvez feche nesse final de semana, talvez persista até o final do mês, ou até mesmo mais algumas semana, mas disso não passará. Quando as portas desse sebo forem definitivamente abaixadas e o letreiro retirado estará se encerrando um ciclo onde reinou na cidade um tal de João Vieira, livreiro e jornaleiro, mascate e dono de sebos. Já entrou para a história de Bauru, mesmo que poucos saibam disso e registrem o feito, mas são quase quarenta anos envolvidos com sebos e revistarias. Penou, fez e aconteceu, suou a camisa e muitos livros revendidos por ele permanecem em estantes diversas espalhadas por essa Bauru. Com essa mais uma porta se fechando no segmento da venda de livros nas ruas da cidade, mesmo sem perceber, culturalmente nos empobrecemos um bocadinho mais.